Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

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Paisano

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Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
« em: Outubro 27, 2004, 12:33:59 am »
Brasil espera que Portugal e Cabo Verde ratifiquem acordo ortográfico da língua portuguesa

Christiane Peres
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Brasil deu primeiro o passo para unificar a língua portuguesa. Junto com Portugal o governo brasileiro procura incentivar os países que ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Assinado em 1990 por Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, e mais recentemente, Timor Leste, o acordo nunca foi implementado porque precisava da ratificação dos oito países membro da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP). Apenas Portugal, Brasil e Cabo Verde tinham começado a se adaptar ao acordo. Agora, o governo brasileiro espera a aprovação do protoloco em Portugal e Cabo Verde.

Para agilizar esse processo, os chefes de estado da CPLP decidiram, na última reunião da cúpula, em julho deste ano, que bastaria a ratificação do acordo por três países para que ele entre em vigor. “Portugal, Brasil, Timor e Cabo Verde tomaram uma decisão na reunião dos presidentes, onde aprovaram que o acordo ortográfico entra em vigor já por decisão desses países e os outros acompanham. Não vai precisar esperar o ritual legislativo que faltam cumprir. É um processo que leva tempo e agora será mais ágil”, diz o assessor especial do ministro da Educação, Carlos Alberto Xavier.

O acordo diz respeito ao registro da língua: como será escrita. Segundo Xavier, o significado das palavras não tem relação com a ortografia. “Somente a grafia será alterada. O espanhol é o mesmo na Espanha e na América Latina”, explica, lembrando que a língua portuguesa é o terceiro idioma mais falado no mundo ocidental. E a existência de duas ortografias oficiais dificulta sua capacidade de difusão internacional. “A língua só tem futuro no mundo se tiver apenas uma grafia. Um idioma para ser usado em organismos internacionais tem que ter uma ordem ortográfica”, acrescentou

O assessor lembra ainda que uma língua com duas grafias confunde os usuários. “Para facilitar a cooperação na África e no Timor, por exemplo, é fundamental essa ‘universalização’. Não dá para uma professora dizer ‘dictado’, seguindo um livro de Portugal e ‘ditado’ quando utilizar um livro do Brasil.”

São 21 as bases de mudanças na ortografia da língua portuguesa. Com a reforma, o trema deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados. O alfabeto passará a ter 26 letras, pois incluirá k, y e w. O h inicial e final das palavras também sofrerá alteração e permanecerão com ele apenas as palavras indicadas pela etimologia, por exemplo: homem, que vem do latim, ‘homini’.

Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, “estima-se que a entrada em vigor do Acordo Ortográfico poderá evitar o grande custo de produção de diferentes versões de dicionários e livros em geral. Será também mais fácil estabelecer critérios unificados para todos os países de língua portuguesa, com relação a exames e certificações comuns de proficiência de português para estrangeiros”.

Fonte: www.radiobras.gov.br (22/10/2004)
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JNSA

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« Responder #1 em: Outubro 27, 2004, 10:33:27 am »
Para mim, e desculpem o termo, isto são "mariquices" de quem não tem mais nada que fazer. Será que o Brasil e Portugal não têm nenhum problema mais premente do que uniformizar a ortografia?!... :roll:

É perfeitamente natural que, estando separados por um oceano, o português do Brasil e o de Portugal sejam diferentes na pronúncia e na grafia, e isso só enriquece as duas línguas. Não me parece de modo nenhum que crie separações entre os países.

Nunca me passou pela cabeça obrigar os brasileiros a escrever do modo que nós fazemos, nem espero que os brasileiros me obriguem a fazer o mesmo.

E depois, há uma série de argumentos simplesmente falaciosos:

Citar
E a existência de duas ortografias oficiais dificulta sua capacidade de difusão internacional. “A língua só tem futuro no mundo se tiver apenas uma grafia. Um idioma para ser usado em organismos internacionais tem que ter uma ordem ortográfica”, acrescentou


Vão perguntar aos ingleses se estão dispostos a trocar o seu "underground" pelo "subway" americano... :roll:
 

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papatango

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« Responder #2 em: Outubro 27, 2004, 11:36:40 am »
JNSA:
Para alguns, o português do Brasil e de Portugal, já são duas linguas separadas.
Embora, evidentemente para os portugueses isso seja algo absurdo. Ppor causa das novelas, claro, que já levam quase trinta anos de apresentação diária - e fizeram com que o sotaque brasileiro se tenha tornado, apenas mais um sotaque. Mas isso não acontece no Brasil.

No primeiro contacto, é muito comum os brasileiros dizerem que pura e simplesmente não entendem o que se fala. Têm este problema, não só com os portugueses, mas também com os Angolanos ou Cabo-Verdianos. Só depois de um ou dois dias, quando se habituam ao registo e entendem as palavras, começam a entender "automaticamente" o que se diz.
Eu estoua falar do "homem da rua" não das pessoas com alguma escolaridade.

Ora se o sotaque já afasta as linguas faladas em Portugal e em África, da lingua falada no Brasil, a mim faz-me bastante sentido essa uniformização.

Quando você escreve um texto no Brasil, tem que alterar parte da grafía, porque senão fica algo estranho, da mesma forma que fica em Portugal.

O acordo ortográfico, não se destina a fazer com que os portugueses passem a dizer ônibus, em vez de autocarro,  ou que os brasileiros passem a dizer Ocelote em vez de Jaguatirica. O acordo é isso mesmo, tem como objectivo fazer com que as palavras se escrevam da mesma maneira.

Já pensou que há pessoas que escrevem portuguêses e outras que escrevem portugueses.
Qual é a forma correcta?
Se queremos que a lingua portuguesa se expanda, acha normal que haja duas maneiras de escrever tantas palavras?

Os ingleses dizem UNDERGROUND os americanos dizem SUBWAY

MAS os ingleses não usam a palavra SUBWAY, mas se a escreverem escrevem-na de forma igual. aos americanos. E o mesmo ocorre nos Estados Unidos, um americano não usa a palavra UNDERGROUND, mas quando a utiliza, não utiliza uma grafia diferente. Isso só ocorrería se os americanos escrevessem, por exemplo "ûndergrund".

Uma coisa é harmonizar a ortografia (a forma como as palavras são escritas) e a outra sería harmonizar a gramática (que implicaría mudanças ao nivel das palavras que se utilizam)

Lembre-se que por exemplo as diferenças entre a lingua castelhana utilizada na Argentina, no México ou em Espanha, são muito grandes, mas a ortografia correcta, é igual.

nota: se eu escrever "ortografia correta" estarei a escrever bem ou mal?
Se esta frase fosse colocada num livro, como é que a devería escrever?
Se um estrangeiro quiser estudar português, acha que é simples de compreender que a lingua seja a mesma, mas que conforme o livro que se compra, as palavras escrevem-se de forma diferente?

Outra coisa engraçada, é os jornais brasileiros a falarem sobre a lingua portuguesa e a darem exemplos, como: português escreve Pharmacia, herva. :mrgreen:

Já palavras como humido/úmido, devem perder o H.
Para os portugueses, deixamos de escrever acção, para passar a escrever ação (porque em portugal também não lemos os dois C)

Já nas palavras em que se lê a letra, aí fica tudo na mesma, como por exemplo Facto e Fato, que devem ficar no agora reduzido numero de palavras com dupla grafía, que no entanto, são poucas e cabem numa folha do diccionário/dicionário, como Oiro e Ouro, que em Portugal, são utilizadas consoante se esteja a norte ou a sul.

O Brasil vai ver o fim de palavras como enjôo, que passa a enjoo, e verá cair o til, em palavras que vão passar a ascrever-se sem til, como "creem", "deem", "leem" e"veem".

A mudança será complicada, mas é um reforço da lingua. As editoras agradecem, porque vão evitar fazer revisões conforme as edições forem ou para o Brasil, ou para os restantes países, que utilizam a norma portuguesa. E no fim, a lingua acaba ficando mais coesa.

Se há coisas que são estruturantes, então esta é uma delas.

Cumprimentos
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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JNSA

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« Responder #3 em: Outubro 27, 2004, 11:56:38 am »
Citação de: "papatango"
No primeiro contacto, é muito comum os brasileiros dizerem que pura e simplesmente não entendem o que se fala. Têm este problema, não só com os portugueses, mas também com os Angolanos ou Cabo-Verdianos. Só depois de um ou dois dias, quando se habituam ao registo e entendem as palavras, começam a entender "automaticamente" o que se diz.
Eu estoua falar do "homem da rua" não das pessoas com alguma escolaridade.

Ora se o sotaque já afasta as linguas faladas em Portugal e em África, da lingua falada no Brasil, a mim faz-me bastante sentido essa uniformização.

Concordo consigo - muitos brasileiros não entendem o português falado cá, da mesma maneira que eu, muitas vezes, quase não percebo o português falado por Angolanos, Cabo-Verdianos, S. Tomenses, Portuenses, Açorianos e Madeirenses (tou só no gozo... :roll: O verdadeiro obstáculo é a pronúncia, fruto das influências sentidas nos diversos territórios, e não o modo como escrevemos. Não me parece que algum brasileiro aqui no fórum tenha tido alguma dificuldade em perceber o que eu digo, quando emprego a palavra "acção" em vez de "ação"... :wink:  Mas o papatango não se referiu aos outros exemplos que eu dei, como o "color" e o "colour"... Entre americanos e ingleses acontece muitas vezes o mesmo que entre brasileiros e portugueses - não se entendem muito bem por causa da pronúncia, não por causa da grafia. Não é o facto de manterem uma grafia diferente que provoca problemas de monta às editoras, aos governos, aos jornais, ou seja a quem for, e também não é isso que separa os dois países.

Cumptos.
 

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Luso

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« Responder #4 em: Outubro 27, 2004, 12:17:00 pm »
Como uniformizar

"Sinónimo"

e

"Sinônimo"?
Ai de ti Lusitânia, que dominarás em todas as nações...
 

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Guilherme

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« Responder #5 em: Outubro 27, 2004, 12:23:08 pm »
Citação de: "papatango"
O Brasil vai ver o fim de palavras como enjôo, que passa a enjoo, e verá cair o til, em palavras que vão passar a ascrever-se sem til, como "creem", "deem", "leem" e"veem".


Não seria perder o acento circunflexo? Ou em Portugal o acento circunflexo é chamado de til?
 

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JLRC

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« Responder #6 em: Outubro 27, 2004, 01:04:33 pm »
Citação de: "JNSA"
Mas o que é que isto tem a ver com a alteração da grafia?  :wink:  Agora se estivermos a falar um com o outro, não é o facto de existir um acordo ortográfico que vai facilitar a conversação.


Não concordo consigo. O problema não é a lingua falada mas sim a lingua escrita. Haverão sempre diferenças de sotaque, mesmo entre regiões do mesmo país e até palavras diferentes. Por exemplo, no Algarve os damascos chamam-se albericoques (julgo que é assim que se escreve), as ervilhas são griséus e o feijão verde diz-se vagens. O termo "marafado" é exclusivo do Algarve. Também na Madeira, a batata diz-se semelha. No entanto, embora os objectos tenham designações diferentes, a grafia é a mesma em todas as regiões. A comunicação entre as diversas nações de lingua portuguesa faz-se através da escrita e não da fala (tirando as novelas brasileiras) e portanto é importante que a grafia seja a mesma, independentemente da origem do autor do texto ou do público alvo a que se destina. Já viram, por exemplo, a confusão que terá um aluno em Timor Leste, ao estudar com livros impressos no Brasil e em Portugal, com grafias diferentes para o mesmo termo? Eu, por exemplo, depois de ler textos com a grafia brasileira, quando quero escrever um texto fico todo baralhado, por exemplo não sei se devo por o "se" antes do verbo (se faz) ou depois do verbo (faz-se), entre outras coisas. É certo que vamos estranhar algumas palavras, essencialmente com a supressão de alguns assentos mas o mesmo disseram os nossos avós quando o ph foi substituído pelo f. A língua portuguesa é uma lingua viva e como tal tem que evoluir para se poder expandir.
Cumptos
 

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J.Ricardo

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« Responder #7 em: Outubro 27, 2004, 01:43:50 pm »
Não acho correto comparar o português com o inglês, o inglês é imposto comercialmente para nós, e quando aprendemos, normalmente aprendemos o inglês falado nos EUA. Agora, imaginem um chinês aprendendo o português...
Nossa língua para um estrangeiro, possui uma gramática muito difícil, ainda mais se ele aprender o português "brasileiro" e for para portugal, ou vice-versa,  vai dar um "parafuso"na cabeça do coitado! rssss
Acho tremendamente importante esta normatização de nossa língua quanto a gramática, quanto a idioma falado sempre haverá particularidades, aqui no Brasil por exemplo, existem diferenças marcantes até mesmo entre o Rio e São Paulo, em SP se diz "mandioca" e no Rio "aipim" para o mesmo alimento!
« Última modificação: Outubro 27, 2004, 02:38:51 pm por J.Ricardo »
 

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papatango

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« Responder #8 em: Outubro 27, 2004, 02:19:26 pm »
Citação de: "Guilherme"
Não seria perder o acento circunflexo? Ou em Portugal o acento circunflexo é chamado de til?

 :oops:  :Esmagar:
É muito mais fácil enganar uma pessoa, que explicar-lhe que foi enganada ...
 

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alfsapt

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« Responder #9 em: Outubro 27, 2004, 02:19:39 pm »
Citação de: "Guilherme"
Citação de: "papatango"
O Brasil vai ver o fim de palavras como enjôo, que passa a enjoo, e verá cair o til, em palavras que vão passar a ascrever-se sem til, como "creem", "deem", "leem" e"veem".

Não seria perder o acento circunflexo? Ou em Portugal o acento circunflexo é chamado de til?


^ circunflexo
~ til


Concordo com o Papatango e considero este assunto de importância vital na afirmação dos Países constituintes da CPLP no Mundo.

"Um tal de Luis Vaz" chegou a dizer que a sua Pátria era a sua Língua:
Este facto único na Europa de uma Nação, uma Religião, uma Língua permitiu a sobrevivência de UM pequeno ESTADO entre Impérios e a inúmeras Guerras locais, regionais e mundiais.

A façanha de se falar Português nos 4 cantos deste mundo tendo como Berço esse tal Estado de pouco mais que um punhado de almas deve originar orgulho em cada Lusófono. A sua Língua tendo como PAI esse tal de "Luis Vaz" pode voltar a ser o cordão umbilical que une povos de interesses comuns sendo a sua mais recente vitória o nascimento do Estado Timor-Leste.

A concentração de esforços em manter comum a Língua que nos une é uma estratégia de afirmação de independência perante terceiros tendo como fundamento o passado comum.

À semelhança desse passado em que a Língua Portuguesa foi o quarto dos ramos militares, hoje pode voltar ser uma força activa na defesa dos interesses da CPLP.
"Se serviste a patria e ela te foi ingrata, tu fizestes o que devias, ela o que costuma."
Padre Antonio Vieira
 

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Guilherme

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« Responder #10 em: Outubro 27, 2004, 07:41:27 pm »
Citação de: "papatango"
Citação de: "Guilherme"
Não seria perder o acento circunflexo? Ou em Portugal o acento circunflexo é chamado de til?
:oops:  :Esmagar:


Sem problema.  :G-Ok:
 

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dremanu

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« Responder #11 em: Outubro 29, 2004, 12:40:05 am »
Acho muito bem que este acordo seja feito, até que enfim!!! Já devia ter sido feito hà muito mais tempo atrás.
"Esta é a ditosa pátria minha amada."
 

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emarques

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« Responder #12 em: Outubro 29, 2004, 08:28:13 pm »
Citar
Já palavras como humido/úmido, devem perder o H.
Para os portugueses, deixamos de escrever acção, para passar a escrever ação (porque em portugal também não lemos os dois C)

Já nas palavras em que se lê a letra, aí fica tudo na mesma, como por exemplo Facto e Fato,


Mas no caso de húmido também deve existir uma justificação etimológica para o H. Duvido muito que alguém se tenha lembrado de o pespegar na palavra só porque achou que ficava bem. :)

E um dos problemas do acordo é a decisão de quais as palavras em que o c é mudo. Por acaso acho que "facto" é uma das palavras em que os "acordadores" decidiram que o c é mudo. Também vi algumas palavras (uma vez vi um livro que listava as palavras que mudavam de grafia) que eu, se as estivesse a ler com a grafia velha e com a nova, pronunciaria de forma completamente diferente.
Ai que eco que há aqui!
Que eco é?
É o eco que há cá.
Há cá eco, é?!
Há cá eco, há.
 

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« Responder #13 em: Novembro 15, 2004, 02:17:53 am »
Apenas para avivar o debate, segue abaixo um texto da coluna "Língua Viva", do Jornal do Brasil, datado de 15/11/2004:

"Portugal e Brasil: viva a diferença!

Deonísio da Silva


Em Portugal, o tira-cápsulas substitui o saca-rolhas. Água sem gás é água lisa. Impressão digital é dedada. Celular é telemóvel. Os jogadores entram em campo vestindo camisolas. As aeromoças são hospedeiras ou comissárias. Nas praias, nada do neologismo topless, mas, sim, maminhas ao léu.

No Brasil, que inventou o avião e a aeromoça, a comissária veio depois. O ofício contava com hegemonia feminina, mas, quando chegaram os aeromoços, logo foram denominados comissários. Por concordância, irrompeu a comissária.

Em todas as cidades, especialmente em Lisboa, quem varre as ruas não são os garis, são os almeidas. Já em terras lusitanas, admirado você contemplou o vôo veloz de pequena ave apodiforme e troquilídea, cujo alimento é o néctar de flores e insetos minúsculos. Como denominá-la? Bem, chamar assim o passarinho equivale a dizer de esfuziante beldade de lindos seios que suas glândulas mamárias são muito bonitas. Melhor, pois, chamar o colibri ou o cuitelinho de beija-flor, como todos o conhecem.

Todos? Em Portugal, não. A língua é a mesma, nossa amada portuguesa, mas em além-mar a avezinha não beija as flores, chupa-as. E por isso é conhecida por chupa-flor.

O poeta Gregório de Matos, escrevendo na Bahia, no século 17, preferiu pica-flor, só para o gosto do trocadilho licencioso com que respondeu a certa monja que debochava de sua magreza e pequena estatura: `Se Pica-Flor me chamais,/ Pica-Flor aceito ser,/ Mas resta agora saber,/ Se no nome que me dais,/ Meteis a flor que guardais/ No passarinho melhor!/ Se me dais este favor,/ Sendo só de mim o Pica,/ E o mais vosso, claro fica,/ Que fico então Pica-Flor´.

Cauteloso, você levou durex consigo? Cuidado com os dois. Com a camisinha, lá conhecida por durex, e com o pronome. Nem lá nem cá você poderá errar o uso. Não vá fixar papel algum com durex em Portugal. E saiba que, se aqui o durex tem um gênero e uma finalidade, lá pode variar de gênero, mas jamais de finalidade. Quanto ao pronome `consigo´, saiba que os portugueses têm para ele um viés todo especial e excessivamente lógico para os brasileiros.

Também o nome das refeições evidencia algumas singularidades e já demandou maiores cuidados antigamente, de que é exemplo o jantar. O latim vulgar `jantare´, variação de `jentare´, relacionado com jejum, entrou para a língua portuguesa em 1111, mas não designava a última refeição do dia. Ao contrário, o jantar foi originalmente almoço e não tinha o sentido de refeição, mas de imposto de vassalagem, pago ao senhor em viagem, sobretudo quando em busca de subordinados que tivessem alocado sua força de trabalho a outros senhores.

No português arcaico, por tais razões, jantar era designado também comedura, comedoria, exceto quando os hóspedes compulsórios eram eclesiásticos. Daí a palavra equivalente era visitação, parada, procuração, censo, direito pontificial.

O primeiro rei português, dom Afonso Henriques, já metia a mão nos bolsos dos vassalos e fixou os valores de jantar e parada a todos os moradores das vilas, ainda que não fossem visitados, estipulando-os em dois pães, um de trigo e outro de centeio, um almude de cevada e outro de vinho. Em resumo, antes de ser almoço, o jantar foi um imposto. Bem diria o célebre economista muitos anos depois que `não existe almoço de graça´. Nem jantar. Nem pequeno almoço, que é como os portugueses denominam o café da manhã, o desjejum.

Que não nos tomem por arrogantes os nossos irmãos portugueses, que nos deram esta maravilhosa e deslumbrante língua portuguesa, mas nós suavizamos e embelezamos a herança.

Café da manhã é mais poético do que desjejum ou pequeno almoço. Começaremos o dia muito melhor com café da manhã. "
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komet

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« Responder #14 em: Novembro 15, 2004, 02:39:11 am »
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Em Portugal, o tira-cápsulas substitui o saca-rolhas. Água sem gás é água lisa. Impressão digital é dedada.

 :wink:
"History is always written by who wins the war..."