Ultrapassar a crise? Comprem mais submarinos! Para tirar veleidades a uns membros da”comunidade internacional”Não acreditam que precisamos de mais submarinos? Já vão acreditar.Em 1926 a situação económica e financeira de Portugal era bastante melhor do que a actual mas, em termos políticos e sociais, estávamos muito pior. De facto os indicadores pelos quais se aferem os dois primeiros âmbitos assim o provam. Aquando do 28 de Maio, a dívida pública era cerca de 63% do PIB; de 1910 a 28 houve um deficit acumulado de 2.684.724 contos (78.900.000 libras); em 1920 os salários referidos aos preços já valiam apenas um terço do que em 1910, e tudo isto apesar de a seguir à IGG se viver sem contas e sem orçamento, já que a classe política da altura não se entendeu sobre como pôr um de pé…Presentemente a divida pública é já de cerca de 100% do PIB (e não está lá tudo!) – em 1974 era de 15%, e segundo o conceituado docente Santos Pereira, Portugal está na lista dos 10 países mais endividados do mundo. Nem vale a pena falar nos restantes indicadores macro económicos, um verdadeiro filme de terror que a pouco e pouco se vem tornando público.A I República quis implantar uma espécie de “democracia directa”misturada com ditadura jacobina que lembrava Danton e Robespierre. O resultado foi o período mais infame que em Portugal já houve. Lembra-se resumidamente: oito PRs (um cada dois anos), dos quais um foi assassinado (idem para um chefe de governo), dois foram exilados, um resignou, dois renunciaram e outro foi destituído; 45 governos (média de três governos/ano); oito parlamentos, dos quais cinco foram dissolvidos, e 11 ditaduras, ou seja restaram apenas cinco anos cumpridos dentro da legalidade constitucional.A ditadura militar instaurada em 1926, pôs ordem nas ruas, mas não soube resolver o problema financeiro. Os generais Sinel de Cordes e Ivens Ferraz negociaram um empréstimo (parece que só se sabe fazer isto…), de 12 milhões de libras, na Sociedade das Nações, mas as condições leoninas que nos impuseram levaram o governo a rejeitar o empréstimo. Só então se concordou com as condições de um certo professor de Coimbra, que foram buscar para ministro das finanças. O resto da história é conhecida, embora muito mal contada e convenientemente esquecida. O actual empréstimo, negociado com a “Troika”devia ter levado o caminho daquele, por variadíssimas razões, a saber:Enquanto nos continuarem a emprestar dinheiro, o problema político – de onde derivam todos os outros – não será resolvido em Portugal;O empréstimo (e os que se seguirão), não são passíveis de serem pagos, nem daqui a 200 anos, a não ser que se descubra petróleo no Beato ou ouro em Foz Côa;O empréstimo é feito a uma taxa de usurário e, por isso, inadmissível;O dinheiro só vai servir para pagar juros, dívidas externas e internas, afim de não deixar colapsar o Estado. Não vai ser investido na economia nem em actividades reprodutivas, logo não tem mais-valia futura. É apenas mais um ónus. Até um simples aviador como eu, percebe isto;O empréstimo, que não tem nada de filantropia destina-se, outrossim, a financiar os grandes bancos europeus, nomeadamente, franceses e alemães, em particular, e a alta finança ligada à Wall Street, em geral – nisto é mister dar razão a Jerónimo e a Louçã;Tudo isto representa uma canga insuportável, que nos leva a soberania que nos resta. Depois não vai haver revolta que nos salve. Nem o Conde Duque Olivares se atreveu a tanto;Para garantirmos estes empréstimos e os próximos – por esta lógica isto não vai parar nunca – vamos ter de abrir mão de tudo, privatizar tudo (a TAP, por ex., vai já à vida e por tuta e meia, por causa do enorme passivo que tem…), vender tudo. Quando não restar nada pagamos com sangue.Finalmente, não deveríamos ter feito este acto suicidário, pela simples razão de que os partidos e todo o sistema político existente, não vão conseguir honrá-lo. Irão desentender-se todos e não haverá autoridade para nada. Também não acreditam? Leiam Fernando Pessoa (“O Interregno. Defesa e justificação da Ditadura Militar em Portugal”, 1928):“Os partidos, (…) como têm um ideal político distinto do ideal nacional (sem o que não seriam partidos), ora sobrepõem aquele a este ora o infiltram neste, assim o pervertendo. Os partidos, ainda, como têm que ter a aparência de se apoiar na opinião pública, buscam “orientá-la”no sentido que desejam, e assim a pervertem; e, para sua própria segurança, buscam servir-se dela, em vez de a servir a ela, e assim a sofismam.” Ora, lamentavelmente, os partidos actuais não são muito diferentes dos contemporâneos do grande poeta, enfim, aqueles seriam até mais patriotas…Em súmula, chegando-se à conclusão que o empréstimo nada vai resolver, ao passo que tudo se irá agravar, então mandaria a lógica que interrompêssemos o caminho para o abismo quanto antes.Mas as coisas não se irão passar assim, pela questão pueril de que não há coesão política e social e pela especificidade da natureza humana: ninguém quer fazer sacrifícios se lhes puder furtar, nem alguém no seu juízo perfeito – muito menos um politico - gosta de ser portador de más notícias. Ou seja, temo bastante que só quando houver fome, greves selvagens e “bombas”se irá atacar os problemas de frente. A alternativa (rara), só existiria com o aparecimento de uma verdadeira elite política. E todos sabemos que tal, de momento, não existe. Aliás, nos últimos 30 anos em vez de as tentarmos formar, fez-se tudo para as eliminar.O que se deveria então fazer? A lista é longa e dura e teria que ser harmonizada numa política medularmente portuguesa, servida por uma grande estratégia. E quem a delinearia e poria em prática? Voltamos ao mesmo, não pode ser com a actual classe política – que foi quem nos trouxe ao inenarrável cenário contemporâneo - e que o dia seguinte às próximas eleições legislativas irá provar, mais uma vez, à saciedade.Um conjunto de medidas – quando for possível implementá-las – passará pela eventual saída do euro, da UE, sair da zona de influência das agências de rating, regular fronteiras e trabalhar com os meios que tivermos. Concertar acções com outros devedores; renegociar a divida e embargar o seu pagamento, quando isso nos interessar. Voltarmo-nos para o mar e pôr a CPLP a funcionar. Tornar-nos neutros nas contendas europeias e afastar do poder todos os cidadãos que prefiram obediências estranhas à sua matriz nacional.Ao contrário do que a maioria dos receosos pensam, só teremos dois problemas sérios pela frente: alimentar a população (água ainda temos alguma e vinho não falta!) e ter um mínimo de energia para nos sustentarmos – não produzimos e não temos como ir buscá-los pois, entretanto, estes adiantados mentais reduziram a marinha à exiguidade! Finalmente, hélas, precisamos dos submarinos para tirar veleidades a uns quantos membros da”comunidade internacional”, para não nos bombardearem como estão a fazer à Líbia ou para, no mínimo, não pensarem que entram aqui a passear. Creio que, agora, o título já faz sentido.
Olá a todos! Prefiro que se gaste dinheiro nos submarinos do que no Rendimento Social de Insercão. É uma questão de bom senso.