OS GRANDES PORTUGUESES (CANAL-1)

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hellraiser

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« Responder #195 em: Março 29, 2007, 07:13:52 pm »
Citação de: "Spectral"
Mais ninguém acha irónico que Salazar tenha ganho como ganhava as suas "eleições" ? (i.e. com *batota* )...  :twisted:  :twisted:
"Numa guerra não há Vencedores nem Derrotados. Há apenas, os que perdem mais, e os que perdem menos." Wellington
 

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Luso

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« Responder #196 em: Março 29, 2007, 11:10:07 pm »
Da Grande Loja...


"A primeira página do Público de hoje, explica-se a si mesma, numa singela e bem explícita alegoria dos problemas que nos afligem como país.

No topo, uma caixa de imagem com um Salazar estilizado por um pintor não identificado ( o Público acha que não tem o dever de). Uma citação de um comentador do jornal ( JPP) deixa no ar a perplexidade do dia: como foi possível, mesmo num concurso banal, de tv, um ditador morto quase há 40 anos, ter ainda uma imagem tão forte junto dos portugueses?
O esforço de desvalorização ( “do ponto de vista técnico-científico, os resultados divulgados pela RTP não valem nada”), feito pelo politólogo Pedro Magalhães, no corpo da notícia assinada por Adelino Gomes, não pega muito, quando diz a seguir que afinal valem os das agências de sondagens. Ora estas, dão uma imagem com algum relevo da figura de Salazar, por forma a não permitir que se possa dizer que os resultados do concurso “não valem nada”.
Para saber se valem ou não, melhor seria interpretar outros factores de ponderação. Por exemplo, especular sobre a motivação dos votantes.


E o Público procurou saber dessas motivações por interpostas pessoas, quase sempre as mesmas e que declinam nomes já conhecidos como Pacheco Pereira, Eduardo Lourenço, José Mattoso e até Vasco Lourenço(!), para além do politólogo. As opiniões destes comentadores, são as do costume, sem novidade e sempre na direcção do pensamento unificado. O Público, ( e Adelino Gomes, em particular) nunca sairiam desse trilho bem marcado- e é pena.

No entanto, é na primeira página do Público de hoje, que numa feliz conjugação de títulos, se atinge o alvo, com recheio, mesmo involuntário.
O primeiro título respeita aos gestores públicos, engendrados por esta democracia de há uma dúzia de anos a esta parte. A notícia de que um gestor anódino da GALP, ao fim de um ano e de ter ganho com a saída, cerca de quinhentos mil contos de indemnização, ter passado para a REN, para ganhar balúrdios, acerta no coração dos pobres de espírito que não compreendem os critérios governamentais que presidiram a estas regras de generosidade sem paralelo, na decência de um país pobretanas e na cauda da Europa. Os portugueses em geral, não compreendem, não aceitam e acham escandaloso que tal aconteça. E tal acontece, devido a uma simples palavra mágica que todos entendem: corrupção. Não a do código Penal, mas a outra mais simples, a moral. O senso comum, no entanto, não a distingue da outra, aquela que vem escarrapachada no segundo título: “Assembleia discute corrupção-Ministério Público contra lei da política criminal”.
Este título que encima uma foto de um símbolo da luta contra a corrupção no país ao lado ( Baltazar Garçon) , lembra-nos a nós leitores que foi na Assembleia que se derrotou a proposta de Cravinho, por ser disparate e até “asneira” e lembra-nos também dos inquéritos parlamentares a casos singulares que dão aquilo que as maiorias querem que dêem. Lembra-nos ainda a ética que existe na Comissão de Ética e outros fenómenos que os portugueses conhecem .
Por causa de asneiras, repetidas e recalcitradas, o público que votou na figura do melhor português de sempre, escolheu Salazar.
É preciso explicar mais?!"
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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JoseMFernandes

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« Responder #197 em: Março 30, 2007, 09:45:09 am »
A crónica que segue publicada, por sinal também no jornal PÚBLICO de hoje, é da autoria de um conhecido opositor a Salazar.
Julguei o texto interessante e a merecer alguma reflexão...

 
Citar
As botas de Salazar

30.03.2007, Jorge Almeida Fernandes

Uma certa esquerda pouco aprendeu: a demonização redunda em propaganda do objecto demonizado


O episódio da "vitória" de Salazar no concurso da RTP confronta a esquerda com a sua histórica dificuldade em pensar o salazarismo. Também a direita sente mal-estar em o fazer, questão interessante mas de que não me ocuparei.
Falo da esquerda e daquela tradição, de matriz comunista ou republicana, que nos "treinou" a pensar o salazarismo não só como regime liberticida mas também, e talvez sobretudo, como autor de todas as pragas históricas e sociais - atraso, pobreza, analfabetismo -, por definição incapaz de mudança e produtor de um país fechado, rural, antimoderno. O retrato político de Salazar oscila entre a hagiografia dos fiéis e os estereótipos da oposição, a quem nunca interessou conhecer o inimigo - era tranquilizador vê-lo como medíocre -, o que lhe custou caro.
Esqueçamos a herança da Monarquia e da República (os contemporâneos encarregaram-se de fazer o balanço) e lembremos apenas que, contra ideias feitas, Portugal sempre foi, por necessidade e tradição, um país aberto ao exterior - pela emigração, pela própria condição colonial e de antigo império, pela atenção dada à actualidade internacional (compensando a censura da nacional) ou pelas ideias e livros que se importavam. Uma anedota ilustra a dificuldade de pensar a relação entre regime e mudança. Num manifesto de Janeiro de 1959, "Aos Portugueses", que até era inovador em alguns aspectos, a oposição do Norte, de republicanos a filocomunistas, pedia desenvolvimento mas denunciava o II Plano de Fomento e "excentricidades como a da Ponte sobre o Tejo", exigindo a suspensão das "obras de fachada".
Ao longo dos anos 1960, esta representação entra em crise. Portugal conheceu nessa época as maiores taxas de crescimento da sua História. Nascia uma nova classe operária e cresciam os serviços, irrompiam novos temas e formas de luta. Os costumes mudavam aceleradamente. O país rural esvaziava-se. Não me detenho nas razões. Limito-me a constatar a rejeição de mitos que nos impediam de olhar a sociedade ou identificar sequer o inimigo.
Exemplo paradigmático da mudança de olhar é o ensaio de João Martins Pereira, "A longa descoberta do caminho marítimo para a Europa", publicado em O Tempo e o Modo, em 1969. "Não adianta pois continuarmos a pretender convencer-nos de que o Portugal de hoje pouco difere do Portugal de há 20 anos", era a mensagem.
Esta ruptura teve largo alcance: modernizou parte das correntes esquerdistas que passaram a privilegiar os temas anticapitalistas e a subestimar os "antifascistas". Contagiou operários e classes médias.
Trinta anos depois do 25 de Abril, assiste-se a um renascimento do "antifascismo", já não como arma de oposição, mas enquanto negócio ideológico. Para o PCP de hoje, trata-se de obter uma relegitimação - agora que o comunismo caiu e foi objecto de uma crítica radical - através de uma narrativa da sua "gesta heróica", que implica a multiplicação do martírio e da resistência. Para outros, mais do que a preservação da memória, é um piedoso ersatz perante a falta de causas numa época prosaica.
Neste pseudotrabalho de memória, nos media e em certa história, há casos de perversão. Para fazer de Salazar um mal absoluto, procede-se à tentativa da sua associação ao próprio mal absoluto encarnado pelo nazismo. Não se trata de simples falsificação. Há uma dimensão psicológica: fica a impressão de que se lamenta que Portugal não tenha podido participar em coisas como o Holocausto.
Eduardo Lourenço lembrava, na Visão, a relação entre Salazar e Cunhal "dois ícones políticos simétricos, (...) um reforçando-se com a referência ao outro pelo maniqueísmo intrínseco e oposto que representavam". Mas há outro plano. Nos anos 1930, Salazar manipulou e ampliou o papel de um PC débil e quase inerte. O PC servia-se desta propaganda gratuita para mascarar a sua impotência. Salazar escolheu o "papão" comunista não pelo seu potencial de ameaça interna, que era nulo, mas em nome do anticomunismo e do inimigo soviético, que eram reais e pagavam dividendos políticos. Quase até ao fim, o regime tentou apresentar toda a oposição como manipulada pelo PCP. Hoje, é o PCP que devolve o favor, restaurando "objectivamente" a figura de Salazar. A demonização redunda em propaganda do objecto diabolizado.
O pior efeito da amálgama de Salazar com todas as desgraças pátrias pode ter um efeito perverso na saúde da democracia. Se o Estado Novo é responsável por todas as misérias e tristezas do país de então, por que não responsabilizar o 25 de Abril pela corrupção, insegurança, fiascos económicos, miséria dos velhos ou frustração dos novos? Começa aqui o risco de fascínio do autoritarismo. Se queremos uma política de memória e explicar às novas gerações o que foi o salazarismo, precisamos de boa história. E bom ensino. Sugiro que os historiadores que se insurgiram contra a RTP denunciem, como fez o prof. Mattoso em declarações ao PÚBLICO, o estado a que o ensino da História chegou em Portugal. Seria mais útil.

« Última modificação: Março 30, 2007, 09:53:32 am por JoseMFernandes »
 

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JQT

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Re:
« Responder #198 em: Março 30, 2007, 10:55:23 pm »
A reportagem da TVE no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=Nh1dcYP2S8c

Segundo eles, o programa teve pouca audiência, não fez correr tinta nos jornais e foi desprezado como um programazeco.

O 25 de Abril foi em 1973.

Acho que a TVE está com medo de fazer um programa semelhante e que ganhe Franco. Penso yo de ke.

Este então é melhor que os do Almodovar: «Mulher comunista à beira de um ataque de nervos»:  http://www.youtube.com/watch?v=np2sjQruD9w

Avante camarada, avante!

JQT
 

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ricardonunes

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Re:
« Responder #199 em: Março 30, 2007, 11:26:45 pm »
Citação de: "JQT"
Este então é melhor que os do Almodovar: «Mulher comunista à beira de um ataque de nervos»:  http://www.youtube.com/watch?v=np2sjQruD9w

Avante camarada, avante!

JQT


Reparem no que se passa no seg. 49 até ao 51 :shock:
Potius mori quam foedari
 

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papatango

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« Responder #200 em: Março 31, 2007, 12:04:03 am »
A reportagem da TVE, é apenas típica da comunicação social espanhola. A revolução "de los claveles de 1973" expressão utilizada pelo correspondente em Lisboa, mostra o tradicional respeito espanhol pela História e pela verdade.

= = =

O concurso foi tão falseado pelas mensagens SMS a pedir o voto em Salazar, como foi falseado pelos pedidos para se votar em Salazar entre os camaradas das Direcções Regionais do PCP.

O concurso é tão falseado, como foi a votação para que ganhasse o Zé Maria no primeiro Big Brother.

É um concurso, e não mais que isso.
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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p_shadow

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Re:
« Responder #201 em: Março 31, 2007, 04:02:01 am »
Citação de: "ricardonunes"
Citação de: "JQT"
Este então é melhor que os do Almodovar: «Mulher comunista à beira de um ataque de nervos»:  http://www.youtube.com/watch?v=np2sjQruD9w

Avante camarada, avante!

JQT

Reparem no que se passa no seg. 49 até ao 51 :shock:


Ricardo, seu malandro, a chamar a atenção para atentados ao pudor!!!


Cumptos
A realidade não alimenta fóruns....
 

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Lancero

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Re:
« Responder #202 em: Março 31, 2007, 11:30:31 am »
Citação de: "p_shadow"
Citação de: "ricardonunes"
Citação de: "JQT"
Este então é melhor que os do Almodovar: «Mulher comunista à beira de um ataque de nervos»:  http://www.youtube.com/watch?v=np2sjQruD9w

Avante camarada, avante!

JQT

Reparem no que se passa no seg. 49 até ao 51 :?
"Portugal civilizou a Ásia, a África e a América. Falta civilizar a Europa"

Respeito
 

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lecavo

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« Responder #203 em: Março 31, 2007, 09:30:56 pm »
Viva!

Andamos todos para aqui a "mandar postas de pescada", uns como detractores do ditador, outros como incondicionais apoiantes da figura que foi A. Oliveira Salazar.

Sendo filho de um perseguido "político". Coloquei político entre aspas, porque na verdade o meu pai nunca foi um político. Explicar o que se passou, par além de moroso e fastidioso, acorda memórias antigas que prefiro ver escondidas. Mas como ia dizendo, como filho de alguém que foi perseguido e teve inclusive de abandonar o país para não ser encarcerado num qualquer “Aljube”, fui crescendo a ouvir dizer que Salazar era um ditador, um tirano, etc.

Por outro lado, estão lá em casa doze livros que segundo me lembro são exactamente iguais. 4 do meu pai, 4 da minha mãe e os últimos 4 pertenceram ao meu irmão. Já há muito que não lhe passo os olhos por cima. Mas tenho que confessar, que acompanhado pelo meu pai, os li todos (4). Fiquei com a consciência que todos eram iguais, embora os 8 mais antigos tivessem algumas diferenças, já que mediavam 20 anos entre eles. Da sua leitura sobravam três coisas: - Deus, Pátria e Família..... e Salazar. Era notório o culto do chefe, do líder da nação. Umas vezes implicitamente, outras explicitamente, estava lá bem vincado o culto (doutrinação) do chefe - Salazar.

Foram 40 anos de doutrinação, que certamente aprofundaram raízes nas mentes de milhões de portugueses. Devendo ter ainda em conta que não havia possibilidade de existência de contraditório, já que a censura ditada pela ditadura o impedia. Ao povo apenas chegava a imagem de um homem votado à nação. Um homem casto, sério e honestíssimo, a par com a sua condição de homem pobre.

Enquanto estadista, foi um ditador. Enquanto economista, teve uma fase inicial (até ao fim da II Guerra Mundial) de grande valor técnico. Equilibrou as contas públicas, modernizou o país, construindo infra-estruturas, reorganizando o estado (forças armadas, polícias, justiça, ensino, etc). Depois entrou naquilo a que chamo sovinismo e tudo parou. Há quem diga que nos anos sessenta tivemos novamente uma fase de grande crescimento económico (também hoje a China e a Índia o têm). Talvez tenha sido (não sei, reconheço que não estou devidamente informado), mas foi também nesta altura (década de 60) que 1,5 milhões de portugueses saíram do país (3% da população), procurando na emigração a salvação para a fome e a miséria. Como politico, considero que falhou redondamente ao não ser capaz de encontrar uma solução para o problema colonial.

Por tudo isto, não o acho digno de “receber” o prémio de “melhor português”.

Já falamos do político, do economista, mas afinal como era o António? Que tipo de personalidade tinha?

Uma vida ao serviço da nação. Foi assim que António de Oliveira Salazar quis ficar conhecido para a História. Um homem sério, ex-seminarista, casto, antiquado, pouco dado a devaneios amorosos. Tudo a bem da nação. Mas a paixão bateu bem cedo à porta deste homem. Conhecido por troca-tintas, Salazar tocou no coração de várias mulheres, deixando-as, sem esperança, a suspirar de amor. Felismina de Oliveira, o seu primeiro amor. Júlia Perestrelo, a jovem a quem dava explicações. Maria Laura, o amor pecaminoso. Maria Emília, a bailarina e astróloga que o ajudava a tomar decisões consoante os astros. Maria, a Governanta de Portugal, e as suas sobrinhas, que rapidamente ganham um lugar no seu coração e ficam conhecidas como as pupilas de Salazar. Mercedes Feijó, a amante do Hotel Borges; ou Christine Garnier, a jornalista que o levou, num acto pouco usual, a abrir os cordões à bolsa para enviar garrafas do melhor vinho para França. Apesar dos rumores e mesmo de algumas notícias de jornal, António de Oliveira Salazar nunca casou. Preferiu levar uma vida de D. Juan. Um destruidor de corações que nunca conseguiu fazer nenhuma mulher feliz.”
(Felícia Cabrita)

Partindo do princípio que se trata de um trabalho sério, este texto da Felícia Cabrita dá-nos já uma imagem bem mais mundana, deste homem, por muitos endeusado. Mas falta-nos ainda muito mais informação. O tempo e o secretismo em que se envolvia, não nos permitirá, talvez nunca, saber afinal quem era este homem, já que todos os textos que li, onde aparecia citado, denotavam ser um homem retraído, tímido, dotado de uma ironia subtil que lhe era característica, a par de um humor mordaz que lhe era igualmente característico. Conhecer profundamente este homem, de forma objectiva, sem paixões, seria certamente muito mais interessante que este leva e traz de opiniões.

“Mais tarde, quando o engenheiro Cunha Leal publicava livros de Memórias em que Salazar não era poupado, mandou-lhe um exemplar com delicada dedicatória autógrafa e uma carta a pedir-lhe a intervenção para que a censura não impedisse a venda do livro. Na carta, Cunha Leal manifestava o desejo de que Salazar lesse o livro. O Presidente respondeu agradecendo a amabilidade da oferta e prometendo intervir junto da censura; quanto a ler o livro, lá isso não prometia...”

“Num dos famosos artigos que publicou nas «Novidades» entre fins de 1927 e princípios de 1928, queixava-se do seu estado de saúde:
Estou com uma constipação formidável. Sinto um enorme peso na cabeça - por dentro, está visto; choram-me os olhos e não vejo claro. É-me impossível estudar ou compreender o que leio; bronco, pesado, estou incapaz de aprofundar um problema, de apanhar a força duma razão, de perceber a nuance de uma ideia, de manter a sintaxe dentro de regrados limites; em suma, estou em óptimas condições para escrever nos jornais...

“Noutro dos artigos da mesma série conta:
Ao arrumar uns velhos papéis, encontro uma carta de há anos em que um amigo me pede que consinta na eliminação duma frase por mim escrita em tese destinada a um Congresso qualquer. Havia quem a julgasse pouco patriótica ou pelo menos pessimista, desalentadora para tantos que queriam trabalhar com entusiasmo e com fé. Mandei que se cortassem as palavras do reparo. Diziam: «a redução das despesas públicas é um problema politicamente insolúvel». A frase desapareceu, mas a verdade... a verdade ficou.

“Um dia, o Ferro apareceu a Salazar muito embaraçado:
- Temos um problema com a Guilhermina Suggia. Ela pede um cachet de quarenta contos pela sua participação. Que é quanto lhe pagam em Londres e não quer baixar o preço dos seus recitais...
Salazar ponderou:
- Realmente, quarenta contos por tocar durante meia hora, é puxado...
E de repente, fitando o Secretário da Informação:
- Olhe lá, o senhor sabe tocar rabeca?
Ferro, surpreendido, gaguejou:
- Não, não sei.
- Eu também não. Não há outro remédio: temos de pagar os quarenta contos à senhora.

Diga-se de passagem que os quarenta contos foram depois dados pela artista a casas de caridade. Simplesmente, não rebaixava o seu cachet.”

A democracia é o pior dos regimes políticos ... exceptuando todos os outros.”- (Winston Churchill)

Há regimes que são maus, outros menos maus e um que, pela sua própria natureza, procura a justiça tendo como base o respeito pela vontade do povo e que, por isso, se designa de democracia. A diferença entre este regime e todos os outros é que só este garante o exercício dos direitos humanos, o respeito pela dignidade humana e a prática da justiça e da liberdade. Mas não é um sistema perfeito porque simplesmente regimes perfeitos não existem.”

Por fim, lanço aqui outra questão: Os “apoiantes” de Salazar, aqueles que votaram nele, estariam hoje disposto a viver num país onde a ditadura e a censura fosse uma realidade?
Um abraço.

--Lecavo
 

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ricardonunes

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« Responder #204 em: Março 31, 2007, 09:52:25 pm »
Citação de: "lecavo"
Por fim, lanço aqui outra questão: Os “apoiantes” de Salazar, aqueles que votaram nele, estariam hoje disposto a viver num país onde a ditadura e a censura fosse uma realidade?


Eu não votei no Salazar, não votei em nenhum.
Mas, se para por ordem neste País desorientado for preciso uma ditadura, que venha :!:
Potius mori quam foedari
 

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Luso

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« Responder #205 em: Março 31, 2007, 11:33:32 pm »
Citação de: "lecavo"
Por fim, lanço aqui outra questão: Os “apoiantes” de Salazar, aqueles que votaram nele, estariam hoje disposto a viver num país onde a ditadura e a censura fosse uma realidade?


Eu vivo e trabalho numa.
Porque essa ditadura não me dá alternativa.
Não mata (mas até podia - quem tem certos amigos pode certas coisas). mas moi (faz-nos questionar a nossa razão de existir).
Tira-nos a esperança;
Não ouve quem quer o bem da comunidade que diz representar;
O valor dos seus actos valem pela propaganda que deles se pode fazer;
É arbitrária;
Protege os incompetentes;
Rouba;
Destroi;
Não faz obra;
Cala a oposição, não perseguindo-a mas comprando-a (a pouca que existe)
Não tem justiça que a castigue pelos seus roubos, porque a justiça e cega e malandra;
Toda a imprensa a protege;
A ditadura em que trabalho é eleita de 4 em 4 anos. E ganha sempre.
Dizem que é uma espécie de democracia.

Dizem que a democracia é boa. Eu não sei porque não a conheço.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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lecavo

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« Responder #206 em: Março 31, 2007, 11:58:56 pm »
Citação de: "Luso"
Eu vivo e trabalho numa.
Porque essa ditadura não me dá alternativa.
Não mata (mas até podia - quem tem certos amigos pode certas coisas). mas moi (faz-nos questionar a nossa razão de existir).
Tira-nos a esperança;
Não ouve quem quer o bem da comunidade que diz representar;
O valor dos seus actos valem pela propaganda que deles se pode fazer;
É arbitrária;
Protege os incompetentes;
Rouba;
Destroi;
Não faz obra;
Cala a oposição, não perseguindo-a mas comprando-a (a pouca que existe)
Não tem justiça que a castigue pelos seus roubos, porque a justiça e cega e malandra;
Toda a imprensa a protege;
A ditadura em que trabalho é eleita de 4 em 4 anos. E ganha sempre.
Dizem que é uma espécie de democracia.

Dizem que a democracia é boa. Eu não sei porque não a conheço.


E a ditadura é? Já viveu sob o jugo de alguma?

Acho piada a certos discursos tipicamente fadistas. Representam o que somos enquanto povo. Não nos governamos, nem nos deixamos governar. Olhamos o país, como tudo o resto, como o trabalho, até como a nossa propriedade. Quem já viveu em condomínios sabe do que estou a falar. Marcam-se as reuniões e não aparece ninguém. Fazem-se eleições e o pessoal vai passear. Se podermos, não pagamos impostos. Os patrões “roubam” os seus funcionários, estes como “paga” não trabalham. Temos "vergonha" de pedir a factura. Aplaudimos os xico-espertos. Depois, depois culpamos a democracia, como se ela se construísse a si própria, como se não tivéssemos de ser nós a construi-la. É muito mais fácil "arranjar" alguém, de preferência um "gajo" sério, honesto, solteiro, religioso, muito trabalhador e pobre para fazer o serviço por nós. Delegamos toda a responsabilidade nesse gajo, mesmo que para isso tenhamos de hipotecar a liberdade e depois, vamos todos para o Allgarve veranear.
Um abraço.

--Lecavo
 

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Luso

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« Responder #207 em: Abril 01, 2007, 11:19:34 pm »
Citar
E a ditadura é? Já viveu sob o jugo de alguma?

Amigo lecavo, repito-lhe o que disse. Mantenho o conteúdo e abaixo poderá ler um texto cujo teor eu interpreto como igual. Veja como estamos: o lecavo, dada a sua profissão, é um dos guardiões da democracia. O que lhe parece a situação de hoje?

Citar
Depois, depois culpamos a democracia, como se ela se construísse a si própria, como se não tivéssemos de ser nós a construi-la. É muito mais fácil "arranjar" alguém, de preferência um "gajo" sério, honesto, solteiro, religioso, muito trabalhador e pobre para fazer o serviço por nós. Delegamos toda a responsabilidade nesse gajo, mesmo que para isso tenhamos de hipotecar a liberdade e depois, vamos todos para o Allgarve veranear.

Não é a democracia, como princípio que condeno. Apenas a "democracia de Abril", corrupta e mentirosa.
Quanto ao resto, permita-me um pouco de arrogância merecida. Eu já dei a cara. Já me apresentei para combater o que entendo errado. E continuo sempre a lutar e a escolher meios diferentes para o conseguir. Não é fácil, porque não se vê resultados. Mas lá se vai tentando. É teimosia e educação. Compreenda que é um certo sentimento que tenho de "ter o direito de falar" que digo certas coisas. Mas adiante.
Leiam o texto abaixo que é simples e vai directo ao assunto.

http://classepolitica.blogspot.com/

Citar
A liberdade não é um fim em si mesmo.
A liberdade é um meio necessário mas não suficiente, para que os cidadãos atinjam as melhores condições económicas, ambientais e sociais, atinjam o maior bem estar em sociedade.
Uma democracia será uma sociedade onde não existe apenas a liberdade individual e social formalizada em Lei, mas uma sociedade onde se pratica a liberdade e estão criadas as condições para a sua prática plena.
E só nestas condições, poderá existir o desenvolvimento económico e social, pleno e harmonioso da sociedade.

A pratica da liberdade condiciona a que os mais aptos ocupem os lugares de maior responsabilidade na gestão administrativa e económica da sociedade, e não sejam preteridos por outros menos capazes porque pertencentes à família dos ocasionais detentores do poder num dado momento. Uma sociedade que selecciona para os altos cargos da gestão do Estado, não os mais aptos mas os partidários ou familiares de quem ocasionalmente detém o poder, não é uma sociedade que pratica a liberdade, não é uma sociedade democrática.
Uma sociedade onde para os ricos e os pobres não existe um igual direito à Justiça, à Saúde, à Educação não é uma sociedade que vive em liberdade, não é uma sociedade democrática.
Uma sociedade que é permissiva com a corrupção e que não se esforça por combatê-la com a maior eficácia, não é uma sociedade que vive em liberdade.
Quando um governo é condescendente com a corrupção, é um governo que atenta contra os próprios princípios da democracia institucional.
Quando uma classe social se permuta no poder, desenvolvendo ao longo dos últimos trinta anos, os mais urdidos mecanismos de privilégios para si própria, enriquecendo à custa dos cidadãos que vem governando, agravando a diferença de rendimentos entre ricos e pobres e retraindo o desenvolvimento económico e social do País, é uma classe política que deverá merecer o desprezo de todos os cidadãos.

Uma sociedade que não se esforça por desenvolver estruturas que a encaminhem para uma maior solidariedade e igualdade social é uma sociedade que caminha em sentido oposto ao da democracia e da liberdade.
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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lecavo

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« Responder #208 em: Abril 02, 2007, 01:19:13 am »
Viva!

Começo por fazer um reparo à minha atitude. Tenho este feitio, sou muito directo com as pessoas, a tal ponto que quem é interpelado pode julgar que o estou a acusar. Nada mais falso. Discuto apenas ideias (respeitando sempre a do outro), sendo esta a minha forma de o fazer.

Compreendo perfeitamente a sua posição. Também a mim me custa viver neste país, permeio com gatunos, falsários, xico-espertos e toda uma fauna de corruptos. Mas apesar de tudo isto, que me enjoa, me dá asco, prefiro a democracia, mesmo esta nossa democracia inquinada. Pelo menos vivo na esperança que um dia as coisas vão mudar.

Ainda acerca do Salazar. Ganhou, mas e apesar de ter ganho, o que pressupõe alguma abertura a medidas mais duras e inflexíveis, sempre que o governo de hoje toma uma medida dura, vêm logo acusá-los de ditadores. Afinal onde ficamos, é que os ditadores nem sequer permitem que alguém questione uma ideia, uma medida ou o figurão que está por trás dela. É sobretudo esta incongruência que me irrita nalguns dos que conheço pessoalmente e votaram em Salazar.
Um abraço.

--Lecavo
 

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Yosy

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(sem assunto)
« Responder #209 em: Abril 02, 2007, 12:17:34 pm »
O melhor momento dos Grandes Portugueses: http://www.youtube.com/watch?v=Yks8mLk6 ... ed&search=

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