« Responder #220 em: Fevereiro 24, 2008, 04:01:09 pm »
Entrevista CM: Manuel Pinho
Melhor indicador de mudança é a falência e criação de empresasCorreio da Manhã – Já bateu o recorde de permanência como ministro da Economia.
Manuel Pinho – Exactamente.
- Já há muito tempo que ninguém estava tanto tempo neste cargo.
- Penso que há mais de trinta anos que ninguém estava nesta pasta tanto tempo.
- É um recorde difícil de igualar. Isto apesar de todas as críticas da oposição. Dizem que é um ministro ausente, que não vai ao Parlamento, etc.
- É natural que a oposição critique. Aliás, é para isso que a oposição existe. Eu fui ao longo de três anos mais de quinze vezes ao Parlamento e naturalmente estou totalmente disponível para ir lá as vezes que forem necessárias. Estive a semana passada na Comissão de Economia, estarei no próximo dia 14 de Março no plenário. Naturalmente estou sempre muito disponível para ir ao Parlamento, é essa a minha obrigação.
- Mas como é justifica este apontar do dedo em relação ao ministro da Economia que não existe com outros colegas seus do Governo?
- Eu não sinto isso. A função da oposição é criticar o Governo e apresentar propostas alternativas. Infelizmente, em relação a propostas alternativas não tem apresentado. É uma pena. No que diz respeito a criticar o Governo está no seu direito.
- E os empresários portugueses. Veja o caso de Henrique Neto. Diz que não o recebe, que não responde às suas cartas, que não tem uma agenda ligada às pequenas e médias empresas e à indústria. Que está dedicado exclusivamente aos PIN e às energias renováveis.
- Vamos por partes. Henrique Neto também é livre de ter as opiniões que entender, não sou eu que as vou comentar. No que diz respeito às PME, recordo que durante a Presidência portuguesa foi aprovada a nova política europeia para as PME. E nós fizemos questão que isso sucedesse durante a nossa Presidência. As PME são a coluna vertebral da economia europeia e também da economia portuguesa e são uma grande prioridade. E por essa ocasião, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, manifestou publicamente que a política de PME portuguesa é um verdadeiro exemplo.
- Essa nova política europeia não é apenas mais uma promessa? É uma boa política?
- A Europa tem uma boa política para as PME e isso, em grande medida, justifica a melhoria de competitividade na Europa. Repare que a Europa é o maior exportador de produtos manufacturados do mundo. Também nessa ocasião o vice-presidente da Comissão afirmou, em mais do que uma ocasião, que Portugal é o País da Europa que alinhou mais rapidamente a sua política de PME com a política europeia. De facto, tenho um grande orgulho em que a nova política europeia para as PME tenha sido aprovada durante a Presidência portuguesa. Naturalmente é gratificante ouvir este reconhecimento do presidente Durão Barroso e do vice-presidente.
- E as PME portuguesas como é que reagiram a essa nova política?
- Havia um aspecto muito importante para as PME. Que na transição para este novo quadro comunitário, portanto, com a aplicação do QREN tudo corresse conforme previsto. Ora bem, a transição do PRIME para o QREN correu muito bem, sem problemas. Para mim a política de PME é um elemento verdadeiramente fundamental da política económica. E se o investimento está a evoluir positivamente e as exportações também isso deve-se ao sector empresarial e às PME em particular.
- Refere-se a que sectores?
- Vou dar-lhe dois exemplos que são muito importantes. Duas indústrias tradicionais, calçado e têxtil e vestuário, que depois de anos a fio em que as exportações baixaram e em que aumentou o desemprego, a situação no ano de 2006 estabilizou e estes dois sectores aumentaram as suas exportações em 2007. Eu creio que isso é um facto muito importante porque são dos sectores mais expostos à globalização. São sectores que têm de suportar a concorrência da China, da Índia, e, no entanto, através da sua modernização, qualificação, capacidade de inovação e grande agressividade em mercados externos conseguiram aumentar as suas exportações. São tipicamente dois sectores de PME e eu estou com esses sectores não só em termos de política mas também de proximidade.
- Essa é a crítica que lhe fazem. De estar longe ou ausente.
- Fui a Paris ao Salão da Moda, porque vão estar lá alguns criadores portugueses e eu quero apoiá-los e ao mesmo tempo fazer campanhas de promoção da imagem do País e na quarta-feira estarei em Milão na Feira do Calçado. Porque também não pode ser só políticas em termos abstractos, também este apoio concreto é importante. E na conjuntura em que vivemos todos os sinais são importantes para mostrar proximidade e apoio às PME. Por exemplo, no final do ano, muitas das PME dos sectores tradicionais estavam a planear as suas acções para o primeiro trimestre de 2008 e ainda não tinham apresentado as suas candidaturas nem o podiam fazer. Ora, tomou-se a iniciativa de antecipar nove milhões de euros para acções de promoção destes sectores tradicionais. É muito importante na conjuntura em que vivemos. Não só neste fase de transformação da economia portuguesa, mas dada a conjuntura internacional, é muito importante este grande apoio às PME.
- Faliram duas mil empresas em Portugal em 2007. A economia portuguesa está a renovar-se, obviamente. Mas a velocidade dessa renovação é lenta ou está a ser muito rápida?
- Creio que o melhor indicador da mudança, que faz parte do movimento de transformação de qualquer sociedade ou economia, é a falência e a criação de empresas. O que é fundamental é facilitar, é apoiar os casos de destruição de empresas que criam situações sociais graves, por um lado, e por outro lado facilitar o mais possível a criação de novas empresas.
- Está a falar na empresa na hora?
- É o caso da empresa na hora, que é um grande sucesso. Mas o melhor indicador para aferir o processo de renovação do tecido empresarial, e creio que aqui estamos todos de acordo, é o investimento. Ora o investimento empresarial em 2007 foi o mais elevado desde 1998. Nós tivemos uma situação negativa no que diz respeito ao investimento durante a primeira metade desta década. Para lhe dar um número exacto basta ver que durante os dois anteriores Governos o investimento baixou um total acumulado de dez pontos percentuais. Dez pontos percentuais ao longo de três anos. É uma situação muito complexa.
- Mais uma pesada herança?
- Repare, herdámos não só o problema das finanças públicas como havia uma dinâmica muito negativa das exportações, por um lado, e do investimento também. Ora bem, foi possível estancar as situações em relação às exportações e ao investimento e agora a boa novidade é o comportamento positivo do investimento em 2007. E tudo indica que em 2008 esta tendência vai continuar. Aliás, o INE tem uma estimativa para o crescimento do investimento que é extremamente positiva. Eu próprio olho para essa estimativa com alguma reserva. Seria o primeiro a gostar que os números se confirmassem. A minha função é fazer com que isso seja uma realidade, mas no entanto encaro a realidade com a prudência que o assunto aconselha.
- Esse investimento implica que haja mais mão-de-obra qualificada. Os esforços na qualificação dos portugueses já se começam a sentir?
- O melhor investimento que um País pode fazer é, sem dúvida alguma, na qualificação. Existem alguns sectores em que há falta de mão-de-obra, por exemplo, na área das tecnologias de informação. Não temos jovens suficientes e por isso o melhor investimento que se pode fazer é nas qualificações. É extremamente positivo o aumento do número de alunos no secundário, o aumento dos cursos profissionais. Eu penso que isso é extremamente importante. Nós estamos a aproximar-nos dos padrões europeus em termos de importância dos cursos profissionais. E depois há duas experiências que foram recordadas no dia em que o Governo fez três anos: o Inove Jovem e o Inove Contacto. São duas bandeiras.
- A economia já reflecte essa qualificação? O investimento já tem mão-de-obra qualificada em quase todas as áreas?
- Os sectores em que está a haver mais investimento são os sectores com maior grau de intensidade tecnológica. Fazem apelo a gente cada vez mais qualificada. É necessário conseguirmos criar a mão-de-obra com essas habilitações. Ao mesmo tempo não podemos esquecer a qualificação da mão-de-obra existente. E, em alguns projectos, a capacidade de aperfeiçoamento da nossa mão-de-obra tem sido absolutamente decisiva para o seu sucesso.
- Tem algum caso concreto?
- Vou dar-lhe um exemplo muito claro. A Auto-Europa. A Volkswagen está a lançar este ano na Auto-Europa o maior investimento a nível mundial do grupo. A Auto-Europa que há três anos estava em risco.
- De fechar.
- Sim. A Auto-Europa está a produzir agora o cabriolet, o EOS, que está a chegar às 100 mil unidades. No dia 3 de Março vai apresentar no Salão de Geneve o Scirocco, que também é feito exclusivamente em Portugal e há muito boas perspectivas de serem produzidos mais dois modelos. Ora isso reflecte, em grande medida, por um lado a flexibilidade que foi possível encontrar no quadro daquela empresa, mas por outro lado a grande disponibilidade ao aperfeiçoamento profissional dos trabalhadores.
- A formação do pessoal é exemplar?
- Deixe-me dizer-lhe isto. Recentemente estive em Wolfsburgo com os patrões da Auto-Europa e eles vão fazer academias de formação na Rússia decalcadas do modelo português. Porque dizem que o modelo de formação da Auto-Europa é exemplar. E até me convidaram para inaugurar lá essas academias de formação porque dizem que a experiência portuguesa de formação profissional correu tão bem que é um modelo a repetir. Mas também mostra a grande disponibilidade de aperfeiçoamento profissional dos trabalhadores da Auto-Europa.
- Não acha normal que o desemprego aumente ainda mais com esta renovação do tecido económico?
- Repare. Verificou-se esse grande aumento do desemprego durante os dois anteriores Governos. Desde o início de 2003 até princípio de 2005 a taxa de desemprego aumentou de 4,5 por cento para 7,5 por cento. Durante este período de cerca de três anos foram destruídos cerca de 65 mil postos de trabalho. Passados mais três anos, temos a taxa de desemprego em 7,8 por cento. Mas com uma diferença. Foram criados 95 postos de trabalho.
- O que é que isso mostra?
- Mostra, por um lado, que a taxa de desemprego aumentou dez vezes menos durante estes três anos do que nos três anos anteriores e que há um processo de criação de emprego agora quando havia um processo de destruição anteriormente. Ao mesmo tempo verifica-se que o crescimento da economia ainda não é suficiente para trazer a taxa de desemprego para baixo. O objectivo é criar 150 mil empregos líquidos. O desafio é manter o crescimento a este nível e porventura aumentá-lo por forma a aumentar o emprego.
- A economia portuguesa cresceu 1,9 em 2007.
- Bem, 1,9 é a média de 2007. No último trimestre foi de 2.
- Com a crise financeira internacional e o arrefecimento da economia europeia as metas de crescimento de Portugal para 2008 não são muito optimistas? Haverá uma revisão em baixa ou não?
- A quem incube fazer previsões sobre o crescimento é ao INE e ao Banco de Portugal. Eu não vou fazer previsões. O que eu quero manifestar é a minha confiança na capacidade da economia portuguesa reagir. Toda a gente diz, políticos da oposição e do Governo, que sem dúvida nenhuma a nossa economia está melhor equipada hoje do que estava há três anos para reagir a esta conjuntura. O que seria de nós se tivéssemos as finanças públicas, as exportações e o investimento como estavam há três anos e tivéssemos de enfrentar uma situação como esta. O que seria de nós? Todos reconhecem que a economia portuguesa melhor preparada.
- Mas a situação internacional é grave e Portugal tem uma economia muito aberta e vulnerável.
- A situação internacional é sobretudo marcada pela incerteza. Porque acabam de ser revelados dados sobre o crescimento nos Estados Unidos o ano passado e o crescimento foi de 2,5 por cento. Portanto, não está de forma alguma em recessão uma economia que está a crescer a 2,5 por cento. A economia espanhola está a crescer a mais de 3 por cento. Creio que a atitude correcta é manifestar confiança na economia portuguesa e aumentar ainda mais todo o tipo de apoios e de proximidade das empresas.
- Em Portugal pensa-me sempre muito no Estado para resolver crises.
- As empresas é que são as grandes obreiras da recuperação da nossa economia. Se estamos a crescer a 2 por cento, o sector empresarial está a crescer mais do que 2 por cento. É o próprio Banco de Portugal que diz que o sector empresarial está a crescer pelo menos a 2,5 por cento, ou seja, já ao ritmo da Zona Euro. O que sucede é que nós não temos alternativa. Temos de continuar com este saneamento das finanças públicas e isso tem efeito sobre o crescimento.
- Não acha que o Estado ainda se mete muito na economia. Não é um obstáculo ao próprio desenvolvimento do mercado?
- Os números indicam que a intervenção do Estado, por exemplo, medida pela participação do Estado enquanto accionista nas empresas é muito menor em Portugal do que na média da União Europeia. Para lhe dar um número exacto, no que diz respeito ao sector energético Portugal é um dos três países da Europa onde a presença do Estado é menor.
- Não fazia ideia.
- No sector bancário a intervenção do Estado é muito maior em França, em Espanha há as Caixas, que são muito próximas do poder político, e em Itália o Estado tem uma enorme presença no sector financeiro. Em diversos sectores, enquanto accionista, o Estado português tem uma presença menor do que em muitos países europeus.
- Apesar do Simplex, a máquina do Estado ainda cria muitos obstáculos às empresas?
- A luta contra a burocracia é uma luta que nunca acaba. Todo o esforço que se faz nessa frente é necessário continuá-lo e ao mesmo tempo noto com muito agrado que Portugal é considerado o segundo País europeu em termos de e-governement. A via é esta. É aprofundar o Simplex e reduzir o mais possível a burocracia.
- A presença do Estado no sector energético vai ser reduzida?
- Portugal já está numa situação em que não deve reduzir. O sector da energia é um sector com uma importância verdadeiramente estratégica, mais do nunca, e acho que não seria nem prudente nem aconselhável o Estado reduzir a sua presença.
- Não vai reduzir na EDP e na REN?
- Sobretudo na EDP e na REN.
- Mas na REN havia uma expectativa do Estado poderia ficar com uma participação muito menor.
- O senhor primeiro-ministro pronunciou-se acerca disso e foi muito claro. Quer sobre a REN quer sobre a EDP. E sobre isso não vale a pena dizer mais nada. E note-se que na REN nós somos um dos três países na Europa em que fizemos o destacamento dos activos de transporte e armazenamento de gás e electricidade para uma empresa e depois juntámos os de gás e de electricidade nessa mesma empresa e em terceiro lugar pusemos essa empresa na bolsa. Ora só há mais dois países na Europa que o tenham feito. E portanto não se justifica neste momento ir além disso. Tanto mais que o desafio energético é um desafio verdadeiramente central nas sociedades modernos.
- Há uma grande aposta nas energias renováveis e agora nas hídricas com as novas barragens. Como é que está a avançar esse processo? Vai andar a sério?
- Vai avançar com grande determinação. A Comissão Europeia estabeleceu os objectivos até 2020 em termos de energias renováveis para todos os países europeus. A Portugal foi-lhe fixado o quinto objectivo mais ambicioso em termos de produção de energia a partir de fontes renováveis. E se é da Europa pode-se dizer que é do mundo. Mais do que Portugal temos a Suécia, Áustria, Dinamarca e a Lituânia. O resto é menos ou muito menos do que Portugal.
- E qual é o valor desse objectivo?
- O objectivo é de 31 por cento. Gostava de fazer aqui uma clarificação porque se fala muito em 45 por cento, que é o nosso objectivo para 2010. Pode parecer um contrasenso, mas não é. Quarenta e cinco por cento é a produção de electricidade a partir de fontes renováveis. Trinta e um é mais do que electricidade. É toda a energia primária.
- Não é um objectivo ambicioso?
- Repare. Trinta e um por cento para Portugal compara com 16 por cento para o Reino Unido, 21 por cento da Alemanha. A Portugal foi fixada uma meta muito mais exigente do que aos outros países. Acredito muito sinceramente que Portugal que vai lá chegar.
- Não há um contrasenso no que se está a fazer na economia e na energia, por exemplo, e o resto do País? As barragens estão a ser contestadas, há providências cautelares, projectos turísticos suspensos. Não há um desfasamento?
- Honestamente não concordo com isso. E não vale a pena generalizar. Vamos olhar para a energia hídrica. Portugal tem uma grande riqueza em termos de água e de vento. Não aproveitarmos a água e o vento seria o equivalente à Venezuela não aproveitar o petróleo. Houve uma grande aposta na energia hídrica no antigo regime, até ao 25 de Abril. E depois, inexplicavelmente, esta aposta foi abandonada. Portugal, neste momento, aproveita apenas 45 por cento dos seus recursos hídricos, quando a média dos países europeus é de 70 por cento.
- É muito pouco.
- Isto mostra bem que nós não queremos, no que diz respeito ao hídrico, fazer algo que seja mais do que a média. Apenas queremos retomar um projecto que é muito sensato, que é muito bom em todos os aspectos, um forma de produção de electricidade muito económica, é bom para estabilização dos leitos dos rios, é bom para o combate aos incêndios, é bom para estabilizar as populações. Nós apenas queremos chegar à média europeia. Não queremos ir além disso. Cheguemos nós à media europeia. É esta a minha missão. Juntamente com o vento, resolvemos grande parte do nosso desafio energético nas fontes renováveis. Portanto, não me parece justo argumentar que há um desfasamento entre os objectivos políticos e o País.
- Mas não lhe parece que existem no País forças objectivamente de bloqueio a todo esse processo? Justiça, ambientalistas?
- Há várias forças que muitas vezes tentam travar o progresso da sociedade. Eu creio que a aposta no hídrico é um excelente exemplo. Porque o que se está a pretender fazer é uma política sensata, uma política que faz sentido. Uma política boa para os portugueses, uma política em que não queremos ser pioneiros. Se atingirmos a média europeia em recursos hídricos isso já resolve o nosso problema. Depois é necessário criarmos fontes de produção de energia que sejam baratas para as famílias e para as empresas. Além disso, antes da selecção das novas dez barragens foi feita uma avaliação estratégica importante do ponto vista ambiental. Ou seja, não se apontou para todos os projectos potenciais. Dos potenciais, seleccionaram-se os dez com menos impacto ambiental. E esses trabalhos foram feitos por comissões independentes.
- Mas no campo do turismo chovem os protestos contra os novos empreendimentos. Não há muitas forças a travar o progresso por tudo e por nada?
- Eu acho que em todos os países há sempre uma certa tensão entre o antigo e o novo, entre o passado e o futuro. Creio que não é justo estar a fazer generalizações. Penso que há um grande apoio para este movimento de progresso no nosso País. Em todas as sociedades, em todos os momentos da história, há sectores que têm uma dificuldade maior em apanhar o movimento.
- Mas com esses obstáculos os projectos demoram anos e afastam muitos investidores. Não é verdade?
- Existe alguma tensão entre a grande vontade que o Governo e os empresários têm em fazer andar estas realidades para a frente. Faço notar que estamos a falar de projectos muito sensatos. Quando estamos a falar dos projectos da área turística nós queremos o contrário da massificação que se está a verificar em alguns países, nomeadamente em Espanha. Portugal é um País de pequena dimensão e a nossa vantagem está definitivamente na baixa densidade de construção, de projectos de grande qualidade e o que se está aqui a fazer é o oposto de um modelo que se desenvolveu em vários países e mesmo em Portugal nos anos oitenta.
- Como no Algarve.
- Exacto. E portanto é difícil perceber como é que projectos que em termos ambientais têm as máximas salvaguardas são contestados. Em todo o caso não podemos baixar os braços e temos de continuar. E porque estes grandes projectos são geradores de emprego. O que está aqui em risco é o emprego e a qualificação do emprego em zonas do País que necessitam dele.
- Como no Alentejo?
- Sim. O Alentejo está a viver uma transformação que é muito impressionante. E não é só na área turística. Há uma série de projectos no litoral alentejano, depois há dez projectos entre Évora e o Alqueva, há este enorme desenvolvimento na área de Sines, que se vai transformar no sexto centro petroquímico a nível europeu. E ainda há que ter em conta os dois aeroportos, Beja e Alcochete, o TGV, a auto-estrada de Sines a Évora e depois a Espanha. Tudo isto representa uma transformação enorme de uma região do País que se atrasou ao longo de décadas e que agora tem uma grande oportunidade. E quando tentamos obstaculizar estes projectos devemos acima de tudo pensar no bem estar das populações que finalmente vão ter acesso a melhores empregos e a integração numa realidade diferente.
- Qual é o retorno das campanhas de promoção de Portugal? Nomeadamente do Allgarve, alvo de tantas críticas?
- Veja só. Nós este ano atingimos pela primeira vez na nossa história os doze milhões de turistas. Isto significa 15 por cento mais do que no ano do Euro 2004. E no Algarve houve um aumento brutal não só do número de turistas como das receitas. O número de hotéis de cinco estrelas no Algarve vai duplicar em quatro ou cinco anos. O conjunto de eventos no ano passado teve um sucesso assinalável. De tal forma que as próprias câmaras estão a fazer pressão para que seja repetido, melhorado o programa, que vai ser anunciado na terceira semana de Março. Vai ser muito mais rico do que o do ano passado e conta com uma colaboração muito activa das câmaras.
- O que é que vai fazer em relação ao Casino de Lisboa?
- Entreguei à Procuradoria-Geral da República a legalidade do decreto-lei do jogo. A minha decisão será em função dessa resposta.
- Mas o que é que pensa da situação?
- Eu posso ter uma opinião pessoal, mas eu desempenho um cargo político e portanto não tenho o direito de expressar a minha opinião pessoal. Leio, registo o que leio. E espero agora a resposta da PGR sobre a legalidade da situação.
- Mas respeitará a posição da PGR?
- Naturalmente que terei de aplicar a lei. Mas não me incumbe, dada a minha posição política, estar a dar a minha opinião pessoal sobre esta situação.
- Esta primeira experiência como governante está a ser gratificante?
- De facto é a minha primeira experiência de política activa.
- E está a gostar? Está a ser gratificante?
- Não interessa se está a ser gratificante. Honestamente, as reacções pessoais ficarão para um dia que decida escrever as minhas memórias. O que interessa é quando alguém aceita um desafio cumpri-lo. Cumpri-lo com grande dedicação, com grande entrega e com resultados. Eu aceitei este desafio que me foi posto pelo primeiro-ministro e estou totalmente empenhado em que dê bons resultados e creio que os resultados vêem-se. Eu repito a pergunta: o que seria de nós se tivéssemos de enfrentar esta conjuntura internacional com a economia como estava em 2005? Agora vêem-se resultados, no meu Ministério não há casos, portanto seguimos em frente.
- É um Ministério transparente?
- Transparente.
- Não fica afectado pelos ataques e pelas muitas críticas?
- Não fico afectado por essas críticas. A minha actuação aqui é transparente, eu defini objectivos. E os resultados vêem-se em todas as áreas. Repare. Esta semana a BBC, todos os dias, no telejornal da hora de almoço, está a transmitir um programa de 12 minutos, sempre diferente, sobre o sucesso de Portugal nas energias renováveis. Isto em termos de publicidade do País não tem preço. Não há campanha de publicidade que valha isto. Primeiro foi sobre o solar, depois eólicas, ondas, hídrico e acabou com uma entrevista comigo. Imagine que me pediram para dar conselhos ao Governo inglês. Isto são coisas positivas porque mostra que este nosso País é capaz de resolver os problemas e que não há tantas forças de bloqueio como às vezes se faz crer.
- Tenho ideia que há muitas.
- A minha função enquanto político é ultrapassar as dificuldades e atingir os resultados.
CONTRA VENTOS E MARÉS
Manuel Pinho é um homem determinado como ministro da Economia. Contra ventos e marés está há três anos no Ministério da rua da Horta Seca. Bem pode gritar a Oposição, bem podem gritar alguns empresários. O ministro tem respostas prontas e muito bem organizadas para todas as questões. E para que o jornalista ficasse com todos os dados disponíveis dos grandes projectos de interesse nacional, os famosos PIN, Manuel Pinho fez questão de chamar ao seu gabinete os técnicos responsáveis pelos projectos industriais, energéticos e de turismo. Um a um deram números, mostraram gráficos. Depois falou o ministro. Orgulhoso não só com o investimento empresarial como com o sucesso nas energias renováveis. E mais orgulhoso ainda pelo facto de a BBC ter dedicado 12 minutos por dia da semana passada, no telejornal da hora de almoço, à forma como Portugal conseguiu dar um enorme salto nesta área, com o jornalista inglês a pedir ao ministro para dar uns conselhos a Gordon Brown.
PERFIL
Manuel António Gomes de Almeida de Pinho nasceu no dia 28 de Outubro de 1954. Licenciou-se em Economia em 1976 no Instituto Superior de Economia e fez o doutoramento nessa área na Universidade de Paris X em 1983. Foi director-geral do Tesouro, presidente da Junta do Crédito Público, vice-presidente da CMVM, administrador do Banco Europeu de Investimento, presidente da Comissão de Fiscalização da Caixa Geral de Depósitos. Esteve no FMI, em Washington, e foi professor da Universidade Católica e do Instituto Superior de Economia. Exerceu vários cargos no grupo Espírito Santo e é desde Março de 2005 ministro da Economia e Inovação.
António Ribeiro Ferreira