Padres que Deus quer
Diminuição do número de sacerdotes conduziu a uma reorganização da Igreja Católica Leigos, diáconos e párocos com maior número de paróquias foram a solução encontrada
Há cada vez menos padres em Portugal. A tendência reflecte a nova ordem demográfica, mas também o distanciamento da sociedade face à Igreja, que já encontrou forma de colmatar a diminuição de párocos.
"Temos todos os que são precisos e os que Deus quer". Padre Marco António, pároco de Rio de Moinhos, Penafiel, defende-se do alarmismo circundante face à visível falta de padres em Portugal. O desafio é, hoje, dar resposta às paróquias que ficam sem sacerdote. As ordenações estão longe de compensar o número de párocos que morrem ou que adoecem. Em 2007, havia 1423 paróquias sem padre, cerca de 30% do total.
"Em dois mil anos, a Igreja Católica encontrou, a cada momento, formas de acompanhar as pessoas e as melhores estratégias de evangelização", assegura o padre Jorge Madureira, secretário da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios. No contexto actual, essa estratégia passa pela atribuição de um maior número de paróquias aos padres mais novos, a par da formação de leigos, que ajudam na evangelização e na promoção da pastoral junto das comunidades. Das paróquias sem pároco próprio, 1403 são administradas por outro sacerdote e 11 estão confiadas a diáconos. Segundo os últimos dados do Anuário Católico, em 2007 havia 3777 padres do clero diocesano e religioso, menos 460 do que no ano 2000.
"Assistiu-se, nas últimas décadas, a um declínio da prática religiosa nas igrejas tradicionais cristãs, entre elas a católica", contextualiza Helena Vilaça, investigadora da área da Sociologia das Religiões, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. "A diminuição do sacerdócio acompanha o processo geral da secularização", concretiza a docente. O padre Jorge Madureira faz a leitura eclesiástica do fenómeno. "Os valores religiosos estão progressivamente a ser colocados entre parêntesis e a ser vividos de forma muito diversificada", considera.
O apelo da vocação religiosa é também hoje cada vez mais raro. "A sociedade mudou muito e a lista de opções também", explica Helena Vilaça, situando o início da actual tendência no pós-25 de Abril. "Antes, segundo a tradição familiar, um dos filhos ia para padre", precisa a socióloga. "Na década de 60, era normal que o tema do sacerdócio fosse um tema familiar", acrescenta o padre Jorge Madureira.
A diminuição do número de filhos por casal reduziu "os potenciais destinatários da proposta de sacerdócio", constata o secretário da Comissão Episcopal das Vocações. "A grande pressão da família é hoje posta nesse investimento único", explica Jorge Madureira, dizendo compreender a grande motivação dos pais para assegurar aos filhos uma carreira e à família descendência.
Em 2007, foram ordenados 31 padres, menos 23 do em 2000, e morreram 68. "A população clerical católica está a envelhecer e a Igreja atravessa uma crise muito grave", considera Moisés Espírito Santo, sociólogo especialista em religiões, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa.
Para o sociólogo, o celibato é o principal elemento dissuasor de novas vocações. "Há cada vez menos jovens interessados pela vocação do sacerdócio e pela figura do padre que vive isolado", acrescenta. Helena Vilaça aponta, no entanto, uma vantagem saída da diminuição dos que optam pelo sacerdócio: "Hoje, as vocações são maiores".
O padre Jorge Madureira confia no trabalho desenvolvido em cada uma das paróquias para minimizar os efeitos da falta de padres. "A Igreja Católica está a chegar aos jovens... Temos interlocutores em todas as paróquias", explicou. Entre estes poderão estar futuros padres.
Jovem, alista-te nas fileiras da Igreja e serás bem recompensado. :>)
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