Tudo bem,
Um texto bem elucidativo sobre o acordo:
organizado por com apoio
6º Colóquio Anual da Lusofonia e Atribuição do I Prémio Literário da Lusofonia - BRAGANÇA DE 3 A 6 DE OUTUBRO DE 2007
CONVIDADOS DE HONRA:
Professor Doutor Evanildo Bechara, Academia Brasileira de Letras e
Professor Doutor João Malaca Casteleiro da Academia das Ciências de Lisboa
************************************************************************************* onde se fala do acordo ortográfico....
1. Curiosidades da Língua Portuguesa
Você sabia?
A língua portuguesa, com mais de 210 milhões de falantes nativos, é a quinta língua mais falada no mundo.
A terceira mais falada no mundo ocidental.
Idioma oficial único do Brasil, e idioma oficial, conjunto com outros idiomas, de Portugal (cuja segunda língua oficial é o Mirandês), Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, é falada na antiga Índia Portuguesa (Goa, Damão, Diu e Dadrá e Nagar-Aveli), além de ter também estatuto oficial na União Européia, no Mercosul e na União Africana.
A situação da Galiza e do galego em relação ao português é controversa. De um ponto de vista político e, portanto, oficial, o Galego é uma língua porque assim o determinam os organismos de estado Espanhol e da Região Autônoma da Galiza, com legitimidade democrática. De um ponto de vista científico, a idéia de que o galego é uma variante dialetal da língua portuguesa reúne hoje um vasto consenso, sendo estudado a par com as restantes variantes do português nas universidades e centros de investigação lingüística.
A língua portuguesa é uma língua românica (do grupo ibero-românico), tal como o castelhano, catalão, italiano, francês, romeno e outros.
Assim como os outros idiomas, o português sofreu uma evolução histórica, sendo influenciado por vários idiomas e dialetos, até chegar ao estágio conhecido atualmente. Deve-se considerar, porém, que o português de hoje compreende vários dialetos e subdialetos, falares e subfalares, muitas vezes bastante distintos, além de dois padrões reconhecidos internacionalmente (português brasileiro e português europeu). No momento atual, o português é a única língua do mundo ocidental falada por mais de cem milhões de pessoas com duas ortografias oficiais (note-se que línguas como o inglês têm diferenças de ortografia pontuais, mas não ortografias oficiais divergentes), situação a que o Acordo Ortográfico de 1990 pretende pôr cobro.
Segundo um levantamento feito pela Academia Brasileira de Letras, a língua portuguesa tem, atualmente, cerca de 356 mil unidades lexicais. Essas unidades estão dicionarizadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.
O português é conhecido como A língua de Camões (por causa de Luís de Camões, autor de Os Lusíadas), A última flor do Lácio, expressão usada no soneto Língua Portuguesa de Olavo Bilac ou ainda A doce língua por Miguel de Cervantes.
Nos séculos XV e XVI, à medida que Portugal criava o primeiro império colonial e comercial europeu, a língua portuguesa se espalhou pelo mundo, estendendo-se desde a costa Africana até Macau, na China, ao Japão e ao Brasil, nas Américas. Como resultado dessa expansão, o português é agora língua oficial de oito países independentes, e é largamente falado ou estudado como segunda língua noutros.
Há, ainda, cerca de vinte línguas crioulas de base portuguesa.
É uma importante língua minoritária em Andorra, Luxemburgo (25% da população total), Namíbia, Suíça e África do Sul. Encontram-se, também, numerosas comunidades de emigrantes, em várias cidades em todo o mundo, onde se fala o português como Paris na França; Toronto, Hamilton, Montreal e Gatineau no Canadá; Boston, New Jersey e Miami nos EUA; Nagoya e Hamamatsu no Japão, Sydney na Austrália. Leia mais em:
http://pt.wikipedia .org/wiki/ L%C3%ADngua_ portuguesa
2. ACORDO ORTOGRÁFICO
2.0.Falta só 'decisão política' para acordo ortográfico no Brasil ..
http://www.agencialusa.com.br/index.php?iden=9483 25-07-2007
Brasília, 25 Jul (Lusa) - O Brasil aguarda apenas uma decisão política interna para a aplicação do acordo ortográfico, disse nesta quarta-feira à Agência Lusa o presidente da Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação, Godofredo de Oliveira Neto.
"Falta uma decisão política para darmos início à fase de transição, principalmente no que diz respeito às editoras brasileiras", afirmou Oliveira Neto, que também é diretor do Conselho Científico do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP) e subsecretário de Planejamento da Educação do Estado do Rio de Janeiro.
Logo que as novas regras comecem a vigorar, inicia-se um período de transição para que os Ministérios da Educação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos possam, gradualmente, reimprimir livros, dicionários, cartilhas e outros materiais. Oito países fazem parte da CPLP: Brasil, Portugal, Timor Leste e cinco nações africanas (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
Segundo Oliveira Neto, a Comissão para Definição de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa (Colip) "está de prontidão para ser acionada a qualquer momento" para aplicar o acordo. A medida incentivará a utilização do idioma pelas organizações internacionais, já que existência de duas ortografias prejudica a divulgação da língua portuguesa e a sua prática em eventos internacionais.
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse à Lusa que "seria muito importante, do ponto de vista editorial, que Brasil e Portugal estivessem juntos quando tiver início o acordo ortográfico. Amorim recusou-se a responder, entretanto, se o Brasil adotaria as novas regras ortográficas sem Portugal.
Em princípio, a ortografia comum da língua portuguesa já pode entrar em vigor, porque três dos países lusófonos - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - já ratificaram o acordo e também o protocolo modificativo ao acordo, aprovado em julho de 2004, em São Tomé, durante cúpula da CPLP. O protocolo modificativo permite que o acordo vigore com a ratificação de apenas três países da CPLP, sem a necessidade de aguardar que todos os outros membros da organização adotem o mesmo procedimento.
Portugal já ratificou o acordo, mas ainda falta ratificar o protocolo modificativo.
2.1. Alfabeto passa a ter 26 letras Fonte:
www.comunique-se.com.br 2.1.1. Está para entrar em vigor a unificação da Língua Portuguesa que prevê, entre outras coisas, um alfabeto de 26 letras.
"A frequência com que eles leem no voo é heroica!". Ao que tudo indica, a frase inicial desse texto possui pelo menos quatro erros de ortografia no Brasil. Mas até o final do ano, quando deve entrar em vigor o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", ela estará corretíssima. Os países-irmãos Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste terão, enfim, uma única forma de escrever.
As mudanças só vão acontecer porque três dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) ratificaram as regras gramaticais do documento proposto em 1990. Brasil e Cabo Verde já haviam assinado o acordo e esperavam a terceira adesão, que veio no final do ano passado, em novembro, por São Tomé e Príncipe.
Tão logo as regras sejam incorporadas ao idioma, inicia-se o período de transição no qual ministérios da educação, associações e academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos recebam as novas regras ortográficas e possam, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc.
O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros.
Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado.
No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país.
2.1.2. O que muda.
As novas normas ortográficas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido". Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".
Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças que, a priori, parecem estranhas. As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".
Também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".
O trema desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.
O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y" e o acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).
Outras duas mudanças: criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos", além da eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".
2.1.3. Antônio Houaiss
A escrita padronizada para todos os usuários do português foi um estandarte de Antônio Houaiss, um dos grandes homens de letras do Brasil contemporâneo, falecido em março de 1999. O filólogo considerava importante que todos os países lusófonos tivessem uma mesma ortografia. No seu livro "Sugestões para uma política da língua", Antônio Houaiss defendia a essência de embasamentos comuns na variedade do português falado no Brasil e em Portugal.
2.1.4.. Fontes para comentar o assunto:
William Roberto Cereja – Mestre em Teoria Literária pela USP, Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Professor graduado em Português e Lingüística e licenciado em Português pela Universidade de São Paulo (USP), Professor da rede particular de ensino em São Paulo e Autor de obras didáticas.
Marcia Paganini Cavéquia – Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa; Inglês e Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Metodologia da Ação Docente pela UEL, Palestrante e consultora de escolas particulares e secretarias de educação de diversos municípios e Autora de livros didáticos.
Cassia Garcia de Souza – Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Língua Portuguesa pela UEL, Palestrante e organizadora de cursos para professores da rede de ensino, Assessora pedagógica e Autora de livros didáticos.
Fonte:
www.comunique-se.com.br 2.2. Mudança no português pode acontecer a partir de 2008, diz MEC
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao ... 89914.html2.2.1. Mudança no português pode acontecer a partir de 2008, diz MEC, 16/05 - 16:08, atualizada às 18:01 16/05 - Nara Alves, repórter iG no Rio
RIO DE JANEIRO (16 maio 2007) - O acordo ortográfico discutido pelos países que falam o português pode entrar em vigor já em 2008. Com isso, os brasileiros terão de se acostumar com algumas mudanças que podem parecer estranhas. As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo. Em vez de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo". Saiba mais sobre as mudanças e vote na enquete abaixo!
De acordo com o assessor especial do Ministério da Educação sobre o acordo, Alberto Xavier, a mudança não pode acontecer antes por causa dos livros didáticos. Para valer como lei, o acordo ainda precisaria passar na Câmara e no Senado para sansão de um decreto legislativo por parte do presidente dos países.
"Como a escolha do material que será comprado para a rede pública de ensino acontece com um ano de antecedência, na melhor das hipóteses o acordo passa a valer em 2008 por causa dos livros didáticos", afirmou Xavier. Segundo o assessor, a adesão de Portugal ao acordo é automática uma vez que o tratado já foi assinado por Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, além do Brasil. "Em dezembro, o terceiro país assinou e, com isso, os demais acompanham", explicou.
Mesmo com a adesão automática de Portugal, o governo brasileiro e a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) negociam em Lisboa para que o país aceite o acordo e coloque em prática as medidas necessárias para o início das mudanças ortográficas. "O embaixador brasileiro da CPLP em Lisboa, Lauro Moreira, está tentando reunir todo mundo para "convencer" Portugal e definir uma data para entrar em vigor", disse Xavier.
O conselheiro cultural da embaixada de Portugal em Brasília, Adriano Jordão, disse que seu país ainda não ratificou o tratado por "questões jurídicas". "Portugal contesta que o acordo possa entrar em vigor com a assinatura de três países em oito", explicou. Guiné-Bissau, Moçambique e Angola também não aderiram ao tratado. Timor Leste integrou-se ao grupo quando se tornou independente.
2.2.2. Posição da ABL
O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marcos Vinicios Vilaça, pediu ao governo português que promova ações concretas, e com brevidade, no sentido de ratificar definitivamente o Acordo Ortográfico da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Vilaça lamenta que os portugueses mantenham a atual resistência depois de 16 anos de formatação do Acordo, em 1991. Segundo ele, a recusa contribui para um possível isolamento de Portugal.
Vilaça lembrou que o português de Moçambique já vem se aproximando crescentemente do inglês, por força de interesses de ordem econômica. O presidente da ABL ressaltou que os países de língua espanhola utilizam apenas um dicionário, resultado do trabalho da Real Academia da Espanha e de outras 17 academias de países hispânicos. "Nada nos deve separar de Portugal. Acho mesmo que o governo do Brasil deveria ser mais categórico nesse tema", sugeriu.
Para ajudar na adaptação dos brasileiros, a ABL disponibiliza pela internet um serviço de tira-dúvidas do português. As perguntas são respondidas pelo professor Sérgio Pachá em até quatro dias ao usuário.
2.2.3. Mudança na ortografia
A língua portuguesa é a quinta mais falada do mundo. Mais de 210 milhões de pessoas terão de fazer pequenas adaptações. As novas normas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido". Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p"nas palavras onde ele não é pronunciado, como nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".
Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças. Além da eliminação do acento nas paroxítonas terminadas em "o" duplo, também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia "creem", "deem", "leem" e "veem".
O trema desaparece completamente. Estará correto escrever "linguiça", "sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.
O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y" e o acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).
Outras duas mudanças: criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como "louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos", além da eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".
2.3. A língua das ortografias. Os pontos negativos e os positivos do novo acordo entre países lusófonos
Aldo Bizzocchi
http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11357 2.3.1. Ortografia é assunto que sempre causa frisson. Provavelmente porque muitos vêem na grafia das palavras um patrimônio nacional, comparável ao hino e à bandeira.
Mudanças constantes de moeda, constituição, regime de governo, denominação do país, e também de ortografia, produzem na população um sentimento de instabilidade e baixa auto-estima. O português já passou por várias reformas ortográficas (ver Língua 11), e mais uma se anuncia em 2009. A reforma ocorrerá porque três países - Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe - ratificaram o acordo ortográfico firmado em 1990.
O argumento em favor da unificação é o de que o português é a 3ª língua européia mais falada no mundo, depois do inglês e do espanhol, e a existência de duas ortografias atrapalha sua difusão internacional. O filólogo Antônio Houaiss afirmava que o português é a única do Ocidente com mais de 50 milhões de falantes a ter duas grafias oficiais.
O argumento é falso. Difícil acreditar que o acadêmico, exímio tradutor de Joyce, ignorasse que o inglês tem duas ortografias, a britânica e a americana, e mesmo assim é a mais difundida. A difusão de um idioma depende do prestígio e do poder político, econômico e cultural dos países que o falam, e não da grafia. Senão, o chinês, com escrita complicadíssima, não estaria cada vez mais conhecido no mundo.
2.3.2. Prós e contras
O novo sistema ortográfico tem pontos positivos. Em Portugal desaparecem o c e o p mudos, como em "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto" (mas mantém-se em "facto", por ser pronunciado). Também os encontros vocálicos ee e oo de "vêem" e "enjôo" perderão o circunflexo.
Entretanto, há muitos pontos negativos. Como a supressão total do trema. Sem ele, como diferenciar "eqüino" (cavalo) de "equino" (ouriço-do-mar)? E como saber a pronúncia de palavras pouco usuais, como "qüididade"? É de se imaginar a confusão quando os livros escolares disserem que os equinos são invertebrados, e as crianças pensarem em pangarés desossados!
A nova norma fará com que os portugueses escrevam "húmido" como "úmido". Só que "húmido" ("úmido") é da mesma etimologia de "humor", o latim humus, com h. Se em Portugal ainda havia coerência ortográfica na palavra, agora desaparecerá. Melhor mesmo seria eliminar de vez o h mudo e pronto.
Também se simplifica o uso do hífen, o que é bom. Só que, ao mesmo tempo em que se elimina o hífen de "anti-semita" (antissemita), ele é introduzido em "microondas" (micro-ondas).
O mais absurdo da reforma é que deixará de ser usado o acento para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição), bem como o de "pêlo" (substantivo) e "pelo" (preposição + artigo). O título Uma pistola para Jeca, do filme de Mazzaroppi, poderá ser interpretado como "uma pistola cabe (ou é oferecida) a Jeca" (sentido real do título) ou "uma pistola detém Jeca". E quem vai entender o trocadilho no título do livro Pelos pêlos, de Ana Cristina César?
2.3.3. O que faltou
O projeto não toca em incoerências ortográficas: o já mencionado h mudo; s, ss, c, ç, sc, sç, x, xc e z com som de /ss/; s, z e x com som de /z/; x e ch com som de /ch/; g e j com som de /j/; "estender" x "extensão", "destro" x "dextrose", "texto" (do latim textus) x "misto" (do latim mixtus), "em cima" x "embaixo", etc.
Uma reforma simplificadora é necessária, mas a que está em curso é um frankenstein lingüístico, produto de negociações políticas entre os países. O resultado, como na política, foi um projeto desfigurado, em que se eliminaram coisas boas e se manteve muito do que havia de ruim.
Em vez de uma reforma radical e definitiva, como fizeram outras línguas, as doses homeopáticas no português obrigam a que a cada 50 anos seja feita nova reforma. Por sinal, avanços já previstos na proposta de 1907 ainda não foram postos em prática, como a solução das grafias duplas x/ch, g/j, etc. É notável que línguas como italiano, galego e catalão já tenham encontrado soluções para tais casos. O português poderia inspirar-se neles. O italiano e o romeno, por sinal, são as línguas românicas com sistemas ortográficos mais simples e coerentes. E a grafia do italiano não sofre alterações significativas desde o século 16, o que não deixa de ser invejável.
2.3.4. O exemplo inglês
O inglês possui duas ortografias, mas bem poderia ter uma só. Afinal, organise e organize, humour e humor, e assim por diante, não representam pronúncias diferentes. Já "António" e "Antônio", "facto" e "fato" indicam diferenças fonológicas inconciliáveis, tanto que ambos são mantidos na reforma.
As diferenças entre o inglês britânico e americano afetam ligeiramente a ortografia e o léxico: a diferença marcante está na pronúncia. Mas o inglês possui uma só gramática. Em qualquer país de língua inglesa, a sintaxe é uma só. Ao contrário, o português não tem só duas pronúncias e duas ortografias; tem dois léxicos e duas gramáticas bem diferentes.
Comparem "Sentei-me cá com ela e ficámos a conversar" (Portugal) com "Me sentei aqui com ela e ficamos conversando" (Brasil). Isso sem falar nos esquisitos "golo" (gol), "cancro" (câncer), "guarda-fatos" (guarda-roupa), e nos humorísticos "bicha" (fila), "cacete" (filão de pão) e "bica" (bebedouro). Unificar o quê?
Aliás, até nomes geográficos são distintos aquém e além-mar: "Irão", "Moscovo", "Bagdade", "Copenhaga", "Nuremberga", "Checoslováquia", "Jugoslávia". Nada semelhante ocorre em inglês.
2.3.5. Custo da mudança
Com a oficialização da nova grafia, inicia-se a transição na qual os ministérios da Educação deverão reciclar os professores e realfabetizar os estudantes, e editoras vão reimprimir livros, dicionários e outros materiais. Tudo a custo social e financeiro elevadíssimo.
O argumento de que não será mais preciso reimprimir livros brasileiros em Portugal e vice-versa, é outra inverdade: basta comparar a tradução portuguesa e a brasileira de qualquer best-seller para ver que falamos línguas diferentes, ainda que com uma só grafia.
Embora a realização de uma reforma seja custosa, é preciso ter em mente que qualquer reforma, mínima que seja, implica tais custos. Por isso, deveríamos aproveitar a oportunidade para promover uma reforma radical e definitiva na ortografia, eliminando as incoerências e instituindo um sistema simples e prático - ainda mais que a maioria dos falantes do português no mundo tem baixa ou nenhuma escolaridade, e a maior parte dos países lusófonos é pobre e presta serviços educacionais fracos.
Com a nova reforma, estima-se que 1,5% do vocabulário lusitano e de 0,5% do brasileiro sofrerão modificações gráficas. Apesar disso, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país. Ou seja, na prática, a "unificação" pouco unifica.
2.3.6. Mudanças que saltam à vista
Trema - Cai na maioria das palavras, como "tranqüilo", mas permanecem termos derivados de outras, de língua estrangeira, que tenham o sinal.
Hífen - Cai em palavras que designam um ser ou objeto único, como anti-semita (que vira "antissemita"), mancha-chuva (vira "mandachuva") e pára-quedas ("paraquedas").
Ditongos ei e oi - Deixam de ser acentuados, como "idéia".
Encontros vocálicos oo e ee - Deixa de ser acentuado em terminações como "enjôo".
Alfabeto - Ganha três letras: k, y, w.
Consoantes mudas - Deixam de existir em Portugal e outros países, como "acção".
Acento diferencial - Desaparece, como em "pára" (verbo) e "para" (preposição).
Dupla grafia - Admitida em diferenças fonológicas inconciliáveis, como "fato" e "facto", "cômodo" e "cómodo".
Aldo Bizzocchi é doutor em Lingüística pela USP e autor do livro Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume).
www.aldobizzocchi.com.br 2.4.Ainda sobre a unificação da Língua Portuguesa
A partir de 2009, o português deverá ter a mesma ortografia em todo o mundo, se o acordo entre os oito países não for torpedeado
Por JOSUÉ MACHADO, da Revista Língua Portuguesa
2.4.1. Contagem regressiva para a unificação
Uma reforma simplificadora é necessária, mas essa que está em curso é um frankenstein lingüístico, produto de negociações políticas entre os países. O acordo que uniformiza a ortografia dos oito países de língua portuguesa deve entrar em vigor no Brasil em 2009. Por que deve entrar e por que no Brasil, entre os oito países lusófonos?
As respostas são do secretário-executivo da Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa, embaixador Luís Fonseca:
- O acordo já entrou tecnicamente em vigor em 1º de janeiro de 2006 no Brasil, em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, mas na prática ainda não entrou em funcionamento.
Apesar da contradição - entrou, mas não entrou -, o embaixador cabo-verdiano se apega aos termos do contrato. A uniformização deveria vigorar um mês depois que o terceiro dos países interessados aprovasse o protocolo modificativo do acordo. Foi o que se definiu em reunião de chefes de Estado de que o presidente Lula participou em São Tomé e Príncipe em 2004.
Em dezembro, o governo de São Tomé entregou a carta de ratificação em Portugal, como já o tinham feito Brasil e Cabo Verde. Em janeiro, portanto, a uniformização passou a vigorar. Pelo menos teoricamente, como diz Fonseca.
O governo de São Tomé acabava de obedecer ao protocolo. Nele, por cortesia a Portugal, os países lusófonos se comprometeram a entregar a tal carta de adesão ao Ministério dos Negócios Estrangeiros português. Estava cumprido em Lisboa o rito, que deve ser seguido por Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste e, claro, Portugal.
Se já foi cumprida a última exigência legal por Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, por que o acordo gira em falso desde 1990? Provavelmente porque em Portugal vários setores se insurgem contra o “brasilificação” (neologismo luso = “abrasileiramento”) do idioma, espécie de afronta contra a mãe-pátria. E porque ninguém se preparou para a novidade, que exige cuidados em muitas áreas, a começar pela documentação oficial, estendendo-se aos livros didáticos, aos de consulta e à literatura clássica. Foram tantos adiamentos que a maioria estava incrédula.
Há quem ainda esteja. Nem todos estão convencidos da necessidade da reforma. As resistências se concentram em Portugal. E há dificuldades políticas em países africanos paupérrimos; para eles, um acordo ortográfico está longe de ser assunto importante, lembra Carlos Alberto Xavier, assessor do ministro da Educação, Fernando Haddad.
2.4.2. Importância relativa
Importante será para as editoras, dizem críticos da reforma, embora parte da oposição em Portugal seja delas.
Estariam os editores portugueses com a consciência pesada porque vão ganhar mais, muito mais, ao reimprimir os livros didáticos e de referência? Ou estariam preocupados com a concorrência brasileira, aparentemente preparada para publicar tiragens maiores?
Claro que os maiores editores brasileiros estão de olho no mercado português e no africano. Não que haja muitos leitores lá, ou aqui. Os falantes de português são uns 235 milhões: perto de 190 milhões no Brasil; 10,5 milhões em Portugal; os demais, nos países africanos, muitos deles usuários de linguagem tribal, e em agrupamentos na Ásia e na América do Norte. Não há tantos leitores a disputar, embora governos costumem comprar muitos livros didáticos.
Para Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record, empresa que não trabalha com didáticos, o universo de leitores é o menor aspecto a ser considerado.
- É ridículo pensar que a mudança afetará os mercados de livros de língua portuguesa. O que determina o fechamento dos países lusófonos tem a ver com os custos de importação e com hábitos culturais. Ainda mais considerando que lingüisticamente o que difere mais são a sintaxe e o vocabulário, não a ortografia.
Se não houver mais obstáculos, e o governo português não pedir mais prazo, é possível que o acordo entre em vigor no Brasil em 2009, como diz o gramático Evanildo Bechara, que duvidou fosse possível adotá-lo já no ano que vem, como os jornais anunciaram.
Foi dúvida também manifestada pelo secretário da Divisão de Promoção da Língua Portuguesa do Ministério das Relações Exteriores, Leonardo Lott Rodrigues. Em todo caso, Portugal merece respeito por ser a matriz do idioma, concordam todos. O fato é que a ministra da Cultura portuguesa, Isabel Pires de Lima, em visita recente ao Brasil, disse não estar pensando em reforma ortográfica e, sim, em outros problemas. Talvez por isso certa hesitação geral.
2.4.3. O fator livro didático
Se ignorar tais problemas, o Brasil terá condições de adotar o acordo só em 2009, por causa da enorme operação de fornecimento de livros didáticos para as escolas, explica Xavier. Ele lembra que os didáticos para o ano que vem já estão preparados ou em preparação:
- Depois disso, haverá um período de transição em que conviverão a atual e a futura ortografia. Haverá ao menos uns dois anos de adaptação e convivência.
Assim que as regras forem incorporadas - se forem -, começará a transição em que ministérios de educação e cultura, academias de letras, associações literárias e editores serão instruídos sobre como proceder para adequar-se. Sem contar o inevitável “período de pacificação”, como diz Bechara, até que as resistências se apazigúem (palavra que perderá o acento com a aplicação do acordo).
2.4.4. Mais contras do que prós
As resistências são maiores em Portugal, mas a maioria dos especialistas também critica o acordo no Brasil.
Várias entidades e pessoas se opõem à uniformização. Principalmente em Portugal, pois o acordo modificará 1,6% do vocabulário luso e só 0,5% do brasileiro. Segundo o MEC, em dicionários brasileiros com 200 mil palavras, isso representaria 10 mil delas. Em Portugal, chegou a constituir-se um “Movimento Contra o Acordo Ortográfico”, que classificou o projeto de “Desacordo Ortográfico”. O jornal Público divulgou: “Uma das mudanças mais radicais previstas no projecto era a eliminação das consoantes mudas, ‘brasilificando’ assim o vocabulário português”.
Como “mudança radical”, o jornal citou “óptimo” e “factura”, que continuam escritas assim pelos lusos. Pelo menos até que chegue a reforma, se chegar. Para Ivo Castro, da Faculdade de Letras de Lisboa, “ou há unanimidade” na aplicação do acordo ou ele deve ser ignorado, já que existe concordância ortográfica entre Portugal, os africanos e Timor, “que apenas é quebrada pelo Brasil”.
O gramático Evanildo Bechara é contra, por considerá-lo imperfeito e parcial.
- É uma espécie de retomada do acordo de 1945, que o Brasil já rejeitou, embora o tivesse assinado. Deixa de resolver uma série de problemas, como o uso do hífen e o das maiúsculas, entre outros.
Bechara lançará nova edição de sua gramática (Moderna Gramática Portuguesa) com a ortografia vigente.
Contrário também é o doutor em letras Cláudio Moreno, do Rio Grande do Sul.
- Assisti às mudanças em 1971, quando foi retirado o acento circunflexo diferencial de “gelo” e “coco”. Os dicionários e os livros de literatura infantil tiveram de ir para o lixo. É uma tolice. Só países ridículos fazem reformas ortográficas.
Francisco Platão Savioli, professor aposentado da USP e coordenador de gramática, texto e redação do Curso Anglo Vestibulares, diz que a reforma vai oficializar as diferenças lusófonas.
- Além disso, é reforminha tímida, muito tímida, que não mexe adequadamente no essencial, como o problema insolúvel do hífen. Nem no do h inicial de certas palavras ou na indecisão no uso de maiúsculas iniciais, entre outras coisas. Mas vai provocar a queima de milhões de livros. Não creio que valha a pena.
Mauro de Salles Villar, diretor do Instituto Houaiss de Lexicografia, ao contrário, é taxativo no apoio.
- É uma necessidade e uma vergonha que ainda não tenha sido concretizado. Todas as grandes línguas já fizeram isso. O árabe, idioma de mais de 15 países, é falado de forma diferente, mas escrito da mesma maneira.
Fontes: Blog Thiago Rodrigo & Revista Língua Portuguesa
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Abraços,