Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...

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Luso

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Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« em: Setembro 07, 2016, 10:48:43 pm »
Porque não alinha nisto (e noutras coisas):
http://www.cocanha.com/tudo-o-que-e-solido-dissolve-se-no-ar-tudo-o-que-e-bosta-ocupa-espaco-ca-em-baixo/

Poderá ser que em breve o pessoal seja forçado a entrar em aventuras estranhas e nada do seu interesse nem das suas famílias ou daquilo que têm de mais sagrado.
Que cada um escolha sensatamente.
Mais não digo porque já ando farto de bater no ceguinho. Fica, no entanto, este derradeiro apelo.

Desculpem o sensacionalismo do "postal" mas creio que o contexto assim o exige.
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #1 em: Setembro 07, 2016, 11:08:47 pm »
Bem aparecido caro Luso. Faz falta a sua presença neste fórum embora entenda que muitas vezes a coisa possa ser ingrata. Bem sabemos que a malta gosta da "comidinha" já mastigada e pronta para ser enfiada pela goela abaixo pelos "especialistas" e "analistas" de serviço. Contrariamente ao que a ciência afirma, estou em crer que o cérebro tem realmente terminais de dor  e que os mesmos se activam quando a malta tenta pensar por si mesma.
 
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #2 em: Setembro 07, 2016, 11:30:03 pm »
Olhó Fox! :G-beer2:

Aqui entre nós que ninguém nos lê, confesso que aguardo com alguma espectativa (perversa) a intervenção de um dos dois patetas de Langley/Telaviv que por aqui bostam.
Perdão: postam.
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #3 em: Setembro 08, 2016, 09:40:50 pm »
Não creio que entrem neste tipo de terreno, caro Luso.
Falando de outra coisa, ou nem tanto, gostei bastante da forma assanhada como as ONG's e alguns sectores políticos anglo-saxónicos têm estado a reagir certas atitudes de defesa da nossa "civilização", tipo o banir do burkini ou a proibição da burka e do véu em vários países do Continente. Pelo barulho parece que lhe andam a lixar o esquema. 
 

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #4 em: Setembro 23, 2016, 04:30:35 pm »
Não entendo a relevância do título.

Presumo que haja aqui uma tentativa de associar Putin a defensor da civilização "europeia/cristã" ou "conservadora ou anti-liberal".
Se a ideia é mostar Putin como defensor da civilização cristã (que sinceramente não existe uma vez que um copta egipcio é tão cristão como um católico português ou um luterano alemão e nem por isso defendem o mesmo tipo de civilização) então esquecem-se que Putin não teve qualquer pejo em atacar não um, mas dois países com maiorias cristãs e com quem a Rússia tem inúmero laços históricos, como foi o caso da Geórgia e da Ucrânia, para fazer prevalecer os seus ideais à custa de povos irmãos.

Se a ideia é associar Putin como defensor duma ordem conservadora, ou seja defensor duma "posição político-filosófica, alinhada com o tradicionalismo e a transformação gradual, que em geral se contrapõem a mudanças abruptas (cuja expressão máxima é o conceito de revolução) de determinado marco econômico e político-institucional ou no sistema de crenças, usos e costumes de uma sociedade" temo que também estejam enganados.
Se "para os conservadores não faz sentidos elaborar projetos universais de sociedade ideal - não só tal sociedade será inatingível (devido ao que acreditem ser a imperfeição intrínseca da natureza humana), como, devido a diferentes povos terem diferentes histórias e tradições, o modelo social mais adequado a um povo não será o mais apropriado a outro", então a tentativa de impôr a outros povos da ex-URSS o modelo de governação russo e a tentativa de os manter sobre o seu jugo contradiz o pensamento conservador. É que o conservadorismo assenta num pensamento, que baseando os seus valores no tradicionalismo, está fundado num espírito democrático (não confundir com espírito liberal). Já o comportamento do presidente russo assemelha-se mais a um autoritarismo "democrático" como o apresentado por Ivan Ilyin. Podem parecer parecidos, na medida em que defendem valores tradicionais, mas o autoritarismo "democrático" não é mais do que um mero jogo de palavras para autoritarismo.
Por isso "Putin é mau como as cobras" não porque quer defender qualquer civilização (apesar de a meu ver querer defender o Estado russo da desfragmentação e daí podermos dizer de forma minimalista querer defender a "civilização" ortodoxa russa), mas porque, tal como outras potências no passado, a Rússia ser um Estado revisionista do status quo geopolítico. Tal como Cartago na Segunda Guerra Púnica, ou mais recentemente a Alemanha na II Guerra Mundial, a Rússia pretende reabsorver territórios perdidos em guerras passadas. Ao contrário dos alemães em 1936 (inicio da caminhada para a guerra) conta com um líder mais inteligente e pragmático, que sabe medir as sua acções. Mas a inteligência não se esgota na Rússia e por vezes erros de cálculo dão literalmente em "merda da grossa".
Putin não é mau como as cobras, é provavelmente o que a Rússia precisa num momento difícil da sua história (nos tempos de Ieltsin a Rússia encontrava-se perante a possibilidade bem real de implosão e fragmentação), mas infelizmente temo que ao alienar possíveis alianças a Ocidente para conquistas territoriais sem grande valor, estejam a minar o seu próprio futuro. É que Putin está com dois olhos no burro e esquece-se do cigano.
A China, à medida que vai crescendo económica e militarmente, está cada vez mais sedenta dos recursos da Sibéria e do Extremo Oriente russo. Se por agora, está a povoar pacificamente (com a benção de Putin) vastas regiões da Sibéria, e a retirar influência aos russos na Ásia Central, à medida que a população russa vai declinando e a economia da Rússia se vai deteriorando, pode um dia achar que a Rússia não merece governar um espaço tão grande e se deva confinar à Europa.
Não fossem os ICBM russos e talvez a atitude chinesa relativamente aos russos fosse outra. Vamos ver se os russos conseguem manter a economia a funcionar para manter tantos mísseis.
Se pensarmos bem, Putin pode mesmo vir a ser o fim da tal "civilização cristã". Ao dar cobertura ao regime chinês e ao continuar a fornecer-lhe tecnologia militar, ao tentar minar a ordem mundial vigente cunhada e formada fortemente por um espírito missionário cristão, pode estar a ajudar a criar uma nova ordem mundial regida por normas menos "cristãs", mas mais "confucionistas e ateias".
 
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #5 em: Setembro 27, 2016, 11:06:45 am »
Não me parece que militarmente a situação se possa resumir apenas aos ICBM russos, que embora sejam muito mais avançados que os chineses,  não explicam toda a "situação":
Começa por exemplo nos submarinos;https://en.wikipedia.org/wiki/People%27s_Liberation_Army_Navy_Submarine_Force


Como se pode ver não existe comparação possível. E os Submarinos sobretudo nucleares e transportadores de ICMB, são a forma mais letal de os transportar. Mas não fica por aqui:


Em termos de Porta-Aviões, novamente não é comparável. O Russo foi desenhado de raiz, o Chinês foi aproveitado de um casco inacabado que estava na Ucrânia. E quanto a aparelhos? O Porta Aviões Chinês não tem um único de desenho nativo, já que são todos cópias ou feitos por licença, os Russos possuem todos os modelos feitos e desenhados no seu território. E se o que é feito a nível dos restantes navio de superfície ainda pode ser equiparado, no que diz respeito a projectos a realidade é novamente diferente:

   
Quanto muito algum equilíbrio nos protótipos aéreos, mas a história de projectos nativos chineses não é boa, facilmente explicado pelo pedido de licença para fazer o Su27 ou o Backfire:


A meu ver até à pouco tempo a vantagem dos Chineses seria no campo dos MBT. Mas o russos lançaram o Armata o qual parece ser superior ao Type 99:


Portanto, quanto muito talvez daqui a 30/50 anos os Chineses poderão estar ao nível dos Russos e Putin sabe isso perfeitamente. Fornece alguma tecnologia a qual já produz pouco ou está na gaveta (por exemplo o Backfire dificilmente será produzido pois a Rússia tem o Tu160), mas recusa-se a ir muito mais além até porque a engenharia reversiva chinesa também acarreta problemas que depois não são fáceis de resolver (exemplo os motores dos Su27). De qualquer forma a China parece estar orientada noutra direcção oposta à da Rússia (até porque precisa dos Russos). E até Obama sabe disto.



Saudações


 
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #6 em: Setembro 29, 2016, 09:13:00 am »
Mafets,

A China não precisa de ter vantagem tecnológica. Basta encurtar a desvantagem. Além disso a Rússia não tem gente que chegue para defender as fronteiras com a China sem abandonar a Europa. E gente é o que não falta à China.
O que a Rússia tem feito na Ucrânia, pode muito bem ser feito pela China. Apoiar "rebeldes pro-China". Em algumas terras do extremo Oriente russo já são uma grande população.

Além disso, tal como o bloqueio soviético ao Japão levou a que este se expandisse para sul na segunda grande guerra, o mesmo poderá acontecer à China mas em sentido inverso.
E neste caso não esquecer também a velha estratégia de apontar para um lado e avançar pelo outro para confundir o inimigo. A Sibéria tem muitos mais recursos que o mar a sul.
 

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mafets

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #7 em: Setembro 29, 2016, 11:52:44 am »
Mafets,

A China não precisa de ter vantagem tecnológica. Basta encurtar a desvantagem. Além disso a Rússia não tem gente que chegue para defender as fronteiras com a China sem abandonar a Europa. E gente é o que não falta à China.
O que a Rússia tem feito na Ucrânia, pode muito bem ser feito pela China. Apoiar "rebeldes pro-China". Em algumas terras do extremo Oriente russo já são uma grande população.

Além disso, tal como o bloqueio soviético ao Japão levou a que este se expandisse para sul na segunda grande guerra, o mesmo poderá acontecer à China mas em sentido inverso.
E neste caso não esquecer também a velha estratégia de apontar para um lado e avançar pelo outro para confundir o inimigo. A Sibéria tem muitos mais recursos que o mar a sul.
É curioso que num colóquio fizeram a mesma pergunta ao General Lemos Ferreira, o qual respondeu que mais depressa via a Rússia como agressora do que a China. Porque? Porque a Rússia é uma potência continental e sempre teve aspirações históricas a aumentar esse mesmo território enquanto que a China só muito recentemente manifestou essas intenções e novamente na geografia do mar da China.

De qualquer forma e opiniões à parte é preciso ter ciente que para encurtar a desvantagem tecnológica é preciso ter alternativas ao que existe de momento algo que a China ainda não tem. Uma coisa é os Chineses conseguirem-no na Força Aérea e na Marinha, graças aos novos modelos que possuem na forja,  outra completamente diferente é existirem novos fiascos como o J8 (e mesmo o J10 tarda a afirmar-se), ou mesmo a força de submarinos. Nesse caso lá voltamos à dependência do que é Russo, desde os Su27 aos Backfire, passando pelos submarinos Kilo. Se o meu caro Lusitan reparar o que os Chineses mais têm tentado fazer é conseguir através da sua engenharia produzir por exemplo todo o Su27, mas o motores continuam a dar problemas e a alternativa é voltar a comprar e pedir assistência técnica aos russos. Entrar em guerra mesmo não declarada com quem é o principal fornecedor de equipamento militar não parece ser muito inteligente enquanto não existem as tais alternativas nem que sejam para encurtar a tal diferença tecnológica. E burros é algo que os Chineses não são.
Citar
By one Russian account, China tried to sell clones of the Russian jets at discount prices on the international arms market ($10 million for a J-11, while the Russian original Su-27 is well over $30 million). But the copycat of the Soviet AL-31F engine made by China is not in the same league as the Russian analog for reliability and durability.

http://www.globalsecurity.org/military/world/china/j-11.htm
A Rússia não tem esses problemas. Produz qualquer versão por exemplo do Su27 e de momento está prestes a arrancar com o T50, que até é produzido com a Índia, inimigo dos Chineses.
 
A Sibéria pode ter muitos mais recursos do que o Mar da China, mas são mais difíceis de obter. Seja devido ás condições meteorológicas que tornam a exploração do petróleo e seus derivados mais cara  e tecnicamente mais difícil, seja porque os donos são Russos os quais não têm a força dos Filipinos ou Vietnamitas. Além disso se os Chineses vêm medindo força inclusive com os Japoneses ou Coreanos, tanto ao nível dos patrulhas e recontros aéreos, flectir para a Sibéria significava abandonar todas as ilhas onde se gastou milhões a construir bases aéreas e portos. Até porque a China tem muito mais gente que Russos ou outro qualquer pais do Mundo, mas não tem militarmente Marinha e Força Aérea capaz de estar em força em duas frentes ao mesmo tempo.  E quando assim acontece, seria sábio em prol dos recursos siberianos entregar o Mar da China aos muitos que o reclamam e dar parte fraca correndo o risco de lá para os lados da Sibéria a coisa dar para o torto? Não me parece...  ;)

Por ultimo é preciso não esquecer o que o caro Lusitan afirmou inicialmente sobre os ICBM: Os modelos dos russos nada têm a ver com os dos chineses, e duvido que se a coisa desse para o torto o tal Putin "mau como as cobras" não utilizasse essa vantagem, algo que os Chineses para já estão bem cientes.

Talvez em algum dia China e Rússia irão medir forças. Mas para já duvido e certamente que se um dia vier a acontecer os Chineses terão em conta que quem tentou invadir a Rússia, no final não ficou lá com muita saúde.  ;)


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« Última modificação: Setembro 29, 2016, 12:53:09 pm por mafets »
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #8 em: Setembro 29, 2016, 05:55:44 pm »
Mafets,

Eu estou a par de todos esses problemas. E não estou a falar dum confronto a curto prazo. O tempo está do lado dos chineses.
Mas também acho que está a subestimar as capacidades chineses e a valorizar demasiado as capacidades russas.
Em termos marítimos os chineses serão dentro em breve o terceiro país a usar catapultas em porta-aviões, algo que os russos nunca conseguiram. Além disso o grande problema da China no mar, não são os filipinos ou os vietnamitas. Nem o problema está no Mar da China. O problema está em sair para lá da primeira cadeia de ilhas, controladas pelos EUA, e controlar assim o abastecimento de matérias-primas por mar em caso de conflicto. No mar, a China está encurralada e daí esta tentativa de forçar a mão no Mar do Sul da China, de modo a forçar os países mais pequenos a acordos bilaterais sem a intervenção dos EUA. De qualquer maneira o tribunal de Haia deu uma grande machadada nas suas ambições territoriais.
Os russos têm apostado muito em Area Denial Weapons para contrabalançar o poderio tecnológico americano, mas não têm apostado muito nos outros sistemas. Fazem muita propaganda, mas de facto têm dificuldade em abastecer com material de qualidade a maioria das suas divisões, ainda tendo de usar muito material da antiga URSS.
Claro que têm muitos sistemas avançados e estão a tentar modernizar-se com material de qualidade, mas não têm o poderio económico para construir ou manter esses sistemas em quantidade suficiente para um potencial conflicto de larga escala. Só como exemplo, o T-14 Armata, apesar de impressionante em papel, tenho dúvidas que consigam construir em número suficiente na próxima década devido a restrições orçamentais.
http://www.businessinsider.com/russia-can-barely-afford-its-new-tank-2015-7
E mesmo que o preço de produção do tanque venha para metade do preço como os russos afirmam (afirmação duvidosa devido aos sistemas avançados utilizados), a economia russa não vai nunca ultrapassar a chinesa nas próxima décadas e portanto o poder de investimento dum será sempre superior, pelo que as vantagens se vão diluindo rapidamente.
http://rbth.com/defence/2015/09/25/cost_of_russias_armata_t-14_tank_to_fall_by_half_49585.html

Há outra questão que a mim me suscita muito interesse no desenvolvimento do novo sistema Armata - a sobrevivência dos tripulantes. O foco nesta questão revela que a Rússia está ciente da limitação que o envelhecimento da sua população é para a defesa do Estado. Revela ainda que, ao contrário de conflictos anteriores,  se prepara para conflictos em inferioridade numérica de forças. Tal como os israelitas, apostam na superioridade tecnológica e na sobrevivência dos seus soldados em caso de conflicto para ultrapassar a falta de números. (A Oeste este problema não se põe com tanto força).

A resposta do Sr. General, por quem tenho muita estima, não me parece correcta. A China só não foi tão expansionista quanto a Rússia, porque nos últimos séculos teve muitos problemas internos, o que impediu a sua modernização, tal como a que ocorreu no Japão no séc. XIX, e permitiu a expansão de potências estrangeiras na sua esfera de influência. A rápida modernização da China e a sua crescente necessidade de matérias-primas, a necessidade do Partido Comunista manter o seu poder, vai levar (como acontece invariavelmente na História com potências emergentes) a que entre em rota de colisão com uma potência estabelecida.
Para a Alemanha/Prússia a sua afirmação foi feita (primeiro) à custa do Império Austro-Húngaro e depois com a maior potência continental (França). Com o Japão foi primeiro a Rússia e depois os Aliados/EUA. A própria Rússia fê-lo primeiro à custa da Comunidade Polaco-Lituana, e mais tarde do Império Otomano e da Suécia, na Europa. A China de Mao enfrentou os americanos na Coreia, os vietnamitas, os indianos, e esteve perto duma guerra com a URSS por causa do Vietname. Além disso invadiu o Tibete. Achar que a China não é expansionista apenas porque é um gigante adormecido é não perceber que o pós-Maoismo é uma doutrina expansionista e hegemonista. Só se evita a expansão chinesa enquanto esta se manter num estado de fraqueza. A China mesmo no tempo de Mao foi um instigador de instabilidade em muitas partes do mundo e continuará a tentar voltar a ser o Império mais poderoso do mundo.
O alvo mais fácil parece ser para sul, mas isso é apenas se não tivermos em conta que as relações comerciais com o Ocidente são o que dá vigor à economia chinesa, e ao entrar em conflicto com o Ocidente põe em causa toda a sua economia. Já para norte, ou para a Ásia Central, apesar de parecer mais dificil, o avanço não põe me causa relações comerciais muito importantes, uma vez que as trocas entre Rússia e China são fracas e são maioritariamente matérias-primas. Obviamente se não houver uma tomada de posição do Ocidente em favor da Rússia, algo que  Putin está a facilitar de forma acelarada.

 

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #9 em: Setembro 30, 2016, 11:33:23 am »
Não me parece que a capacidade de catapultas seja uma realidade a curto prazo. Se reparar no Porta-Aviões em construção é perfeitamente visível o skijump à proa. Existe a tal possibilidade de ser usada uma catapulta em um ou nos dois próximos navios a meia nau mas não é uma certeza, sendo que o segundo navio não estará operacional antes de 2020. E o problema dos aviões mantêm-se.

A questão do Vietname ou das Filipinas têm a ver sobretudo com reivindicações nessas áreas que contam com países teoricamente mais fracos e assim mais fáceis de "convencer". Mas mesmo nesse campo a China não está à vontade pois sabe que  o Vietname já lhe impôs dissabores. É também um "modus operantis" experimental para ver como correm as coisas, até porque Coreia do Sul, Japão e mesmo Taiwan já estão bem mais armados. Mais a Sul existe a Índia e a própria Austrália começa a ter bastante poder na área (o EUA não vale a pena falar que é de outro campeonato). Independentemente dos "travões" a sul, existem cada vez mais dificuldades inclusive logísticas com a China a ser obrigada a usar cada vez mais a sua marinha mercante para transportar meios militares, bem como esticando a corda do abastecimento a muitas milhas da sua costa. E  Haia já os Chineses disseram que não iam respeitar, pelo que não vejo grandes diferenças na área nos próximos tempos.
Citar
As reivindicações por parte das Filipinas relativamente às ilhas no mar do Sul da China são infundadas, de acordo com o Livro Branco da China, dedicado às disputas territoriais na região.

"As reivindicações das Filipinas são infundadas tanto em termos da história, como de acordo com o direito internacional", declarou o documento. "A China tem a intenção de resolver as disputas com as Filipinas no mar do Sul da China por meio de negociações". O Livro Branco sublinha que a China "continuará a manter a sua integridade territorial, os direitos marítimos e os interesses no mar do Sul da China". De acordo com Pequim, os chineses começaram a realizar atividades na região há mais de dois mil anos atrás. "Fomos os primeiros a descobrir, a dar nomes próprios e a explorar as ilhas e águas da região, fomos os primeiros a exercer continuamente e pacificamente o controle sobre elas".

Mostrar mais: https://br.sputniknews.com/mundo/20160713/5590690/mar-sul-china.html

https://br.sputniknews.com/mundo/20160713/5590690/mar-sul-china.html
Os problemas militares russos existem mas também os chineses. A grande questão que de algum modo desempata a contenda tem a ver com opções, sendo que a Rússia pode perfeitamente dentro dos diversos campos tornar eficaz velhos planos dos tempos da URSS (por alguma razão modernizam os Kirov dos anos 70). A china não os tem. A sua "base material" em terra, mar e ar continua a ser modelos dos anos 50 e 60, copiados dos russos e reformulados com alguma tecnologia ocidental, casos do caças J7  ou das fragatas Type 053, ainda a maioria nas forças armadas chinesas. E se em terra com os nativos  Type 80 ou 99, ou no mar mesmo com modelos quase próprios como as Type 056 ou Type51D, ainda assim recorreram a modelos russos como os Sovremenny os  submarinos Kilo. Só quando a génese das classes mais numerosos for substituída é que a China pode aspirara a alguma coisa. E convinha que fosse por equipamento 100% Chinês pois de outra forma os problemas continuarão com a crónica dependência dos outros. Por isso lá está, um conflito nunca poderá acontecer a curto prazo e por agora não são apenas os ICBM russos a aguentar a coisa.


A questão do Armata parece-me ter mais a ver com os crónicos problemas de blindagem que os russos têm nos seus MBT. É mais fácil proteger o casco e deixar a torre com os seus sistemas operar remotamente. Não me parece que a questão tenha só a ver com números de tropas até porque  a Dedovshchina continua a ser um dos vários problemas nas Forças armadas russas e só paulatinamente vai baixando.
Citar
Army life can be tough, but for Russian conscripts there is an added danger – systematic bullying and abuse from within their own ranks. During the first two months of 2011, the Russian army reported more than 500 violent crimes.

https://www.rt.com/news/serving-army-crimes-two/

https://en.wikipedia.org/wiki/Dedovshchina
Não creio também que enquanto exista dinheiro seja das Reservas e Ouro ou de outras proveniências o orçamento de defesa Russo e a modernização que tem acontecido vá baixar. A Rússia continua a apostar alto nesta vertente e não fossem os "velhos do Restelo" agarrados a alguns velhos projectos e à pouca capacidade da industria em determinadas áreas a situação já tinha melhorado bastante. Por exemplo no mar a Rússia tem todo um conjunto de navios desde patrulhas a corvetas, passando por fragatas e submarinos que facilmente devido ao seu tamanho poderiam ser produzidos em número razoável. Porem continua a renovar velhos projectos. O ultimo LPD levou 8 anos a ser construído e mesmo tendo em conta o fiasco dos Mistral, bastava renovar a classe Ropucha que para as necessidades russas o problema estava resolvido (ou recorrer aos Chineses que na área dos LPD fazem um a cada dois anos). Aliás, em termos doutrinais só na Pacifico devido à escassa frota disponível e às muitas unidades de outros países que rodeiam os russos, estes apostam sobretudo nos submarinos. Sacrifica-se o grande modelo russo pelo pequeno e eficaz (em terra será que todos os milhares de T34 já foram para a sucata?).


Não me parece igualmente que as relações comerciais Rússia-China sejam de menosprezar de momento. Os Chineses sabem que face ao embargo ocidental os Russos vendem por exemplo os derivados o petróleo ao chineses com descontos chorudos e a preços muito abaixo dos países ocidentais e mesmo do Irão.  Colocar em causa esses acordos comerciais e inclusive os militares parece mesmo a médio prazo ser contraproducente, pois lá está, faltam actualmente alternativas. Além de que com situações potencialmente problemáticas por exemplo em Hong Kong, devido aos direitos humanos, autonomia, etc, os chineses mais facilmente sabem que tem um embargo ocidental como resposta a qualquer acção sua mais violenta  do que do lado dos Russos.


Por ultimo, é preciso ter em atenção que a China sobretudo tem feito exercícios militares regulares com os Russos. e à que tirar daí as devidas conclusões. Militarmente os Russos continuam a ser dos principais parceiros dos Chineses, e com toda a certeza apoiam algum nível de expansionismo chinês desde que não seja no seu quintal (se calhar uma possível área de conflito seria alguma antiga republica da URSS como o Turquemenistão) . Se a expansão chinesa, agora que tem os problemas internos resolvidos será uma realidade? Falta a independência militar e mesmo quando essa for conseguida, não sei até que ponto a China  sacrificara o estatuto de potência económica, com os acordos económicos vantajosos que enquanto existirem e lhes fornecerem as matérias primas necessárias, dificilmente serão substituídos por conquistas . E nesse nível até dá jeito que Russos e Ocidentais andem de "candeias às avessas", até porque com o fim do embargo ao Irão certamente que os preços de hidrocarbonetos vão subir.   



Saudações
« Última modificação: Setembro 30, 2016, 11:50:51 am por mafets »
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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #10 em: Outubro 10, 2016, 01:04:34 pm »
Mafets,

Mas eu sempre afirmei que o potencial conflicto não seria a curto prazo. Os chineses, se os pressupostos se mantiverem, têm o tempo a seu favor - a Rússia não.
O preço do petróleo que durante muito tempo financiou os projectos de modernização das Forças Armadas Russas dificilmente volta aos tempos aúreos de mais de 100$ por barril, e mantendo-se abaixo dos 50$ irá criar problemas significativos à economia russa. Como Putin não tem interesse em modernizar a economia, por questões de poder pessoal, vai continuar a depender da exportação de matérias-primas, colocando um travão ao investimento no país e por conseguinte na modernização das Forças Armadas.
Já os Chineses com a economia a crescer fortemente (alguns dizem que os números são manipulados com alguma razão) terão mais facilidade de modernizar o seu armamento e (novamente se os pressupostos se mantiverem) até ultrapassar em qualidade o armamento russo.

Acerca do porta-aviões chinês:
http://www.janes.com/article/62780/china-s-third-aircraft-carrier-likely-to-be-fitted-with-catapults

Relativamente aos caças, os russos continuam a ter melhores aviões, mas não têm números suficientes para  uma guerra prolongada nem para obter supremacia aérea. Além de que os chineses têm também algumas cópias dos S-300 russos que não sendo superiores aos sistemas russos, são muito bons e permitem criar uma área de exclusão aérea.
Em termos de forças terrestres, relembro que na Guerra da Coreia, a China em condições tecnológicas muito inferiores, conseguiu provocar enormes perdas às forças das Nações Unidas, mesmo que com algum apoio soviético.
 

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Pedro E.

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #11 em: Outubro 10, 2016, 01:41:40 pm »

Se o Lusitan advoga um expansionismo chines a custa da Russia, parece-me estar errado na sua analise. Mais depressa entram em conflito com um dos paises do sudeste asiatico (por causa do mar sul da china) do que com a Russia. Neste momento Russia e China sao os maiores aliados tanto nas esferas economicas e militares. Mesmo Taiwan que esta ali ao pe nao foi tocada. Porque sera? Porque a lideranca chinesa e pragmatica e nao vai por em risco o seu desenvolvimento economico por causa de ambicoes territoriais.
 

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Lusitan

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #12 em: Outubro 10, 2016, 05:12:40 pm »
Pedro,

Para Sul o problema não são os países pequenos, são os EUA. As FONOP americanas são um aviso aos chineses de que os americanos não vão tolerar avanços para Sul. No Norte têm um país em decadência. Além de que economicamente falando a China depende muito mais das trocas comerciais com o Ocidente do que com a Rússia.
O problema é que vocês pensam a curto prazo, como é comum no Ocidente. A China tem mais de 3mil anos, mudou de regimes, mudou de imperadores, teve períodos turbulentos, mas mantém-se lá porque segue a filosofia confucionista e de Sun Tsu independentemente dos líderes e por isso pensam o país a décadas, não a meses como é corrente na Europa.

 

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Pedro E.

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #13 em: Outubro 10, 2016, 06:00:41 pm »

E a longo prazo, acha o Lusitan que e um imperativo da China abocanhar partes da Russia e isso? Porque na sua visao todos as potencias emergentes mostram tendencias expansionistas? De quantos anos estamos a falar para essa previsao? Acho que o Lusitan esta familiarizado com a dimensao dos acordos assinados ha dois anos entre os paises. A China nao quer, nem precisa de guerra com a Russia. Sao os maiores parceiros actualmente - no campo energetico,tecnologico, economico, militar. E preciso deixar links para lhe dar a entender isto ? O determinismo historico em que o Lusitan se baseia para a sua analise parece-me forcado,errado e longe da realidade.
 

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Viajante

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Re: Porque é que o Putin "é mau como as cobras"...
« Responder #14 em: Outubro 10, 2016, 08:24:50 pm »
Há cada um a dizer cada bacorada!!!!!

"Top trading partners with China

This list was released on January 10, 2014 and reflects the volume of trade in 2013.[1] Total trade values are in billions of USD.

Rank    Trading Partner    Total trade
1            United States    521
2            Japan                    312,55
3           South Korea            274,24
4           Taiwan                    197,28
5           Germany            161,56
6           Australia              136,37
7           Malaysia                    106,07
8           Brazil                      90,27
9           Russia                      89,21

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_the_largest_trading_partners_of_China