Holanda, o pequeno país que alimenta o mundoA Holanda, o novo gigante agrícola, está a mudar a prática da agricultura.
https://nationalgeographic.sapo.pt/images/revistas/198/HOLANDA/HolLogo.jpgUm mar de estufas rodeia a casa de um agricultor na região de Westland. Os holandeses tornaram-se líderes mundiais no domínio da inovação agrícola, abrindo caminhos pioneiros no combate à fome.
A três metros acima do solo, ele controla dois veículos não tripulados que fornecem dados pormenorizados sobre a composição química do solo, o teor de água, nutrientes e crescimento, medindo a evolução de cada planta. Os valores de produção de Jacob van den Borne atestam a capacidade desta “agricultura de precisão”. O rendimento médio das batatas por hectare, a nível mundial, é de cerca de vinte toneladas. Os campos de Van den Borne produzem fiavelmente mais de 47.
Este rendimento abundante ainda se torna mais admirável quando se leva em conta o outro lado da folha de balanço: os recursos aplicados. Há quase duas décadas, os holandeses assumiram um compromisso nacional, escolhendo como divisa: “Duas vezes mais alimentos, utilizando metade dos recursos”. Desde 2000 que Jacob van den Borne e muitos colegas agricultores têm vindo a reduzir a dependência das culturas principais em relação à água até 90%. Eliminaram quase por completo a utilização de pesticidas químicos nas plantas cultivadas em estufas e, desde 2009, os empresários holandeses da avicultura e da pecuária introduziram cortes na utilização de antibióticos até 60%.
Com a procura crescente de carne de frango, as empresas holandesas desenvolvem tecnologia para maximizar a produção, garantindo condições decentes. Este aviário pode alojar até 150 mil aves, desde o choco à colheita.
Outro motivo para admiração: a Holanda é um país pequeno e densamente povoado, com mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado. Carece de quase todos os recursos há muito considerados necessários a uma agricultura de grande escala. E contudo é o segundo exportador mundial de géneros alimentares, superado apenas pelos Estados Unidos, cuja massa terrestre é 270 vezes maior. Como é então possível que os holandeses tenham conseguido este feito?
Vista a partir de um avião, a Holanda não se parece com mais nenhum dos grandes produtores mundiais de géneros alimentares. Forma um mosaico fragmentado de campos de cultura intensiva, a maioria dos quais minúsculos à luz dos padrões da indústria agro-alimentar, entremeados com cidades e subúrbios. Nas principais regiões agrícolas do país, quase não existe batatal, nem estufa, nem suinicultura de onde não se aviste um arranha-céus, uma unidade industrial ou uma urbanização. Mais de metade da superfície terrestre nacional é utilizada para a agricultura e a horticultura.
Westland, capital das estufas holandesas, ganha uma aura extraterrestre com estes canais de luz artificial. Nas explorações agrícolas com controlo climático, as culturas crescem 24 horas por dia em qualquer tipo de condições.
Extensões a perder de vista daquilo que parecem ser espelhos mastodônticos revestem os campos. São os extraordinários complexos de estufas da Holanda, alguns dos quais com 70 hectares.
Os holandeses são igualmente o maior exportador mundial de batatas e cebolas e o segundo maior exportador mundial de legumes, globalmente e em termos de valor. Mais de um terço da totalidade do comércio mundial de sementes de legumes tem origem na Holanda.
O cérebro responsável por estes números impressionantes está sediado em Wageningen University & Research (WUR), 80 quilómetros a sudeste de Amsterdão. Geralmente considerada a mais importante instituição de investigação agrária a nível mundial, a WUR é o ponto-chave do Vale dos Alimentos (ou Food Valley), um robusto conjunto formado por empresas tecnológicas inovadoras e explorações agrícolas experimentais. Este nome é uma referência propositada ao Silicon Valley da Califórnia, já que a Universidade de Wageningen reproduz o papel desempenhado pela Universidade de Stanford na fusão entre mundo académico e espírito empresarial.
Os espaços interiores proporcionam excelentes condições de produção para a alface e outras culturas em Siberia B.V. Cada um dos 9 hectares de cultura em espaço fechado rende tanta alface como 4 hectares em espaço aberto e reduz em 97% o tratamento com produtos químicos.
Ernst van den Ende, director-geral do Grupo de Ciências Botânicas da WUR, simboliza esta abordagem conjunta no Vale dos Alimentos.
Ernst é uma autoridade mundial em patologia vegetal, mas, como nos explica, “não sou só o director de um departamento na universidade. Metade de mim dirige as Ciências Botânicas, mas a outra metade ocupa-se da supervisão de nove unidades de negócio empenhadas na pesquisa de contratos comerciais”. Só esse esforço combinado, “o enfoque na ciência e o enfoque no mercado poderá enfrentar os desafios do futuro”, resume.
O planeta precisa de produzir “mais géneros alimentares nas próximas quatro décadas do que todos os agricultores do mundo colheram nos últimos oito mil anos”. Em 2050, a Terra terá 9 a 10 mil milhões de habitantes, ao passo que hoje alberga sete mil e quinhentos milhões de habitantes. Se não se concretizarem aumentos do rendimento agrícola, acompanhados de reduções do consumo de água e de combustíveis fósseis, mil milhões (ou mais) de pessoas poderão morrer de fome.
Será que o tomate cresce melhor quando banhado com iluminação LED vinda de cima, de lado, ou uma combinação entre ambas? O especialista Henk Kalkman procura respostas no Centro de Melhoramento de Delphy, em Bleiswijk. A colaboração entre universitários e empresários é um factor essencial para a inovação holandesa.
A fome será o problema mais urgente do século XXI e os visionários que trabalham no Vale dos Alimentos acham que descobriram soluções inovadoras. Os meios para impedir uma crise de carência alimentar catastrófica estão ao nosso alcance, insiste Van den Ende. O seu optimismo baseia-se na informação fornecida por mais de mil projectos desenvolvidos pela WUR em mais de 140 países e nos acordos formais celebrados pela instituição com Estados e universidades em seis continentes para partilha dos progressos realizados e sua implementação.
Uma conversa com Ernst van den Ende é como dar uma volta numa montanha-russa de debate de ideias, estatísticas e previsões. A seca em África? “A água não é o problema essencial. É a pobreza dos solos”, afirma. “A inexistência de nutrientes pode ser compensada pelo cultivo de plantas que funcionem em simbiose com certas bactérias, de maneira a produzirem o seu próprio adubo.” E o custo galopante dos cereais para alimentação animal? “Alimentem os animais com gafanhotos em vez de cereal”, responde.
Continua.........
https://nationalgeographic.sapo.pt/ciencia/grandes-reportagens/1552-holanda-o-pequeno-pais-que-alimenta-o-mundoEstou sem palavras! Não fazia ideia que um país minúsculo como a
Holanda, com menos de metade da área de Portugal e com 27% do seu território e 60% da população a viver abaixo do nível do mar (se fosse com o nosso "brilhante" Ministro do Ambiente, já tinha mandado evacuar a Holanda inteira),
é o 2º maior exportador agrícola mundial!!!!!!!!!