Rússia e Japão aumentam o tom na disputa pelas Ilhas Curilhas
A Rússia jamais renunciará à sua soberania sobre as ilhas Curilhas do Sul, indicou o presidente russo, Dmitri Medvedev, depois de classificar de «inaceitáveis» as declarações do pimeiro-ministro japonês, Naoto Kan, país que também reivindica as ilhas.
Durante um discurso feito na ocasião do dia anual no Japão de memória a essa disputa territorial, Kan qualificou hoje de um «ultraje imperdoável» a visita que Medvedev realizou em Novembro passado às ilhas Curilhas do Sul.
Também prometeu que fará tudo o que estiver ao seu alcance para obter a restituição dessas quatro ilhas, anexadas pela Rússia depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
«A Rússia não renunciará nem hoje nem no futuro à sua soberania sobre as Ilhas Curilhas» reivindicadas pelo Japão, respondeu o conselheiro diplomático do Kremlin, Serguei Prijodko.
O minitro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, também disse lamentar as declarações «claramente não diplomáticas» do primeiro-ministro japonês.
«Essas declarações são claramente não diplomáticas», afirmou Lavrov durante uma conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo húngaro, Janos Martonyi, que está em visita a Moscovo.
A diferença em torno destas ilhas, chamadas Territórios do Norte no Japão, impede há 64 anos a assinatura de um tratado de paz entre ambos os países.
As ilhas de Habomai, Shikotan, Etorofu e Kunashiri foram anexadas pelos soviéticos a 18 de Agosto de 1945, três dias depois do anúncio da derrota japonesa. Estas ilhas, que têm cerca de 19.000 habitantes numa superfície total de 5.000 km2, são administradas pela Rússia desde essa data.
A União Soviética, e depois a Rússia, propuseram em várias ocasiões devolver ao Japão duas dessas ilhas, Habomai e Shikotan, as menores e mais inóspitas, enquanto Moscovo conservaria Iturup (nome russo para Etorofu) e Kunashir (Kunashiri).
O Japão afirmou que essa proposta era inaceitável e continuou a exigir a restituição e todos os Territórios do Norte.
A 1 de Novembro de 2010, Medvedev foi o primeiro chefe de Estado russo a visitar o sul das Curilhas, uma cadeia de ilhas que se estende desde o sul da Península de Kamchatka até ao nordeste do Japão.
Esta visita indignou o governo japonês, que chamou para consultas o seu embaixador em Moscovo.
Em Dezembro passado, Medvedev reiterou que as ilhas Curilhas do Sul são «território russo», mas propôs ao Japão criar uma zona económica livre na região.
Desde então, outros ministros russos visitaram essas ilhas, onde há jazidas de ouro e prata, mas que sobretudo estão situadas numa das regiões do mundo mais ricas em peixe.
Na sexta-feira passada, o ministro da Defesa russo, Anatoli Serdiukov, inspeccionou uma divisão de artilharia nesse arquipélago.
O ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE) japonês, Seiji Maehara, condenou esta visita, qualificando-a como «extremamente lamentável».
O embaixador da Rússia no Japão foi convocado e recebeu «um protesto enérgico».
Maehara, que também participou na Reunião Nacional para exigir a devolução dos Territórios do Norte, organizada na sede do primeiro-ministro, iniciará uma visita a Moscovo na próxima quinta-feira.
O MNE japonês prometeu que fará tudo o que estiver ao seu alcance para obter a restituição destas ilhas, mesmo que isso lhe custe a carreira política, disse.
Lusa