Caro Guilherme
Do ponto de vista da geoestratégia, o Brasil deveria, em principio ter mais interesse em São Tomé e Principe que Portugal.
Aqui há tempos coloquei neste forum uma questão sobre a possibilidade de os norte-americanos estarem a "cercar" o Brasil.
A realidade é que os americanos têm planos para colocar em S. Tomé uma base militar. Essa base, seria o ideal para apoiar viagens para sul da esquadra americana do Atlântico.
Trata-se de um país Cristão, essencialmente Católico, onde o fundamentalismo Islâmico é inexistente, sendo por isso uma base ideal para os americanos.
Ao mesmo tempo, obtêm uma base do outro lado do Atlântico, numa área do Oceano onde o Brasil é o unico país com real e efectiva capacidade de projecção estratégica.
S. Tomé praticamente não tem exército, tem apenas uma policia militarizada com cerca de 200 efectivos. Quanto aos EMB-110, é complicado faze-los chegar a S. Tomé, sendo necessário fazer o mesmo que Portugal faz para enviar os Aviocar para os Açores, ou seja, colocar-lh-e um tanque de combustível dentro da cabine. De outra forma não há possibilidade. Os C-130, sería mais facil, mas só passando em S. Helena, e mesmo assin não sei. Os aviões que podem efectuar apoio são apenas os B-707/KC-135 para envio de combustivel e os dois B737 para envio de tropas ligeiras, e mesmo assim não sei se dá.
Só a marinha Brasileira tem realmente capacidade para dar qualquer auxilio militar/humanitário com os fuzileiros e navios como o Mattoso Maia e o Ceará.
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Quer o Brasil, quer Portugal, não sendo paises ricos, têm dinheiro para fazer alguns investimentos em São Tomé. Trata-se de um arquipelago com uma população inferior a qualquer municipio do interior de São Paulo, com 150.000 habitantes.
Seria uma forma de treinar a marinha do Brasil em operações longe das costas Brasileiras, o que permitiria treina-las para operações de paz.
Ao mesmo tempo, permitiria ao Brasil ter ali uma base. Então, se os americanos mostrassem algum interesse, o Brasil e / ou S. Tomé, poderia sempre dizer aos americanos, que teriam todo o prazer em receber os "nossos" queridos amigos americanos quando tiverem qualquer necessidade eventual que implique o envio de algum navio militar para a região.
Também, estaria a garantir a defesa do golfo da Guiné, de onde o Brasil pode adquirir petroleo (Nigéria, Angola, Gabão, Guiné-equatorial e eventualmente São Tomé), em vez de depender dos árabes.
É assim que se defendem os interesses geo-estratégicos.
Infelizmente, muita gente no Brasil continua a justificar a existência do NaL S.Paulo, para defesa da costa Brasileira (demora dois a quatro dias a deslocar um porta-aviões e a sua escolta do Rio de Janeiro para Fortaleza).
A defesa de um país marítimo faz-se tão longe das fronteiras quanto possível.
Se o Brasil assinar acordos de defesa com Cabo-Verde ou com São Tomé, o pentágono fica aflito. Não porque se ache em perigo, mas porque a sua estratégia de envolvimento Africano sería posta em causa.
SU-35 em Cabo Verde e no Recife, armados com armas anti-navio, pura e simplesmente cortam o Atlântico em dois. Basta ver a relativa pouca distância a que Cabo-Verde está do nordeste Brasileiro.
Infelizmente não estou a ver o actual governo Brasileiro a fazer algo que sequer se pareça com isso.
É de Familia
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S. Tomé é um país independente, porque a presença Portuguesa foi de tal forma desastrosa, que ninguém alguma vez pensou que as coisas se pudessem passar de outra forma. No principio do Século XX os senhores do Café "importavam" "pretos" que eram pura e simplesmente tratados como escravos. Em poucos lugares a nossa presença foi tão má.
Ao contrario de Angola, e de outras colónicas,S.Tomé nunca teve "elites" formadas em Portugal. Nunca passou de um campo de trabalhos forçados.
Em 1975, aos olhos do mundo, de muitos paises Africanos e da população, pouca coisa poderia ser pior que continuar sob o dominio português. Podemos argumentar que se calhar estavam melhor, isso é até provável, mas a realidade é que em 1975 nada o faría prever.
Temos que nos olhar no espelho. O que vemos, pode dar-nos muito orgulho, mas a nossa História não se limita a grandes feitos. Cometemos muitos erros, demasiados erros, muitos deles absurdos e criminosos.
É por causa desses erros que S.Tomé é um país independente.
Cumprimentos.