De um artigo do jornal francês 'Le Monde' de 26/10/06( na ed. impressa):
************************************************************
Desencadeou-se uma corrida para a industria naval de defesa a respeito dos sistemas de armas que a marinha francesa vir(i)a a dispor.Varios, ambiciosos e caros programas, entre os quais o segundo porta-aviões (PA2) é o mais emblematico, foram lançados sem que a sua realizaçao esteja garantida.
O horizonte proximo das eleiçoes presidenciais de 2007 constitui um factor de incerteza: o proximo Presidente da Republica ver-se-a obrigado a fazer economias orçamentais, que as Forças Armadas receiam vir a ser uma das vitimas.No salão EURONAVAL, a ministra da Defesa Michéle Alliot-Marie reafirmou ( na quarta-feira 25/10) o seu apoio ao projecto PA2, bem como aos submarinos nucleares de ataque Barracuda e o missil naval de cruzeiro SCALP.A ministra pretende por estes projectos ao abrigo das incertezas da politica.A principal inquietação diz respeito em especial ao PA2, um projecto franco-britanico (tres navios a construir, dos quais dois para a Inglaterra) em que a justificação do seu custo - mais de 2 000 milhões de euros para o navio frances-estao a ser contestados por alguns politicos e militares.
"podemos economizar um segundo porta-aviões" considera o secretário-geral do Partido Socialista, François Hollande (por acaso também marido da principal favorita socialista a Presidente, Segoléne Royal).
Nicolas Sarkozy (o mais provavel candidato da direita) também já defendeu no passado a revisão em baixa dos créditos para a Defesa, embora um dos que lhe é próximo, lembre que uma vez chegado ao Eliseu o novo Presidente nao tarda em tomar consciência das responsabilidades estratégicas da França.
O PA2 nao tem porém a unanimidade no meio das Forças Armadas " no estado actual das coisas- diz um general- parece-me dificil de financiar.As economias esperadas nesta cooperação franco-britânica nao estarão a altura do que se esperava.O ponto de não-retorno poderia ser ultrapassado na altura do Orçamento 2008, mas essa escolha arrisca-se a ser entre um segundo porta-aviões e a supressão de outros equipamentos de que temos muita necessidade" acrescentou ele.
Clássicamente os 'marinheiros' sao favoraveis ao PA2, enquanto o Exército espreita os dividendos em matéria de equipamentos que espera poder aproveitar se o projecto for posto em causa, uma hipótese que nao desagradaria aos 'aviadores' que receiam uma diminuição de encomendas do RAFALE.
O PA2 "deve assegurar a permanência da nossa capacidade de poder" insistiu Alliot-Marie, que deseja "tornar este programa o mais irreversivel possivel".Pediu mesmo, indirectamente , aos industriais(DCN e Thales) para reduzirem as suas margens comerciais.
Também na Grã-Bretanha um debate parecido esta a desenrolar-se entre o Tesouro e o Ministro da Defesa, Gordon Brown, sucessor designado de Tony Blair, e que é favoravel a uma baixa nos créditos militares, mas isso nao quer dizer que ele esteja prestes a renunciar aos seus dois CVF (Carrier Vessel Future).
"Os ingleses lançaram o seu programa antes de nós, e irão até ao fim, asseguram no Ministério da Marinha, porque eles estiveram sem porta-aviões durante vinte anos e sabem bem a falta que lhes fez".
Esta opinião é partilhada por peritos que pôem à frente a importância crescente da "guerra litoral" e a necessidade de poder "projectar as suas forças" sem necessidade de bases terrestres.Para esta escola de pensamento, um porta-aviões é um instrumento indispensavel para a independencia estratégica da França.
**********************************************************
m/trad. e uma breve nota auxiliar:
PA2 (Paris e Londres assinaram em Fev/2004 um acordo de construçao de tres porta-aviões- 2 britânicos e um francês)
Barracuda- programa francês de submarinos nucleares de ataque.Seis encomendas esperadas até ao fim do ano com primeira entrega para 2016.