Meus senhores...
É caso para se dizer: tanta "tinta" a correr só por causa de uma tinta!
Para ser franco nem me dei ao trabalho de ler as mensagens todas.
1. A Navantia (ex-Bazán) é uma empresa centenária e actualmente um dos construtores navais mais prestigiados do Mundo. E com toda a justiça. Já há décadas que fazem navios magníficos (lembro os contratorpedeiros Oquendo modificados, para mim dos melhores do seu género construídos na Europa do pós-guerra). Não me lembro da última vez que a Navantia construíu um navio que se dissesse que era mau. Não é uma tinta de má qualidade (culpa de quem a fabricou; que eu saiba não foi a Bazán) que põe isso em causa a credibilidade de um estaleiro. Quem dera, por exemplo, aos ingleses gabarem-se do mesmo: nos anos 60 e 70 os disparates foram constantes, com fragatas sem canhões (T22), com canhões mas sem torpedos (T21), entre outras maravilhas.
2. A qualidade de construção do estaleiros espanhóis é em geral muito boa, e ao nível do melhor que há na Europa (tal como os portugueses, acrescento; a diferença é o tempo e o preço). Os estaleiros espanhóis há decadas que têm três grandes argumentos para se afirmarem no mercado: boa qualidade, rapidez na construção e baixo preço. Só que não há milagres e há uma razão para isso: subsídios estatais. Os polacos também fazem bom, barato e rápido, mas a mão de obra é bastante mais barata e o aço polaco está apenas ao nível de qualidade especificada, nada mais que isso. Mas esta é a realidade na Europa: é muito difícil sobreviver à concorrência asiática sem subsídios. Por cá tem sido a mesma coisa: até há poucos anos, os ENVC vendiam navios abaixo do preço de custo, ou seja era o contribuinte português que andava a oferecer navios a armadores. E mesmo assim, os navios não eram baratos face aos preços de mercado. A DCN e muitos outros estaleiros funcionavam da mesma maneira. Como vêm, não há razão para crucificar Espanha por isto.
3. Corrosão num navio novo em folha é de facto embaraçoso, mas como diz o ditado, no melhor pano cai a nódoa. Quais são as consequências disto? As fragatas são inúteis? A Marinha Norueguesa vai mandá-la para a sucata? É obvio que não.
4. As corvetas portuguesas, lamentavelmente, não foram construídas em Portugal como era intenção inicial. Mas a culpa está nos estaleiros portugueses: não eram produtivos, eficientes, com tecnologia à altura, e - mais importante - não se interessaram em construí-las porque não acharam comercialmente interessante ocuparem-se de navios de relativo baixo custo e com preços calculados pelo Estado que davam pouco margem de negociação e pouco lucro. Além disso, na altura tínhamos o império, tínhamos uma marinha mercante grande e não havia falta de encomendas nos estaleiros portugueses. A solução foi optar pela Blohm+Voss (que era um estaleiro muito avançado e fez o plano de construção) e pela Bazán (que teve acesso à tecnologia da B+V e que construía rápido e barato). A Bazán de facto modificou os planos das corvetas para construir um modelo que chamou próprio. A B+V fez o mesmo com as Meko 140. Não é bonito mas é prática corrente na indústria desde que existe indústria, e toda a gente o faz. A culpa é de quem partilha tecnologia e é ingénuo o suficiente para pensar que os outros não a vão usar em seu benefício.
5. Mostrar fotos de F-100 com ferrugem: todos os navios construídos em aço sofrem de corrosão mais tarde ou mais cêdo. Por isso de vez em quando lá têm que ir ao estaleiro para lhes ser retirada a ferrugem e levarem uma camada de tinta. Não interessa de que país são.
JQT