Portugal é um país geo-estratégicamente falando, simultaneamente importante e dependente.
Dependente, porque os recursos aquíferos dos rios internacionais nascem em Espanha.
Já muitos falaram que uma das principais causas de conflitos, no futuro, será excatamente a partilha da água, e nesse aspecto, Portugal estará extremamente dependente da água que Espanha deixe correr para o nosso lado da fronteira.
Projecções para o longo prazo ditam que futuramente a água (plusiosidade) na orla mediterrânica será tendencialmente menor, e se um dia a água for mesmo escassa, não haverão acordos nem convénios que nos valham.
Depois, a Espanha é o único país que nos permite uma ligação terrestre para o resto da Europa.
Ao nível oceânico, Portugal possui uma enorme e apetecível ZEE e estratégicamete deveria, se pudesse potenciar essa riqueza, ter uma importância priomordial no seio da NATO (flanco sudoeste) e da UE maior que a que tem actualmente.
Por Portugal não ter meios para assegurar a desesa deste flanco da Aliança, é que no passado recente Espanha tentou que as sedes da NATO em Oeiras passassem para Madrid, coisa que Portugal terá evitado, colando-se aos EUA na questão iraquiana.
Portugal pode ser e é vulnerável, se mantiver um patamar estratégico de Defesa próximo do actual.
E o pior é que não se vislumbra para as 2 próximas décadas melhorias na quantidade e qualidade do nosso dispositivo militar.
Espanha identificou um inimigo para justificar a sua recente vocação armamentista:
Marrocos e o perigo islamista.
Tem também as suas vulnerabilidades, como as Canárias, junto da costa marroquina e as cidades de Ceuta e Melilla.
Mas na verdade a curto prazo, o que acontece é que a economia espanhola está a permitir que canalizando um elevado montante para a Defesa, poderá permitir que Espanha se venha a afirmar como a grande potência emergente no sudoeste da Aliança, preenchendo o vazio deixado por Portugal, e ganhar espaço e peso específico no seu seio, e no contexto internacional.
Se Espanha quer ganhar espaço e peso no contexto das nações terá que apostar em meios que lhe permitam materializar essa ambição, através de uma aliança privilegiada na construção europeia (coisa que havia sido deixada para segundo plano no interregno de Aznar) e mantendo uma ponte estreita com os EUA.
Ou seja:
Portugal, que tradicionalmente sempre foi mais atlantista que a Espanha vê essa sua vocação atlântica a 2 níveis (ligação privilegiada com os EUA e Inglaterra por um lado, e proximidade com o mundo lusófono por outro) ser apagada por esta crescente capacidade da Espanha em se afirmar, e desse modo passar a ter maior importância junto de Washington.
Tradicionalmente ainda Portugal tinha a enorme vantagem da Base das Lages, mas nos tempos que correm, com a capacidade de projecção aérea e naval americana e com a diversificação de pontos de apoio por todo o mundo, a Base das Lages, também ela, perdeu a sua importância que já teve nos anos passados da guerra-fria.
Ou seja:
Portugal está a perder o peso e a importância relativa que já teve até aos anos 70.
E se perder peso no seio da UE e da NATO, nomeadamente para a construção de um Exército comum, que funcione como pilar europeu da Aliança, perde importância especifica e real, por irrelevante que passa a ser, e perde peso e importância junto do mundo lusófono, já que este passará a ver em Portugal um parceiro irrelevante e que não lhe trará mais-valias numa relação que todos desejariamos que fosse priveligiada
Espanha está, portanto a ser o tomador dessa decadência portuguesa ao nível geo-estratégico, e da forma como Portugal está a perder a sua capacidade de ser um parceiro de igual para igual no contexto altântico e europeu.
Por isso, para mim, a maior ameaça a Portugal e aos seus interesses mais imediatos, mas com projecção para o médio e longo prazo, é exactamente a sua perca de influência em plano inclinado, passado a estar condenado a um papel meramete secundário ou terciário, mesmo no flanco sul da Aliança e da UE.
Não vejo para já em Marrocos a grande ameaça.
Se Marrocos, mercê de uma mudança para um regime que seja factor de ameaça e instabilidade nessa zona do globo atacasse algum os pareiros da Aliança, o Artigo V da NATO trataria desse asssunto rapidamente.
Espanha é a maior ameaça a Portugal.
Não que através de uma invasão e/ou anexação militar ou política (coisa que no passado até já aconteceu), mas através da importância e peso que tem para ditar as regras no contexto internacional e directamente entre os dois, numa base bilateral, através da forma como poderá ditar a seu bel-prazer e de acordo com as suas necessidades e interesses essa partilha de recursos vitais para a sobrevivência de um estado
E isso é perigoso para a nossa sobrevivência a prazo.
Portugal deve por isso, e como já tenho escrito em outras ocasiões, ter um patamar mínimo de Defesa que lhe permita ser suficientemente dissuasor perante essas ameaças, e ter capacidade de reação a um qualquer atentado aos nossos interesses económicos, políticos ou de soberania.