Novo governo herda um país de cofres vazios
O novo Governo da Guiné-Bissau, liderado por Carlos Gomes Júnior, vai gerir um Estado de cofres vazios e que mantém cinco meses de salários em atraso numa função pública recorrentemente em greve.
O novo primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, não esconde a difícil tarefa que tem pela frente e, para já, diz necessitar de, pelo menos, 30 biliões de francos CFA (45,7 milhões de euros), para fazer face às despesas correntes do Estado, nomeadamente o pagamento de cinco meses de salários em atraso na função pública.
Gomes Júnior confiou ao seu amigo, o economista José Mário Vaz, a tarefa de reorganizar as finanças públicas, captando mais receitas internas, dentro de uma rigorosa política de despesas do Estado.
A tarefa de Mário Vaz passará essencialmente pelo controlo das entradas de receitas ao nível das alfândegas, das contribuições e impostos e licenças de pesca, as principais fontes de receitas da Guiné-Bissau, neste primeiro trimestre do ano.
As vendas ao estrangeiro de caju, principal produto de exportação do país, só acontecem entre Abril e Setembro.
Desde o dia da sua investidura no cargo pelo Presidente 'Nino' Vieira, Carlos Gomes Júnior não se cansa de repetir os apelos à comunidade internacional no sentido de prestar um apoio de emergência à Guiné-Bissau.
O novo chefe do governo de Bissau também exorta os guineenses "para os tempos difíceis" que aí vêm, já que o Tesouro Público está sem recursos.
O ministro das Finanças cessante, Issuf Sanhá já havia dado o mote para este discurso, dias antes de cessar funções: "Devido à quebra da actividade económica neste período do ano, as receitas internas não são suficientes para pagar os salários" dos funcionários públicos, dizia o ex-governante ao ser confrontado com a falta do pagamento dos ordenados.
Mensalmente o Governo da Guiné-Bissau mobiliza, entre os apoios internacionais e parcas receitas internas, 2,6 biliões de francos CFA (3,9 milhões de euros) para pagar salários aos servidores do Estado.
Os trabalhadores guineenses conhecem essa realidade, mas querem saber se Gomes Júnior cumpre ou não com as suas promessas eleitorais.
A prova de fogo do novo primeiro-ministro acontecerá no final do mês, na altura do pagamento dos salários.
"O nosso Governo não irá dever salário a nenhum trabalhador, mês vencido mês pago", foi um dos slogans de campanha eleitoral de Carlos Gomes Júnior.
O Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), chefiado pelo novo primeiro-ministro, ganhou as legislativas, disputadas a 16 de Novembro, com maioria qualificada, elegendo 67 deputados em cem deputados no parlamento.
Para já, o primeiro-ministro vê a pressão social baixar um pouco com a decisão dos sindicatos dos professores em levantar a greve geral que vinham observando desde Outubro, para dar tempo para que o governo se possa instalar.
Os professores levantaram a greve e prevê-se que o ano lectivo comece na segunda-feita com três meses de atraso, mas prometem voltar a ficar em casa se os salários não forem pagos.
Carlos Gomes Júnior viu a sua equipa empossada quinta-feira pelo Presidente 'Nino' Vieira e hoje convocou a primeira reunião do Conselho de Ministros.
Fonte do seu gabinete disse à Lusa que a reunião serviu para os novos governantes se conhecerem e "atacarem os dossiers imediatos".
Lusa