Boa tarde.
Antes de mais tenho que dizer que do que li, percebo que a maior parte das pessoas fala de cor, sem saber do fala e sem ter noção da realidade das coisas.
Em primeiro lugar e como inspector, não me envergonho dos sessenta ou mais anos de história da PJ, apesar de ser bem mais novo. Tal como não me envergonho dos muitos mais anos que tem a PSP e GNR.
O que me envergonha é ver pessoas que nada percebem de Polícia, a ter que decidir sobre a vida dos Polícias.
O que realmente me envergonha, é ver pessoas a querer imiscuir-se no trabalho dos outros, sem saber fazer o trabalho dos outros e sem ter a noção do que é o trabalho dos outros.
Pessoas más e incompetentes existem em todo o lado, seja na PJ, no SEF, na PSP ou na GNR.
E "treinadores de bancada", ui.... esses existem em todo o ladoe não é só no desporto.
Devo lembrar aos senhores da PSP e da GNR, que quem formou a investigação criminal naquelas forças policiais, foi a PJ. E portanto, o que sabem, começou em nós. E não digo isto para achincalhar ninguém, digo-o como facto, como verdade, sem qualquer obssessão. Pouco ou nada sei sobre segurança pública e por isso apenas posso opinar num raciocinio de lógica ou de cultura geral.
Muitas histórias e muitas achas têm sido deitadas para aumentar a fogueira em que se degladiam a PJ e as demais policias. Mas o que é facto, é que a verdadeira luta não envolve propriamente as bases destas Polícias, isto é, não envolve os inspectores e os agentes ou guardas. Envolve isso sim as nossas hierarquias e os dirigentes máximos dos ministérios que as tutelam, que, todos eles numa sede insofismável de protagonismo, parecem jogar ao jogo da corda, puxando cada um para seu lado. Tudo, auxiliado por Lobbys mais ou menos poderosos.
O objectivo da primeira LOIC foi reservar à PJ os crimes de maior complexidade e violência, tirando partido da sua especial formação e experiência e, bem assim, das vertentes científicas que são seu apanágio. E, por isso se dividiu a investigação criminal. Contudo, porque a questão da informação criminal era de sobeja importância, ficou o controle desta na sua natural dependência e, ficou consignado que as outras forças de segurança lhe deviam cooperação e comunicação dos ilícitos da sua competência.
Os anos foram passando e, a cada vez maior e natural experiência da PSP e GNR na investigação criminal, deu a algumas cabeças pensantes a convicção de que já são capazes de tudo e de investigar tudo.
Ora, a investigação criminal, seja ela da PSP, da GNR, do SEF ou da PJ, não dispõe de bolas de cristal para adivinhar a resolução de todos os crimes.
Os anos foram passando e, enquanto ingressam por cada concurso/ano, cerca de 1000 agentes ou guardas na PSP ou na GNR, ingressam cerca de 100 ou 150 inspectores na PJ. Contas feitas, enquanto a PSP e a GNR dispõe de um efectivo na investigação criminal de uns bons milhares de pessoas, a PJ está reduzida a cerca de 1200 (números redondos) para todo o território nacional, sendo que destes, 200 são cargos dirigentes (inspectores chefes e coordenadores).
Portanto, quando se critica a PJ pelo seu serviço, comece-se a pensar primeiro no seu efectivo, para depois reconhecer que faz um trabalho mais que meritório, atento aquele. Os carros, os salários, as ajudas e os subsídios que muita gente gosta de falar sem saber, não fazem o trabalho de polícia. As pessoas fazem o trabalho de Polícia. As Polícias, sejam elas quais forem, deviam ser bem remuneradas e ter os meios adequados à execução da sua função, o que não quer dizer que não tenha que haver distinção.
Posto isto, é com bastante dificuldade de compreensão que encaro determinados episódios.
Episódios como pedir-se informação a colegas de outras polícias e eles, para se afirmarem ou estragarem o nosso trabalho, criarem situações (algumas de uma gravidade incomensurável) para deterem indivíduos por nós investigados, para a seguir dizerem que detiveram quem era investigado pela PJ, querendo transparecer a ideia que conseguem investigar o mesmo que nós, ou têm tanta ou mais capacidade para prenderem os indivíduos mais violentos.
Episódios como mandar parar carros em marcha de urgência aquando de operações stop, quando se vão para diligências ou se trazem detidos no carro. Mandar parar viaturas que seguem em excesso de velocidade sem sinalizar marcha de urgência, esquecendo-se que podem estar num seguimento ou outra diligência.
Episódios como apreender toneladas de haxixe acabados de desembarcar, em processos que tinham em investigação e cientes de que se tratava de tráfico internacional, portanto, da sua não competência, para após aparecerem na imprensa com fardos de haxixe e dizerem que prenderam 5 ou 6 pessoas, esquecendo-se de dizer que aqueles que prenderam eram os menos importantes e que deixaram ao fresco os verdadeiros traficantes.
Episódios como andarem horas a investigar um sequestro e a tentarem prender os autores, quando, 10 minutos de trabalho competente, permitiram concluir que se tratava de uma simulação de crime.
Episódios como mandar destruir um invólucro, que depois impediu (com grande grau de probabilidade) que determinada pessoa fosse julgada por tentativa de homicídio.
Episódios como este, infelizmente, vão sendo mais que frequentes.
Há até quem na PSP, se tenha sentido insultado por o tratar por colega.
Quando se fala que a PJ não quer a PSP ou GNR na investigação, está a querer aumentar o lume da fogueira.
A PJ sabe trabalhar e apenas pede aquilo que dá aos outros, isto é, cooperação. Se não dá cooperação em determinado momento, é porque não pode dar no âmbito das suas competências.
Contrariamente ao que se pensa, nomeadamente aquando de incidentes com armas de fogo por parte da PSP e da GNR, a PJ não vai lá para tramar o colega que foi autor dos disparos, vai lá para apurar a verdade. Infelizmente, em alguns casos, não é a verdade de que gostamos mais, mas temos que cumprir com a nossa função. Casos existem em que a PJ entrega os mandados de detenção ao superior hierárquico do colega da PSP ou GNR, para que seja ele, a dar cumprimento aquele, por forma a evitar-se azedumes desnecessários e se permita à instituição, fazer a limpeza da casa. Todos sabemos o quanto é humilhante ver algum dos nossos detido, mais ainda quando é por alguém fora da nossa instituição. Infelizmente, casos há também, em que o desejo de brilhar e dos holofotes, se sobrepõe ao respeito.
Podiamos estar aqui uma eternidade a debater estes assuntos, cada lado oferecendo situações lamentáveis e outras, menos informadas.
Para terminar e respeitando o tópico, gostaria apenas de dizer, que a PJ foi capaz de dar conta do assunto FP-25 com a ajuda de todos. Por isso, também saberá dar conta, com a necessária ajuda de todos do dossier ETA e de outros menos ou mais graves ainda.
Bom trabalho para todos.