Extremadura espanhola tem dois terços dos alunos de português
Dois terços dos alunos espanhóis de português encontram-se na Extremadura, região do país vizinho em que a língua lusa é estudada por quase dez mil pessoas, graças a uma aposta pública iniciada na década de 90.
Estes dados foram destacados na edição deste ano da iniciativa "Ágora - O Debate Peninsular", promovido pelo Gabinete de Iniciativas Transfronteiriças (GIT) da Junta da Extremadura e que decorre em Mérida, até domingo.
À margem do encontro, Javier Figueiredo, da Junta da Extremadura e antigo professor de português na região, explicou hoje à agência Lusa que o interesse pela língua portuguesa e por Portugal tem vindo a crescer.
"Nós moramos ao pé de Portugal e, no início, foi uma coisa de pessoas que gostavam imenso de Portugal", lembrou, recuando ao final dos anos 80, quando surgiram os primeiros alunos.
Na altura, o interesse pelo português suscitava mesmo dúvidas: "Aprender português na Extremadura era uma coisa tão esquisita como aprender uma língua da Dinamarca ou da Suécia. As pessoas perguntavam porquê?".
Mas, a partir dos anos 90, com o apoio do GIT, que anualmente financia, com comparticipação comunitária, cursos de português destinados a grupos profissionais que, pela natureza da sua actividade, lidam com esta língua, os alunos aumentaram e as suas motivações diversificaram-se.
"Já não são tanto aquelas pessoas que, desde sempre, gostaram da cultura portuguesa e de Portugal, mas também pessoas que sabiam que o ter conhecimentos de português ia ser uma boa forma de arranjar um melhor emprego", explicou.
Essa aptidão, frisou, não era até então valorizada, mas na cidade fronteiriça de Badajoz, a "dois passos" da cidade alentejana de Elvas, por exemplo, passou a ser uma mais-valia.
"Para trabalhar numa cidade como Badajoz, onde uma de cada cinco pessoas que compram são portugueses, saber português não era um ponto a favor na hora de fazer um currículo. Mas, nos anos 90, [a situação] começa a mudar e são as próprias empresas que procuram que os trabalhadores tenham formação em língua portuguesa", disse.
As actividades culturais oriundas de Portugal que, ao longo do ano, têm lugar na Extremadura, como concertos e exposições, também contribuíram para o interesse crescente, segundo Javier Figueiredo.
"Agora, já há muitas pessoas que querem aprender português pelo facto de falar uma língua que tem muitos falantes no mundo e que tem uma cultura atrás dela, uma literatura muito interessante", sustentou.
Com perto de dez mil alunos de português, a Extremadura é a "única região" de Espanha, vincou Javier Figueiredo, em que esta língua é ministrada "em absolutamente todas" as escolas oficiais de idiomas.
Nesses estabelecimentos, que integram o sistema público de ensino e são frequentados por jovens e adultos, o português é até a segunda língua estrangeira mais procurada, logo atrás do inglês e superando o francês.
O professor de português Jacques Songy trocou uma escola profissional em Évora pelo ensino numa das escolas de línguas da Extremadura, situada em Almendralejo, perto de Mérida, e passou de uma turma de primeiro ano com 24 alunos, no ano passado, para 40 alunos este ano.
"Cada vez há mais alunos, os espanhóis estão realmente interessados e as motivações são várias. Há muitas empresas que trabalham com Portugal e há muitas pessoas que vão por turismo e querem saber pedir um café", contou à Lusa, também à margem do encontro "Ágora".
Só que, no meio deste "encantamento" com Portugal, os alunos espanhóis de português têm uma queixa, segundo o docente.
"A grande queixa é que os espanhóis que vão a Portugal acabam por não poder falar português porque os portugueses rapidamente começam a falar espanhol", afirmou.
Lusa