Mafets,
Eu estou a par de todos esses problemas. E não estou a falar dum confronto a curto prazo. O tempo está do lado dos chineses.
Mas também acho que está a subestimar as capacidades chineses e a valorizar demasiado as capacidades russas.
Em termos marítimos os chineses serão dentro em breve o terceiro país a usar catapultas em porta-aviões, algo que os russos nunca conseguiram. Além disso o grande problema da China no mar, não são os filipinos ou os vietnamitas. Nem o problema está no Mar da China. O problema está em sair para lá da primeira cadeia de ilhas, controladas pelos EUA, e controlar assim o abastecimento de matérias-primas por mar em caso de conflicto. No mar, a China está encurralada e daí esta tentativa de forçar a mão no Mar do Sul da China, de modo a forçar os países mais pequenos a acordos bilaterais sem a intervenção dos EUA. De qualquer maneira o tribunal de Haia deu uma grande machadada nas suas ambições territoriais.
Os russos têm apostado muito em Area Denial Weapons para contrabalançar o poderio tecnológico americano, mas não têm apostado muito nos outros sistemas. Fazem muita propaganda, mas de facto têm dificuldade em abastecer com material de qualidade a maioria das suas divisões, ainda tendo de usar muito material da antiga URSS.
Claro que têm muitos sistemas avançados e estão a tentar modernizar-se com material de qualidade, mas não têm o poderio económico para construir ou manter esses sistemas em quantidade suficiente para um potencial conflicto de larga escala. Só como exemplo, o T-14 Armata, apesar de impressionante em papel, tenho dúvidas que consigam construir em número suficiente na próxima década devido a restrições orçamentais.
http://www.businessinsider.com/russia-can-barely-afford-its-new-tank-2015-7E mesmo que o preço de produção do tanque venha para metade do preço como os russos afirmam (afirmação duvidosa devido aos sistemas avançados utilizados), a economia russa não vai nunca ultrapassar a chinesa nas próxima décadas e portanto o poder de investimento dum será sempre superior, pelo que as vantagens se vão diluindo rapidamente.
http://rbth.com/defence/2015/09/25/cost_of_russias_armata_t-14_tank_to_fall_by_half_49585.htmlHá outra questão que a mim me suscita muito interesse no desenvolvimento do novo sistema Armata - a sobrevivência dos tripulantes. O foco nesta questão revela que a Rússia está ciente da limitação que o envelhecimento da sua população é para a defesa do Estado. Revela ainda que, ao contrário de conflictos anteriores, se prepara para conflictos em inferioridade numérica de forças. Tal como os israelitas, apostam na superioridade tecnológica e na sobrevivência dos seus soldados em caso de conflicto para ultrapassar a falta de números. (A Oeste este problema não se põe com tanto força).
A resposta do Sr. General, por quem tenho muita estima, não me parece correcta. A China só não foi tão expansionista quanto a Rússia, porque nos últimos séculos teve muitos problemas internos, o que impediu a sua modernização, tal como a que ocorreu no Japão no séc. XIX, e permitiu a expansão de potências estrangeiras na sua esfera de influência. A rápida modernização da China e a sua crescente necessidade de matérias-primas, a necessidade do Partido Comunista manter o seu poder, vai levar (como acontece invariavelmente na História com potências emergentes) a que entre em rota de colisão com uma potência estabelecida.
Para a Alemanha/Prússia a sua afirmação foi feita (primeiro) à custa do Império Austro-Húngaro e depois com a maior potência continental (França). Com o Japão foi primeiro a Rússia e depois os Aliados/EUA. A própria Rússia fê-lo primeiro à custa da Comunidade Polaco-Lituana, e mais tarde do Império Otomano e da Suécia, na Europa. A China de Mao enfrentou os americanos na Coreia, os vietnamitas, os indianos, e esteve perto duma guerra com a URSS por causa do Vietname. Além disso invadiu o Tibete. Achar que a China não é expansionista apenas porque é um gigante adormecido é não perceber que o pós-Maoismo é uma doutrina expansionista e hegemonista. Só se evita a expansão chinesa enquanto esta se manter num estado de fraqueza. A China mesmo no tempo de Mao foi um instigador de instabilidade em muitas partes do mundo e continuará a tentar voltar a ser o Império mais poderoso do mundo.
O alvo mais fácil parece ser para sul, mas isso é apenas se não tivermos em conta que as relações comerciais com o Ocidente são o que dá vigor à economia chinesa, e ao entrar em conflicto com o Ocidente põe em causa toda a sua economia. Já para norte, ou para a Ásia Central, apesar de parecer mais dificil, o avanço não põe me causa relações comerciais muito importantes, uma vez que as trocas entre Rússia e China são fracas e são maioritariamente matérias-primas. Obviamente se não houver uma tomada de posição do Ocidente em favor da Rússia, algo que Putin está a facilitar de forma acelarada.