Nao estou tao seguro, embora entenda o que o leva dizer isso, que Portugal venha a estar isento de problemas semelhantes num futuro proximo,...
Caro Zezoca, eu diria até que num futuro longínquo, não podemos estar
certos de nada.
Mas honestamente não consigo imaginar num futuro próximo nada de semelhante ao que se passou em França. Apesar de tudo, Portugal ainda não é uma Fábrica de Ódio, o comum dos portugueses deseja ardentemente não ter chatices. E isto tb contagia os estrangeiros que para cá vêem. (isto para o bem e para o mal, o que tb retira uma certa ambição).
A Atitude que uma , ou mais pessoas têm é uma característica que não se muda com facilidade, muito menos por decretos ou políticas.
Só talvez com gerações atrás de gerações.
É o que se diz muitas vezes ser o tal "Factor Cultural".
O meio envolvente ajuda a mudar, mas demora tempo.
Pelo que lhe digo, que, sendo Portugal um país extremamente vulnerável a influências estrangeiras e modos de pensar (tem-no sido nos ultimos séculos e cada vez mais o é) admito plenamente que, se formos contagiados com atitudes que mudem a essência da nossa maneira de ser, aí sim, é altamente provável que eventos destes aconteçam cá.
Nas próximas décadas, duvido muito. Mais tarde , é uma incógnita.
a historia do Congo Belga, que na verdade começou como dominio pessoal do rei, ( e citando também Brazza,Rwanda,Burundi,Zambia...), é efectivamente diferente de Angola, mas eu diria que sao complementares, nao so pela situaçao geografica e interdependencia economica mas também pelos povos e passado comuns.
E as guerras civis, ou rebelioes, que os assomaram durante largos anos apenas confirmam.
Eu diria que existem algumas diferenciações étnicas que me parecem ter alguma relevância, mas, o ponto a que me referia era meramente
ao facto de a história de Angola e do Congo Belga serem radicalmente diferentes no que toca a insurreições e violência.
Gostava de afirmar aqui, que sou da convicção que o movimento de libertação de Angola, não foi espontâneo, mas resultado de maquinações estrangeiras. Só mais tarde adquirindo um cariz de independencia.
A prova mais clara disso, foi a UPA ter morto uma quantidade de negros, que seriam supostamente seus irmãos.(caso a tese de que o "Angolano" se estava a rebelar contra o "Branco")
Portanto houve aqui oportunismo de alguns indivíduos e também muito sangue nas mãos de variada gente , que no fundo não foram mais do que peões num jogo internacional chamado Guerra Fria. (E uma boa dose de inveja por Portugal ser a teimosa excepção , de serem os primeiros a chegar e os ultimos a partir). Ora se o Reino Unido , a França , e as restantes potências europeias perdem as suas colónias, nunca admitiriam que Portugal (esse país que desprezam abertamente) mantivesse as suas.
E vamos ser honestos aqui, todas as potências que mais puxaram pela Descolonização, estavam-se perfeitamente a marimbar para o futuro dos Povos que proclamavam defender.
(Estou a usar o termo colónia meramente pelo valor informativo, porque no sentido de colónia-exploração, ou colónia diferente de pátria , aí entramos noutra discussão) Minho a Macau.
Os nossos "amigos" norte europeus gostam muito de sistematizar os eventos para poder comparar tudo, ás vezes equiparando situações completamente distintas, como a presença Portuguesa em África com outras.
Portanto, o Problema Belga no Congo, foi um problema interno, provocado pela presença Belga. o Problema Angolano foi um problema externo, provocado por situações internacionais. (E até infiltrações do próprio Congo Belga. Portanto a desgraça vizinha sobrou para nós. e não o oposto)
Que representa Portugal para um cidadao angolano(de Angola falando) ? um antigo colonizador, uma possibilidade de escape economico ou social, uma entrada no 'eldorado' europeu ...seja o que for... tudo menos uma referencia pessoal e interior..
Compreendo o que diz, mas eu centrar-me-ia mais na questão da
atitude de um para o outro.
Um negro em Portugal é tratado com muito mais apreço do que em qualquer outro país ex-colonizador.
E quando falamos de cidadãos angolanos, falamos de negros , de bancos, de mestiços. É difícil falar de uma referência interior, pois com o estilhaçar de Angola com a guerra, muitas referências se quebraram.
Ás vezes até étnicas.
Mas há uma coisa que não sei se se possa chamar de referência, mas um sentimento, uma atitude de ver a vida. Um Angolano não é igual a um Hutu ou um Tootsie.
O passado de Portugal em Angola(nos limites actuais) nao é de cinco séculos(quem escreve estas linhas esteve presente, enquanto expedicionario, em Luiana, no extremo SE de Angola, onde poucos portugueses tinham estado antes e provavelmente menos ou nenhum depois).Mesmo que isso nao seja do agrado de alguns, na verdade os portugueses apenas 'penetraram' sériamente no interior do continente africano nos finais do sec XIX, e porque a tal foram instigados pela pressao das potencias continentais europeias, que ja ai tinham destacado e infiltrado os seus pioes e exploradores.
100% de acordo, a chamada Corrida a África. E claro, uma coisa é ter uma mapa com um risco, a dizer que o território é detido por X, outra coisa é controlo efectivo, certamente.
Angola, como disse, nos limites actuais, é um fenómeno recente, claro,
uma resposta ao Colonialismo norte-europeu. Mas a nossa presença é muito anterior, o nosso conhecimento dos povos africanos, os contactos com os seus líderes. Uma relação mais profunda e longa.
Em oposição a uma relação norte-europeia com os Africanos mais á pressão, feita á pressa, imposta, muitas vezes com muito pouco conhecimento das realidades locais, desperdiçando oportunidades de entendimento. Enfim resultando em chacinas de parte a parte. E numa presença de curta duração quando comparada com a longa presença portuguesa. (ainda que como disse, não nos limites actuais, mas mais litoral).
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Devo-lhe dizer que tenho imenso respeito por Militares Portugueses que estiveram em África, pelo seu serviço á Pátria, e que foram verdadeiramente injustiçados no tratamento pós 25 de Abril.
Hoje em dia, ainda me repugna mais, quando vejo a causa dos Militares Portugueses do Ultramar, usada para fins políticos, por pessoas que se estão verdadeiramente nas tintas. A Hipocrisia de algumas pessoas não tem limite. Eu acho que se devia dar mais voz aos Militares do Ultramar na comunicação social, para que digam realmente o que lhes vai na alma.
E isto doesse a quem doer, ouvir verdades dificeis, de muita gente na política com grandes culpas na matéria, era uma questão que devia ser resolvida.
Felizmente existe a Internet, onde se podem ler relatos de ex-combatentes contando a sua história na primeira pessoa.
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Basta reparar nas fronteiras entao(a esquadro) estabelecidas.O triste problema conhecido como do 'mapa cor-de-rosa' que nos obrigou a uma outra 'visao', é bem ilustrativo de tudo isso,
Ah sim, e isso é pena ser uma questão tão esquecida, ás vezes por pessoas que se dizem de direita, pseudo-patriotas dum Portugal imaginário que só começa em 1900 ou 1974.
O passado é muito importante, tenho pena que gente como o António Sardinha do Integralismo Lusitano, estejam tão esquecidos.
O Patriotismo já existia em Portugal, muito antes de haver Direitas ou Esquerdas ou Centros.
Mas, claro, a nossa história do ultimo século não ajuda.
O Atitude Inglesa no seu melhor, está bem patente no incidente do mapa-cor-de-rosa, e até em publicações como a Encyclopedia Britannica de 1911 com uns artigos insultuosos em relação ao nome de Portugal.
São estas e muitas outras coisas que me fazem sentir e pensar que o Sul Europeu não se deve vergar nunca perante o norte europeu.
A nossa alma é incomparavélmente superior como a história o demonstra.
e passo por alto um dos problemas moralmente mais graves da historia portuguesa e ultramarina, e que me afectou pessoalmente para todo o sempre, depois de viver esses terriveis 'dias de brasa' no enclave, apos o conhecimento da 'traiçao' portuguesa aos acordos de Simulambuco (Cabinda), que tal como outros estiveram relacionados com o 'emendar de mao' da politica portuguesa.
A diversa populaçao angolana de hoje, é totalmente diferente da que existia ha 50 ou mesmo 30 anos atras e quase nada tem a ver com os antigos autoctones, do tempo de Norton de Matos, para nao recuar mais.A 'osmose' operada nas extensas fronteiras é certamente um motivo, mas nao o unico.Creio...opiniao muito, muito pessoal... que no futuro, a proximo ou médio prazo se podera vir a gerar um grande bloco politico/economico, que englobaria a Zambia, Zaire e Angola (e ev. paises adjacentes), mas reconheço que entrar no modelo que este poderia vir assumir, e a sua relaçao com as unioes a sul(e posteriormente o norte) do continente seria ja especular demasiado.
Caro Zezoca, o que se refere, seria no fundo a solução Africana.
A "Alemanha" Africana, (sem querer insultar os Africanos), uma potência
com recursos vastos, e população, que permitiria uma maior defesa face a pressões fortíssimas internacionais. Talvez até permitisse a Industrialização Africana, permitindo uma verdadeira revolução económica no continente Africano. (A África do Sul é um começo).
Claro que, como de certeza saberá melhor do que eu, há muita gente interessada em que isto não aconteça, e países norte-europeus e os estados unidos farão tudo para impossibilitar essa solução.
Preferem sugar a riqueza do continente, enchendo os bolsos, dando empréstimos e sugando juros, ou perdoando (o que ganham é tanto, que mesmo perdoando os empréstimos saiem a lucrar de qualquer maneira).
Infelizmente Portugal ou os países Sul Europeus não têm força para apoiar qualquer acontecimento internacional desta magnitude. Nem sequer estão coordenados para tal.
Cumprimentos.
P.S.- Fugi um pouco ao tema, mas a resposta era tão interessante que me vi forçado a responder.