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Geopolítica-Geoestratégia-Política de Defesa => Países Lusófonos => Tópico iniciado por: dremanu em Abril 28, 2004, 01:56:47 am

Título: Timor-Leste e a Austrália
Enviado por: dremanu em Abril 28, 2004, 01:56:47 am
http://jornal.publico.pt/2004/04/27/Des ... 1CX02.html (http://jornal.publico.pt/2004/04/27/Destaque/X01CX02.html)

MILHOES EM CAUSA

A semana passada terminou em Díli, sem avanços significativos, a primeira ronda de negociações sobre a demarcação da fronteira marítima entre Timor-Leste e a Austrália.

Os dois países, separados por cerca de 500 quilómetros de mar, disputam o controlo directo sobre jazidas de petróleo e de gás natural avaliadas em 30 mil milhões de dólares.

Díli defende que a demarcação da fronteira comum seja fixada numa linha equidistante dos dois países, o que, a concretizar-se, significa que as reservas do maior das jazidas, a "Greater Sunrise", ficarão do lado timorense.

Pelo contrário, a Austrália sustenta que a fronteira deverá ter em conta a sua plataforma continental, colocando dessa forma do seu lado a maior parte das reservas.

A Austrália, que em 1979 começou a negociar a divisão do Mar de Timor com a Indonésia em troca do reconhecimento da anexação, começou já a vender licenças de exploração sobre as áreas em disputa.

Timor-Leste, um dos países mais pobres do mundo, necessita de ver entrar nos seus cofres, o mais depressa possível, algum dinheiro que lhe alivie a dependência da ajuda externa. Confortavelmente situada fora da jurisdição do Tribunal Internacional de Justiça, o que remete qualquer solução da disputa para negociações directas entre os dois estados, a Austrália tem vindo a basear a sua táctica neste estado de necessidade dos timorenses, protelando o mais possível o acordo.

Por cada dia que passa nesta disputa, o estado timorense perde um milhão de dólares, disse a semana passada, em Díli, o primeiro-ministro Mari Alkatiri.

Trata-se de uma "luta desigual (...) só comparável ao combate pela libertação nacional", disse Xanana Gusmão na sessão de lançamento do seu livro de discursos "Construção da Nação Timorense - Desafios e Oportunidades", no passado dia 22, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa.
Título:
Enviado por: dremanu em Abril 28, 2004, 02:07:33 am
Infelizmente a verdade é que o mundo em que vivemos está cheio de FDP. Tinha que haver alguma razão para os Australianos estarem tão cheios de boa vontade com o povo de Timor-Leste, quando mandaram p'ra lá tropas.

Agora entende-se qual eram os interesses disfarçados destes espertalhões. E ainda existe quem acredite em retóricas de "nuestros hermanos", e fraternidade e solidariadade, e organizações da ONU, e não sei que mais. Não passa tudo de ser, e em bom Inglês, "Pure Bullshit!".
Título:
Enviado por: Rui Elias em Abril 30, 2004, 12:56:17 pm
Quando em Setembro de 99 todo o nosso país se mobilizou a favor do povo timorense, e Guterres apelou a uma intervenção estrangeira que pusesse cobro à matança das milicias apoiadas pelos militares indonésios na ilha, Portugal mais uma vez comportou-se sob a velha máxima do "vá lá um de nós, que eu fico aqui".

Os primeiro a desembarcar foram os australianos e uma fragata portuguesa só lá chegou 1 mês depois.

Se em Portugal existisse visão de política externa estratégica e de longo prazo e meios logísticos e de projecção de forças decentes, e sendo previsível uma intervenção, não seria de ter essa fragata (a Vasco da Gama) aportada em Maputo, que fica a meio caminho, para que quando a luz verde para a intervenção fosse dada, sermos mais rápidos a chegar lá?

O governo moçambicano não se importaria disso.

E porque não fazer todos os esforços para a par da cooperação económica e técnica, manter uma presença militar mais efectiva e estruturada no terreno?

Desse modo, Timor não se sentiria tão fragilizado nas negociações com a Austrália, que se está a armar até aos dentes.
Título:
Enviado por: Luso em Abril 30, 2004, 05:03:46 pm
A ONU: quando é que acabam com essa mariquice e esse antro de tachos?

Toda a gente sabe que o rei vai nu...
Título:
Enviado por: Rui Elias em Maio 06, 2004, 02:16:45 pm
Luso:

Acho que a ONU pode e deve ter um papel mais interveniente no mundo unipolar em que estamos.

Mas concordo quando você afirma que a ONU em certas situações, e nomeadamente nos organismos de ajuda humanitária e nas missões de paz é um antro de tachos bem pagos.
Título:
Enviado por: Ricardo Nunes em Maio 06, 2004, 03:05:09 pm
Citar
Mas concordo quando você afirma que a ONU em certas situações, e nomeadamente nos organismos de ajuda humanitária e nas missões de paz é um antro de tachos bem pagos.


Pelo contrário caro Rui. Penso que é exactamente aí que a ONU tem sucedido tendo organizações humanitárias de reconhecido interesse e utilidade e tendo consigo organizar missões de ajuda humanitária e de paz bem sucedidas. O que ocorre de condenável na ONU é a sua incapacidade de se impor, de uma forma veemente, em termos diplomáticos e políticos pois, na existência de posições divergentes, cada país luta pelos seus próprios interesses sem qualquer respeito pelo "bem comum".
Título:
Enviado por: Rui Elias em Maio 06, 2004, 03:22:57 pm
Eu acho que uma Nações Unidas com um CS onde apenas 5 países têm direito de veto não têm pernas para se adaptar aos novos tempos.

Ou o direito de veto alarga-se à Alemanha, India, Brasil Indonésia e Nigéria (países mais populosos), ou então as aprovações deveriam passar a ser feitas por maioria qualificada.

De outro modo, qualquer um pode bloquear as decisões, e olhe que isso tem sido o abono de família de Israel.
Título: Timor e Australia
Enviado por: jfsf em Maio 10, 2004, 05:42:47 am
Como é que a mais nova nação do mundo pode fazer frente aos "cangurus"?
Timor encontra-se sozinho nesta luta desigual com a Australia, que nem o David contra o Golias, só que infelizmente o David nem uma pedrinha tem para atirar.
Começou (?) hoje a discussão no CS/ONU sobre o follow on mission da UNMISET e, segundo consta nos "corredores", Portugal quase que nem vai cheirar na nova missão. Porquê?? Vamos continuar a deixar o povo Maubere entregue ao seu prórpio destino? Desta vez não será com Rakitans para lutar contra os Invasores Indonésios, mas com Política Externa para fazer valer os seus direitos económicos. Quando é que o mundo vai acordar e fazer valer o Direito Internacional?? Afinal, todos sabemos que no tabuleiro político internacional, todos os países são iguais... só que há uns que são mais iguais que os outros. A Asutrália, perante a passividade mundial vai fazer de Timor um colonato.
jfsf
Título:
Enviado por: fgomes em Maio 10, 2004, 09:10:45 pm
Só tem uma maneira, ou seja tentar influenciar a opinião pública australiana a seu favor. E aqui nós e o Brasil podiamos dar uma ajuda.
Título: Re:
Enviado por: JQT em Maio 12, 2004, 12:19:26 am
ONU: experimentem conhecer a história do Congo ex-Belga e do comportamento da ONU conosco em relação ao nosso império e depois venham falar das boas intenções das NUs.

Timor: no referendo de 1999 devia ter havido uma terceira pergunta que eram aquela por que esperavam os timorenses: «Timor passar a ser uma região autónoma de Portugal?». Foi isso que os timorenses pediram durante depois de 1975 (alguém se lembra de quando ainda havia desfiles do 10 de Junho?). Não houve foi coragem política para fazer isso.

Voltando à ONU: lembram-se do que é as NUs disseram em 1999? «Não queremos os portugueses em Timor». Pois.

JQT
Título:
Enviado por: papatango em Maio 12, 2004, 12:47:26 pm
Lembro que o referendo em Timor, foi o possível.

A actual presidente da Indonésia, por exemplo, foi totalmente contra a propria existência do referendo.

O facto de o referendo se ter realizado já foi uma grande vitória.

Não nos podemos esquecer de que a Indonésia apresentou um referendo com duas perguntas.

- Aceita uma autonomia especial
- Não aceita uma autonomia especial

A Indonésia já estava a aceitar uma excepção, dado o Estado Indonesio ser um Estado Unitário, a existência de uma região autónoma era já de si uma cedência que para muitos era inaceitável.

Não nos podemos esquecer destas questões, porque elas foram determinantes. A existência do referendo chegou a estar por um fio. E se o presidente Indonésio que substituiu Suharto - o Sr. Habibi - tivesse sido outro, hoje não havería Timor independente.

Porém a democratização indonésia mudou tudo e, a pressão diplomática portuguesa e os americanos (sempre determinantes), acabaram sendo determinantes para que a balança pendesse para o lado de Timor.

Só de aqui a muito tempo, estaremos ao corrente do que realmente se passou em Timor e dos jogos de poder em que estiveram metidos Portugal, a Indonesia, a Australia, os Estados Unidos e as Nações Unidas.

Colocar uma pergunta como essa (se timor devia fazer parte de Portugal) era totalmente inviável no contexto de um referendo interno Indonésio.

Do ponto de vista legal, a independência de Timor não foi decorrente do referendo, mas sim das declarações do presidente Habibi, referindo que a rejeição da autonomia especial implicaria uma abertura para a independência.

Também não é justo dizer que Portugal não fez nada. A nossa presença em Timor não foi imediata porque foi pura e simplesmente RECUSADA. A presença portuguesa sería vista como uma volta da potência colonial, o que, para os espiritos nacionalistas da região, não sería aceitável. No entanto, colocamos forças do outro lado do mundo em relativamente pouco tempo. Mantivémos uma fragata a dezenas de milhares de quilometros da sua base, e quase 1000 homens (mais, se considerarmos o pessoal civil) do outro lado do mundo.

Fora os Estados Unidos (que têm os meios), que outro país fez um esforço que se possa comparar ao que Portugal fez em Timor ?

= = = = = = = =

Por outro lado. Com os problemas que temos, onde é que íamos buscar dinheiro para sustentar Timor?

Porque Timor não tem grandes recursos imediatamente disponíveis. A agricultura é praticamente de subsistência, só 20% da população entende o Português.

Timor seríam três Madeiras, mas muito menos desenvolvidas. A não ser que utilizassemos Timor para mandar Colonos, para um lugar que pelo seu tamanho, não está exactamente desabitado.

Mais gritantes foram os casos de Cabo-Verde e de São Tomé, onde se inventaram movimentos de libertação que nunca tiveram a mais pequena expressão. O MLSTP foi "inventado" e quanto a Cabo-Verde o partido para a independência, acrescentou Cabo-Verde á libertação da Guiné, porque não havia ninguém para o fazer.

O resultado é que acabaram por separar-se e hoje, Cabo Verde, que era muito mais pobre que a Guiné, assolada pela seca, é o mais rico dos países africanos de lingua portuguesa.

Parece que há alguém que escreve direito por linhas tortas.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: Ricardo Nunes em Maio 12, 2004, 04:24:21 pm
Sobre Timor:

(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fcache.gettyimages.com%2Fcomp%2F50827760.jpg%3Fx%3Dx%26amp%3Bdasite%3DMS_GINS%26amp%3Bef%3D2%26amp%3Bev%3D1%26amp%3Bdareq%3DB84D4F1548A4F56EA6AF2780F1180138A9C30E9B9B114CE8&hash=827a466ec3866f704d287893dd53029f)

Citar
DILI, EAST TIMOR: East Timorese Prime Minister examines a German made HK33EA2 rifle during a ceremonial at Nikolao Lobato airport in Dili, 12 May 2004. Malaysia's government handed over about 180 rifles to East Timor 12 May. Earlier this month UN Secretary Genral Kofi Annan said he wanted to extend the world boy's presence in East TImor beyond the May 20 cut-off to help the young nation achieve full autonomy. AFP PHOTO/ CANDIDO ALVES (Photo credit should read CANDIDO ALVES/AFP/Getty Images)


É mais deste género de solideriedade que é necessário, não só em termos militares mas em termos de educação e infra-estruturas.
Estas 180 armas são simbólicas, mas para um país como Timor já representa muito.
Título:
Enviado por: Guilherme em Maio 12, 2004, 04:33:58 pm
O Brasil poderia fazer o mesmo.

Poderia-se doar os jipes que estão a ser substituídos pelos Land Rover. Algumas viaturas Urutu/Cascavel, quando forem substituídas, também poderiam ser doadas.
Título:
Enviado por: Fábio G. em Maio 12, 2004, 09:00:12 pm
Portugal ofereceu alguns jipes, e poderia também oferecer algumas Chaimites e algum navio patrulha, e armas ligeiras que sejam substituidas.
Título: Timor, região autónoma
Enviado por: JQT em Maio 12, 2004, 11:17:38 pm
Antes da invasão em 1975, a Indonésia disse a Portugal para pacificar e continuar a administrar Timor. Depois da invasão, já nos anos 80, a Indonésia propôs devolver Timor a Portugal, na condição de que não déssemos a independência nem que os comunistas tivessem algum poder. Portugal, mais uma vez não aceitou.

Só vos digo é que um dia que se abram os arquivos do MNE e das Nações Unidas, há muita coisa explosiva para ser revelada sobre este assunto, e muitos doutoramentos honoris causa para serem retirados a um determinado político português.

JQT
Título: Doações de Portugal
Enviado por: jfsf em Maio 14, 2004, 05:10:20 am
Citando Fabio G.
"Portugal ofereceu alguns jipes, e poderia também oferecer algumas Chaimites e algum navio patrulha, e armas ligeiras que sejam substituidas".

O Governo Portugês vai doar mais do que alguns jipes. A maior parte do material que está a ser usado pelas forças da Marinha e do Exército que se encontra actualmente em Timor (o designado EASTBATT) será doado e não são só os jipes. Julgo que Portugal será o país que vai doar mais material.

"welcome to my world"
Título:
Enviado por: Fábio G. em Maio 19, 2004, 01:27:06 pm
DN:

Citar
Lisboa quer continuar líder no apoio a Timor
EDUARDO MASCARENHAS EM DÍLI
Portugal já doou à República Democrática de Timor-Leste cerca de 300 milhões de euros (incluindo as verbas da cooperação técnico-militar) desde a independência deste país, e pretende continuar a ocupar o primeiro lugar no apoio internacional a este novo Estado, disse ao DN uma fonte da delegação da secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Manuela Franco, que efectua uma visita oficial a Díli.

Manuela Franco deslocou-se a Timor para representar o Governo português nas cerimónias do final do actual mandato da ONU, segundo aniversário da independência do país e Conferência de Doadores.

Nesta conferência disse, ontem, que a solidariedade para com o povo de Timor reúne a unanimidade do povo português, e recordou aos demais parceiros de desenvolvimento local a assinatura, em Janeiro último, do Programa Indicativo de Cooperação, válido para o triénio 2004/2006, destinado ao financiamento de intervenções nas áreas da educação e reintrodução da língua portuguesa, formação de quadros da administração pública e apoio ao desenvolvimento económico e social.

Austrália e Japão são os dois outros países que, imediatamente após Portugal, mais apoiam o de-senvolvimento de Timor-Leste.

O programa indicativo mencionado pela secretária de Estado prevê ainda o apoio directo ao Orçamento de Estado timorense, até 2005, num total de 7,4 milhões de euros, dos quais 4,9 milhões foram já investidos por Portugal. Antes de terminar a sua visita oficial de cinco dias a Timor-Leste, Manuela Franco assiste à assinatura do plano anual de cooperação, que contempla um pacote financeiro de 27,5 milhões de euros.

Título: Investimento
Enviado por: jfsf em Maio 23, 2004, 03:34:49 am
Citação da Lusa
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Timor-Leste: CGD e Timor Telecom inauguram novo conceito de atendimento público

 
Díli, 22 Mai (Lusa) - A Caixa Geral de Depósitos (CGD) e a Timor Telecom, empresas de capital português, inauguraram hoje em Timor-Leste um novo conceito de atendimento público que permite realizar operações bancárias e de telecomunicações no mesmo espaço físico.

O espaço, localizado em Gleno, no distrito de Ermera, resulta no primeiro passo de um ambicioso programa da CGD e da Timor Telecom de levar directamente os seus serviços comerciais e de atendimento público ao interior de Timor-Leste.

A prazo, o objectivo é cobrir todas as capitais dos 13 distritos timorenses.

Desta maneira, as duas empresas desenvolvem sinergias e diminuem os custos directos de produção.

Na cerimónia de hoje, que contou com a presença do primeiro- ministro Mari Alkatiri, foi inaugurado um edifício construído de raiz, com áreas técnicas de energia e de telecomunicações, e um espaço comercial conjunto.

Esta área funcionará como um balcão bancário e uma loja de telecomunicações.

Enquanto a CGD é uma empresa de capital português, a Timor Telecom é controlada pela operadora Portugal Telecom, que gere desde 01 de Março 2003 os serviços de telecomunicações em Timor-Leste.

O contrato de concessão é válido por 15 anos, e terminado este período as infra-estruturas, equipamentos e outros activos serão transferidos para o governo timorense.

EL.

Lusa/Fim
 


É bom sinal para o povo Timorense estas demonstrações de confiança no futuro. São necessários investimentos, pois além de contribuirem para o incremento da economia, revelam garantia de estabilidade contribuindo para o sentimento de seguridade das pessoas.
Título:
Enviado por: Fábio G. em Maio 28, 2004, 11:29:01 am
O desejado petróleo timorense.

DN

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«O petróleo faz toda a diferença em Timor»
EDUARDO MASCARENHAS
Timor-Leste enfrenta um problema grave relativamente à exploração de um dos seus principais recursos naturais: o petróleo. O diferendo com a Austrália prolonga-se, sem solução à vista. Portugal poderá ser intermediário?

A posição portuguesa tem sido a de que Timor é um Estado soberano, que se entende com a Austrália directamente. Seguimos a evolução da situação mas não interferimos.

Mas a dificuldade de obtenção de receitas através da exploração de todos os recursos petrolíferos que reclama para si não poderá colocar em causa a formação do Estado timorense?

Há vários recursos petrolíferos. Há uma parte do petróleo cujos rendimentos Timor começará a receber em 2007, e existem querelas sobre a fronteira marítima e outras jazidas de petróleo que não estão na zona conjunta. O problema da delimitação da fronteira marítima coloca-se porque as costas são demasiado próximas para que seja possível respeitar os limites normalmente estabelecidos. Como sucede aliás em muitos outros casos, haverá que chegar a um acordo para se saber onde passa a linha média. Subsistem aqui aspectos do Direito do Mar que acompanhamos, mas sem interferir entre Timor e a Austrália. Claro que o petróleo faz toda a diferença em Timor, mas isso, por si só, não coloca em causa a viabilidade do Estado.

Por outras palavras, a formação de quadros é também essencial...

Timor precisa, evidentemente de todos os recursos. Esteve ocupado durante mais de duas décadas, e embora tivesse recebido da Indonésia algumas infra-estruturas, viu as energias da sua população consumidas no «jogo» constante dos indonésios entre a sedução para a integração e a simultânea repressão. Agora, com a independência, Timor depara-se com uma situação de ausência de quadros e de algumas infra-estruturas essenciais ao seu desenvolvimento.

De que forma vai Portugal cooperar na formação dos novos quadros timorenses?

Estamos já a cooperar na formação de técnicos na área da justiça e também na formação de dezenas de professores que estão a reaprender português. Ainda agora encontrei em Timor vários que esqueceram o português, porque tinham medo de falar a língua durante a ocupação indonésia. Há que ter presente que uma língua que tenha literatura, que tenha práticas, que seja veicular, que permita estudar, que permita formação, quer em Timor quer em Portugal, que permita criar condições de educação razoáveis, abre espaços na construção de uma identidade com o novo Estado.

A parceria estratégica com Portugal permite a Timor o espaço de que necessita para afirmar a sua identidade?

A aliança e a parceria estratégica que Timor estabelece com Portugal é também para este novo país uma ajuda, um espaço específico, para lhe permitir afirmar a sua personalidade como Estado-Nação, nos termos em que entende exactamente que o quer fazer.

O Governo timorense terá, de facto, condições para assegurar uma gestão eficiente dos fundos internacionais?

Penso que sim. Timor tem a boa fortuna de contar com uma liderança muito empenhada, constituída por pessoas que fizeram a resistência e a luta pela independência nacional. São pessoas muito empenhadas em criar condições de soberania, em construir um Estado que não fique refém de outras potências, outros equilíbrios, ou outras instâncias de ajuda. Estão muito interessados em recolher a ajuda internacional para a utilizar de acordo com as suas prioridades. Também me parecem muito interessados em promover um desenvolvimento efectivo e condições de vida à população de Timor, que é extremamente pobre. Estou convencida de que há condições de boa governação em Timor e de que o Governo está ciente de que o facto de recorrer à ajuda internacional o sujeita a um controlo muito apertado. Timor pode ter mais problemas em afirmar-se tal qual deseja, como Estado soberano, consoante os meios de que disponha, estará talvez mais tempo dependente da ajuda internacional, sem poder avançar com tanta rapidez, mas é o percurso que Timor percorre agora. Como quer!

DN-José Carlos Carvalho
Título:
Enviado por: Fábio G. em Maio 28, 2004, 11:31:25 am
Outra noticia da "exploração" por parte da Austrália.

DN

Citar
Austrália recebe dez para dar apenas um
E. M.
A Austrália é, após Portugal, o país que mais ajudas financeiras canaliza para Timor-Leste. Mas, com a exploração do petróleo do mar de Timor, já recebeu dez vezes mais do que deu aos timorenses desde 1999, revela um relatório da organização não governamental OXFAM.

Este cenário assenta na disputa sobre a definição de fronteiras marítimas, numa zona com reservas de petróleo e gás avaliadas em vários milhares de milhões de dólares, que os timorenses reclamam e que os australianos exploram ao abrigo de um acordo temporário.

O Governo timorense, segundo constatou o DN em Díli, insiste na necessidade de delimitação da fronteira e renegociação do acordo temporário que permite o acesso da Austrália a dois terços das jazidas do mar de Timor.

A primeira ronda de negociações realizou-se há um mês em Díli. O Governo timorense pretendia conferir uma sequência mensal às conversações, para acelerar o encontro de uma solução, mas conseguiu apenas a marcação de uma nova reunião para Setembro. Com o tempo a seu favor, a Austrália sustenta que apenas tem disponibilidade para negociar uma vez por semestre.

Cada dia de atraso na exploração dos seus recursos petrolíferos pode significar para Timor-Leste um prejuízo superior a meio milhão de dólares. A sua população conhece uma situação difícil, com quatro em cada dez habitantes a viverem abaixo do limiar de pobreza, uma taxa de analfabetismo superior a 50% e uma mortalidade infantil ainda muito elevada. Apesar deste cenário, segundo o documento da OXFAM, a Austrália ganhou mais de 700 mil dólares por dia (584 mil euros ou cerca de 117 mil contos na antiga moeda portuguesa), graças às reservas de gás e petróleo situadas na zona do mar de Timor em disputa.

Nas celebrações do segundo aniversário da independência de Timor-Leste, o Presidente Xanana Gusmão advertiu que «vamos continuar a forjar melhores relações com a Austrália, mas não sacrificaremos os nossos interesses a esse objectivo.» Timor, disse ao DN, Ramos-Horta, pondera a hipótese de solicitar mediação internacional.

Título: Sobre as relações de Timor com o exterior
Enviado por: Rui Elias em Junho 07, 2004, 11:31:07 am
Talvez para não ficar demasiado dependente da Austrália, e para que evite ser condenado a uma espécie de satélite ou protectorado australiano na zona se explique o abraço de Xanana ao candidato presidencial, o general Wiranto, o que chocou muita gente, mas que eu julguei ter compreendido, e também a recente deslocação a Lisboa do antigo ministro de Suarto, Ali Alatas, com a presença de Ramos Horta e de Ana Gomes.

Timor, já que Portugal é pequeno e está longe, tem que jogar em dois tabuleiros.

É um pouco com a opção de Portugal manter uma relação atlantica, desde tempos históricos, porque de outro modo seria "engolido" pela Espanha.

E para não fica a ser um quintal da Austrália, Timor-Leste enconsta-se estratégicamente à Indonésia.

É natrural na relação entre estados.

E a propósito, já repararam que a Austrália se está a armar à grande :wink: ?
Título:
Enviado por: Normando em Abril 30, 2005, 03:27:41 am
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Timor: definição de fronteira marítima com Austrália adiada 50 a 100 anos

A fronteira marítima entre a Austrália e Timor-Leste será fixada somente a partir de 2055, no âmbito de um pré-acordo alcançado hoje em Díli e que deverá ser formalizado dentro de duas semanas em Brisbane, na Austrália.

Na pior das hipóteses, a fronteira poderá ficar definida apenas em 2105.

A suspensão do traçado definitivo vai permitir que os dois países partilhem as receitas decorrentes da exploração das jazidas de gás natural e petróleo no Mar de Timor.

Com base no pré-acordo alcançado em Díli, Timor-Leste receberá entre 2 mil milhões a 5 mil milhões de dólares, além das receitas resultantes da área conjunta de exploração com a Austrália.

Aquela verba será paga enquanto os poços petrolíferos em causa foram comercialmente rentáveis, período que os especialistas calculam possa variar entre os 30 a 40 anos.

Os chefes das diplomacias dos dois países já se pronunciaram sobre este pré-acordo, tendo o ministro timorense, José Ramos-Horta, destacado os «avanços significativos alcançados».

«A postura construtiva adoptada nestas negociações culminou em progressos muito positivos para a resolução da disputa do Mar de Timor. Os dois países inauguram assim uma nova era nas relações bilaterais e na cooperação económica», acrescentou José Ramos- Horta.

Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros australiano, Alexander Downer, salientou que persistem alguns pormenores por acertar, mas manifestou- se esperançado em que na próxima ronda negocial, marcada para 11 de Maio em Brisbane, Austrália, o acordo seja formalizado.

A disputa sobre o Mar de Timor começou a ser negociada há um ano em Díli e o pré-acordo hoje alcançado coroa a «solução criativa» proposta pelo primeiro-ministro de Timor-Leste, Mari Alkatiri, para desbloquear o impasse que persistia e que impedia a exploração dos riquíssimos recursos minerais existentes no mar de Timor.

A argumentação de Díli assenta no Direito Internacional Marítimo, que regulamenta a demarcação das fronteiras marítimas a partir de uma linha intermédia das zonas costeiras dos dois países, enquanto a Austrália prefere relevar as excepções à legislação internacional, que sustentam que a fronteira poderá ser fixada a partir das plataformas continentais.

A posição de Timor-Leste coloca naturalmente a linha intermédia entre os cerca de 500 quilómetros que separam as duas costas, enquanto o traçado defendido pela Austrália coloca a fronteira nalguns pontos a pouco mais de 80 quilómetros das praias timorenses.

Diário Digital / Lusa

29-04-2005
Título:
Enviado por: Normando em Janeiro 20, 2006, 09:45:18 am
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Indonésia considerada culpada de crimes contra a humanidade em Timor-Leste

Publico
19.01.2006 - 13h12  
 
A Indonésia foi considerada culpada de crimes contra a humanidade durante os anos de ocupação de Timor-Leste, ao longo dos quais se calcula que tenham morrido mais de 180 mil civis. Um relatório de várias organizações de defesa dos direitos humanos, publicado hoje na imprensa australiana, refere atrocidades como privação de alimentos, tortura e violência sexual.

A política indonésia em relação a Timor-Leste causou a morte a milhares de pessoas (entre 84 e 183 mil, entre 1975 e 1999), ou um terço da população total, afirma o relatório elaborado pela Comissão de Apuramento, Verdade e Reconciliação (CAVR) sobre as atrocidades cometidas durante os anos de ocupação.

O relatório será apresentado amanhã pelo Presidente timorense, Xanana Gusmão, em Nova Iorque, ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Mais de 90 por cento das vítimas acabaram por morrer devido à fome e às doenças, indica o documento, do qual o jornal "The Australian" obteve uma cópia. As forças de segurança indonésias "decidiram conscientemente utilizar a privação de alimentos como uma arma de guerra". "A imposição intencional de condições de vida que não podiam ser suportadas por dezenas de milhares de timorenses equivale a um extermínio que configura um crime contra a humanidade", avança ainda o documento.

De 18.600 crimes ou desaparecimentos relatados em Timor-Leste durante a ocupação, a polícia e o Exército indonésio foram considerados culpados em 70 por cento dos casos. O relato detalha ainda a forma como os soldados indonésios utilizaram napalm e armas químicas para envenenar os alimentos ou as reservas alimentares de Verão, em 1975, durante a invasão da antiga colónia portuguesa, que se tornou independente em 2002.

O relatório foi redigido a partir de testemunhos de oito mil pessoas e de notas do Exército indonésio e dos serviços secretos de vários países.

O documento dá ainda conta de milhares de execuções sumárias, torturas, casos de vítimas queimadas e enterradas vivas e mutilações genitais. Milhares de mulheres foram violadas e agredidas sexualmente durante a ocupação.

A Indonésia ocupou Timor-Leste em 1976, com a conivência de grandes potências como os Estados Unidos da América e a vizinha Austrália. Mas a brutalidade da ocupação indonésia e a sua guerra contra o movimento separatista, a Fretilin, provocou uma onda de solidariedade na comunidade internacional, que acabou por levar à realização de um referendo para a independência, em 1999, no qual a população se manifestou a favor da libertação da tutela indonésia.
Título:
Enviado por: Normando em Janeiro 20, 2006, 09:49:37 am
Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Austrália e Timor Leste assinaram dia 12 passado um acordo de partilha das receitas de exploração petrolífera sobre uma área disputada no mar de Timor. O acordo surge após intensas negociações, que duraram quase dois anos, e só foi possível depois de ter sido adiada, por um período de 40 a 50 anos, a demarcação da fronteira marítima entre os dois países.

"Todos ficam a ganhar com esta solução", disse José Ramos Horta, depois de, juntamente com o seu homólogo australiano, Alexander Dow-ner, ter assinado o documento. O acordo prevê que cada parte receba 50% dos lucros provenientes de uma dos maiores reservas de petróleo e gás natural da região, a Greater Sunrise - avaliada em 30 mil milhões de dólares (25 mil milhões de euros). O acordo sobre a Zona Conjunta de Desenvolvimento Petrolífero, no qual 90% das receitas revertem a favor de Díli, mantém-se.

"A exploração das reservas da Greater Sunrise e os lucros suplementares deste acordo vão ajudar ao desenvolvimento e prosperidade de Timor-Leste", referiu Downer em comunicado. O país, que conseguiu a independência da Indonésia em 2002, é considerado um dos mais pobres da Ásia - estando ainda muito dependente das ajudas estrangeiras.

Adiada ficou a delimitação da fronteira marítima. A Austrália insiste em considerar a linha acordada na década de 1970 com a Indonésia, referente aos limites da plataforma continental, mas isso colocaria a maioria dos recursos naturais de Timor sob domínio australiano. Dili defende que a fronteira se situe a meio dos 600 quilómetros de oceano que separam os dois países.

O facto deste debate ter sido adiado pelo menos 40 anos é um dos factores que está a gerar mais contestação em Timor-Leste. As dioceses de Díli e Baucau e várias organizações não-governamentais timorenses criticaram a assinatura do acordo, referindo que antes de mais se devia ter estabelecido a linha de fronteira, revela a agência Lusa. Os três maiores partidos da oposição contestaram a partilha de receitas, considerando que "em nada serve os interesses do país e do povo", e apelaram a uma "condenação pública".

O acordo "contribui para o esforço da soberania", defendeu o primeiro-ministro timorense na véspera da assinatura. Mari Alkatiri explicou ainda que vai agora avançar para as "negociações para a instalação do gasoduto e da refinaria em Timor-Leste", acrescentando que "há candidatos para fazer isso".

Fonte: DN
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Enviado por: Rui Elias em Janeiro 31, 2006, 04:46:22 pm
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Antes da invasão em 1975, a Indonésia disse a Portugal para pacificar e continuar a administrar Timor. Depois da invasão, já nos anos 80, a Indonésia propôs devolver Timor a Portugal, na condição de que não déssemos a independência nem que os comunistas tivessem algum poder. Portugal, mais uma vez não aceitou.

Só vos digo é que um dia que se abram os arquivos do MNE e das Nações Unidas, há muita coisa explosiva para ser revelada sobre este assunto, e muitos doutoramentos honoris causa para serem retirados a um determinado político português.

JQT


Para mim, isso é uma surpresa completa.

Terá sido mesmo assim?

Não haverá especulação?     :?
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Enviado por: superbuzzmetal em Março 05, 2006, 07:28:04 pm
Caro Jqt poderia dizer em que fontes é que se baseou para escrever um comentário tão explosivo ?