Corrida a cursos de defesa e à compra de armas após ataques em Colónia
A compra de sprays de gás pimenta, gás lacrimogéneo, armas atordoantes e pistolas de alarme, assim como a encomenda de armas de fogo, dispararam na Alemanha após os incidentes em Colónia na passagem de ano, que sucederam também noutras cidades do país. A aumentar também está a inscrição em cursos de autodefesa e artes marciais.
As compras e encomendas multiplicaram-se logo nos primeiros dias do ano, uma época geralmente de vendas inexpressivas, segundo o dirigente da associação de armeiros alemães, Ingo Meinhard, ouvido pela Reuters. Segundo este responsável, a tendência acentuada pelos incidentes em Colónia, onde cerca de 120 mulheres se queixaram de ter sido atacadas sexualmente ou assaltadas, iniciara-se em agosto, quando foi conhecida a decisão da chanceler Angela Merkel de abrir as fronteiras do país aos refugiados, na grande maioria provenientes da Síria. Até final de 2015, mais de 1,1 milhões de candidatos a asilo entrou na Alemanha.
Ainda segundo o dirigente da associação de armeiros da Alemanha, num segundo momento, as "vendas duplicaram" depois dos ataques de 13 de novembro em Paris, onde islamitas ligados ao Estado Islâmico (EI) mataram 130 pessoas numa sucessão de ataques.
Por outro lado, como a aquisição de armas de fogo é um processo difícil e longo, em paralelo com as encomendas que estão a ser feitas, estão a ser vendidas grandes quantidades de sprays de gás lacrimogéneo, gás pimenta, armas atordoantes, lanternas de luz encandeante, que cega temporariamente um agressor, e ainda os designados alarmes corporais, que emitem um som estridente quando ativados, atraindo assim a atenção sobre uma determinada situação. Como todos estes equipamentos são de venda livre, ao final do dia de sexta-feira, na secção desporto e lazer da Amazon alemã, nove em dez dos artigos mais vendidos eram sprays de gás lacrimogéneo ou pimenta. Os mais populares eram aqueles com dimensões adequadas às malas femininas.
Os cursos de artes marciais estão também a ter enorme procura em Colónia, tendo as "inscrições aumentado cinco vezes", explicou à Reuters um responsável de um centro de treino de algumas daquelas modalidades na cidade.
O sucedido em Colónia e noutros pontos da Alemanha, onde, segundo dados divulgados ontem pela polícia, ocorreram 379 casos de agressões, muitas de índole sexual, levou Angela Merkel a admitir que os candidatos a asilo percam esse direito caso sejam condenados e sejam expulsos de forma expedita. "O direito a asilo caduca se alguém for condenado, seja a pena suspensa ou a prisão efetiva", declarou Merkel no final de um encontro da CDU, o partido que dirige, e realizado em Mainz.
Atualmente, um candidato a asilo só é deportado se for condenado a três anos de prisão efetiva e se a sua vida não estiver em risco no país de origem. Agora, a CDU vai apresentar um projeto de lei no Parlamento federal no sentido das palavras proferidas pela chanceler.
"Àqueles que roubam ou agridem mulheres deve ser aplicada a lei em toda a sua extensão", assinalou Merkel, falando no mesmo dia em que o movimento anti-imigração PEGIDA (sigla em alemão correspondente à designação Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente) se manifestou precisamente em Colónia. Durante a manifestação, que mobilizou mais de 1700 pessoas, segundo a polícia, ouviram-se palavras de ordem como "Merkel rua" e exibiram-se cartazes em que se podia ler "refugiados violadores não são bem-vindos".
Os manifestantes do PEGIDA envolveram-se em confrontos com a polícia, lançando petardos e latas de cerveja, tendo sido alvejados com canhões de água. Foram efetuadas detenções no final da marcha.
Noutro ponto da cidade realizou-se uma segunda manifestação, esta promovida por grupos de esquerda, maioritariamente feminina, em que se viam cartazes com a frase: "Não quer dizer não. Não toquem nos nossos corpos." Aqui, não sucederam incidentes.
Das 379 detenções até agora realizadas pela polícia alemã, 170 foram em Colónia, estando 120 relacionadas com agressões de cariz sexual. Segundo as autoridades, estão identificados por nome 32 indivíduos, dos quais 22 são candidatos a asilo.
O sucedido em Colónia suscitou um intenso debate em todo o espectro político alemão sobre a política de acolhimento de refugiados seguida por Merkel desde agosto. Um curso de ação que a chanceler se vê obrigada a alterar pelos acontecimentos da passagem de ano.
DN