Após quase três anos de conflito na Ucrânia, as elites russas, incluindo setores económicos, militares e políticos, começam a manifestar o seu descontentamento com a forma como Vladimir Putin tem conduzido a guerra. Segundo fontes anónimas reveladas pela revista Meduza, um órgão de comunicação social da oposição ao regime, estas elites estão a pressionar o Kremlin para que ordene uma mobilização total, acreditando que esta seja a única forma de permitir avanços significativos no território ucraniano.
https://executivedigest.sapo.pt/noticias/elites-russas-pressionam-putin-a-avancar-com-mobilizacao-total-para-garantir-vitoria-na-ucrania/
Relativamente a este assunto e como o próprio texto acaba por referir, a ideia de que a mobilização geral vai resolver algum problema aos russos não faz sentido.
A somar a isto os russos na sua esmagadora maioria não têm ideia de porque razão a operação militar especial está praticamente parada, com avanços incrivelmente lentos e incrivelmente custosos em termos de vidas humanas.
O problema neste momento, para os russos, é o equipamento, ou a falta dele.
Por exemplo, nos tanques, para as forças que existem eles já recorreram ao T-62 e agora já estão a utilizar T-54 e aquilo já tinha uma esperança de vida minima quando era novo, quanto mais com uma recauchutagem...
O problema mais grave é por exemplo a capacidade russa para produzir a alma das peças de artilharia de 152mm e dos canhões do tanques (125mm).
Eles continuam a produzir tanques, mas a um ritmo que só cobre de 10% a 15% das perdas. O restante, os russos têm colmatado com tanques antigos que conseguem voltar a por a funcionar.
É um trabalho tremendo e custoso e a Russia tem despendido muito dinheiro na reparação de tanques velhos. O resultado não tem sido bom, mas eles não podem fazer grande coisa.
Nós temos dado demasiada atenção aos problemas dos ucranianos, à possibilidade de fim do apoio americano, mas esquecemos os pequenos detalhes, como por exemplo o tamanho das localidades conquistadas pelos russos.
Os russos divulgam em grandes parangonas a conquista de terras, que são pouco mais que um barracão com duas casas à volta.
A cidade de Pokhrovsk está prestes a cair. Possivelmente até será tomada, mas há mais de quatro meses a esta parte, que a queda de Pokhrovsk é iminente.
Nestas circunstâncias a Russia resiste onde funciona uma economia de guerra. Todo o resto da economia está dependente e há setores vitais, que sem o cuidado necessário podem provocar ondas de choque. Já aqui tenho falado das fábricas russas de tratores, ceifeiras debulhadoras e implementos agrícolas como a Rostselmash.
Enquanto o parque existente continuar a funcionar e houver peças, a agricultura russa vai andando, mas os militares parecem querer forçar a conversão de unidades industriais avançadas para a produção de armamento e peças de reposição.
A agricultura russa só pode sobreviver sem estas fábricas de equipamento agrícola, se importar, e os recursos russos são cada vez menores.
O resultado é a possibilidade de a colheita de 2025 ser afetada. A produção de batatas já foi afetada este ano, mas parece que ninguém relacionou isto com o fato de as máquinas de colheita de batata serem importadas, porque a industria russa produz ceifeiras para trigo, milho, centeio, cevada, colza, mas não se especializou nas culturas de tubérculos.
Os sinais já começaram a chegar aos supermercados das pequenas cidades, por muito que os russos tentem fazer videos no Youtube a mostrar como as lojas estão cheias.
No entanto, as lojas também estavam vazias no tempo do Estaline.
Não há nenhum descontentamento popular que não possa ser resolvido com uma bala.
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