O estudo do que se passou é falível, pelo que o estudo do que poderia ter sido o é mil vezes mais.
Ainda assim:
Temos que considerar várias coisas.
A Guiné é uma realidade muito específica.
O governo poderia em primeiro lugar passar á autonomia administrativa onde houvesse paz. Isto implicava logo dividir o PAIGC pela raiz. Como em Cabo Verde não havia guerra, o território passaria a região autónoma, completamente separada da Guiné. Isso levaria a divisões dentro do PAIGC, ainda maiores que as que já existiam antes da morte de Amilcar Cabral, que foi ao que tudo indica morto por causa das guerrilhas internas que continuam até hoje.
A situação em Angola estava controlada, por muito que haja quem pretende distorcer a história. O processo passou por comprar a UNITA e pôr a UNITA a lutar contra o comunistas pró-soviéticos do MPLA, dando poder à étnia Ovimbundo (maioritária).
Com a autonomia administrativa em Angola, as coisas poderiam no entanto atingir um ponto complicado por causa da minoria branca, que era minoria mas era muito significativa.
Com autonomia administrativa, a possibilidade de uma "independência branca" assumia uma dimensão diferente.
Em Moçambique, em Lourenço Marques, a guerra era uma realidade mais longinqua que em Lisboa. Era uma coisa que acontecia no norte e os soldados vinham da metropole para lutar.
Quando aconteceu o 25 de Abril, demorou vários dias até os portugueses de lá perceberem as consequências do que se estava a passar.
De qualquer das formas, se um governo militar existisse em Portugal, sem cair sob o dominio ou influência de militares alinhados com a União Soviética, nada do que aconteceu tinha acontecido.
Havia militares que acreditavam que se deveria deixar a Guiné-Bissau ser independente. O país tinha declarado a independência numa cabana de palha na região mais desabitada do país, mas os países comunistas e os países nordicos consideraram-na legítima.
Deixar a Guiné ser independente poderia servir de antidoto, principalmente se o país caísse em guerra civil e um regime comunista tomasse o poder.
Como sabemos, com a saída dos portugueses começaram os massacres por parte da etnia Balanta contra as etnias que não tinham apoiado o PAIGC e a situação no país rapidamente ficou ainda pior que no tempo dos portugueses.
Se a Guiné Bissau entrassem rapidamente em colapso, e entraria em três ou quatro anos, isso poderia servir para um governo português mais liberal mostrar que tinha razão.
Quanto ao armamento:
A ideia de que os nossos soldados tinham armas inferiores, é muito resultado da propaganda da altura. Tentou-se (com algum sucesso) dizer que o material de guerra português não prestava.
Corria o boato de que as G3 feitas em Portugal eram feitas de sucata de má qualidade recolhida nos ferro-velhos de Lisboa.
Estas versões eram passadas pela rádio comunista de Argel, capitaneada pelo Manuel Alegre e outros vendidos como ele.
Era evidentemente mentira.
O boom economico dos anos 60 tinha dado a Portugal uma capacidade economica com que ninguém contaria quando a guerra começou.
Lembro que viaturas como a Chaimite, foram produzidas em números muito pequenos, porque eram relativamente recentes na altura. Uma Chaimite fabricada em Portugal ficava muito mais barata que uma auto-metralhadora Panhard AML.
Com o apoio de Portugal a Israel em 1973, os americanos tinham secretamente autorizado a entrega a Portugal de material de guerra moderno. Portugal recebeu através de Israel mísseis anti-aéreos Redeye (que não foram entregues por causa do 25 de Abril).
Isso poderia ter reduzido o medo de que o PAIGC utilizasse os MiG-21 que teria recebido (eram na realidade aviões da Guiné-Konacry, um país que estava em guerra não declarada contra Portugal).
Os Aviocar que só foram entregues depois do 25 de Abril, teriam dado a Portugal capacidade para colocar unidades do escalão pelotão em qualquer ponto de Angola e extrai-los, utilizando pistas semi-preparadas.
As 10 corvetas, 4 fragatas e 4 submarinos teriam garantido a impermeabilidade das fronteiras marítimas.
As armas adquiridas por Portugal era armas adequadas ao combate em guerras de baixa intensidade. Parte dessas armas nunca foram utilizadas, mas mesmo assim os portugueses foram os mais eficientes neste tipo de combate.
Logo, isto implica que seriamos sempre um osso dificil de roer. Mas um país para lutar precisa de saber porquê. E um país controlado por uma ditadura sufocante, não tem como arranjar forças para lutar durante muitos anos.
O regime, criou as condições e fez a cama onde se deitou.
A nossa incapacidade para mudar, revelou-se como em outros tempos, a razão da nossa derrota no final.