Arma russa do "Juízo Final" afinal pode não existir: Belgorod e Poseidon serão exemplos da propaganda de PutinApresentado como o mais recente submarino da Marinha russa, munido de drones subaquáticos e capaz de transportar seis torpedos nucleares que podem acomodar ogivas com potências de até 100 megatoneladas, e é, para o Instituto Naval dos Estados Unidos, a arma do “Dia do Juízo Final”.
No passado dia 3, voltou a ser notícia: o submarino nuclear K-329 Belgorod, que carrega um míssil nuclear chamado Poseidon, está em movimento, o que levou a NATO a deixar o alerta aos seus Estados-membros, incluindo Portugal. O submarino terá submergido no Oceano Ártico, depois de ter sido acusado de poder estar envolvido na alegada sabotagem dos gasodutos Nord Stream.
Mas será bem assim?
Para o jornal espanhol
El Mundo, não. As informações que circulam sobre a temível arma de Putin seriam terríveis se não fosse o Belgorod não ter nada de excecional, nem sequer o Poseidon, que não existe e provavelmente nunca vai existir, uma vez que é uma arma impossível de se fabricar. Ambos os sistemas são, aliás, um exemplo do estado catastrófico das forças armadas russas.
O desenho do Belgorod, de facto, data de 1975, quando Leonid Brejnev era secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, o que indica não se tratar de algo especialmente moderno. Começou a ser construída em julho de 1992, seis meses depois do fim da União Soviética. Só ficou pronto 27 anos depois, em 2010. Em 2020 foi entregue à Marinha russa. Em julho último, 30 anos depois do início dos trabalhos, entrou finalmente ao serviço.
O Belgorod mede 30 metros a mais do que os demais submarinos da sua classe, o que o torna o maior submergível do mundo. A Rússia tem também o Losharik, de propulsão nuclear, que se incendiou em 2019 e está em reparações até pelo menos 2025.
Mas ‘dentro’ do Belgorod, estaria o Poseidon, um torpedo certamente temível mas que não o é por duas razões. Uma: não existe. Putin anunciou a arma em 2018, num discurso em que ‘informou’ o planeta de que dispunha de seis sistemas de armas com os quais podia matar-nos a todos. Em teoria, o Poseidon seria um veículo submarino autónomo com capacidade para quase 20 mil quilómetros, o que lhe permitiria desferir um ataque em qualquer lugar do mundo, que funciona com um reator nuclear e na cabeça teria uma bomba atómica de 100 megatoneladas, ou seja, 7 mil vezes a bomba usada em Hiroshima.
Segundo a Rússia, o sistema ainda está em fase de testes. Mas não é credível. O Poseidon apresenta tantas dificuldades técnicas que é quase uma piada. A mais óbvia? Colocar um reator nuclear num torpedo que tem 20 metros de comprimento e 2,5 de largura. Se isso é impossível, fica-se para se ver como se iria mover uma vez que os reatores, pelo seu próprio desenho e para evitar fugas radioativas, são pesadíssimos. Mas mesmo que os engenheiros russos tivessem descoberto a solução, resta a questão de como se iria mover o torpedo autónomo. Isto porque a superfície de Marte é mais conhecida do que o fundo do mar, que ‘soma’ casos de submarinos nucleares a chocar, literalmente, com montanhas subaquáticas que não estão nos mapas. Por último, dar ordens ao Poseidon é quase impossível uma vez que com a tecnologia atual é mais fácil comunicar com o espaço do que com as profundezas do mar.
Além da mais-valia militar (afinal, qual o interesse de atacar uma cidade costeira com uma bomba atómica, havendo alvos mais substanciais como Washington?), a bomba de 100 megatoneladas que o Poseidon utilizaria seria, provavelmente, uma bomba de cobalto. Esta ‘solução’ nunca foi ensaiada porque seria capaz de gerar tanta radiação que provavelmente causaria a morte de centenas de milhões de pessoas. Ou seja, o uso do Poseidon não seria uma catástrofe, seria o fim do mundo.
A resposta da NATO, se fosse atacada, suporia a total aniquilação da Rússia. E isso é algo que o próprio Putin não quer.
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