Largo Dr. Salazar inaugurado sem incidentes sob o olhar atento da GNR
A inauguração das obras de requalificação do Largo Dr. Salazar, em Santa Comba Dão, realizou-se sem incidentes, mas o som da música deu, por momentos, lugar a assobios, quando um grupo apelou à abstenção nas eleições.
A cerimónia esteve envolta em polémica, por a Câmara de Santa Comba Dão ter decidido inaugurar as obras do largo com o nome do ditador, natural do concelho, precisamente no aniversário do 25 de Abril.
No entanto, sob o olhar de militares da GNR fardados e à civil, os festejos decorreram como previsto, com porco no espeto para todos e a Tuna Santo Estêvão.
Ao som de festa apenas se sobrepuserem os assobios quando um grupo que disse ter feito "muitos quilómetros" para prestar solidariedade ao presidente da autarquia, João Lourenço (PSD), estendeu uma faixa com a inscrição "Afinal o que é isso do 25/4, pura "roubucracia". Revolta-te, deixa de votar".
"Eu estou do lado do descontentamento, assim como 50 por cento ou mais de todos os portugueses. Há 35 anos que votamos para quê e para quem?", questionou Francisco Lopes, um dos elementos do grupo, que usava um ramo de oliveira na lapela.
Confrontado pelos jornalistas com o apelo do Presidente da República à participação activa dos cidadãos nas eleições, frisou: "o problema é dele, enquanto uns têm reformas muito grandes, o nosso povo vive com muitas dificuldades. Nós antes tínhamos tostões, agora temos ladrões".
O presidente da autarquia lamentou a polémica que se gerou, que, "embora não fosse desejada, acabou por trazer mais gente à festa".
"Este tipo de aproveitamentos que se fazem têm um determinado objectivo", afirmou, considerando que é fazer com que "o Centro de Estudos do Estado Novo ou Museu Salazar" previsto para o Vimieiro "não vá para a frente".
"Nós estamos tranquilos e vamos avançar com o projecto na mesma, independentemente deste tipo de reacções que as pessoas têm para coisas tão simples como inaugurar um espaço público", garantiu, lamentando, no entanto, que esteja a aguardar da Direcção-Geral das Autarquias Locais, há cerca de dois anos, a declaração de utilidade pública relativa a dois terços dos bens imóveis que pertencem a um dos sobrinhos de Salazar.
João Lourenço admitiu que haverá "algum receio de abordar este tema", o que tem "alguma dificuldade em entender".
"Trinta e cinco anos depois do 25 de Abril, já não temos tempo para atingir a maturidade suficiente para olhar para com alguma distância e algum pragmatismo? Porquê abordar sempre estes temas de uma forma tão apaixonada que acaba por inviabilizar projectos que são de interesse não só para o concelho e a região, mas até para o próprio país", questionou.
Na cerimónia estavam simpatizantes de Salazar de vários pontos do país, como António Lopes, de 80 anos, de Torres Novas, que distribuiu calendários com a fotografia do estadista e fez questão de dizer que ofereceu as lápides que estão na campa do estadista.
JN