Na minha modesta opinião:
- Portugal talvez não devesse ter integrado a ECU ('euro'), pois ou não tinha então ainda as reais condições económico-financeiras para dar esse passo, ou bem que a 'taxa de conversão escudo-euro' não teria sido a mais apropriada. Mas reconheço que com a justa e inevitável entrada espanhola, essa decisão alternativa não seria nada bem compreendida ou sequer aceite pela esmagadora maioria dos agentes económicos; os emigrantes cujo peso era ainda mais que hoje, imenso; e até pela generalidade da população (mesmo porque turismo 'oblige').Mas o 'fardo' de cumprir alternativas e estritas metas económicas para as quais tínhamos escassos políticos de rigor que pudessem 'forçar' a implementação,e um minimo de eleitorado disposto a aceitar, tivesse sido demasiado 'pesado' para esta nação!
-Portugal poderia ter optado por outro tipo de associação com a
UE (talvez fosse possivel, mesmo com difíceis negociações, e lembremos que faziamos parte da EFTA) preservando a abertura total de fronteiras aos produtos comunitários( embora possivelmente também as pessoas, e aí convém não esquecer mais uma vez que os portugueses foram largamente beneficiários) bem como no acesso aos Tribunais Europeus, que contudo são extremamente apreciados pelos cidadãos em geral, como ultimo recurso perante o nosso Estado.
-A
UE (que provem da
CECA e depois do
Mercado Comum dos anos 50)
sempre teve como objectivo uma união cada vez mais aprofundada dos estados europeus a ela aderentes (
Churchill, um dos seus inspiradores preconizava, 60 anos atrás, os
'Estados Unidos da Europa' ) e mesmo que a sua criação efectiva não tenha ainda acontecido,
todos os considerados 'pais' do projecto europeu partilharam essa visão (Adenauer, de Gasperi, Schumann, Spaak,Monnet...)O Tratado de Roma e os que se seguiram apenas se limitaram a seguir esse caminho traçado.Quando Portugal entrou (
com a Espanha...convém não esquecer, por muito que isso nos custe) as grandes vias europeístas estavam portanto já balizadas.
-Os alargamentos sucessivos criaram problemas...enquanto apenas se tratou ao longo de uma década, de casos esporádicos como a Grécia, Irlanda, Portugal ou Espanha ainda houve uma capacidade de gestão razoável (em periodo de crescimento económico geral os orçamentos comunitários eram suficientes, e sem pesar demasiado no bolso dos contribuintes, o maior dos quais(tal como hoje), o alemão, gozava de uma saúde e solidez financeira a toda a prova.Mas... depois o Muro caiu e a Alemanha viu-se 'em palpos de aranha' para financiar os antigos 'estados do Leste' (e por sinal sem grande apoio dos seus parceiros europeus).Atrás do derrube do Bloco Soviético reapareceram novos países (alguns mesmo totalmente novos) no espaço europeu, com necessidades tremendas a nível de modernização de infraestruturas, e também com capacidade humana sobredimensionada.As perspectivas que lhes tiveram de ser dadas(tanto ou mais politicas que economicas) passaram, inelutávelmente, pela promessa de uma relativamente breve integração europeia...com a diferença que os meios financeiros postos a sua disposição eram em termos absolutos semelhantes aos anteriores e portanto percentualmente bem inferiores aos das antigas 'coesões', sendo que os prazos para a movimentação de pessoas foram alterados...para mais.Acresce que nunca foram 'marcados' expressamente os 'limites da Europa'...o que deu fruto a controvérsia política permanente e que subsiste...: Turquia ou não?..Ucrânia?...as fronteiras teóricamente possiveis estenderam-se cada vez mais e inquietaram (uma boa parte) os europeus...
Também aí não há consenso popular (nem haverá, digo eu...)...
-As leis que regem a UE estão desfasadas da realidade, será preciso urgentemente alterá-las, sob pena de bloqueios institucionais...penso que chegamos a esta situação por excesso de voluntarismo, mas indubitávelmente algo tem mesmo que mudar.Ou a
UE na
totalidade subscreve um pacto que reforme as instituições e portanto a sua forma de actuação, permitindo uma actuação uniforme, ou está condenada a desvanecer-se na sua forma actual.
A sua consolidação pode porém, fazer-se através de um
núcleo duro, consistente económica e politicamente ( por ex. e a meu ver: a maioria dos países fundadores, mais a incontornável Espanha e as nações nórdicas ).E, por outro lado estabelecendo acordos parcelares com os outros paises que abandonariam o projecto, entre os quais supostamente Portugal ( e espero a Grã-Bretanha
) nos termos e medida em que estes queiram subscrever.
Recordo por outro lado que a população europeia dos nossos dias mudou muitissimo desde o Tratado de Roma, é bem mais cosmopolita, e os seus valores são bem diferentes do que eram no imediato pós-guerra, e...receio...comece a haver em muitos casos algum conflito de interesses entre os novos e crescentemente numerosos europeus provenientes de exterior, que mantem uma ligação umbilical a sua origem, desviando-se cada vez mais de uma ideia de base intrinsecamente europeia (visivel especialmente na dicotomia religiosa/laica mas não só).
Honestamente, sinto que dificilmente possa haver uma forte probabilidade de, por votação directa, fazer aceitar integralmente um 'texto reformador'(seja ele qual for) por
todos os paises... e se tivermos em conta a especificidade político-partidária interna que normalmente acaba por se envolver...então nesse caminho ainda acredito menos !.Motivo de resto, porque então compreenderia e aceitaria uma saída como a que propugnei no último ponto.
Mesmo considerando-me um europeísta, que assumiu a sua escolha, reconheço o crepúsculo desses ideais...
até porque, e finalmente, os eleitores no seu pleno direito vão alterando as suas ideias com o tempo, a experiência sofrida e a visão pessoal que projectam para o futuro comum; e de que, para bem ou mal, serão eles que receberão as devidas consequências ...
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Il faudra, demain, plus que des habiletés tactiques pour redonner sens et dynamique au projet européen. Or celui-ci reste, en dernière analyse, la seule arme sérieuse dont dispose encore le "Vieux Continent" pour se protéger des bouleversements vertigineux dans lesquels la mondialisation, l'émergence de l'Asie et la menace terroriste nous entraînent.
'precisamos no futuro imediato, bem mais que habilidades tácticas para dar sentido e nova dinâmica ao projecto europeu.No entanto, este é em última análise, a única arma séria que o 'Velho Continente' ainda dispôe para se proteger das vertiginosas transformações para as quais a mundialização, o crescimento exponencial da Ásia e a ameaça terrorista nos arrastam.'
final do editorial de "Le Monde "-6/2/08-