Cada vez compreendo melhor aqueles que se abstêm de votar. E passo a explicar porquê:
Vejamos as eleições sob o ponto de vista de um eleitor ingénuo e apartidário.
O eleitor antes de votar, e porque embora ingénuo gosta de se informar primeiro, vai analisar os programas eleitorais dos vários partidos que vão a votos. Dos diversos programas eleitorais haverá certamente um com o qual ele mais se identifica. Assim, no dia das eleições o nosso eleitor ingénuo dirige-se ao local de voto e coloca na urna o seu voto no partido cujo programa eleitoral ele se identifica.
O partido no qual ele votou ganha as eleições. A partir daqui o nosso eleitor ingénuo e apartidário vai avaliar a prestação do partido vencedor. Ao longo dos quatro anos o nosso eleitor apartidário e ingénuo verifica que a grande maioria das propostas politicas que constavam no programa eleitoral por ele elegido não foram efetivamente cumpridas. Ora bem, ele apercebe-se então que o partido no qual votou não é minimamente confiável.
Ligeiramente menos ingénuo o mesmo eleitor prepara-se para votar nas próximas eleições. Exclui à partida o partido no qual votou anteriormente e escolhe de entre os outros programas eleitorais aquele com que mais concorda. No dia das eleições vota, e por sorte do mesmo é novamente o partido no qual ele votou que ganha. Seguem-se mais quatro anos nos quais ele se dedica à avaliação da prestação do novo governo. Novamente quase nenhuma das propostas que constam no programa eleitoral são cumpridas. Também este partido é riscado das hipóteses de voto do nosso cidadão ainda menos ingénuo.
Seguem-se novas eleições e entretanto o nosso cidadão cada vez menos ingénuo se apercebe que para além destes dois partidos não confiáveis nenhum outro tem hipóteses de ganhar eleições, além de que nada indica que algum dos outros partidos seja mais confiável que os dois primeiros.
Ou seja, nestas condições expostas só existem 3 condições especificas para se continuar a votar: Ou o individuo que vota não consegue ter discernimento suficiente para compreender a situação exposta; ou o individuo tem algum possível ganho individual com a vitória de um partido especifico porque está integrado nesse partido e é aquilo a que se pode chamar “boy for the job”; ou então finalmente é alguém que tem algum tipo de fé de que um voto num partido diferente pode mudar alguma coisa, o que dificilmente acontecerá (grupo este no qual eu me incluo).
Todo e outro qualquer individuo, fora dos três grupos acima descritos, encontrará certamente algo bastante mais produtivo para fazer no dia das eleições que seja votar.
Infelizmente para todos os Portugueses, Portugal encontra-se exatamente nestas circunstâncias.