O Chega nao surgiu para dar resposta a qualquer extremismo de esquerda. O Chega aparece, e cresce, tal como no resto do continente cresceram todos os partidos de extrema direita, por existir uma parte cada vez maior da população insatisfeita com as condições socio-economicas e a falta de projectos políticos credíveis centristas, que sao quem tem governado, nas ultimas duas décadas.
No caso português em particular, temos uma economia incompetente e politico, leia-se partido, dependente. Pequenas, e sobretudo, medias e grandes empresas sempre à espera de financiamento público, ou de um auxilio extra ou simplesmente um fechar de olhos à legislação.
Acontece que, só ha uma forma de entrar na política, ser lambe-botas. E se, a nivel autarquico basta ser empresario (ou filho de) para chegar a algum cargo de decisão, a nível nacional já é necessário ter também o apelido certo, ou ter frequentado o colégio certo, ou ser mesmo muito amigo de alguem bem colocado.
Há por isso, toda uma horda que, seja por nascença, profissao ou educação, ficou assim excluída do acesso aos ultimos degraus da escada. É esta fornada de aspirantes a decisores que percebeu, e muito bem, que estava na hora de aproveitar a onda e que o Ventura era a cara e a voz certas para esse projecto político.
Depois é só seguir a receita tradicional, apontar as falhas, que sao muitas e tocam a quase todos, desviar atenção para o que é estranho à sociedade tradicional (bandeiras tipicas da esquerda) e lançar parangonas semanalmente, mesmo que sejam geralmente falsas.
A falta de planos para os problemas estruturais resulta, com naturalidade, da completa impreperacao e incompetência de quem povoa o partido.
Cumprimentos
Meu caro cada caso é um caso. A única coisa em comum que a direita radical tem em Portugal com o resto da direita radical Europeia é a questão da migração. De resto uns querem sair da EU, outros querem sair da OTAN, outros querem sair dos dois, etc. Mas não deixa de ser engraçado você falar do financiamento público de empresas que é uma medida naturalmente socialista* e um excelente exemplo de um problema bem Português e não tanto um problema transversal à Europa, o que só comprova que ideologicamente estávamos desiquilibrados e com uma tendência muito forte à esquerda. O PSD é um partido que tanto é centro-esquerda como centro-direita. O CDS-PP com Paulo Portas ficou-se pelo centro direita. O CHEGA é ideologicamente exatamente o oposto do PS - um partido com uma ala maioriatariamente moderada e um parcela radical. Se fosse de extrema-direita o CHEGA nunca teria sido aprovado pelo Tribunal Constitucional.
*É também uma consequência da nossa integração na UE e respetivos fundos comunitários.
Já agora pergunto-lhe: que centristas são esses que têm governado nas últimas duas décadas? E quem governou antes? E estamos a falar da governação de que país ou países exatamente?
O financiamento de empresas pode ser feito por diversas vias, facultando acesso ao crédito, injecção directa de financiamento europeu, isenção de impostos, etc. e nada disto é errado, são ferramentas de alavancagem da economia que devem ser usadas. O problema é a dimensão desta dependência. E isso não se verifica apenas à esquerda ou à direita.
Regra geral, a ideia dos partidos de extrema direita é navegar contra a política instituída e a favor dos ventos da opinião pública.
As principais economias da Europa tem estado sempre próximas da social democracia, há países como o UK onde se notam maior diferenciação económica entre os conservadores e os trabalhistas, mas falei de forma generalista, acerca dos principais.
cumprimentos
O populismo existe tanto à esquerda como à direita, nos seus limites mais radicais e extremistas. A ideia de que apenas a direita é populista está relacionada com os actuais centristas que depois de acusarem a esquerda mais radical de populismo durante anos acabam por deixar de o fazer, passando a focar esta crítica na direita mais radical por ser esta a última força política a surgir e a conseguir uma popularidade significativa. Hoje já muitos se esqueceram mas aqui na Europa tivemos um partido ultra-populista de esquerda a governar a Grécia durante a sua crise financeiro-económica. Chamava-se Syriza e era tão populista que até fez um referendo no país para que o povo se pronunciasse sobre espetar ou não o calote aos credores internacionais. No final o povo quis dar o calote, a vontade do povo foi clara mas o Syriza não a conseguiu concretizar - o populismo é muito bonito mas no final a realidade é que se a vontade do povo fosse seguida, a Grécia acabaria numa autêntica fossa céptica.
Quando à afirmação das economias europeias serem sociais democratas, só me dá razão de que a Europa tem sido ideológicamente mais de esquerda do que de direita. A social democracia é ideologicamente de centro esquerda.
De acordo, os extremos partilham muitas semelhanças, o populismo é uma delas.
Estamos a falar no contexto actual, em que se observa o crescimento da extrema direita, nao da esquerda. Crescimento esse que já chegou ao nivel da governação, e temos varios exemplos na Europa, Finlândia, Áustria, Suécia e provavelmente Paises Baixos, onde coligações governamentais integram partidos abertamente de extrema direita. Os tais que se referem a nós, ibéricos, como os preguiçosos dependentes da europa.
O Syriza ser populista por convocar um referendo, é discutível. Foi eleito e tinha o apoio da maioria da população. Toda a postura dos governos gregos antes da crise foi bastante populista, com subsídios e uma falsa promoção económica alicerçada na divida que mascarava o defice economico estrutural.
A democracia grega aliás, sofre dos mesmos problemas estrurais que Portugal, com uma grande e compreensível diferença na questao da defesa. O país tem sido governado pelos mesmos partidos década após decada, tal como nós, e também sofreu com a entrada no euro, e continua sem reformas sérias tal como nós.
Dizer que o Syriza é responsável pelo periodo negro que os gregos passaram, é o equivalente a dizer que o governo de PPC é o unico responsável pelos anos terríveis da crise. Não é verdade, e o Sócrates grego foi na verdade, o partido centro direita Nova Democracia, que está agora novamente no poder. Aí, temos uma evolução diferente quase inversa da nossa, foi a esquerda que arcou com a crise na Grécia, e a direita agora a governar. Se o resultado foi melhor na Grécia? Não sei.
A social democracia europeia é de centro esquerda, sim. Foi esse o caminho escolhido democraticamente pelos eleitores europeus nas últimas décadas. Mas centro esquerda não é extrema esquerda. E, tal como convém manter uma saudável distância entre a direita mais conservadora e a extrema direita, o mesmo se deve admitir em relação às esquerdas. E na Europa que cresceu nas ultimas décadas,
nao me recordo de haver algum pais que tenha sido governado durante algum periodo significativo por partidos de extrema esquerda ou direita. Podemos fazer do Syriza uma excepção, se quiser, mas há contexto para isso.
Em todo o caso, a ideologia económica mesmo sob a alçada da ideologia mais a esquerda, evoluiu em todos os paises europeus no sentido da progressiva liberalização da economia. E isso é um facto.
Só para acrescentar, que Portugal sempre foi visto lá fora como um país, socialista ou social democrata, mas moderado, europeísta e completamente na esfera das políticas ocidentais. E, apesar de sermos cada vez mais insignificantes no mapa da NATO, a nossa posição e apoio nunca esteviveram em dúvida.
Cumprimentos