Devo notar aqui que a afirmação de que para fazer disparate é melhor não fazer nada, tem a ver com a realidade da marinha, a sua obsolescência a falta de meios e a simples falta de manutenção para permitir efetuar missões mínimas em condições, contrasta claramente com a fanfarra de apresentação de navios disruptivos, os quais a marinha não tem meios para ter, nem meios financeiros para desenvolver de forma efetiva.
O caso que me veio à memória (de ler, claro) foi o navio disruptivo do século XVI ...
Andava já o portuga desenganado das Indias (D. Manuel deixou o reino arruinado e falido, mas deixou o estilo manuelino para nos lembrarmos dele) quando os mestres de construção portugueses em conversas com os marinheiros, tinham percebido que as nossas naus, não tinham como competir com os navios que os ingleses e especialmente os holandeses possuiam.
Eles tinham navios mais pequenos, mas mais ágeis que as nossas Naus, pelo que era uma questão de tempo até essa superioridade se tornar evidente.
Vai daí, o Almirante CEMA da altura, reune-se e aparece com um projeto disruptivo para ninguém botar defeito.
Esse projeto chamou-se "caravela de armada"
Era um conceito inovador, porque juntava a manobrabilidade da caravela, com um muito mais elevado poder de fogo. Com uma caravela de armada, os portugueses podiam dar combate aos holandeses caso fosse necessário, e caso eles fossem muito mais fortes, a superior manobrabilidade das caravelas, dava um bigode nos holandeses.
Tudo era ouro sobre azul, e tinhamos descoberto a solução para o problema...
Mas afinal porque não vimos as tais caravelas de armada a dominar os mares ?
Será que o conceito afinal não era bom ?
A resposta é simples:
O conceito, era fenomenal, o problema era outro, o problema era a economia.
Pelo preço de duas caravelas de armada, Portugal podia construir duas Naus e uma só Nau, transportava mais pimenta e canela, que as três caravelas de armada juntas.
Por isso, continuámos a insistir nas Naus e praticamente não construimos caravelas de armada.
O dinheiro era pouco, o lucro curto e comprar várias caravelas de armada, não fazia sentido, porque depois não havia dinheiro para construir os navios que as caravelas de armada iriam defender.
Ou seja: O conceito era bom, a ideia era boa, mas o país não tinha como desenvolve-lo de forma eficaz porque não tinha uma economia capaz de por um lado fazer as caravelas para a guerra e ao mesmo tempo as Naus para o comércio com a Índia.
Ou seja, para construir uma coisa que era boa, mas para a qual não tinhamos dinheiro, a opção foi não fazer nada, ou continuar a fazer a mesma coisa.
A ideia dos navios disruptivos, e gloriosos programas navais, é uma ideia para inglês ver, para aparecer na televisão e para o Ego das pessoas que ficam todas excitadas com imagens CGI de um navio desenhado por um estaleiro holandês.
O resto é conversa.