Comandos atraem jovens, apesar das mortes e falhas
Alguns dos 106 candidatos ao 128.º curso, que começa amanhã, ainda aguardam resultados clínicos ou repetem provas físicas.
O renovado curso dos Comandos, na sua 128ª edição e agora sob a direção do major Rui Moura, começa amanhã com várias mudanças e fortes medidas de controlo da sua aplicação. Quanto ao número inicial de recrutas, ainda é desconhecido porque alguns dos 106 candidatos ainda vão realizar esta quinta-feira exames médicos complementares ou repetir provas físicas.
"Há candidatos que já passaram e outros que já chumbaram, mas ainda há" alguns cuja decisão final está dependente dos "resultados clínicos complementares e de provas físicas de segunda oportunidade", explicou ontem ao DN o porta-voz do Exército, tenente-coronel Vicente Pereira.
As mudanças foram aprovadas após as duas mortes e múltiplos internamentos que marcaram o curso anterior, iniciado em setembro de 2016 sob temperaturas acima dos 40 graus centígrados e que levaram à suspensão dos cursos posteriores - mas sem que o impacto público do caso diminuísse o interesse dos potenciais candidatos, cujo número se manteve "em linha" com os registados nos anos anteriores, observou há dias o ministro da Defesa.
Duas das novas medidas são um novo corpo de duas dezenas de instrutores com formação específica prévia e o apoio permanente ao médico do curso, dado por outro clínico - de serviço no Centro de Saúde Militar de Coimbra - com quem, em caso de necessidade, o primeiro poderá tirar dúvidas ou aconselhar-se sobre a melhor decisão a tomar.
Quanto à formação prévia dada aos instrutores, ela envolveu especialistas oriundos do Centro de Saúde Militar de Coimbra, da Academia Militar e do Centro de Psicologia Aplicada do Exército, adiantou Vicente Pereira. Fazer com que a instrução dada aos mancebos seja dada da mesma forma e que os formadores estejam habilitados a detetar sintomas de excesso de esforço por parte dos instruendos são objetivos a atingir.
Ainda no plano do acompanhamento clínico dos instruendos, onde a gestão do esforço que lhes é pedido passou a ter importância crítica, Vicente Pereira informou que o controlo sistemático dos níveis de toxicidade na urina passará a ser constante ao logo do curso e com particular incidência nos primeiros dias.
A aprovação do chamado referencial dos cursos foi outro aspeto central dos trabalhos de revisão feitos pelo Exército, os quais envolveram, entre múltiplos aspetos, a definição dos procedimentos adequados ao desenvolvimento e organização do curso; a sua necessidade, âmbito, natureza ou duração - que passa de 12 para 16 semanas e de três para quatro fases, sendo a primeira dedicada a preparar os recrutas para as etapas seguintes (treino individual, de equipa e em grupo).
Ao longo do curso, que termina a 28 de julho, os instruendos vão receber treino e formação em múltiplas áreas: técnicas de combate, navegação terrestre, treino físico militar, sobrevivência, armamento e tiro, socorrismo, operações, transmissões ou sapadores (manusear explosivos).
Essa preparação particularmente exigente em termos físicos e psicológicos visa habilitar os futuros membros daquela força especial do Exército para executar, entre outras, operações de combate ofensivo em condições de "elevado risco e exigência". Não será por acaso que um antigo comandante das forças da NATO no Afeganistão, o general britânico David Richards, disse dos Comandos (citado num documento interno do ramo) que eram "verdadeiros heróis, uma tropa excelente, corajosa e destemida, um exemplo a nível estratégico".
O mesmo general, que teve uma companhia de Comandos às suas ordens em Cabul, acrescentou mesmo que "todos os generais em qualquer palco de guerra precisam de uma força de reserva, pronta para qualquer imprevisto. No início, a NATO não me deu ninguém. Até que, por fim, os bravos portugueses ofereceram esta companhia [cujos soldados] são as minhas forças preferidas no Afeganistão".
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