Quantos esquadrões de aeronaves, esquadrilhas de navios e brigadas terrestres acha que Portugal consegue realisticamente operar? E quais serão as prioridades - investimento na FA, Marinha ou Exército -, neste momento?
Estamos perante uma questão que só pode ser resolvida pelos cidadãos - e a mentalidade dos cidadãos que votam.
Ter capacidade para operar meios substanciais, nós até temos, mas para isso era preciso colocar o país em pé-de-guerra e destinar recursos materiais e humanos para a defesa e setores relacionados e isso não vai acontecer.
Estamos demasiado longe das guerras e a mentalidade do "portuga" tende a rir quando lhe falam em guerras.
É coisa para os outros, a nós não acontece nada e não precisamos de forças armadas, porque se houver problema, estamos na NATO e ninguém nos toca...
A questão do LPD é sintomática.
Um navio polivalente ligístico tem lugar em qualquer marinha moderna. A logística ganha guerras, de braço dado com a capacidade industrial.
Os países europeus são todos relativamente pequenos e criaram uma aliança, que lentamente foram abandonando, para dar a impressão de que existia.
A ideia é que, os países membros se especializem numa determinada tarefa. Ou seja, que os países possuam uma vantagem competitiva específica, como as empresas procuram para concorrer no mercado.
Portugal desde o inicio, que é visto como um país importante na questão da logística, porque somos um dos países em que se baseia a ligação entre a Europa e a América do Norte. Onde Portugal pode fazer alguma coisa que se veja e que sirva para alguma coisa.
Ter alguma capacidade logística, deveria por isso ser uma prioridade.
Mas Portugal entrou na NATO, porque tinha mesmo que entrar (ou os americanos ocupavam os Açores), mas entrou com uma perna às costas, com um exército que não tinha capacidade para a guerra moderna, mas igualmente à espera de uma guerra em África.
A guerra em África veio, e Portugal dedicou-se a essa guerra. A nossa participação na NATO foi sempre manca, desajustada e abaixo das nossas capacidades. Tinhamos uns navios para cumprir uns quantos compromissos, mas a nossa participação real, era através de um Navio de Apoio Logístico esse sim enorme, chamado Lajes.
Com o fim da guerra, esperava-se então que Portugal fizesse a transição para um exército europeu, e os aliados da NATO forneceram-nos tanques M-48A5, carros M113, pagaram 40% do programa das fragatas Vasco da Gama (a contra-gosto dos americano, mas com o apoio do país que as construiu). Os A-7 Corsair substituiram os Fiat G-91 (não eram caças, mas serviam para um país que era basicamente uma base no Atlantico) e mais tarde foram adquiridos novos, caças F-16/A e mais tarde mais caças usados F-16, que foram convertidos para o padrão MLU.
Mas entretanto a União Soviética, faz-nos o favor de implodir. Todos os programas militares de transição de um exército colonial para um exército europeu sofreram com isso.
No final do século, já com a URSS desfeita, a Lei de Programação Militar ainda tem em vista a continuação da modernização destes meios, nele está incluido um navio polivalente logístico.
A ideia de que o Navpol é um LPD resultou de um esboço publicado na altura, que mostrava um navio como os LPD espanhois e holandeses, mas pelo que percebo nunca houve na marinha e nas forças armadas em geral, consenso claro sobre a sua utilidade.
A marinha aparenta sempre ter encolhido os ombros, perante um navio que na essencia implicava dar ao exército a primazia.
Era como se a Força Aérea recebesse aeronaves de transporte, pensados para transportar a infantaria.
A Força Aérea ficaria com medo de passar a ser apenas uma empresa de transporte aéreo. A perda dos paraquedistas foi um choque para os paraquedistas, mas foi também um choque para os fuzileiros.
Se as forças especiais do exército possuem capacidade anfíbia, então para que servem os fuzileiros ?
A marinha não se transformaria apenas numa empresa de transporte marítimo ?Além disso surgiu uma questão, sobre quão logístico deveria ser o NAVPOL.
- Primeiro, compraram-se os Merlin, e naturalmente o navio deveria ter capacidade para os operar.
- Depois surgiram dúvidas sobre se o Navpol deveria ter capacidade para reabastecer outros navios, tal como o Bérrio tinha e mesmo para transportar combustível.
- A seguir veio a capacidade de operar o navio com um hospital a bordo, o que implicava mais capacidade para transportar pessoal médico
O navio foi engordando à medida que o tempo passava. As capelinhas foram-se posicionando, porque era melhor não mexer em nada. Os governos, perante estas pressões, foram fazendo o que sabem fazer melhor, empurrando com a barriga.
O Bérrio de repente, percebeu-se que não podia mais navegar, e o resto da capacidade logística foi-se (e nem vou falar do que na realidade o navio conseguia fazer).
Os políticos que vão para o ministério da defesa, aparentam ter dificuldade de explicar as coisas aos conselhos de ministros.
Passaram, pelos ministérios, ministros que é melhor nem falar deles, mas dos que tinham alguma coisa na cabeça, lembro o Paulo Portas, o Luis Amado e o Nuno Severiano Teixeira, na primeira década do século, que aparentemente ainda tentaram fazer alguma coisa, quando a tendencia era para reduzir, cortar e encolher.
Depois foi só reduzir, cortar e encolher, sem fazer absolutamente mais nada. O governo de Antonio Costa, fez menos pela defesa que o governo de Passos Coelho (afogado no mar da Troika) e agora chegámos a isto.
Mas... Uma coisa são os governos, o desgoverno e o desleixo, que quando contaminam os militares, levam ao descrédito, à indisciplina, à revolta, ao motim e ao desvio dos meios públicos para vantagens pessoais.
Outra coisa é o conceito de defesa, do qual faz todo o sentido fazer parte um navio de apoio logístico.
E não há nenhum remendo que possa substituir isso.
É disso que falo quando lembro que o Navpol (seja um LPD ou coisa que o valha) continua a fazer sentido nas forças armadas portuguesas.
Os holandeses tiveram o mesmo problema e apareceram com a solução mais lógica, um navio logistico como o novo "Karel Doorman" Esse sim "mega" já que desloca 27 800 toneladas.
O nosso problema é que, um navio desse tipo seria demasiado grande. Até os holandeses o operam em conjunto com os alemães.