Metade do país quer Senado e mais investimento na DefesaSondagem da Sedes mostra desconfiança sobre sistema público de saúde. Documento vai ser enviado aos partidosEunice Lourenço
Editora de Política
Uma segunda câmara do Parlamento, regionalização, ordenados dos profissionais de saúde associados ao cumprimento de objetivos e toda a gente a pagar impostos — estes são alguns dos dados de uma sondagem promovida pela Sedes (Associação para o Desenvolvimento Económico) e feita pela Pitagórica, que também dá um grande apoio ao aumento de investimentos em Defesa, dando sinal de que a segurança e a guerra são preocupações relevantes para os portugueses, ainda que o tema esteja, para já, muito afastado dos discursos políticos.
“Vozes de Portugal: A Perspetiva do Cidadão sobre as Propostas da Sedes” resulta da recolha de informação feita entre 16 de janeiro e 12 de fevereiro, através de entrevista telefónica. O resultado, a que o Expresso teve acesso, vai ser ainda analisado pelos vários grupos temáticos da Sedes, que juntam personalidades do centro político, e enviados aos partidos para reflexão.
SISTEMA POLÍTICO
Senado e regionalização com muito apoioÉ uma das propostas que a Sedes tem e recolhe um apoio surpreendente: 73% dos inquiridos revelam interesse na criação de um Senado, ou seja, uma segunda câmara no Parlamento. Também uma grande maioria — 60% — é favorável à regionalização, com 81% a acharem que “há mais poderes e decisões em Lisboa do que seria adequado”. Também uma grande maioria — 70% — considera que Portugal precisa de uma revisão constitucional.
Já quanto a outra proposta que a Sedes tem promovido — a mudança para um sistema eleitoral com círculos uninominais — existe, antes de mais, um grande desconhecimento, com 71% a dizerem que não sabem o que são círculos uninominais. Depois de uma explicação (um sistema em que os eleitores poderiam escolher diretamente deputados), 80% revelam interesse no sistema: 27% todo o interesse, 20% muito interesse e 33% algum interesse.
As perguntas sobre sistema político começam por testar o conhecimento dos inquiridos sobre os eleitos e 63% não sabem indicar qualquer nome de deputado eleito pelo seu distrito, enquanto 35% sabem pelo menos um nome. Quanto à satisfação com os deputados eleitos, 19% não conhecem o trabalho dos deputados, 22% estão insatisfeitos e 28% razoavelmente satisfeitos, 14% estão muitos satisfeitos e 12% totalmente insatisfeitos.
SEGURANÇA E DEFESA
Regresso do SMOQuase metade dos inquiridos (47%) concorda com o aumento dos investimentos em defesa, mesmo que isso implique cortar noutras áreas da governação e só 27% discordam desse aumento. Pelo meio ficam 25% que não concordam nem discordam. A mesma maioria de 47% concorda com o regresso do serviço militar obrigatório (SMO), que terminou em 2004. Mas aqui cresce o número dos que discordam: são 37%.
Esta é uma discussão que a Sedes também tem promovido, defendendo que é preciso pensar num modelo em que os jovens tenham de prestar um “serviço de cidadania obrigatório” nas Forças Armadas, nas forças de segurança ou em qualquer instituição de interesse nacional, proposta que recolhe o apoio de 63% dos inquiridos, com maior concordância a Norte, entre os mais jovens e no eleitorado de centro-direita.
Ainda no campo da Defesa, só 11% defendem que Portugal não deve continuar a apoiar a Ucrânia.
ECONOMIA
Impostos para todosApesar de 61% dizerem que só é possível resolver os problemas do país com crescimento económico, há uma fatia considerável — 37% — que acha possível resolver os problemas sem crescimento económico. Uma óbvia maioria de 90% defende que o próximo governo se deve preocupar com o aumento dos salários em geral por oposição a preocupar-se apenas com o salário mínimo. E ainda mais — 91% — acha que os cidadãos fogem ao pagamento de impostos. O número desce ligeiramente para 87% quando a pergunta é sobre empresas. Quanto a uma proposta da Sedes no sentido de que todos paguem impostos (nem que seja de 1 euro) para distribuir melhor o esforço, 80% concordam e só 17% consideram injustos todos pagarem impostos. Atualmente, cerca de 42% dos contribuintes não pagam impostos por terem baixos rendimentos.
JUSTIÇA
Prioridade para a luta contra a corrupçãoUma maioria de 59% acha que o funcionamento da Justiça é um obstáculo ao desenvolvimento do país e 80% respondem que “há uma Justiça para ricos e outra para pobres”. Quando toca a escolher prioridades, as primeiras três são combate à corrupção, o reforço da rapidez dos tribunais e a redução de desigualdades no sistema judicial.
Só 4% acreditam que há uma “eficaz e clara” separação entre política e justiça e 69% acreditam que há interferência política no sistema judicial. Três quartos dos inquiridos consideram que o nível de corrupção em Portugal é alto ou mesmo muito alto e 62% dizem que tem vindo a aumentar.
SAÚDE
Divisão na confiança no SNSSão mais os inquiridos que confiam na saúde privada (33%) do que os que confiam na saúde pública (26%), que apresenta um nível de desconfiança de 35%, enquanto a desconfiança nos privados fica apenas pelos 15%. Os níveis de confiança no serviço nacional de saúde são menos entre os homens, os mais jovens e o eleitorado de direita.
Quase metade (49%) discorda do fim das parcerias público-privadas neste sector e uma boa parte (40%) apoia uma indexação dos ordenados dos profissionais de saúde ao cumprimentos de objetivos.
NÚMEROS73% consideram interessante a ideia de haver um Senado, sendo que 20% escolhem “todo o interesse”, 18% manifestam “muito interesse” e 35% assinalam apenas “algum interesse”
47% concordam com o aumento do investimento em defesa e a mesma percentagem de inquiridos defendem o regresso do serviço militar obrigatório
75% acreditam que há um nível “alto” ou mesmo “muito alto” de corrupção em Portugal e 67% respondem que não há suficiente separação entre política e justiça
35% confiam “pouco ou nada” na saúde pública em Portugal, apenas 26% confiam “totalmente ou muito”, enquanto 39% confiam “razoavelmente”. Por oposição, na saúde privada, 33% dos inquiridos confiam “totalmente ou muito” e 15% confiam “muito pouco ou nada”
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