Boris Johnson arrasado pelo antigo chefeO antigo editor do Daily Telegraph considera que a ascensão de Boris Johnson, provável próximo primeiro-ministro do Reino Unido, é uma “piada de mau gosto”
O que se lê no artigo publicado esta segunda-feira, 24, no site do The Guardian é exatamente aquilo que não deve constar numa carta de recomendação – muito menos numa carta de recomendação de um candidato a primeiro-ministro. Max Hastings, jornalista que na década de 80 foi editor de Boris Johnson na redação do Daily Telegraph, garante que o provável sucessor de Theresa May é, por várias razões, a pior pessoa possível para liderar o país.
As críticas ao possível futuro primeiro-ministro britânico assentam, numa primeira fase, no alegado individualismo. “Ele não se preocupa com nada, a não ser a sua própria fama e satisfação” escreve o jornalista. O espírito ganancioso e, muitas vezes, incoerente com a verdade caracteriza Boris Johnson, que deste modo se revela uma figura desadequada ao perfil que o mais alto cargo no governo exige, diz Hastings.
As situações políticas da Ucrânia e dos Estados Unidos, em que celebridades passaram a ocupar os cargos mais altos de chefia dos respetivos países, servem a Max Hastings de exemplo do que poderá acontecer no Reino Unido, caso Boris Johnson seja eleito primeiro-ministro. Na Ucrânia, o comediante e ator Volodymyr Zelensky foi este ano eleito presidente, enquanto que, nos Estados Unidos, o empresário e protagonista de vários reality shows Donald Trump lidera o país desde 2017. O jornalista afirma que “não conseguimos prever o que o eventual governo de Boris irá fazer, visto que o seu possível líder não pensou sobre isso”. No entanto, não tem dúvidas de que este terá uma má relação com “regras, precedentes, ordem e estabilidade”.
Max Hastings acusa também Boris Johnson de fraca personalidade e dignidade, “que ainda importa nos cargos públicos”. O autor ilustra as acusações com o relato de um episódio entre o presidente da BBC e Boris Johnson, em que o último tentou impedir a BBC de publicar notícias sobre a sua vida amorosa. “As únicas pessoas que consideram Boris boa pessoa são as que não o conhecem” conclui Hastings.
A caminhada eleitoral britânica ainda está longe de estar terminada, mas Boris Johnson parece estar cada vez mais perto da liderança do Partido Conservador. Max Hastings teme que o seu último adversário, Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, seja insuficiente para travar o seu antigo colega de redação: “Se a oposição fosse liderada por qualquer outra pessoa, os Conservadores seriam merecidamente derrotados.”
No habitual tom frontal e arrebatador, Max Hastings termina a “desrecomendação” de Boris Johnson lamentando o facto de a família Johnson não se ter limitado ao mundo do espetáculo, acrescentando que, desse modo, “o mundo seria um lugar melhor”.
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