Caro europatriota permita-me tecar alguns comentários à sua intervenção.
Você chega a uma conclusão politicamente correcta e que à primeira vista é bastante tentadora. Contudo esquece-se de referir alguns factos importantes baseando-se apenas na sua interpretação pessoal do assunto.
Comecemos pelo mais simples: concordar e apoiar a estratégia de um país, qualquer que ele seja, não significa que se siga a política desse país cegamente, como alguns ramos políticos tanto tentam passar para opinião pública. Tal como eu não aceitaria que nos chamassem "cãezinhos" de Chirac, se a posição do nosso governo tivesse sido contra o conflito iraquiano, também não aceito que nos chamem seguidores de Bush. Afinal de contas numa questão que tem apenas 2 lados, é difícil que todos, excepto um, se coloquem de um dos lados não é?
A facilidade com que incrimina os norte-americanos por um apoio a certos regimes, até certo ponto compreensível mas não justificável pela Guerra fria que se vivia, contrapõe com a sua indisponibilidade de criticar, por exemplo, o governo francês pela venda de armamento, tecnologia nuclear e apoio ao governo de Saddam Hussein, do qual a ELF gerou a maior fortuna alguma vez vista. Claro, não lhe convém criticar a França. (*)
( ler o artigo no final deste post ) Notei que nestes aspectos o senhor é bastante faccioso.
Quando vossa excelência diz:
A nossa Pátria é a Europa e Portugal
Porque coloca 1º a Europa e só depois Portugal? Peço desculpa, é óbvio que não fez isso de propósito estou certo mas devo-lhe dizer que a minha pátria é Portugal. Apenas e só Portugal. A união europeia, por agora, não passa apenas disso - uma união. E, como deve saber, foram mais os países da Europa a 25 que apoiaram os EUA do que aqueles que não o fizeram. Logo, o senhor está a contradizer-se.
Quanto à sua comparação com o regime salazarista, ela é justificável, embora sejam situações completamente diferentes. O mesmo se passou com a Sérvia durante a crise do Kosovo, em 1999. Mas nem Salazar, nem Milosevic, se comparou a Saddam que representa um grau de brutalidade incomparável.
Uma pequena nota antes de continuarmos:
Democracia ? Quantas centenas de ditaduras não apoiaram e continuam a apoiar os EEUU, como hoje a de Musharraf, do Koweit e de Israel ?
Eu devo ser o membro mais ignorante e desatento deste fórum. Não fazia a mínima ideia que Israel tinha passado de uma democracia parlamentar para um regime déspota.
Quanto à situação Iraquiana em si. Gosto da sua argumentão que, subjectivamente, é de facto correcta. Agora, após uma análise objectiva da situação, posso concluir que o senhor só diz disparates.
Começando pelo mais simples:
A luta pela suposta liberdade iraquiana é absurda. A transição dar-se-á a 30 de Junho e, como espero que entenda, não se entende porque é que uma luta armada surgiria antes do momento crucial para a democracia iraquiana. Esta é de facto uma luta pelo poder dentro das diversas facções iraquianas.
Outra das coisas que não entendo é que nenhum dos grupos que lutam contra as forças da coligação referem nos seus comentários a liberdade iraquiana e a democracia iraquiana. A única razão que apontam para a sua luta é a presença dos infiéis em solo iraquiano. A mim parece-me que existe uma maior fumentação religiosa e fanática nesta luta do que propriamente o interesse na democracia e liberdade iraquiana? Não concorda?
Avaliando agora aqueles que lutam, podemos entender que no geral são estrangeiros ( os autores de atentados suícidas ) e normalmente seguidores de alguma fação ( Al-Sadr por exemplo, que não tem qualquer interesse num Iraque livre ).
O que eu não entendo é que se a luta armada está assim tão interessada no bem estar do povo iraquiano porque é que não esperou pela transição de poder? Afinal de contas aqui está a grande diferença:
a coligação nunca entrou no Iraque com o intuito de o conquistar e lá permanecer. Será que é capaz de entender isso?
Outro ponto em que estamos totalmente em desacordo é a morte de vidas civis iraquianas que, quando provocadas pelos americanos são martires, e quando provocadas pelos "terroristas" são colaboracionistas.
Um homem, sua mulher e 2 filhas são colaboracionistas apenas por estarem, casualmente, a passar em frente de um blindado americano quando um bombista suicida se decide explodir?
Isto é para si um colaboracionista? Por amor de Deus.
Outra questão interessante é a GNR, e a sua motivação. Eu vejo-a como soldados que após a ordem de ida para o Iraque se ofereçam como voluntários, sendo claro o dinheiro uma das motivações. Você vê-os como mercenários ocupantes. Está no seu direito. Eu prefiro pensar que muitos dos que para lá foram, foram mentalizados que estavam lá para ajudar a estabilizar a situação e para apoiar o povo iraquiano.
Espero que compreenda as diferenças. Formular opiniões politcamente correctas sob um ponto de vista subjectivo é fácil europatriota. Mas por outro lado ignorante e irresponsável. Pessoalmente detesto visões bi-polares do mundo. Ou se está bem ou mal. As coisas não são assim. Tal como a coligação muitas vezes agiu incorrectamente também as mílicias iraquianas que de momento existem são grupos sem qualquer respeito pela vida humana guiadas por um anti-americanismo cego e um ódio aos ocidentais. Nenhuma destas facções tem como objectivo a implementação de uma democracia nem muito menos a liberdade no Iraque. Se o tivessem então não teriam qualquer problema em esperar e negociar até ao 30 de Junho.
Despeço-me como vossa excelência se despediu no seu post, mas com uma pequena modificação: viva Portugal!
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(*) - Artigo interessante, em que a França se recusa a perdoar a dívida iraquiana. Este artigo não pretende de maneira nenhuma criticar a posição da França face a este assunto, mas mesmo assim não deixa de ser curioso.
Bush Fails to Gain G-8 Agreement on Amount of Iraq Debt to Cut
June 9 (Bloomberg) -- U.S. President George W. Bush failed to reach agreement with other Group of Eight leaders on the amount of Iraq's estimated $120 billion in debt to be cut after France pressed to limit relief to 50 percent.
Bush wanted an agreement to write off the ``vast majority'' of Iraq's debt, a U.S. official said yesterday. France sought a G-8 endorsement for ``substantial'' relief, defined by the Paris Club group of creditor nations as 50 percent, a French official said today. Both spoke on condition of anonymity.
German Deputy Economics Minister Alfred Tacke said G-8 leaders want to grant ``substantial'' debt relief. The official G-8 statement included no indication on the amount to be cut and said details would be worked out by the Paris Club. The U.S. expects the amount to be more than half, a Bush administration official said, speaking on condition of anonymity.
``Debt reduction is critical if the Iraqi people are to have the opportunity to build a free and prosperous nation,'' the G-8 statement said.
France doesn't want to write down more than half of Iraq's debt because the nation's oil reserves, second- largest in the world, make it better able to pay than some other nations seeking debt relief, Catherine Colonna, a spokeswoman for French President Jacques Chirac, said yesterday.
Iraq's Resources
``Iraq is a country which has resources,'' Colonna said. ``There are very strong points leading us to believe that treating 50 percent of Iraq's debt would be appropriate.''
More discussion is needed on the amount of debt to forgive, said a Japanese official who spoke on condition he not be named.
The 19 nations in the Paris Club, including the U.S., Japan, Russia and France, hold $42 billion in Iraqi debt, the IMF reported in May.
Iraq owes Japan $4.11 billion, of which almost nine- tenths is insurance payments related to trade. Late payment charges bring the total to about $7 billion, according to Japan's foreign ministry.
Canada is prepared to forgive the C$750 million ($552 million) it is owed by Iraq once the Paris Club forges an agreement. Canada also has promised C$300 million over five years to help Iraq rebuild.
Canadian Prime Minister Paul Martin, 65, said he wouldn't send troops to Iraq because he has none to spare after deployments in Afghanistan and Haiti. He said Canada, which is already helping to train Iraqi police officers, may do more to help the country establish democratic institutions such as courts.
``We are certainly prepared to participate,'' Martin said at press conference. ``I do not believe we will be participating with further troop movements, but we are certainly going to participate with expertise.''