ESPECIFICIDADES DAS TROPAS COMANDO, TREINO E EQUIPAMENTO
Para que se ponha em prática o conceito de emprego das tropas Comando, há um conjunto de princípios que têm de ser estabelecidos. Vamos de seguida, constatar o que distingue as tropas Comando de outras forças através das suas especificidades. Em que medida é que o treino posto em prática leva ao cumprimento do enquadramento legal. Posteriormente, vamos verificar se é ou não importante estar actualizado em termos de equipamento e armamento, para poder responder às missões actuais. Uma tropa Comando distingue-se de uma Unidade de Atiradores de Infantaria pelo uso de técnicas, tácticas e procedimentos diferentes. É através do treino operacional, dos meios que têm ao seu dispor e da formação levada a cabo, que se pode dizer que os Comandos são forças mais vocacionadas para determinadas tarefas que não uma tropa convencional. Por exemplo, um pelotão de atiradores tem a missão de efectuar um golpe de mão, mas certamente que não o executa da mesma forma que um grupo de Comandos. As tropas Comando têm as suas especificidades, isto é, estão mais vocacionadas para determinadas operações. De acordo com a tipologia de operações, os Comandos são empregues em situações específicas perfeitamente enquadrados no espectro, de modo a por prática as suas capacidades. Vamos percorrer os cenários possíveis e verificar qual o emprego adequado em cada situação.Numa situação ofensiva, estão mais habilitados a executar acções de segurança da área da retaguarda (SAR) como força de intervenção. Numa situação defensiva, pode ser atribuída a missão de defesa de pontos sensíveis e operações SAR. Numa operação de transição, executam marcha para o contacto, actuando preferencialmente na modalidade de“busca e ataque”.
No que se refere ainda a outras operações, constituem força de excelência para executar operações aeromóveis. No âmbito das CRO, as tropas Comando podem ser empenhadas como força de intervenção com prioridade em operações de Imposição de Paz ou em operações de Manutenção de Paz (PK – Peace Keeping operations) em TO de elevada exigência. Num contexto de operações humanitárias (não OAP), em caso de existir um ambiente hostil e incerto, as tropas Comando podem intervir, executando Operações NEO. Vamos entrar na parte do treino operacional e verificar como estas missões específicas concorrem para o planeamento e execução do treino operacional. O treino das Forças Militares possibilita uma interoperabilidade de meios e procedimentos através de exercícios conjuntos e combinados de modo a ter capacidade para actuar no espectro de conflitualidade actual. Até à data, desde a reactivação dos Comandos, e com o decorrer das sucessivas missões (Timor e Afeganistão), todo o treino operacional efectuado é interrompido devido ao cumprimento de directivas, passando este a ser orientado de acordo com as especificidades do campo de batalha, ou seja, orientado para a missão. Esta verifica-se quando uma companhia se encontra nomeada para entrar em TO.
O treino é conduzido da seguinte forma: quando uma companhia está a efectuar o treino orientado para uma missão, este recai essencialmente sobre as tarefas específicas, tendo como base o treino operacional. Nesta fase, procura-se que a força adquira formas de actuar que lhe permitam cumprir a sua missão. Incide essencialmente, no conhecimento das normas em vigor no TO, no treino de tácticas específicas (como sejam as emboscadas, os golpes de mão, os check-points, etc.). As restantes companhias efectuam treino operacional de acordo com o normalizado. Na actualidade, e ainda numa fase de experimentação, está a aplicar-se um conjunto de programas de treino que têm em vista uma melhor dinamização, aperfeiçoamento e principalmente uma melhor gestão de recursos humanos e materiais. Estes programas levam sobretudo à criação de uma complementaridade, uniformização e simplicidade no seio da especialidade Comando.
Foi desenvolvido um grupo de trabalho no CTC, onde se procurou verificar que tipo de treino levava a responder às condições exigidas pela missão superiormente definida, de modo a garantir a operacionalidade, prontidão e interoperabilidade das Companhias de Comandos com o intuito de o treino ser flexível de acordo com as necessidades. O estabelecimento dos programas de treino permite o planeamento de ciclos de treino operacional para as Companhias de Comandos com a duração de um ano.
Os programas de treino no que diz respeito à sua designação e ao seu conteúdo não são estanques, podendo mediante as lacunas sentidas ser acrescentado, modificado ou retirado do treino operacional. É efectuada uma selecção das matérias a ministrar e feita uma divisão por blocos. Os programas de treino foram considerados em função das áreas de grande importância para as tropas Comando como:
• Treino de Combate Urbano;
• Treino em Ambientes de Contra-Insurreição;
• Treino de Acções Comuns;
• Treino Acções Motorizadas;
• Treino Individual Especifico;
• Treino de Tiro;
• Treino de Combate em Condições de visibilidade Reduzida;
• Treino de Infiltração/Exfiltração, Fuga e Evasão.
O treino Físico e o Tiro de combate são contínuos, decorrendo constantemente ao longo de todo o período de treino, com a particularidade de trabalharem em paralelo com as actividades desenvolvidas na componente táctica. Uma mais-valia que aperfeiçoa as qualidades da célula base dos Comandos é o Programa de Treino Individual Especifico (PTIE). A equipa constituída por cinco homens, onde cada elemento tem uma função específica. Os elementos da Equipa são numerados de 1 a 5. O número 3 é o comandante de Equipa que é um Sargento sendo os restantes elementos Praças (Cabos ou Soldados). As missões individuais dos elementos de uma Equipa de Comandos estão definidas em quatro áreas: navegação terrestre, socorrismo, transmissões e sapadores.
Nas Equipas Comando, a cada elemento compete uma função específica (eles são numerados de 1 a 5 para se puderem organizar e adoptar as tácticas uniformemente):
• Ao primeiro, compete em especial a vigilância para a frente, em virtude de ser ele o primeiro homem na formação, com a principal finalidade de escolher o itinerário que seja mais seguro para a progressão da Equipa, deve possuir bom sentido de orientação;
• O segundo, é especialista na área dos sapadores;
• O terceiro, são os chefes de equipa, responsáveis pela navegação assim como pelas comunicações com o escalão superior, para efeitos de treino são empenhados nas instruções consideradas mais importantes e principalmente nas instruções de operações militares;
O quarto elemento está mais apto a operar as transmissões;
• O quinto deverá ter maior aptidão para os primeiros socorros.
A formação durante a frequência do curso faculta a todos, os conhecimentos nas respectivas áreas. O ciclo de treino operacional inicia-se sempre com o PTIE. Procura-se maximizar o rendimento de uma equipa, distribuindo os elementos pela mesma de acordo com a maior aptidão para a função específica. Assim, é com base nestas cinco áreas que o PTIE junta todos os elementos com a mesma função específica de todas as equipas de uma companhia. O treino individual específico é conduzido de modo a dotar o Comando de automatismos e desenvolver a experiência adquirida na formação (realização do curso de Comandos), com vista a obter uma maior eficiência nas diversas acções desempenhadas.
Após este programa de treino, os seguintes já são conduzidos através do treino de tarefas comuns. Cada elemento, executa o seu papel para a concretização da respectiva tarefa. O processo de treino operacional consiste em o BatCmds planear e estabelecer os programas de treino para uma fita do tempo a longo prazo. Depois cabe ao Comandante da Companhia descodificar o programa de acordo com as tarefas listadas e em consonância com o rendimento dos seus homens e as actividades do dia-a-dia. O Comandante da Companhia tem autonomia e flexibilidade para gerir os seus homens com a certeza que eles estarão aptos a satisfazer os padrões. Todo o programa de treino é cumprido e sujeito a validação de conhecimentos, através de exercícios efectuados aos diversos escalões (equipa, grupo e companhia). A título comparativo poderemos fazer uma analogia entre o treino e o seu emprego. Considerando que as operações de moldagem são as tarefas dos programas de treino, estas concorrem para a operação decisiva que é satisfazer e conseguir cumprir a missão das tropas Comando.
O treino parte do particular para o geral, ou seja, começa-se por treinar o militar individualmente passando a seguir para uma fase de treino de equipa, depois grupo e por fim, o treino de companhia. Pretende-se atingir padrões de exigência elevados com vista a atingir a excelência. Vistas que foram as especificidades e o treino das tropas Comando, vamos por último verificar como é que o equipamento orgânico concorre para o cumprimento das missões actuais. Queremos sempre mais e melhor à luz da constante evolução tecnológica!
Comparamo-nos muitas vezes com outros exércitos, nomeadamente com o soldado americano e chegamos à conclusão que cumprimos a missão com o que temos, embora os equipamento e armamento sejam sinónimos de investimento. As dificuldades sempre existiram, mas os Comandos têm sabido viver com a situação actual e no que se refere à adaptação, esta tem sido uma característica impar. O equipamento e o armamento são parte integrante do treino operacional que por sua vez contribui para o sucesso da missão. As tropas Comando atravessam dificuldades nesta área, uma vez que estão fora dos programas de reequipamento das FA. Embora no caso de representação como Força Nacional Destacada (FND), o comando do Exército
assuma todos os esforços necessários ao nível logístico para possibilitar um melhor desempenho. Mesmo assim, neste capítulo encontramo-nos algo distantes quando comparados com outras forças militares equivalentes.
Nos últimos anos, no decorrer do cumprimento de missões fora do território nacional e na partilha do TO com outras forças, foram elaborados estudos dando origem a levantamentos de necessidades, e elaboradas propostas com vista à adaptação tanto dos TO actuais como para fazer face a novas ameaças. Neste enquadramento reitera-se a intenção do General CEME, em “garantir a segurança das tropas, qualquer que seja o cenário de emprego e dispor de adequada capacidade de sustentação.”
Fonte: NA ACTUAL CONFLITUALIDADE INTERNACIONAL, QUE MISSÕES PODEM SER ATRIBUÍDAS ÀS COMPANHIAS DE COMANDOS / AUTOR: ASP AL INF PEDRO MIGUEL FERREIRA E SILVA