Civis portugueses no Iraque não regressam
13-04-2004 18:04
PD
«Não devemos tomar decisões precipitadas. Situação está mais tranquila», diz embaixador
Os civis portugueses actualmente no Iraque são apenas 10 - três diplomatas, três funcionários, um conselheiro, duas residentes e um jornalista -, informaram fontes oficiais contactadas pela Agência Lusa.
O primeiro-ministro português, Durão Barroso, advertiu hoje para os riscos da situação de insegurança no Iraque e desaconselhou os civis a deslocarem-se ou permanecerem no país.
"A nossa posição (do governo) é que não podemos, de forma alguma, garantir a segurança dos civis naquele território", disse Barroso, advertindo que as pessoas que se desloquem para o Iraque ou decidam lá permanecer, nomeadamente os jornalistas, "o fazem por sua conta e risco".
Contactado telefonicamente, o embaixador português em Bagdad, Luís Barreiros, confirmou que a representação diplomática conta actualmente com três diplomatas - o embaixador, o secretário de embaixada Carlos Serafino e o conselheiro comercial Sérgio Espadas - e dois funcionários administrativos.
Além destes, trabalham na embaixada uma secretária-intérprete, de nacionalidade iraquiana, e um motorista, também iraquiano.
Luís Barreiros interpretou, aliás, a advertência feita hoje pelo primeiro-ministro como um "relembrar" dos avisos feitos anteriormente aos portugueses que "desaconselhavam fortemente" eventuais viagens para o Iraque.
Em notas difundidas em Março e novamente em Novembro de 2003, que se mantêm vigentes, o governo português desaconselha formalmente quaisquer viagens ao Iraque e países vizinhos, advertência "extensiva aos jornalistas e seus acompanhantes, cuja segurança pode estar especialmente em risco".
Além do pessoal da embaixada, encontram-se também em Bagdad o conselheiro especial da administração norte-americana (a Autoridade Provisória da Coligação) José Lamego, um adjunto deste e duas portuguesas, casadas com iraquianos, residentes há vários anos no país.
Longe dos tempos que se seguiram ao início da intervenção militar, em que chegou a haver mais de uma dezena de jornalistas portugueses no Iraque, o único jornalista português que se encontra neste momento no país é Daniel do Rosário, em Bagdad há cerca de duas semanas.
Em Nassíria, onde está estacionado o contingente de militares da Guarda Nacional Republicana, não está actualmente qualquer repórter, segundo soube a Lusa junto do capitão Belo, do comando geral da GNR, em Lisboa.
"Não há ninguém nem está prevista qualquer chegada, até porque nesta altura é totalmente desaconselhada a presença de pessoas estranhas às manobras militares", disse o capitão.
Contactado telefonicamente pela Agência Lusa a partir de Lisboa, Daniel do Rosário, jornalista da Rádio Renascença e colaborador do jornal Expresso e da estação de televisão SIC, contou que foi hoje chamado pelo embaixador português que o aconselhou a abandonar o país.
No entanto, não tenciona partir para já, preferindo esperar dois ou três dias para ver como evolui a situação, não excluindo partir nessa altura se ela se degradar e deixar de ter condições para trabalhar.
"Penso que não devemos tomar decisões precipitadas. A situação em geral está hoje mais tranquila", disse, evocando nomeadamente a atitude adoptada pelos muitos jornalistas estrangeiros na capital iraquiana - "alguns muito experientes neste tipo de situações" - de esperar para ver o que acontece.
A situação no Iraque deteriorou-se nas últimas semanas devido a um levantamento das milícias xiitas fiéis ao dirigente radical Moqtada al-Sadr, procurado pelos Estados Unidos, e a uma intensificação das acções da resistência sunita à ocupação na zona a noroeste de Bagdad que tem Fallujah como principal foco de tensão.
A insegurança agravou-se ainda mais a partir de quinta-feira passada, quando três civis japoneses foram sequestrados pelas forças rebeldes, acção multiplicada nos dias que se seguiram numa vaga de raptos de civis estrangeiros que abrange actualmente cerca de 40 pessoas, três deles jornalistas de nacionalidade checa.
Um pequeno aparte: que eu saiba os membros do GOE são civis, e não militares, logo o número de portugueses oficialmente presentes no Iraque deveria ser maior visto que estes estão encarregues da segurança do pessoal diplomático nacional.
Ou será que já não existem membros do GOE presentes no Iraque?