Submarinos, missões em tempo de paz

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J.Ricardo

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« Responder #15 em: Outubro 26, 2004, 11:59:06 am »
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Outra questão que seria interessante estudar, é até que ponto se pode reformar a marinha brasileira, enxugando-a, e reduzindo pessoal.


Papatango, se a marinha do Brasil for reduzida mais ainda, ela acaba!
Pelo tamanho do Brasil, ela já é muito pequena, temos poucas fragatas, temos poucos submarinos, poucas corvetas, enfim, tudo o que temos é pouco! Já é histórica a pressão do EUA para que transforme-mos nossa marinha em uma guarda-costeira.
Quanto ao SNA, só o fato de existir a pesquisa já resultou em vantagens tecnológicas para o Brasil, como o domínio do ciclo nuclear. E também a presença de submarinos poderia impor perdas a uma marinha hostil já no caminho para o Brasil, proibindo uma tranquila viagem para as nossas praias.
 

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Jorge Pereira

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« Responder #16 em: Abril 20, 2006, 04:08:43 pm »
Mais uma vez assistimos hoje a declarações do Dr. Miguel Cadilhe a insurgir-se contra a compra dos submarinos. Perguntava ele quais serão os benefícios da dita compra? Quais? Voltava a questionar.

Nada de novo, se viesse de um qualquer cidadão, mal informado em questões de defesa como é habitual. Agora o que me choca, mas não me surpreende, é o facto de virem de um indivíduo que deveria, em principio e como norma de bom senso, informar-se antes de dizer disparates como este. Alguém que já ocupou pelo menos duas vezes cargos de especial relevância em dois governos, num dos quais foi até decidida a compra dos tais submarinos. Alguém que já serviu as forças armadas, e segundo dizem chegou a ser até “Ranger” :roll:
Um dos primeiros erros do mundo moderno é presumir, profunda e tacitamente, que as coisas passadas se tornaram impossíveis.

Gilbert Chesterton, in 'O Que Há de Errado com o Mundo'






Cumprimentos
 

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comanche

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« Responder #17 em: Outubro 08, 2007, 12:47:34 pm »
24 horas na vida de um submarino que navega há 40 anos


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Numa qualquer Marinha da OTAN, o lugar do submarino "Barracuda" seria, quando muito, no museu, mas não em Portugal, onde este navio, que navega há 40 anos, tem que ser mantido no mar até à chegada dos dois novos submarinos, em 2010. O JN embarcou durante 24 horas, a partir de Sesimbra, no "Barracuda" e confirmou que nada há que se compare às duras condições de vida que se vivem a bordo.

Ali convivem diariamente 54 homens, num espaço exíguo, dias e dias sem ver a luz do Sol. A mudança entre o dia e a noite substituída pela luz vermelha que se acende quando oficialmente o Sol desaparece na superfície. "Com os novos submarinos as condições vão melhorar", sustenta o comandante do navio, o capitão-tenente Mamede Alves. Ou melhor, já se pode, por exemplo, tomar banho, mesmo que apenas de dois em dois dias.

Para quem entra no "Barracuda" o primeiro choque é o cheiro uma mistura de óleos, combustível, corpos que não vêem água há dias e dias, o ar rarefeito que concentra os odores. E para quem sai são os que estão à superfície que notam a a diferença. Inevitavelmente.

É uma arma pura, o "Barracuda", onde tudo é sacrificado à eficácia no combate, à discrição e ao silêncio, pois não obstante os 40 anos deste navio os princípios mantêm-se na guerra submarina.

Desce-se a torre e o submarino começa a mergulhar, à ordem, a água entra e a pressão lá fora, nas águas negras, vai aumentando gradualmente.

Há um silêncio quase mortal e a guarnição vai desenvolvendo as tarefas com uma rotina feita de muita disciplina e descontracção. "Com licença", é a frase que mais se ouve, face à exiguidade do espaço, as deslocações obrigando a manobras cuidadosas para não bater com a cabeça em qualquer manivela ou manómetro.

É meio da manhã e o cozinheiro prepara o almoço - naquele dia era bacalhau com grão e batatas - numa cozinha virada para as duas únicas e minúsculas casas de banho do navio. Numa delas, permanece uma embalagem de toalhetes. "É o nosso banho", explica um marinheiro. Há uns anos, o segredo eram os perfumes de feira, usados aos litros, vencidos pelos mais modernos "dodots".

O submarino vai continuando a mergulhar até chegar aos 200 metros, o manómetro a indicar a profundidade e as anteparas das portas a torcerem pela pressão. A segurança está garantida, mas a idade do "Barracuda" já não lhe permite fazer isto muitas vezes, que a resistência dos materiais tem limites, mas ninguém liga muito a não ser os jornalistas. Na sala de comando, os operadores de sonar escutam os sons que vêm das profundidades.

O navio vai regressando à superfície até aos 12 metros, para renovar o ar. O periscópio sobe e divisa-se Sesimbra. As horas passam e o cansaço chega, com os homens a rodarem por escala nas mesmas camas, nos mesmos colchões. Tem que ser assim.

Passaram 24 horas, o navio está à tona de água. As escotilhas são abertas. Por fim, o ar fresco para nós, que a guarnição prossegue a missão.  
 
 

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SSK

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« Responder #18 em: Outubro 12, 2007, 01:07:26 am »
Citação de: "comanche"
24 horas na vida de um submarino que navega há 40 anos


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Numa qualquer Marinha da OTAN, o lugar do submarino "Barracuda" seria, quando muito, no museu, mas não em Portugal, onde este navio, que navega há 40 anos, tem que ser mantido no mar até à chegada dos dois novos submarinos, em 2010. O JN embarcou durante 24 horas, a partir de Sesimbra, no "Barracuda" e confirmou que nada há que se compare às duras condições de vida que se vivem a bordo.

Ali convivem diariamente 54 homens, num espaço exíguo, dias e dias sem ver a luz do Sol. A mudança entre o dia e a noite substituída pela luz vermelha que se acende quando oficialmente o Sol desaparece na superfície. "Com os novos submarinos as condições vão melhorar", sustenta o comandante do navio, o capitão-tenente Mamede Alves. Ou melhor, já se pode, por exemplo, tomar banho, mesmo que apenas de dois em dois dias.

Para quem entra no "Barracuda" o primeiro choque é o cheiro uma mistura de óleos, combustível, corpos que não vêem água há dias e dias, o ar rarefeito que concentra os odores. E para quem sai são os que estão à superfície que notam a a diferença. Inevitavelmente.

É uma arma pura, o "Barracuda", onde tudo é sacrificado à eficácia no combate, à discrição e ao silêncio, pois não obstante os 40 anos deste navio os princípios mantêm-se na guerra submarina.

Desce-se a torre e o submarino começa a mergulhar, à ordem, a água entra e a pressão lá fora, nas águas negras, vai aumentando gradualmente.

Há um silêncio quase mortal e a guarnição vai desenvolvendo as tarefas com uma rotina feita de muita disciplina e descontracção. "Com licença", é a frase que mais se ouve, face à exiguidade do espaço, as deslocações obrigando a manobras cuidadosas para não bater com a cabeça em qualquer manivela ou manómetro.

É meio da manhã e o cozinheiro prepara o almoço - naquele dia era bacalhau com grão e batatas - numa cozinha virada para as duas únicas e minúsculas casas de banho do navio. Numa delas, permanece uma embalagem de toalhetes. "É o nosso banho", explica um marinheiro. Há uns anos, o segredo eram os perfumes de feira, usados aos litros, vencidos pelos mais modernos "dodots".

O submarino vai continuando a mergulhar até chegar aos 200 metros, o manómetro a indicar a profundidade e as anteparas das portas a torcerem pela pressão. A segurança está garantida, mas a idade do "Barracuda" já não lhe permite fazer isto muitas vezes, que a resistência dos materiais tem limites, mas ninguém liga muito a não ser os jornalistas. Na sala de comando, os operadores de sonar escutam os sons que vêm das profundidades.

O navio vai regressando à superfície até aos 12 metros, para renovar o ar. O periscópio sobe e divisa-se Sesimbra. As horas passam e o cansaço chega, com os homens a rodarem por escala nas mesmas camas, nos mesmos colchões. Tem que ser assim.

Passaram 24 horas, o navio está à tona de água. As escotilhas são abertas. Por fim, o ar fresco para nós, que a guarnição prossegue a missão.  
 


Não se esqueçam de dar uma vista de olhos na revista do JN deste fim-de-semana. Supostamente deverá sair uma reportagem fotográfica...
"Ele é invisível, livre de movimentos, de construção simples e barato. poderoso elemento de defesa, perigosíssimo para o adversário e seguro para quem dele se servir"
1º Ten Fontes Pereira de Melo
 

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SSK

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« Responder #19 em: Agosto 31, 2008, 05:26:09 pm »
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Vizinhos de Neptuno     

BARRACUDA

O Casual passou 24 horas a bordo do Barracuda nas provas de mar para perceber como vive a tripulação e como é organizado o dia-a-dia dentro de um submarino.

Sesimbra. Nove da manhã. Por trás do pontão esconde-se o Barracuda, o único submarino activo da Marinha Portuguesa. Do alto dos seus 40 ano, completados em Maio, assoma por cima da água. Lá dentro trabalham 54 submarinistas. Estão a fazer as provas de mar, isto é, a testar a máquina para aferir se tudo funciona como o desejável. O Barracuda é o último dos resistentes dos quatro submarinos encomendados por Portugal à França na década de 60. O tempo de vida útil era de 25 anos, mas agora, já quarentão, precisa de mais cuidados. Foi alvo de uma remodelação profunda, substituindo-se peças e acertando-se motores e baterias. Tem melhor sorte que os outros. O Delfim está encostado na Base do Alfeite, à espera de se tornar navio-museu, o Cachalote foi vendido ao Paquistão na década de 70, enquanto o Albacora foi desmantelado.
Por cima da escotilha está o comandante Mamede Alves. Tem 38 anos. Começou como chefe dos serviços de operações e, desde Outubro de 2005 que assume a chefia do submarino. Explica o tempo que os membros da esquadrilha passam debaixo do mar: “Em média são 120 dias de missão por ano, mas agora a actividade está um pouco mais reduzida. As missões podem chegar às três semanas sem ir a terra”. Um terço do ano no fundo do oceano, sem telemóveis, sem contacto com o exterior e condições de conforto muito duvidosas. No Barracuda nem existe a possibilidade dos submarinistas tomarem um duche. “Existe um chuveirito, mas só é utilizado caso um camarada se suje muito ou se o comandante tiver de sair do submarino para cumprimentar alguém”, explica um tenente. Também o tempo em que se fica atracado ao submarino é mais longo que o habitual: “A comissão mínima é de seis anos para se poder capitalizar o investimento”, explica o comandante. Só depois de um ou dois anos ao serviço é que um submarinista está completamente operacional. Os cursos de especialização variam entre os quatro e os 12 meses, dependendo do posto que se vai ocupar. “Não é incomum haver pessoas aqui com mais de dez anos de serviço”, afirma o comandante. E não é mesmo... Dêem-lhes um pouco de tempo e eles dão-se a conhecer.

O DIA-A-DIA NO BARRACUDA

Dentro do cilindro de metal (57,8 metros de comprimento e 6,8 de largura) a vida é feita de rotinas. O caos de válvulas, botões, cabos, escotilhas e maquinaria adquire uma certa ordem, pautada por tarefas constantes. De duas em duas horas um electricista vestido de fato-macaco cinzento tem de se esgueirar por uma portinhola estreita para verificar as baterias e o valor da densidade. “Parece que estão vestidos com fatos da NASA”, comentam no gozo alguns membros da tripulação.
Todas as funções para levar o Barracuda a bom porto têm hora marcada: de x em x horas há sempre um botão que precisa de ser carregado ou um mecanismo a ser accionado. Para além das actividades normais para manobrar a máquina, o comandante preparou exercícios para manter a tripulação ocupada: “É preciso aproveitar todo o tempo. Quem está preparado para o pior reage para o melhor”, atesta Mamede Alves. O objectivo é manter a tripulação bem treinada e pronta a responder a qualquer imprevisto. “Eu gosto muito deles, mas gosto mais de mim”, diz meio a brincar. Como reconhece Carlos Rodrigues, operador de sonar e armamento, “quem tiver o azar de fazer algo mal, põe todos os outros em risco”.

Dez da manha. O Barracuda continua ao largo de Sesimbra. Calibra-se o odómetro, instrumento que mede as distâncias percorridas. Só depois se podem fazer ao alto mar. O aparelho é essencial para se conseguir determinar a localização do submarino. “Se estiver descalibrado podemos ir para a 20 milhas do local previsto”, adianta um oficial. À medida que se vai entrando no oceano, sinaliza se na carta náutica a localização do Barracuda. “Também podemos obter a nossa localização através do GPS”, refere um elemento da sala de comando. Mas em águas profundas esta tecnologia não é eficiente. A “redundância” é um conceito importante debaixo do mar. Se uma máquina ou um procedimento falharem têm de se encontrar alternativas rápidas e fiáveis.

Onze da manhã. É dada a ordem para servir a primeira ronda do almoço. O Barracuda vai abandonando as águas calmas, protegidas pelo Cabo Espichel. À medida que navega à superfície rumo ao mar alto, o submarino abana cada vez mais. Pelo sim pelo não, há comprimidos para combater o enjoo guardados numa estante. “Quando andamos muito tempo a navegar à superfície e depois vamos para terra parece que continuamos dentro do mar”, diz um elemento da tripulação. Pelo corredor apertado passam submarinistas com travessas de comida, num autêntico número de equilibrismo e de perícia para não chocarem com os outros camaradas. Mas já estão habituados e conhecem todos os cantos. Contam até que no curso de especialização têm de andar de olhos vendados por aqueles labirintos de metal. A cozinha fica a meio do Barracuda, o que obriga a atravessar as áreas onde se opera a máquina para se chegar ao porão que serve de refeitório, de zona de descanso e de sala de convívio. O mesmo local onde estão os tubos dos torpedos, que servem de estrutura a meia dúzia de camas. Um espaço que serve ainda de despensa improvisada. “Beliches de quatro mesmo ao lado da mesa. É o sonho de qualquer um”, ironiza o tenente Almeida.
O oficial explica como o Barracuda está organizado: “Temos uma sala de comando, que é o cérebro do navio, onde são dadas todas as ordens”. É neste compartimento que está o sonar, o radar, a sala de comunicações e o periscópio. A informação dada por estes aparelhos e permanente cruzada para, numa mesa de trabalho, se assinalar tudo o que rodeia o submarino. O tenente continua: “Ao lado está a sala de controlo, que é o coração e os pulmões, onde são executadas as decisões”. Nesta sala a actividade ainda é calma. Tem de se esperar um pouco para a submersão. Só depois a instabilidade provocada pelas ondas desaparecera. Aproxima-se o meio dia, altura em que acontece o render da guarnição. O serviço está organizado em três turnos. Por cada quatro horas de trabalho, há oito de descanso, que pode ser interrompido por exercícios ou para a resolução de eventuais problemas. “Ainda no outro dia um dos nossos engenheiros teve de trabalhar vinte horas seguidas para resolver uma avaria”, conta um oficial.

E QUANDO A ESCOTILHA FECHA... Meio-dia. Algures por baixo do mar. O Barracuda já navega à cota periscópica, a cerca de 12 metros de profundidade. É servido o almoço para o outro turno. À mesa recordam-se operações militares que envolvam submarinos. Mas também se conversa sobre os inconvenientes da vida de submarinista. "Os mais novos têm dificuldade em manter urna relação afectiva estável. Agora está toda a gente habituada ao telemóvel e não conseguem estar quinze dias sem comunicar", argumenta um dos oficiais. Há os que não falam sobre este assunto, mantendo apenas uma expressão ausente no rosto. Ao jantar os ternas são os mesmos. Fala-se ainda da possibilidade de incluir mulheres na tripulação. Em princípio, ninguém tem nada contra, desde que existam condições para separar os dois géneros a bordo. Numa coisa concordam, o Barracuda não as tem. Quanto aos novos submarinos encomendados por Portugal, o Tridente e o Arpão, que entrarão ao serviço em 2010, talvez as tenham, dizem. Aliás, a expressão "quando vierem os novos..." é uma constante no discurso da tripulação.
A conversa é interrompida frequentemente por marinheiros que fornecem dados ao comandante. Algumas das informações obtêm resposta pronta sobre o que se deve fazer. Outras parecem apenas ficar registadas mentalmente por Mamede Alves. Finda a refeição, regressa-se ao trabalho. O próximo exercício está marcado para as 14 horas, altura em que acontecerá uma simulação de incêndio.
Na tripulação há militares que foram "voluntariamente obrigados" a ir para os submarinos, mas a maioria chegou por opção. O que os levou a escolher esta vida? O comandante dá o exemplo e explica como se consegue passar tanto tempo seguido no mar: "É uma questão de hábito". Mas não é tão simples quanto isso. "É um sentimento misto. Quando estou a navegar sinto a falta da família e, depois, quando estou em terra sinto saudades de navegar. É um bocado como aquela música do António Variações..."

Quinze horas. A tripulação prepara o teste com os torpedos. Sempre que se faz ao mar, o Barracuda vai armado. Acordam-se os que tentam dormir nas camas improvisadas na estrutura dos tubos. Os que repousam nos outros beliches são acordados pelo barulho, mas há os que têm sono de pedra. Antes de executarem os exercícios têm de desviar os víveres guardados por baixo dos tubos dos torpedos. Na sala de oficiais, o tenente Amílcar explica as motivações que o levaram a voluntariar-se: "Como vinham as novas unidades achei aliciante. Porque vão dar a oportunidade de começar do zero". Diz que as dificuldades são ultrapassadas com a mentalização. "O esforço maior é da nossa família", confessa.

Pouco falta para as 16 horas. À espera que comece o seu turno, o sargento Cerqueira está sentado na sala de controlo. Daqui a uns minutos vai ter que responder às ordens, zelar pela estabilidade do Barracuda e reagir a avarias. "Quando se fecha a escotilha temos de nos isolar do mundo lá fora. Se alguém estiver aqui com a cabeça lá fora as coisas não correm bem", assevera o sargento de 39 anos. Desde 1997 que está na esquadrilha. "Continuo o tempo que for preciso", garante. "Desde pequeno que gosto de submarinos". Também ele irá integrar uma das guarnições dos novos meios. "É um orgulho". Onze anos e o posto que ocupa ("um bocado como um centurião", compara), já o fizeram ver fracassos: "Há muitos que não se adaptam e não conseguem terminar sequer o curso de especialização". Contrariamente ao sargento Cerqueira, o cabo Sebastião não irá fazer a transição. Há 14 anos que é submarinista e foi atirado para essa carreira por imposição. "Vou ter pena de sair, mas quando estamos muito tempo no mar há saturação, cansaço... e as novas missões vão ser mais prolongadas", reconhece enquanto opera o sonar na sala de comando. Questionado sobre se a vida debaixo de mar torna mais difícil a vida em terra, o marinheiro de 40 anos responde: "Já me divorciei uma vez, não sei se foi por causa disso ou não. Casei novamente e ambos nos acostumámos". Enquanto fala tenta-se detectar navios mercantes que sirvam de alvos virtuais. "Temos um mercante? Boa. Vamos a ele", ordena entusiasmado Mamede Alves.
Na sala das máquinas, onde o ruído chega a ser ensurdecedor e as temperaturas ultrapassam facilmente os quarenta graus, o cabo Amaral refere que por estar ali dentro houve muitas coisas que lhe passaram ao lado. Desde 1995 que trabalha nos submarinos e não se voluntariou. "Mas somos militares, temos que cumprir", desabafa. "A idade vai pesando e já custa cá andar". E recorda o momento mais tenso que viveu dentro do Barracuda. "Foi em 2001, no mar do Norte. Um exercício a 146 metros de profundidade com um submarino de socorro semelhante ao que era para resgatar o Kursk. Criou algum receio porque tínhamos pouco conhecimento e tendo em conta o que aconteceu...". Referia-se ao acidente que aconteceu com o submarino nuclear russo em Agosto de 2000. O comandante entende que depois desse desastre o moral das tropas não foi afectado: "A tripulação está consciente dos riscos que corre. São riscos calculados"

"TEM AÍ UM BLOCO DE NOTAS?" 17 horas. O Barracuda mergulha para as profundezas. Vai descer até aos 5o metros. A sala de controlo está uma azáfama com o sargento Cerqueira a vociferar ordens para manter o equilíbrio do navio. Manobram-se os lemes e abrem-se e fecham-se válvulas, corno se de um órgão de tubos se tratasse. O submarino inclina-se e demora alguns minutos a chegar à profundidade pedida pelo comandante. Na calma das profundezas, Mamede Alves pede um bloco de notas para explicar os motivos para o investimento de quase mil milhões de euros em dois novos submarinos. Desenha um mapa de Portugal continental e ilhas e, ao lado, representa-os com pontinhos minúsculos dentro de círculos enormes que representam o território marítimo português. "Para fazer o controlo do mar temos de saber o que se passa debaixo do mar. Caso contrário não teremos o controlo efectivo do que se passa nas nossas águas". Defende que apesar de pertencer à NATO, o país tem de ter capacidade para reagir autonomamente e que ninguém sabe qual será a situação estratégica daqui a vinte anos, tempo que é pouco para se operacionalizar uma frota de submarinos. E fala do efeito dissuasor destes meios: "Estive numa operação de embargo no Adriático a bordo da fragata Vasco da Gama e quando não sabíamos a localização de um dos submarinos jugoslavos a tensão subia logo". Reconhece que há muita gente que tem uma opinião negativa sobre a relação custo/benefício dos submarinos. "Se calhar também temos um bocado de culpa porque não andamos a alardear as nossas missões. Não podemos mediatizar as nossas operações de combate ao narcotráfico. Conseguimos ouvir e ver o que se está a passar sem sermos vistos". É que a discrição é uma das maiores armas dos submarinos.
Não tarda a iluminação clara dará lugar a luzes avermelhadas, tipo sala de revelação fotográfica. O contraste serve para assinalar a passagem do dia para a noite e adaptar a visão à escuridão. Durante a madrugada, e já à cota periscópica, fazem-se turnos de 20 minutos em torno do periscópio. "É preciso estar-se sempre muito atento, por isso é que rodamos de 20 em 20 minutos", explica o tenente Almeida. Debaixo do mar observam os barcos que passam, registam o tipo de navio e, caso apareça alguma embarcação menos familiar, acoplam uma máquina fotográfica ao periscópio para o catalogarem.

Amanhece. A tripulação agita-se em tarefas. O regresso à superfície é um dos momentos mais complicados. Há sempre o receio de embater num barco. "Em 1995 batemos num", conta o cabo Sebastião. "Foi um momento de tensão. Estava a dormir e não sabia o que se passava. O pior aqui em baixo é não saber o que se está a passar". Na sala de comando as informações vindas do sonar, do radar e do periscópio são transmitidas a uma velocidade rápida. Na sala de controlo a concentração é total. Finalmente, o Barracuda atraca na Base do Alfeite, em Almada. O electricista José Gonçalves faz a sua última ronda pelo porão das baterias vestido com o seu fato-macaco cinzento ao estilo da NASA. "É anti-ácido por causa das baterias", explica. E diz orgulhoso: "Encosto, os a todas. Ao Albacora, ao Delfim e hei-de encostar o Barracuda. Quando vierem os novos..."
 
in  Diário Económico
29 de Agosto de 2008
"Ele é invisível, livre de movimentos, de construção simples e barato. poderoso elemento de defesa, perigosíssimo para o adversário e seguro para quem dele se servir"
1º Ten Fontes Pereira de Melo