Sócio de empresa de capital de risco diz que holding formada por TAP, Ruben Berta e investidores terá 100% da aérea
Varig já está vendida, afirma consultor
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
"A Varig já está vendida", afirmou à Folha o consultor Pedro Xavier Pereira, 37, radicado na Espanha, que diz estar a serviço de uma das empresas que integram holding que terá 100% da aérea. Segundo ele, a holding, criada no Brasil, terá a participação da TAP (aérea estatal portuguesa), da Fundação Ruben Berta (que, oficialmente, ainda é a controladora da Varig) e de um "pool" de investidores brasileiros, portugueses e norte-americanos.
Com a holding, Pereira diz que não haverá problemas com a limitação de 20% de participação de estrangeiros na Varig. A TAP seria somente a "âncora" para promover a reestruturação e capitalizar investimentos. Sua participação garantiria credibilidade ao negócio e teria sido uma exigência de um consórcio bancário que compõe a operação. A versão não contraria as declarações concedidas à Folha pelo administrador da TAP, Fernando Pinto.
A reestruturação da Varig seria promovida com a colocação de papéis da dívida da empresa no mercado internacional. Segundo Pereira, a CGD (Caixa Geral de Depósitos), banco ligado ao governo português, participaria do refinanciamento da Varig. A CGD nega envolvimento no acordo.
A primeira providência da holding seria injetar 63,5 milhões na Varig para resolver problemas imediatos de tesouraria.
O consultor afirma que a intenção é separar as operações doméstica e internacional -esta última a mais estratégica para a TAP. As linhas nacionais, segundo ele, poderiam ficar nas mãos do empresário Nelson Tanure, dono do "Jornal do Brasil".
A riqueza de detalhes da descrição feita por Pereira é tanta que o o consultor chega a apontar que o acordo prevê a renovação de frota da Varig com a aquisição de aviões em sistema de leasing. Os aviões, afirma ele, serão batizados com o nome de caravelas que compunham a armada com a qual Pedro Álvares Cabral partiu para a descoberta do Brasil.
De acordo com o consultor, o negócio teria sido fechado quando o ministro dos Negócios de Portugal, Diogo de Freitas do Amaral, esteve no Brasil, no início do mês. Ele diz que a saída da Fundação Ruben Berta das negociações, com a nomeação de novos interlocutores, é conseqüência da transferência de poderes.
David Zylbersztajn, presidente do conselho de administração da Varig, afirma desconhecer a existência da holding. "Podem até ser negociações da TAP, mas não tenho conhecimento e não sei do que se trata", declarou.
De Lisboa, a TAP informou que não comentaria o assunto. No Brasil, o Ministério da Defesa também não se pronunciou. Pereira não apresenta provas do que diz. Mas afirma categoricamente que não é um "maluco" e que, em poucas semanas, o mesmo anúncio será feito por aqueles que agora negam a existência da holding. O que ele disse à Folha afirmou também ao jornal português "Diário Económico".
Interesse estratégico
Sócio da empresa LP Brothers, especializada em "venture capital" (capital de risco), com braços no Brasil, nos EUA, na Espanha, em Portugal, na Inglaterra e na Suíça, Pereira não nega que seu cliente -cujo nome não revela- tenha "interesses estratégicos" em divulgar agora o negócio. Ressalta ainda que não teme que suas declarações mudem o rumo das negociações. "Já está feito, não há o que mudar", afirmou.
Pesquisas e levantamentos realizados em Portugal, além de reportagens publicadas por vários órgãos de imprensa daquele país, mostram grandes investimentos da LP Brothers em operações de capital de risco e forte atuação na composição de alianças estratégicas em território português.
A jornalista portuguesa Madalena Queirós, do "Diário Económico", disse considerar o consultor uma importante fonte de informações jornalísticas. "Ele tem me passado informações há muitos anos e nunca falhou comigo."
Folha de S. Paulo