Mistério marítimo está a desorientar navios e estes navegam em círculosNo último dia de maio, foi registado um incidente nas águas do Atlântico, a oeste da Cidade do Cabo, na África do Sul. Em causa esteve a orientação do petroleiro Willowy que foi vítima de um raro fenómeno. Segundo o que foi reportado na altura, os oficiais deram conta que, tanto o seu navio, como outros quatro que estavam na área, navegavam em círculos, incapazes de seguir o rumo estabelecido.
Surpreendidos com tal situação, os responsáveis pela embarcação inicialmente apontaram que o problema estaria nas fortes correntes. Contudo, nada disso estava referenciado e algo estranho se passava.
Mistério dos navios a navegar em círculos tem mais exemplosNas primeiras horas de domingo, dia 31 de maio, oficiais superiores a bordo do petroleiro Willowy foram chamados à ponte. Então, estes foram alertados para o facto de o seu navio e outros quatro vizinhos estarem a navegar misteriosamente em círculos. Era impossível fazer com que seguissem a rota traçada e o trajeto que estavam a usar era de aproximação.
Num primeiro momento, com eventual pânico, equacionaram haver fortes correntes marítimas que os estivessem a empurrar. Contudo, não existiam correntes por onde os navios navegavam, no sul do Oceano Atlântico, a oeste da sul-africana Cidade do Cabo.
Apesar de ser raro, o fenómeno parece estar a tornar-se cada vez mais comum. Há vários relatos do mesmo comportamento com navios a navegar em círculos perto de vários portos na costa da China, especialmente perto de terminais de petróleo e instalações do governo. Contudo, este petroleiro está no meio do nada.
Autoridades alertadas e investigadores estudam já o mistérioUm grupo de investigadores dedicou-se a verificar estes círculos bizarros perto da costa chinesa. Segundo as suas conclusões iniciais, acreditam que provavelmente são o resultado de manipulação sistemática de GPS, projetada para minar um sistema de rastreio que todos os navios comerciais devem usar, de acordo com a lei internacional.
Conhecida como AIS (Sistema de Identificação Automatizada), a tecnologia transmite identificadores exclusivos de cada embarcação. Ademais, informa a localização GPS, o curso e a velocidade da embarcação aos outros navios próximos.
Além disso, estes sinais são também recolhidos por satélites e usados para monitorizar comportamentos suspeitos, incluindo contrabando, pesca ilegal e – o mais relevante – comércio de petróleo sancionado.
Os círculos localizados perto da costa chinesa foram atribuídos à interferência do GPS, algo que coincidiu com as sanções dos EUA ao Irão, de acordo com Phil Diacon, executivo-chefe da empresa de inteligência marítima Dryad Global.
No entanto, de acordo com uma análise global destes dados pelos grupos ambientais SkyTruth e Global Fishing Watch, uma série de incidentes circulantes também ocorreram numa localização bastante distante dos portos chineses, com alguns destes círculos a aparecerem perto de São Francisco.
Navios a milhares de quilómetros de distância do seu caminhoNa investigação, a SkyTruth encontrou a localização real destes navios. Muitas vezes estavam perdidos e a milhares de quilómetros de distância, perdidos nas tais rotas circulares de navegação. Ao desviarem-se, iam ter novamente a terminais de petróleo ou a locais onde a interrupção do GPS havia sido relatada antes.
Contudo… este não foi o caso do petroleiro Willowy!
Era cerca de 1h da manhã de domingo, quando o navio de petróleo bruto com bandeira da Libéria, subitamente virou estibordo e começou a navegar em círculos. Os sistemas do navio, que são responsáveis pela navegação autónoma, não foram capazes de o levar para onde deveria ter ido. A tripulação relatou que outras quatro embarcações próximas foram presas numa espiral semelhante, convergindo lentamente entre si, por um motivo desconhecido.
Quem terá usado esta tecnologia para confundir a navegação por GPS?O mundo vive uma situação anormal e, como temos visto, intensifica-se o braço de ferro entre o Irão e os Estados Unidos. O petróleo tem estado no centro das atenções e a esta altura os petroleiros são peças de um xadrez complexo.
Nesse sentido, há sugestões de que o bloqueio do GPS foi usado pelo Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana, para enganar as embarcações comerciais, levando-as a entrar nas águas iranianas. Segundo é referido, as capacidades de guerra eletrónica chinesa foram propostas como uma causa potencial para a informação sobre alguns navios ditar que estes estavam a milhares de quilómetros de distância de onde realmente estavam.
Contudo, a Agência Espacial Europeia detetou algo mais. Ninguém sabe a razão, mas o campo magnético da Terra – que perdeu quase 10% da sua força nos últimos dois séculos – está a ficar particularmente fraco numa grande região, que se estende da África à América do Sul, afetando satélites e naves espaciais.
Conforme já foi referido, esta situação é conhecida como Anomalia do Atlântico Sul. A força do campo nesta área diminuiu rapidamente nos últimos 50 anos, assim como a própria área afetada cresceu e moveu-se para oeste. Nos últimos cinco anos, um segundo centro de intensidade mínima desenvolveu-se a sudoeste da África, muito perto de onde o Willowy estava a navegar.
Segundo o que fora até à data adiantado, existe alguma especulação sobre este enfraquecimento. Alguns investigadores referem que este fenómeno pode ser um sinal de que a Terra está a caminhar para uma inversão de polos. Este evento leva a que os polos magnéticos norte e sul troquem de posições.
Assim, caso seja o início deste fenómeno, a mudança não acontecerá imediatamente. Haverá, sim, uma alteração que se dá ao longo de alguns séculos, durante os quais haverão vários polos magnéticos norte e sul no mundo.
Havia algum problema na inversão dos polos magnéticos?O impacto seria enorme para as embarcações marítimas cuja navegação fosse baseada em bússolas magnéticas. Na verdade, além de navegarem em círculos, poderiam nem dar conta que tal estaria a acontecer.
Felizmente, tal como a tripulação e os responsáveis da empresa pela navegação sabiam, há décadas que as bússolas magnéticas não gerem a navegação marítima. Assim, navios modernos como o Willowy utilizam algo chamado bússola giroscópica, que encontra o norte verdadeiro, determinado pela gravidade e pelo eixo de rotação da Terra, em vez do norte magnético.
A bússola giroscópica é utilizada, em conjunto com outros sistemas do navio, para detetar o norte verdadeiro, identificar o rumo do navio e orientá-lo. No entanto, se este equipamento falhasse, poderia causar exatamente os problemas que o Willowy estava a enfrentar.
A tripulação, com os superintendentes marítimos da empresa em terra, investigou e identificou que a bússola giroscópica primária do navio estava, de facto, a funcionar mal. Como tal, o navio retomou o seu rumo em segurança, quando passou a utilizar a bússola giroscópica secundária, auxiliada por uma bússola magnética antiquada. Tal conjunto permitiu uma boa medida.
Questionada sobre a causa da avaria, a empresa descreveu-a como “uma avaria acidental” e acrescentou que “a reparação será feita no próximo porto, onde a causa será identificada pelos técnicos, em terra”.
E os outros navios nas imediações do Willowy que também navegavam em círculos?Segundo o que foi descrito pela Executive Ship:
A presunção inicial da causa que levou o Willowy a navegar em círculos foram as correntes fortes, o que levou a tripulação a perceber que outros navios estavam também a navegar em círculos.Com tantos mistérios nos oceanos, no campo magnético da Terra e nas relações entre os seres humanos não deverá ser fácil chegar a uma conclusão. Contudo, estes mistérios são cada vez mais.
https://pplware.sapo.pt/ciencia/misterio-maritimo-esta-a-desorientar-navios-e-estes-navegam-em-circulos/Alguém sabe o que se passa nestes ataques misteriosos ao GPS mundial que afecta os navios?