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Conflitos => Conflitos do Passado e História Militar => Tópico iniciado por: Luso em Novembro 22, 2006, 11:05:23 pm

Título: 25 de Novembro 1975
Enviado por: Luso em Novembro 22, 2006, 11:05:23 pm
http://www.oinsurgente.org/ (http://www.oinsurgente.org/)

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Excerto do post “Faleceu Vadim Zagladin” de José Milhazes.

Com um ar bonacheirão, um sorriso permanente nos lábios, Vadim Zaglandin recebeu-me no edifício da Fundação Gorbatchov, em Moscovo,e até aceitou partilhar comigo alguns pormenores da sua viagem ao nosso país em Setembro de 1975.
Conteu-me ele que foi a Portugal travar os comunistas, entre os quais havia “cabeças mais quentes” que estavam dispostos a repetir, no nosso país, uma das mais importantes teses do marxismo-leninismo: “a transformação da revolução democrático-burguesa (neste caso, o 25 de Abril de 1974) em revolução socialista”

Vadim Zagladin recordou que, numa das numerosas reuniões que teve em Lisboa, encontrou um capitão de Abril, cujo nome não quis revelar, que lhe fez a seguinte proposta: “A Armada Soviética do Mar Mediterâneo bloqueia a foz do Tejo, para que os navios da NATO não possam chegar a Lisboa, e nós tomamos o poder no país”.

O dirigente soviético olhou para o oficial e perguntou-lhe: “Mas acha que a União Soviética vai dar início à terceira guerra mundial com os Estados Unidos por causa de Portugal? O vosso país é membro da NATO”.


Dava um dedinho para saber quem era esse "capitão de abril".
Juro pela saúde do JLRC! :mrgreen:
Título:
Enviado por: JLRC em Novembro 23, 2006, 12:02:03 am
Nem te respondo...
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Novembro 23, 2006, 10:21:32 am
Pois, isso era no tempo em que os Portugueses tinham a mania de serem de extrema-esquerda...era moda! Eu por vezes falo com o meu pai acerca desses tempos e eu consigo ver que nesse tempo as pessoas estavam muito exaltadas, queriam mudar um Portugal que esteve décadas sobre um regime conservador ruralista, para algo que (segundo eles) era uma sociedade melhor, um tal de socialismo. O problema é que ninguém sabia muito bem o que era e por isso abria caminho a todo o tipo de extremistas que numa situação normal seriam rotulados de imbecis. Acho que essa pequena história colocada pelo Luso, é um bom exemplo da imbecilidade de algumas pessoas, que no seu caminho para o "socialismo", não se importavam de transformarem Portugal num campo de conflito entre os dois blocos.  :?
Título:
Enviado por: ricardonunes em Dezembro 05, 2006, 11:04:32 am
Ainda o 25 de Novembro e o PCP

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Recordo, como se fosse hoje - para além do anotado no meu caderno de apontamentos -, o rosto do marechal Costa Gomes, quando, 20 anos depois do 25 de Abril, o entrevistei para uma série de crónicas históricas publicadas no DN. E recordo esse pormenor porquê? Porque, habitualmente, Costa Gomes controlava o seu discurso e as suas reacções, fossem quais fossem as perguntas. Naquele dia (na terceira de uma série de conversas que com ele tive), o ex-presidente da República reagiu com estranha irritação quando - após me ter dito que o 25 de Novembro fora "obra da extrema-esquerda, o PCP não teve nada a ver com isso" - eu lhe perguntei porque ele se não dirigira aos líderes desses partidos, para controlar as gentes que se haviam juntado frente às unidades militares importantes de Lisboa a pedir armas e a solicitar aos militares que se juntassem aos "revolucionários" (isto é, aos militares sublevados contra o poder legal).

É que, na sequência do pedido que eu lhe fizera, para que me revelasse os passos dados, desde que tivera conhecimento da sublevação dos pára-quedistas da Base de Tancos, da ocupação do comando operacional da Força Aérea, em Monsanto, Lisboa, da tomada de posição do Ralis, junto ao aeroporto de Lisboa e à via Norte e da RTP pela EPAM (unidade do Exército junto ao Lumiar), ele me respondera ter tomado a iniciativa de ligar para o secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, e para os dirigentes da Intersindical, a central sindical dos comunistas. Costa Gomes sentiu-se em contradição e respondeu- -me com mal disfarçada irritação, ilibando de novo o PCP.

Se outras dúvidas eu não tivesse - e não as tinha já, face aos depoimentos conhecidos de personalidades diversas - esta "confissão" de um homem tão inteligente e hábil como Costa Gomes era, para mim, um reconhecimento claro da realidade. Parece óbvio que, se o PCP nada tivesse a ver com os acontecimentos, a sindical central que ele dominava e as estruturas locais do partido não se teriam arriscado, mesmo tomando em conta o ambiente efervescente da época, não teriam avançado para as unidades militares - para incentivar ou para impedir a saída de militares, conforme a tendência conhecida de cada uma delas.

Ninguém, entre a classe política da época e os historiadores da conjuntura, conseguiu identificar (para além de Otelo, que nada fez ao lado dos revoltosos, e das gentes da Polícia Militar, esquerdistas aliados do PCP) que organizações esquerdistas estariam por detrás das movimentações militares e civis. Mas alguns "investigadores" insistem na tese do mistério, o que constitui um verdadeiro mistério dentro do mistério.

Vamos por partes. O presidente da República contacta Cunhal e a Intersindical; as cúpulas das unidades que se sublevam eram dominadas pelo PCP (os pára-quedistas de Tancos através do comandante fantoche que lá ficara, depois que 123 oficiais moderados a haviam abandonado, e do verdadeiro grupo-líder, os sargentos e a EPAM, que ocupa a RTP); o SDCI ( embrião dos novos serviços secretos militares), onde estavam sedeados dirigentes da Esquerda Militar, coordena movimentações. E nada desta gente tem a ver com o PCP?

Mais. Cunhal e o PCP classificarão sempre os moderados como "contra-revolucionários", nunca condenarão a sublevação, protege os militares detidos no rescaldo do golpe (enviando ao Palácio de Belém, para apelar a Costa Gomes, uma comissão dirigida por um comunista conhecido, professor Ruy Luís Gomes, ex-tutor político de Costa Gomes, quando jovem estudante de Matemáticas no Porto). Os militares fugidos à prisão (Duran Clemente, Costa Martins, Varela Gomes) serão protegidos pelas estruturas do PCP, enviados em fuga para uma residência de um conhecido militante comunista de Coimbra, professor de Direito Constitucional, na Beira Interior, passados a salto para Espanha, refugiados na embaixada cubana em Madrid, circulados depois por Moscovo e por Havana e, depois do regresso a Portugal, protegidos pelas câmaras comunistas da Grande Lisboa, e nada disto tem a ver com o PCP?

Se não tem, porque não abandonou à sua sorte o PCP essa extrema-esquerda aventureirista? Na verdade, apesar da confusão do momento e da época, uma parte dessa "extrema-esquerda" estava ligada ao PCP e muitos dos seus elementos eram apenas agentes infiltrados nela.

Muita gente que, hoje, ainda fala de mistério, sabe que esse mistério não existe. Apenas o alimenta por razões políticas de diversa ordem. É certo que o PCP não quis, também, uma guerra civil. É certo que lhe falhou o apoio, por muitos esperado, de Otelo, como chefe militar. É certo que Costa Gomes alinhou pelo lado da geopolítica da URSS - libertando África e largando a Península Ibérica. Mas o certo é também que foi com o PCP que Costa Gomes e o Grupo dos Nove negociaram nos dias 25 e 26 de Novembro de 1975. Na tese do "mistério" isso parece um movimento louco: negociar com quem não teria nada a ver com o assunto.

José Manuel Barroso
Jornalista


http://dn.sapo.pt/2006/12/05/opiniao/ai ... o_pcp.html (http://dn.sapo.pt/2006/12/05/opiniao/ainda_o_de_novembro_pcp.html)
Título:
Enviado por: Rui Elias em Dezembro 28, 2006, 04:10:27 pm
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Dava um dedinho para saber quem era esse "capitão de abril".


Durão Clemente
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Dezembro 28, 2006, 10:29:19 pm
Citação de: "Rui Elias"
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Dava um dedinho para saber quem era esse "capitão de abril".

Durão Clemente


Não é Durão, é Duran Clemente...era aquele tipo com ar de Cristo e/ou Che Guevara dos paraquedistas :lol:
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fprimeirasedicoes.expresso.clix.pt%2Fed1464%2Ffot%2Ff1-pu13-var.jpg&hash=a042bce08128434eb5404116dc0cd5dc)
Título:
Enviado por: JLRC em Dezembro 28, 2006, 11:10:19 pm
Citação de: "PereiraMarques"
 
Não é Durão, é Duran Clemente...era aquele tipo com ar de Cristo e/ou Che Guevara dos paraquedistas :oops:

Duran Clemente era de administração militar ou algo parecido.
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Dezembro 28, 2006, 11:18:13 pm
Tem razão, sim senhor era da Administração Militar, peço desculpa pelo equívoco...

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O episódio simbólico da mudança na correlação de forças, nesse período que durou de 24 a 28 de Novembro, é quase anedótico. No dia 25, o (então) capitão Duran Clemente - segundo-comandante da Escola Prática de Administração Militar, que tinha ocupado a RTP - falava em directo na televisão, explicando as teses da facção mais esquerdista. De súbito, começa a dizer que lhe estão a fazer sinais, pois parece que há problemas técnicos, anunciando que voltará ao ar quando tudo estiver resolvido. Entretanto, a imagem do oficial fardado é substituída pela de Danny Kaye, no filme O Bobo da Corte.

Fonte: http://dn.sapo.pt/2006/11/25/nacional/o ... olvid.html (http://dn.sapo.pt/2006/11/25/nacional/o_desfecho_25_novembro_1975_resolvid.html)
Título:
Enviado por: ricardonunes em Janeiro 01, 2007, 09:20:59 pm
Onde é que Você estava no 25 de Novembro? (http://http)
Título:
Enviado por: Luso em Julho 06, 2007, 06:59:09 pm
A entrevista da Zita Seabra, vista pelo Cachimbo de Magritte
http://cachimbodemagritte.blogspot.com/ ... vezes.html (http://cachimbodemagritte.blogspot.com/2007/07/mulher-que-viveu-duas-vezes.html)

A mulher que viveu duas vezes
 
Outros observadores atentos também se aperceberam: ontem à noite, a RTP-1 transmitiu uma extraordinária entrevista com Zita Seabra. Para além do conteúdo factual, há a assombrosa atitude, o modo frio e objectivo como descreve o passado: o afastamento da família, a vida na clandestinidade, a formação ideológica, a tentativa abortada de revolução socialista em 1975. Deixo algumas transcrições (destaques meus):

Sobre a adesão ao partido comunista aos 16 anos:
“Entrei com a ideia romântica de fazer justiça no país e no mundo. Não se entra para o partido a pensar nos crimes de Estaline (...). Entrávamos em nome dos trabalhadores e do proletariado, que não conhecíamos —nunca tínhamos visto um operário ao pé.”
Sobre a disciplina “militar” do comunismo:
“Vivi (...) como uma verdadeira bolchevique. (...) Por isso é que quando depois vim a sair o choque foi brutal, foi o questionar de toda a minha vida e do sacrifício que tinha feito. (...) Eu era uma revolucionária profissional.”
Sobre Carlos Brito:
“Tinha tudo o que eu imaginava que era o homem novo do comunismo: dedicado, entregue à luta, não olhando a meios para atingir os fins.”
Sobre Cunhal e o PREC como preparação da revolução bolchevique:
“Ele considera-se o Lenine português. (...) Em 1968 o partido comunista toma uma decisão importantíssima: os militantes comunistas vão infiltrar as Forças Armadas. (...) Ele teorizou rigorosamente o que se ia passar [o golpe militar de 25-04-1974] e no dia em que acontece, não acredita. (...) A partir daí todo o PCP está virado para a revolução socialista, para chegarmos ao ‘nosso Outubro’.”
Sobre o período entre 11 de Março e 25 de Novembro de 1975:
“[No “Verão quente” de 75] Pusemos o país a ferro e fogo. A 11 de Março tudo acelera e fizemos tudo para evitar as eleições: foi na altura que o COPCON prendeu “meio mundo”, mas as eleições realizaram-se. (...) O 25 de Novembro foi o momento dramático na vida do partido: estávamos a preparar a revolução, ele [Cunhal] tinha os estudantes em casa espalhadas por Lisboa para naquela noite do 25 de Novembro receberem armas e passarmos à revolução socialista. Era o ‘nosso Outubro’ (...) Cunhal manda-me à URSS, (...) depois de eu ter questionado por que é que a URSS não veio naquela noite em nosso auxílio, por que é que tivemos de recuar. Claro que já tínhamos tido uma grande vitória: Angola, Guiné e Moçambique já estavam independentes e estavam sob os movimentos de libertação marxistas-leninistas que nós queríamos. Mas faltávamos nós! Naquela noite arriscámos tudo. Cunhal dizia, citando Lenine: nós vamos conseguir a revolução socialista quando tivermos metade dos militares mais um. E não tivemos porque os pára-quedistas mudaram de campo a meio da noite. Sem homens suficientes nas Forças Armadas para tomar o poder, fomos para casa.”
Nos blogues há uma espécie de tendência neo-pragmática para a relativização da verdade: desde o psicopata até ao investigador especializado, todos sabem “coisas diferentes” e vão construindo "verdades" alternativas por referência às comunidades imaginadas. Para evitar contribuir para essa tendência, não vou fazer a exegese destas declarações, muito menos do comunismo. Por cá, Pacheco Pereira tem um longo percurso de investigação do comunismo em Portugal. Sobre o marxismo, creio que isto continua a ser insuperável.


Não assisti à totalidade da entrevista.
Assim que a ouvi lembrar-se do 25 de Novembro, a perguntar-se "porque é que o exécito soviético não os vinha ajudar", mudei de canal.
Pensei apenas que gostaria de ter tido a oportunidade de lhe pôr um pedaço de metal na cabeça.
A ela e à seita toda.
Para de seguida ir dormir descansado.

A maior traição da História moderna contada sem pudor.
Título:
Enviado por: papatango em Julho 06, 2007, 10:45:10 pm
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Não assisti à totalidade da entrevista.
Assim que a ouvi lembrar-se do 25 de Novembro, a perguntar-se "porque é que o exécito soviético não os vinha ajudar", mudei de canal.
Pensei apenas que gostaria de ter tido a oportunidade de lhe pôr um pedaço de metal na cabeça.

Luso ->
O resultado era criar uma heroína soviética, morta às mãos dos opressores fascistas.
E a heroína soviética não podia nunca explicar que o sistema soviético estava podre.

Se a Catarina Eufémia não tivesse sido assassinada pela GNR seria uma mais uma camponesa anónima que provavelmente teria migrado para o Barreiro.

= = = =

Eu vi a entrevista da Zita Seabra, e devo confessar que achei impressionante e amanhã se me lembrar lá vou ajuda-la a tornar-se uma capitalista raivosa... :mrgreen: comprando o livro.

Na verdade, ela fez na entrevista um relato desapaixonado daquilo que em grande medida era o PCP e falou sobre um ambiente que existia dentro do Partido Comunista, que muita gente de esquerda e que foi eleitor do PCP nem tinha ideia de existir.

Para mim, a grande mentira do PCP, não é apenas a grande mentira da revolucionarite  do Verão quente. A grande mentira do PCP e das classes dirigentes do PCP é a mentira do partido às suas bases.
A mentira pegada que eles "venderam" em nome da democracia e da revolução.

A Zita Seabra veio apenas dizer mais uma vez o que já se sabia.
A menção que ela fez relativamente à União Soviética é sintomática.

A URSS ajudou o Partido Comunista em 1975, porque sabia que só com a completa dissolução do poder em Lisboa, só destruindo o que existia de organização do estado em Lisboa seria possível entregar Angola aos movimentos pagos por Moscovo.

E Zita Seabra, como muitos outros jovens comunistas, acreditaram nas boas intenções da URSS e acreditavam que os russos viriam em seu auxílio.

Por isso Zita Seabra diz que ficou desiludida e não entendeu porque é que a URSS e o Exército Vermelho não veio em ajuda e apoio do PCP em Portugal.

Estas palavras vêm de alguém que esteve no gabinete ao lado ou em frente ao de Cunhal e falou com alguns dos principais teóricos do comunismo soviético.
E haverá comunistas mais recalcitrantes que vão odiar Zita Seabra para sempre por causa de ela ter ousado dizer como era por dentro "o Partido".

Ela disse como era por dentro, e teve a coragem de falar.
Outros também entenderam que o PCP não tinha futuro e que a linha estalinista estava condenada, e se um dia decidirem falar, mais se saberá.

Espero que Carlos Brito, por muito fiel à linha comunista que seja, ainda tenha a coragem que teve a Zita Seabra.

= = =

Terminos só para dizer que o que a Zita Seabre disse na entrevista, vem exactamente de encontro ao que tenho vindo a afirmar neste fórum sobre o Verão Quente de 1975.

A verdade é a que é e foi a que foi.
Não adianta remar contra a História, porque mais tarde ou mais cedo tudo acabará por se saber, quando todas as pontas forem juntas e quando conseguirmos finalmente entender porque é que a seguir a 25 de Abril de 1974 tivemos a tomada de poder pelo PCP.

Como refiriu zita Seabra, Cunhal nem sequer acreditava que a revolução de 25 de Abril de 1974 fosse a revolução "dele". Ficou em Paris (que era muito mais confortável) enquanto que o PCP no terreno estava na clandestinidade.

Mas trabalhou activamente para, conforme os manuais comunistas, tomar o poder. Tentou impedir eleições e depois tentou esvaziar o poder do parlamento, seguindo à risca de forma quase milimétrica o que aconteceu na Rússia em 1917 e que conduziu à revolução de Outubro.

O Outubro atrasou-se e a revolução de Cunhal só ficou pronta no final de Novembro.
Portugal não era a URSS.
E quando os portugueses, mesmo grande parte dos militantes e apoiantes do PCP entendessem o que Cunhal queria, seria demasiado tarde para todos.

Fico espantado, com o numero de pessoas que foram ao funeral de Cunhal.
Muitos deles, ainda hoje se negam a entender quem de facto foi Álvaro Cunhal e em que medida a sua actuação foi prejudicial para todos nós.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: ricardonunes em Julho 11, 2007, 11:37:29 pm
Não foi assim


Julho 10, 2007 | por Nuno Ramos de Almeida


Estou a ler o livro de Zita Seabra. Apesar de ainda me faltarem algumas páginas, queria deixar umas notas soltas. Por método, vou do menos importante para o mais importante e no fim gostaria de deixar um comentário sobre um assunto mais pessoal.
1.A Zita Seabra fez um livro descuidado e mal editado. Nas páginas do “Foi Assim” descobrimos, por exemplo, que Amílcar Cabral era guineense (pág. 163), que Honecker morreu secretário-geral do partido do governo da Alemanha de Leste (pág. 175) e que Che Guevara saiu de Cuba para fazer a revolução na Colômbia (pág. 204).
2. Ao longo de páginas, a autora faz um ajuste de contas que tem uma tortuosa relação com a verdade. Página sim, página não, Zita Seabra vai difamando dirigentes do PCP que se opuseram a ela, recorrendo, nesse processo, de um velho arsenal estalinista do assassinato de carácter. Vejamos um exemplo: na página 128/129 insinua que Carlos Costa é cobarde porque não participou numa fuga com Carlos Brito, esquecendo-se de relembrar que o “cobarde” Carlos Costa foi o mesmo que esteve na fuga de Peniche e desceu com outros presos uma frágil corda feita de lençóis. Ao longo de todo o livro, os únicos dirigentes comunistas honestos ou viveram com Zita Seabra, ou morreram, ou saíram do PCP.
3. Várias vezes a autora recorre à mentira fácil para conseguir um efeito, um instrumental típico do estalinismo, conhecido por verdade instrumental. Faz este tipo de truques nas coisas mais pequenas e ridículas, às vezes sem ter em conta a própria coerência da obra. Na página 168, Zita Seabra garante que os militantes do PCP nunca gostaram de Zeca Afonso porque ele nunca foi do partido ou “compagnon de route”. Eis uma declaração que só a deve incluir a ela, pois não conheci nenhum militante do PCP que expressasse uma posição tão estúpida. A própria Zita Seabra, 30 páginas depois, está a descrever o agrado com que os militantes do PCP escutavam Zeca Afonso. Mais grave é a pseudo-descrição da chegada de Cunhal a Lisboa que fez na entrevista à RTP 1. Aí é garantido que Cunhal encenou a subida ao cimo do tanque para representar uma repetição da chegada de Lenine a Petrogrado. Todos os testemunhos históricos negam essa vontade de orquestrar. Cunhal subiu de facto a um Chaimite a convite de Jaime Neves, por não haver outro sítio onde pudesse falar à multidão.
4. O livro está cheio do ego de Zita Seabra. Nessas páginas descobrimos a mágoa que sentiu por não ter sido convidada para a formação da UEC. Ficamos a saber, outra inverdade histórica, que ela dirigiu a UEC até ao fim (saiu, bastante contestada pelo seu autoritarismo, quando na UEC Jorge Araújo substituiu Carlos Brito no controlo da organização). Para já não falar de afirmações, a tocar ao espantoso, quando nos quer convencer que Cunhal deixou de lhe falar porque ela foi mais aplaudida do que ele num comício em Aveiro. Como se Cunhal necessitasse, para ser reconhecido o seu valor e influência, de ter mais palmas do que ela…. Zita Seabra tem-se numa alta conta que atinge as raias do doentio. E tende, provavelmente, a ver os outros como ela é.
5. A esse respeito, é fantástico a assumpção por parte dela de que todos foram “comunistas” como ela. Que todo o aderente do partido ambicionava tomar o poder pela força, liquidar os contra-revolucionários e pelo caminho torturar gente nas caves de uma sede qualquer. É preciso esclarecer que nem todos tinham uma leitura tão simplista e criminosa do marxismo-leninismo e que a grande maioria dos comunistas estava convencido que se batia por uma maior liberdade e justiça social e não para instaurar uma ditadura de um qualquer secretário-geral.
6. Agora uma questão pessoal. Zita Seabra passa metade do livro a gabar a sua imensa coragem e a dizer da falta de valor daqueles que estavam no exílio, chegando quase a insinuar esse comodismo no próprio Cunhal. Como se Cunhal não tivesse sido preso, torturado, estado em isolamento, fugido de Peniche, e o PCP, dadas as sucessivas prisões de dirigentes e os problemas que isso acarretava, não tivesse, correctamente, decidido manter parte da direcção no estrangeiro.
A certa altura, Zita Seabra, para afirmar a sua superioridade moral sobre os “ortodoxos”, refere o caso de Pedro Ramos de Almeida, afirmando o seguinte: “o regime negociou e permitiu o regresso do exílio de um importante funcionário do PCP, na altura em Argel, responsável pela organização naquele país. Regressou com uma ampla publicidade e sem que nada lhe acontecesse, nem que a PIDE o molestasse. Tratou-se de Pedro Ramos de Almeida, antigo estudante de Direito. Dizia-se, admito que seja verdade, que tal regresso tinha sido negociado directamente pelo Dr. Abranches Ferrão, conhecido e prestigiado advogado de Lisboa e creio que seu padrinho, e pelo próprio Marcelo Caetano. (…) Pedro Ramos de Almeida foi prontamente expulso do PCP, vindo a ser reintegrado no PCP só bastante depois do 25 de Abril, por decisão ratificada do Comité Central, quando foram também readmitidos outros casos ainda mais complexos de militantes que não tinham tido um porte exemplar na cadeia. Ramos de Almeida, curiosamente, quando voltou a ser militante veio imbuído da mais dura ortodoxia”.
Essa história, que eu conheço bem - afinal Pedro Ramos de Almeida é meu pai -, é exemplar do ponto de vista das pequenas manipulações e inverdades.
Comecemos pelo início, quando Pedro Ramos de Almeida não estava em Argel, mas na clandestinidade em Portugal. Aliás, ao contrário do que felizmente sucedeu com Zita, o meu pai foi preso várias vezes e torturado, a primeira aos 17 anos, sem nunca falar à polícia, e preso mais de quatro anos, grande parte dos quais em Peniche. O meu pai era não apenas um importante funcionário, mas um dos principais organizadores dos sectores estudantil e intelectual do PCP e membro do Comité Central. O que aconteceu foi que, depois de vários anos na clandestinidade, ele sentiu-se cansado e com vontade de viver “normalmente”. Pediu, com honestidade, ao PCP para sair da clandestinidade, alegando um conjunto de questões pessoais, nomeadamente o facto do seus filhos estarem na legalidade (por exemplo, a minha mãe e eu tínhamos saído da clandestinidade um ano antes). O PCP foi contra e o meu pai optou por sair, desobedecendo ao partido, sendo por isso expulso. O regresso à legalidade do meu pai, foi tratado pelo seu padrasto Fernando de Abranches Ferrão (o meu avô morreu quando o meu pai era adolescente), e não padrinho como erradamente escreve Zita. Fernando de Abranches Ferrão - que não era um simples “grande advogado”, como o descreve a autora, escamoteando outros factos que não jogavam com a tese de manobra do regime, mas um reconhecido oposicionista, que defendia presos políticos, tinha estado ele mesmo preso e foi fundador do Partido Socialista - conhecia pessoalmente Marcelo Caetano. O meu pai regressou a Portugal com a obrigação de se apresentar regularmente na PIDE, estatuto que interrompeu quando, depois da sua última prisão, fugiu para o exterior. De regresso a Portugal o meu Pai passou a militar, antes e depois do 25 de Abril, na CDE, organização da qual foi membro da direcção durante anos. Ao contrário do que Zita Seabra insinuou, ele não renegou as suas ideias, voltando depois como “ortodoxo”. Para renegar ideias basta-nos a autora.

http://5dias.net/2007/07/10/nao-foi-assim/ (http://5dias.net/2007/07/10/nao-foi-assim/)
Título:
Enviado por: P44 em Julho 12, 2007, 11:24:24 am
Citação de: "papatango"
Fico espantado, com o numero de pessoas que foram ao funeral de Cunhal.
Muitos deles, ainda hoje se negam a entender quem de facto foi Álvaro Cunhal e em que medida a sua actuação foi prejudicial para todos nós.

Ai Papatango, papatango, então veja lá se apaga (ou pelo menos modifica), é um grande tratado de incoerência, Sr. "P.M:"
 :wink:

 
 
Citar
Álvaro Cunhal, a morte de um mito
Perante a morte do líder histórico do Partido Comunista, temos naturalmente que nos curvar. Curvar perante a memória de uma pessoa, e ainda mais, perante a memória de uma pessoa que, mal ou bem teve a sua influencia na história de Portugal. Dentro de um século, provavelmente será uma das pessoas que será referida nos livros de história.
No entanto, a morte de uma pessoa, não nos deve toldar a memória, o raciocínio, e a coerência de todos os cidadãos que acreditam na democracia.
A verdade é a que é, e por muitas voltas que dermos à verdade, Álvaro Cunhal, foi um homem que, vivendo em nome de ideais, viveu em nome de ideais errados. O mundo de Álvaro Cunhal, está morto e enterrado. O mundo de hoje, com múltiplos canais de televisão, rádio, liberdade de expressão, e a possibilidade de livre expressão que é dada por exemplo pela Internet, são todas elas coisas que, na sociedade vista, pensada, defendida e justificada por Álvaro Cunhal, nunca teriam lugar.
Fico com a ideia de que Álvaro Cunhal era no entanto, um português, com um profundo sentido patriótico. Pode parecer estranho que um Comunista, que por natureza deve ser Internacionalista, tenha passado para a opinião pública, quer pelos seus discursos quer pela sua obra, a ideia de que Portugal, como nação tem características próprias que devem ser defendidas e que justificam a existência de Portugal como nação independente.
Mas a importância de Cunhal na política portuguesa está indelevelmente ligada a uma pergunta que se pode legitimamente fazer:
Portugal poderia ser um país comunista?
Muito ainda está por saber, sobre os acontecimentos de 25 de Novembro de 1975. Provavelmente, muito nunca se saberá.
Álvaro Cunhal estará para sempre ligado a esse período da História de Portugal, como mentor ou inspirador de um modelo que seria único na Europa. O comunismo nacionalista, baseado no sentimento patriótico.
 


Helsinquia, 1975
 
Em 1975, no entanto, ocorreu algo que não estava nos planos de Álvaro Cunhal.
Em Helsínquia, na Finlândia, em 1 de Agosto de 1975, terminava a conferência para a segurança e cooperação na Europa. É em Helsínquia que o projecto de poder de Álvaro Cunhal se esfuma, com o acordo tácito entre a URSS e os Estados Unidos, sobre Portugal e as suas possessões ultramarinas.
A independência de Moçambique, havia sido proclamada havia pouco mais de um mês, mas a de Angola ainda não tinha ocorrido (ocorreria em 11 de Novembro de 1975). Brejniev e Kissinger acordam que, Angola será para a URSS, ou o bloco soviético, mas que Portugal, continuará como país da NATO.
    
Em Helsinquia Kissinger e Brejnev decidiram o futuro de Portugal e das antigas colónias
Brejnev e Kissinger, fizeram com Cunhal, o mesmo que Krutchev e Kennedy tinham feito com Fidel Castro. Fizeram um acordo nas suas costas. Cunhal foi abandonado ao seu destino.
Entre 21 e 30 de Julho desse mesmo ano, e enquanto soviéticos e americanos decidiam o futuro de Portugal, de Angola e das restantes ex provincias ultramarinas, Otelo Saraiva de Carvalho está em Cuba.
Fidel Castro dá-lhe apoio, mas ao mesmo tempo pede a Portugal compreensão para a necessidade de defender Angola do imperialismo e do racismo Sul-Africano e também da FNLA de Holden Roberto, que tinha o apoio da CIA e de alguns portugueses. Até então nada está decidido e Castro, Otelo ou Cunhal, são apenas simples peões no jogo.
Otelo ainda viverá no sonho revolucionário, mas Cunhal, cedo perde as ilusões logo que a URSS informou o Partido Comunista de que não poderia esperar ajuda soviética, para o que quer que fosse.
    
Em 1975, mesmo depois de Helsinquia, depois de falar com Fidel Castro, Otelo está convencido de que terá chances, mas Otelo não tem os contactos de Cunhal. Acreditará até muito mais tarde que a revolução é possível, mas falhará, no seu intento de transformar Portugal numa Cuba europeia.
Quando chega o mês de Novembro, Portugal parece estar à beira de uma guerra civil. O Partido Comunista tinha verificado nas urnas, nas eleições de Abril de 1975 que contava com pouco mais de 12% do eleitorado, e que apenas no baixo Alentejo e na região metropolitana de Lisboa contava com alguma implantação. Mas Cunhal sabe que isso não chega.
Além disso, há a garantia de apoio por parte dos países do ocidente, ao campo que se lhe opõe. A Grã Bretanha, avançou desde logo com o apoio às forças anti.comunistas, se houvesse guerra civil, preparando o auxilio em munições e combustível. A Força Aérea transporta todos os seus aviões de combate operacionais para o norte do país, para evitar que caiam nas mãos dos apoiantes de um eventual golpe revolucionário.
O Partido Comunista no entanto não tem ilusões. A decisão da União Soviética já foi tomada e assinada em Agosto. Cunhal e o PC estão sozinhos. Sabem que se começarem um levantamento serão esmagados, e que mesmo que consigam tomar Lisboa e o sul do país, cedo ou tarde a evidência dos números acabará por se impor.
Finalmente, quando chegam os dias de 24, 25 e 26 de Novembro, Álvaro Cunhal manda dizer a algumas das forças que estariam do seu lado, os fuzileiros e forças da marinha de guerra, no Alfeite, para “Aguardar, porque não é a hora”.
E assim se fez. Aguardou-se, e o 25 de Novembro de 1975 acabou conforme tinha sido determinado em Helsínquia por soviéticos e norte-americanos.
A Democracia, a Constituição e a normalização da vida política.
Tendo sido derrotado em 25 de Novembro de 1975 no entanto, Álvaro Cunhal, continuou fiel às suas ideias, aos seus conceitos de sociedade e também aos preconceitos normais e naturais dos dirigentes da linha dura dita “Estalinista” à qual pertencia Brejnev.
Em 1979, o Partido Comunista, apresentou-se às urnas com a designação APU (Aliança Povo Unido).
1979: O apogeu eleitoral do PCP e de Álvaro Cunhal
Aliança Democrática    

Partido Socialista    

Aliança Povo Unido    

Cunhal conhece, ou julga conhecer a maneira de ser dos portugueses, o seu individualismo, e a oposição a soluções comunistas ou colectivistas. O próprio PCP abandona o seu nome histórico, e as cores vermelha e amarela do comunismo internacional. A APU, chega a 18.97% dos votos, a mais alta percentagem alguma vez alcançada pelo partido em eleições legislativas. No entanto é uma vitória amarga. Junto com a sua vitória, impõe-se a vitória dos partidos à direita do espectro político, PSD e CDS constituídos numa coligação chamada AD (Aliança Democrática) que com 42.2% dos votos, consegue, com Francisco Sá Carneiro, maioria absoluta para governar o país.
A partir daí, durante os anos 80, o PCP lenta mas inexoravelmente começa a perder poder e importância. Em 1985 o PSD ganha as eleições sózinho consegue dois anos depois maioria absoluta e governa até 1995.
O lento declínio do Partido Comunista, no entanto, demonstra a incapacidade de Cunhal em entender o curso da História. No inicio dos anos 90, a URSS implode. O mundo comunista, esfuma-se minado pelas contradições internas, pela corrupção, pela reacção popular à violência que os regimes Comunistas utilizavam, para manterem um pequeno grupo de privilegiados no poder, enquanto os respectivos países vêm as suas economias afundar.
Em 1974, Portugal era mais pobre que todos os países do Pacto de Varsóvia, com excepção da Romenia. Em 1976, de toda a Europa, de Lisboa a Moscovo, só dois paises são mais pobres que Portugal: A Romenia e a Albania. No entanto, em 1995, todos eles, sem excepção são mais pobres ou muito mais pobres que Portugal.
Mas Cunhal, que embora já não esteja na liderança do PCP (que abandonou em 1992) continua a influenciar o partido, e continua fiel às suas ideias.
À sua volta, o mundo comunista ruía. Os mitos do comunismo caiam por terra. Vagas de imigrantes vindos do leste europeu e que escolheram Portugal para sobreviver, explicavam aos renitentes trabalhadores agrícolas alentejanos - apoiantes de Cunhal e da União Soviética desde sempre - que o sistema tinha falhado de uma forma miserável.
No fim, a determinação de Álvaro Cunhal, é sem duvida de realçar, mas não é possível evitar a comparação com outro português, igualmente tenaz, igualmente determinado, igualmente fiel aos seus princípios, igualmente impermeável aos ventos da História, igualmente cego na sua determinação suicida de guiar o país no único caminho que julgava possível.
Esse homem, entrou para a história com uma entre várias frases célebres: “Orgulhosamente sós”
O autor dessa frase, guiou o país por caminhos errados, e aqueles que o rodeavam, foram incapazes de fazer o que quer que fosse para mudar o estado das coisas.
Se em 1975, Álvaro Cunhal tivesse tomado as rédeas do país, a sua determinação poderia ter sido uma catástrofe para Portugal, exactamente pelas mesmas razões.
Álvaro Cunhal viveu num erro, e como Salazar, orgulhosamente só.
Nenhum mal vem ao mundo se nos curvarmos perante a determinação, a coragem, a força de vontade e o percurso de vida de Álvaro Cunhal. Mas ao mesmo tempo também temos que olhar para a História e fazer a análise fria e racional, que o tempo que passou desde 1975, já permite.
P.M.


http://m.1asphost.com/Forumhistoria/art ... cunhal.asp (http://m.1asphost.com/Forumhistoria/artigos/Alvarocunhal.asp)

Saudações :twisted:
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 03, 2009, 05:34:34 pm
Um dos que ajudou a salvar o País.

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Defesa: Coronel Jaime Neves proposto para major-general

Lisboa, 03 Abr (Lusa)- O coronel Jaime Neves, figura preponderante dos  operacionais do golpe militar de 25 de Novembro de 1975, foi proposto pelo  chefe de Estado-Maior do Exército para ser promovido a major-general, confirmou  hoje o próprio à agência Lusa.  

 

   Contactado pela Lusa, Jaime Neves disse saber da proposta mas acrescentou  que não tem conhecimento de quando ocorrerá.  

 

   Questionado sobre qual é a situação actual do processo de promoção do  coronel Jaime Neves, o Exército Português não quis fazer qualquer comentário  sobre o assunto.  

 

   Já o ministério da Defesa declarou que "há processos de promoção em  curso" mas que "até estarem terminados não faz qualquer comentário".  

 

   As propostas de promoção de militares são feitas pelos chefes militares  no Conselho de Chefes de Estado-Maior, passando posteriormente pelo ministério  da Defesa e finalmente pela promulgação do Presidente da República.  

 

   Jaime Alberto Gonçalves das Neves nasceu na freguesia de São Dinis,  no concelho de Vila Real, em 1936, tendo entrado na Escola do Exército em  1953 e feito cinco missões de serviço em África e na Índia.    

 

   Durante o 25 de Novembro de 1975 Jaime Neves estava nos Comandos da  Amadora, uma das unidades militares que pôs fim à influência da esquerda  militar radical e conduziu ao fim do PREC (Período Revolucionário Em Curso).  

 

   Em 1995, foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares,  com a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada,  do valor, Lealdade e Mérito.  
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 04, 2009, 09:18:09 pm
As dores de cotovelo...

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Lisboa, 03 Abr (Lusa)- O presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, considerou hoje que a promoção do coronel Jaime Neves a major-general "vai contra todas as regras" e não dignifica o Exército e Forças Armadas.
Em declarações à agência Lusa, o coronel Vasco Lourenço criticou também os responsáveis políticos e militares por mostrarem "falta de bom senso e de decoro".
"Apesar de já me terem garantido que isso é verdade ainda não quero acreditar, não acredito que os responsáveis militares e políticos tenham tanta falta de bom senso e de decoro, não há quaisquer razões políticas ou militares que justifiquem uma decisão dessas, vai contra todas as regras, o seu 'curriculum' militar não o justifica e se isto acontecer estaremos perante um acto que em minha opinião indignificará o Exército e as Forças Armadas", acrescentou o antigo capitão de Abril.
Vasco Lourenço afirmou ainda que "politicamente, e porque parece pretenderem com isto comemorar os 35 anos do 25 de Abril, ainda menos se percebe" uma eventual promoção de Jaime Neves.
"Só se o querem refundir [a revolução do 25 de Abril], substituindo o Salgueiro Maia pelo Jaime Neves, de qualquer modo estão a hostilizar e a ofender profundamente os militares de Abril e o próprio 25 de Abril", concluiu.
O coronel Jaime Neves, figura preponderante dos operacionais do golpe militar de 25 de Novembro de 1975, foi proposto pelo chefe de Estado-Maior do Exército para ser promovido a major-general, confirmou hoje o próprio à agência Lusa.
Contactado pela Lusa, Jaime Neves disse saber da proposta mas acrescentou que não tem conhecimento de quando ocorrerá.
O Ministério da Defesa também confirmou à Lusa a existência de uma proposta de promoção do coronel Jaime Neves a major-general, adiantando que esta foi decidida em Conselho de Chefes de Estado-Maior "por unanimidade e fundamentada por razões estritamente militares".
As propostas de promoção de militares são feitas pelos chefes militares no Conselho de Chefes de Estado-Maior, passando posteriormente pelo ministério da Defesa e finalmente pela promulgação do Presidente da República.
Jaime Alberto Gonçalves das Neves nasceu na freguesia de São Dinis, no concelho de Vila Real, em 1936, tendo entrado na Escola do Exército em 1953 e feito cinco missões de serviço em África e na Índia.
Durante o 25 de Novembro de 1975 Jaime Neves estava nos Comandos da Amadora, uma das unidades militares que pôs fim à influência da esquerda militar radical e conduziu ao fim do PREC (Período Revolucionário Em Curso).
Em 1995, foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, Lealdade e Mérito.
Título:
Enviado por: Luso em Abril 04, 2009, 09:57:04 pm
"falta de bom senso e de decoro"
 :mrgreen:

Patético.
Mas vindo de quem vem...
Título:
Enviado por: Duarte em Abril 05, 2009, 03:32:56 am
Ainda é vivo este marmelo?

 :twisted:
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 08, 2009, 02:16:19 pm
Tanto ódio  c34x

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Defesa: PCP insurge-se contra promoção de Jaime Neves a general

Lisboa, 08 Abr (Lusa) - O PCP condenou hoje a promoção a major-general do coronel Jaime Neves, uma das figuras mais proeminentes no contra-golpe militar que, em Novembro de 1975, neutralizou a deriva de esquerda radical que se seguiu ao 25 de Abril.  

 

       "O PCP considera a eventual promoção do Coronel Jaime Neves (...) uma medida imprevidente e injustificada. Esta promoção com carácter excepcional (...) abre um precedente face a outros oficiais superiores com uma folha de serviço semelhante e coloca sérias interrogações sobre as motivações adiantadas", pode ler-se em comunicado hoje divulgado pelo partido.  

 

       Para os comunistas, a promoção do operacional do 25 de Novembro de 1975, "com a cobertura política do PS e do Governo", premeia "alguém que não teve particular desempenho" na revolução de 25 de Abril de 1974 e no Movimento das Forças Armadas (MFA) e que, sustentam, "é um símbolo de concepções e práticas profundamente retrógradas e anti-democráticas".  

 

       "Tal distinção não pode deixar de ser considerada uma afronta ao projecto libertador de Abril e aos que para ele deram uma contribuição convicta, audaz e empenhada. O PCP adoptará as medidas necessárias junto do Ministro da Defesa Nacional e do Governo, exigindo todos os esclarecimentos sobre esta situação", concluem.        

 

    A promoção de Jaime Neves, proposta ao governo pelas chefias militares, tinha já sido criticada pelo presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, para quem a medida "vai contra todas as regras" e revela por parte dos responsáveis políticos e militares "falta de bom senso e de decoro".

 

    A proposta aguarda promulgação pelo Presidente da República.  

 

    Jaime Alberto Gonçalves das Neves nasceu na freguesia de São Dinis, no concelho de Vila Real, em 1936, tendo entrado na Escola do Exército em 1953 e feito cinco missões de serviço em África e na Índia.  

 

    Durante o 25 de Novembro de 1975 Jaime Neves estava nos Comandos da Amadora, uma das unidades militares que pôs fim à influência da esquerda militar radical e conduziu ao fim do PREC (Processo Revolucionário Em Curso).

 

    Em 1995, foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, Lealdade e Mérito.  
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Abril 08, 2009, 02:20:29 pm
Um grande militar, um grande senhor e um grande Português!

PCP...o que se espera? :twisted:  :lol:
Título:
Enviado por: Duarte em Abril 08, 2009, 09:44:30 pm
Deveria ser promovido a Marechal, merece-o mais do que alguns que receberam este posto.

PCP?   :Esmagar:  :Ups:
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 10, 2009, 03:17:23 pm
Ainda ontem o meu pai me confidenciava. Falta alguém que vá a S. Bento gritar: "Vem aí o Jaime Neves!!"


(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fi165.photobucket.com%2Falbums%2Fu63%2FLancero2%2Fabril09%2F20090410085525PTLUS9538297123935372.jpg&hash=80a2e0575b87c3d3af6a1334498bf256)



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Defesa: "Abandono de África" é o pior legado da revolução de Abril - Jaime Neves
 

    Lisboa, 10 Abr (Lusa) - O súbito "abandono" de África foi um dos piores legados do 25 de Abril, considerou o coronel Jaime Neves, operacional da contra-revolução que em Novembro de 1975 neutralizou uma tentativa de assalto ao poder da extrema-esquerda em Portugal.  

 

    "Na altura não me apercebi bem do que era abandonar África, não dei o devido relevo. Se eu me tivesse apercebido que íamos abandonar África com certeza que não sei se entraria [na revolução de Abril]. Pelo menos não tomava parte activa", disse o coronel na reserva, em declarações à agência Lusa.  

 

    Para Jaime Neves, o "problema de África tinha que ser resolvido", mas os responsáveis políticos do pós-25 de Abril em Portugal demitiram-se de "controlar a independência".  

 

    "A independência devia ter sido controlada por nós. Angola e Moçambique tinha muitos brancos já nascidos lá. Lembro-me em Moçambique de haver a quinta e sexta geração. Como é, foram ignorados? Tinham que ter uma palavra a dizer", referiu.  

 

    E acrescentou: "Havia muitas maneiras de ficarmos em África. Não sou um defensor do Portugal inalienável e indivisível. Se a Guiné não aguentava, tenho muita pena, largávamos a Guiné. Mas isso não nos obrigava a largar Angola e Moçambique. Em Angola, quando se deu o 25 de Abril, não havia um tiro há seis meses".  

 

    O coronel, que se notabilizou na unidade de Comandos em África e na Índia, frisou que participou na revolução de Abril "com convicção", após uma conversa que teve, já em Lisboa (onde chegou em Dezembro de 1973, após uma prolongada comissão em Moçambique), com Otelo Saraiva de Carvalho.  

 

    No entanto, tudo começou a mudar uma vez deposto o Estado Novo.  

 

    "A seguir ao 25 de Abril eu fiquei em Lisboa com 500 homens. Éramos uma espécie de bombeiros voluntários do país. Fui para o Limoeiro quando os presos se revoltaram e pegaram fogo àquilo tudo, fui para a TAP para ver se metia os gajos a trabalhar, fui para imensas esquadras onde a população fechava os polícias, chamava-lhes nomes não havia autoridade neste país. Não foi para isso que fiz o 25 de Abril. Então eu fiz o 25 de Abril para instaurar no nosso país a indisciplina e a falta de respeito? Isso não", disse.  

 

       À "indisciplina e anarquia" Jaime Neves acrescenta outra razão: "Eu não fiz o 25 de Abril para ver o PCP e forças de extrema-esquerda a assenhorarem-se deste país e a mandarem em tudo, passarmos de um extremo para o outro".

 

       Hoje com 73 anos, o antigo operacional dos Comandos admitiu ter sido "o homem certo, no local certo e na hora exacta", desvalorizou a notoriedade alcançada em 1975 e disse que "não mudou nada" na sua vida depois de ter protagonizado acontecimentos marcantes da História recente de Portugal.

 

       "Estive sempre a comandar o regimento de comandos e saí em 1981. Depois fui trabalhar 12 anos com o meu amigo e empresário Jorge de Brito e, ao fim desse tempo, uns companheiros meus dos comandos convidaram-me e fundámos uma empresa de segurança", relatou.  

 

       Há cerca de um ano, Jaime Neves sofreu um acidente de automóvel e, ainda em convalescença, sofre um acidente vascular cerebral e foi submetido a uma intervenção cirúrgica ao coração.  

 

       Olhando para trás, o "histórico" do 25 de Novembro arrepende-se de "poucas coisas" e admite que "as circunstâncias obrigam por vezes as pessoas a tomar determinadas atitudes".  

 

       Mas observa: "não posso estar satisfeito com a situação actual do nosso país se olho à minha volta e vejo tudo descontente. Chego eu próprio a pôr em dúvida se valeu a pena. Honestamente".  
 


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Defesa: Jaime Neves desvaloriza críticas do PCP e diz que "os cães ladram, a caravana passa"


    Lisboa, 10 Abr (Lusa) - O coronel Jaime Neves, figura preponderante dos operacionais do golpe militar de 25 de Novembro de 1975, desvalorizou as críticas do PCP à sua anunciada promoção a general, comentando: "os cães ladram, a caravana passa".  

 

    "Quem é que em 1975 pôs o PCP na ordem ? Quem é que travou o PCP ? Quem é que os obrigou a encolherem-se ? É natural que eles não gostem de mim, eu também não tenho simpatia por eles. No entanto respeito-os. É natural que sempre que possam mandem uns pontas-de-lança mandar umas bocas ou façam uns comunicados. Mas eu tenho uma coisa a dizer: os cães ladram, a caravana passa", disse o "histórico" do 25 de Novembro.  

 

    Na quarta-feira, em comunicado, os comunistas insurgiram-se contra a promoção a major-general do coronel Jaime Neves, uma das figuras mais proeminentes no contra-golpe militar que, em Novembro de 1975, neutralizou a deriva de esquerda radical que se seguiu ao 25 de Abril.  

 

    "O PCP considera a eventual promoção do Coronel Jaime Neves (...) uma medida imprevidente e injustificada. Esta promoção com carácter excepcional (...) abre um precedente face a outros oficiais superiores com uma folha de serviço semelhante e coloca sérias interrogações sobre as motivações adiantadas", pode ler-se em comunicado hoje divulgado pelo partido.  

 

    Para os comunistas, a promoção do operacional do 25 de Novembro de 1975, "com a cobertura política do PS e do Governo", premeia "alguém que não teve particular desempenho" na revolução de 25 de Abril de 1974 e no Movimento das Forças Armadas (MFA) e que, sustentam, "é um símbolo de concepções e práticas profundamente retrógradas e anti-democráticas".  

 

    "Tal distinção não pode deixar de ser considerada uma afronta ao projecto libertador de Abril e aos que para ele deram uma contribuição convicta, audaz e empenhada. O PCP adoptará as medidas necessárias junto do Ministro da Defesa Nacional e do Governo, exigindo todos os esclarecimentos sobre esta situação", concluem.  

 

    A proposta das chefias militares aguarda promulgação pelo Presidente da República.  

 

    "Desde que digam verdades tudo bem, mentiras e falsidades é que não", frisou o coronel na reserva.  

 

    Para Jaime Neves, a promoção traduz um "reconhecimento tardio" da sua acção como chefe militar.  

 

    "Foi a frase que o senhor Chefe de Estado-Maior do Exército usou, ´reconhecimento tardio´. E tive que dizer que sim. E obrigado e fico à espera. Disse-me que o diploma tinha sido enviado para o senhor Presidente da República e que quando viesse falaria comigo. Estou à espera", relatou.  

 

       Jaime Alberto Gonçalves das Neves nasceu na freguesia de São Dinis, no concelho de Vila Real, em 1936, tendo entrado na Escola do Exército em 1953 e feito cinco missões de serviço em África e na Índia.  

 

    Durante o 25 de Novembro de 1975 Jaime Neves estava nos Comandos da Amadora, uma das unidades militares que pôs fim à influência da esquerda militar radical e conduziu ao fim do PREC (Processo Revolucionário Em Curso).

 

    Em 1995, foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, Lealdade e Mérito.  
Título:
Enviado por: PereiraMarques em Abril 17, 2009, 09:14:48 am
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Decreto do Presidente da República n.º 38/2009. D.R. n.º 75, Série I de 2009-04-17

Presidência da República

Confirma a promoção ao posto de Major-General do Coronel de Infantaria Comando Reformado Jaime Alberto Gonçalves das Neves

Decreto do Presidente da República n.º 38/2009 de 17 de Abril

O Presidente da República decreta, nos termos do n.º 3
do artigo 28.º da Lei n.º 29/82, de 11 de Dezembro, na
redacção que lhe foi dada pela Lei Orgânica n.º 2/2007,
de 16 de Abril, o seguinte:

É confirmada a promoção ao posto de Major -General do
Coronel de Infantaria Comando Reformado Jaime Alberto
Gonçalves das Neves, efectuada por deliberação de 23 de
Março de 2009 do Conselho de Chefes de Estado -Maior
e aprovada por despacho do Ministro da Defesa Nacional
de 3 de Abril seguinte.

Assinado em 14 de Abril de 2009.

Publique -se.

O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.


 :arrow: http://dre.pt/pdf1sdip/2009/04/07500/0228102281.pdf (http://dre.pt/pdf1sdip/2009/04/07500/0228102281.pdf)
Título:
Enviado por: P44 em Abril 17, 2009, 10:43:05 am
é coerente que este regime promova o jaime neves, afinal os parasitas têm que agradecer a ele os tachos que actualmente possuem...
Título:
Enviado por: oultimoespiao em Abril 19, 2009, 06:59:22 am
Citação de: "P44"
é coerente que este regime promova o jaime neves, afinal os parasitas têm que agradecer a ele os tachos que actualmente possuem...


e a alternativa seria???
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 20, 2009, 05:25:33 pm
Citação de: "P44"
é coerente que este regime promova o jaime neves, afinal os parasitas têm que agradecer a ele os tachos que actualmente possuem...


Descansa que já não falta muito para o camarada Otelo ser promovido a coronel.
Título:
Enviado por: TOMSK em Abril 21, 2009, 10:47:06 am
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O “PREC” NÃO ACABA...

João J. Brandão Ferreira

A recente proposta – ainda envolta em certo mistério – de promoção do Cor. Jaime Neves a Maj.Gen. tem gerado alguma controvérsia pública. Correndo o risco de ferir diversas consciências, não quero eximir-me a dar o meu testemunho sobre a questão por a julgar de importância.

Sou dos que penso não ter a proposta fundamento nem curialidade suficiente que a justifique. Com o devido respeito, acho-a até pouco sensata. Todavia, as razões que sustentam a minha posição não são aquelas que tenho visto expostas. Quero começar por dizer que a figura e o valor do cor. Jaime Neves não está em causa e estranho, outrossim, que a proposta de promoção esteja envolta em certo secretismo que nada parece justificar.

Estas coisas só ganham em ter transparência, até para não serem confundidas com “segundas intenções”. Mas vamos lá ao cerne do problema. O pecado original que dá origem, 35 anos depois, a esta polémica escusada, ocorreu no dia 25 de Abril de 1974, dia que marca uma tentativa de golpe de estado malogrado. Nesse dia deu-se, no âmbito da Instituição Militar (IM), inicio a um processo de saneamentos e prisões fora das regras da Justiça e da Disciplina Militares, que quase destruiu as Forças Armadas, e comprometeu o futuro da Nação.

O período de desregramento catastrófico, politico, social e moral, que se seguiu e que só foi travado – embora não completamente – em 25 de Novembro de 1975, viu um pouco de tudo. Após esta data, aproveitou-se a embalagem e lá se fizeram mais umas quantas prisões e saneamentos. Sossegados os ânimos e tendo sido criadas, lentamente, condições para que o país pudesse passar a viver e a trabalhar, não direi “habitualmente”,mas com alguma serenidade podia-se ter criado as condições para sarar feridas e administrar justiça.

Fazer isto no âmbito militar exigiria que se levantassem processos a todos sobre que recaíssem suspeitas de acções iníquas, ou a pedido daqueles que se sentissem injustiçados. A nível institucional era fundamental separar o trigo do joio. E separar o trigo do joio não era julgar cada um segundo as suas opções politicas, mas sim averiguar quem se tinha comportado segundo “os ditames da virtude e da honra”e quem se tinha desviado deles. Não era de somenos intentar isto – apesar de não ser fácil – pois só semelhante procedimento pertencia ao Direito e à Justiça e só ele permitia salvaguardar a IM no futuro – não é por acaso que as FAs não saem da menoridade confrangedora em que se encontram!

Como nada disto foi feito gerou-se uma atmosfera de desconfiança colectiva e um ambiente de todos contra todos, que a usura do tempo e o curso implacável da natureza não têm conseguido eliminar. Ora não se tendo tomado as medidas correctas – e aqui a responsabilidade já não é só dos responsáveis militares mas alarga-se às forças politicas e aos órgãos do estado – ainda se foi piorar as coisas reintegrando os saneados ou afastados na sequencia dos vários eventos ocorridos.
Isto é, meteu-se tudo no mesmo saco, numa tentativa de branqueamento da História que não deixa de ser equiparável ao apagamento da célebre foto de Trotsky!

A seguir foi-se promovendo todo o bicho careta a coronel e, não contentes com isto – enquanto houve dinheiro na tesouraria - foi-se inventando subsídios como óbolos: aos ex-combatentes, aos prisioneiros de guerra, aos deficientes, etc. Até o ex-capitão Valentim Loureiro, que nunca teve nada a ver com os dois “25” e tinha sido expulso do Exército por indecente e má figura, foi reintegrado e promovido a major! Ou seja o caminho que, conscientemente, se intentou seguir, deu origem a um cortejo de injustiças, vigarices, oportunismos e outro adjectivos que antigamente se ensinavam na escola e na família, como tendo má cotação social. E foi assim que de erro em asneira e de asneira em erro, se chegou à proposta de promoção de Jaime Neves a oficial general.

Pois se já se integrou (e louvou), desertores, não se há-de promover o Jaime, que não as cortava, perguntarão alguns? A questão em si é uma falácia – sem fim – até porque está colocada ao contrário, embora não deixe de parecer pertinente. O cor. Jaime Neves não será santificado como Nuno Álvares, pois não é nenhum santo e toda a gente sabe isso, mas tem nome feito e ganhou jus a um lugar na história militar e político-militar de Portugal. O seu valor militar já foi reconhecido na sua promoção a coronel, na atribuição da Torre e Espada – a mais alta condecoração nacional – e na nomeação para o curso superior de comando e direcção – que dá acesso a oficial general – o que ele, na altura, declinou. A promoção a oficial general – porque não a três estrelas? – posto que até agora tinha sido preservado de excrescências revolucionárias, não lhe vai acrescentar nada e é algo ridículo depois de um longo período na reforma em que nada de significativo se passou.

É um presente envenenado e abre uma caixa de Pandora! Noutro âmbito parece pouco curial haver quem queira propor honras ou promoções quando as recusa para si. A não ser que esteja à espera também de uma recusa. Mas, nesse caso, é a própria proposta que não faz sentido. Uma última consideração é mister fazer.
As grandes instituições nacionais, onde se incluem as FAs, não podem ter um comportamento idêntico ao dos actuais partidos políticos. Têm que ter (e têm) Princípios, Doutrina, Ética. Possuem um conjunto de valores que são o seu esteio e lhe balizam a existência. E têm que os praticar e não apenas enunciar. Os chefes militares não devem contradizer-se em público, prometer e não cumprir, dizer hoje uma coisa e amanhã outra, querer algo e o seu contrário, etc.

Isto para dizer que o Exército, a Força Aérea e a Marinha, também têm que ter “verdades”oficiais e têm que as assumir.
Por exemplo, o que se passou em Timor em 1975 ?
Qual foi o desempenho das forças militares aquando da invasão do Estado Português da Índia, pela União Indiana?
O que se passou, de facto, em Wiriamu?
A guerra contra subversiva que o país levou a cabo em África, entre 1961 e 1974, foi justa ou injusta?
Etc....

Ora, ir promover o Cor.Jaime Neves é continuar o relativismo moral que tem sido apanágio do passado recente e continuar a resolver os erros de ontem com novos erros, que fatalmente irão gerar outros. Afinal o maldito do PREC nunca mais acaba.
Título:
Enviado por: Lancero em Abril 23, 2009, 03:24:02 pm
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25 de Abril: "Descoordenação" e "recuo" do PCP impediram golpe de Novembro de 1975 - Vasco Lourenço  



    Lisboa, 23 Abr (Lusa) - A forma "descoordenada" como foi lançada a acção e o "recuo" do PCP face às dificuldades de "fazer o pronunciamento" foram factores determinantes para travar a tentativa de assalto ao poder pela extrema-esquerda a 25 de Novembro de 1975.  

 

    A opinião é expressa por Vasco Lourenço, uma das figuras mais destacadas do 25 de Abril de 1974 e do período subsequente, no livro "Do interior da revolução" - uma entrevista de quase 600 páginas à investigadora Maria Manuela Cruzeiro.  

 

    Num livro em que lança farpas aos que se "passeiem nas diversas ´passerelles´" à sua custa, o nome do ex-Chefe de Estado (1976-1986) Ramalho Eanes é um dos que mais surge.  

 

    "Há uma coisa que eu não compreendo: como pode o Ramalho Eanes falar do 25 de Novembro, da sua importante e decisiva acção, dizendo sempre que não actuou sozinho, indicando vários nomes e nunca pronunciando o nome de Vasco Lourenço ?", questiona.  

 

    "O Eanes respondia perante mim (...) após a sua indigitação para Chefe de Estado-Maior do Exército, autonomiza-se em relação a mim e começa a ter iniciativas fora da cadeia de comando (...) por isso me considero, então, enganado por ele. Ainda que só mais tarde me aperceba do que efectivamente se passou", refere.  

 

    Sobre o falhanço da tentativa de contra-golpe à Revolução de Abril, Vasco Lourenço avança a sua explicação.  

 

    "O 25 de Novembro não é um golpe planeado e executado de forma bem pensada, mas sim acções dispersas desencadeadas, por um lado, por forças políticas que pretendem alterar a correlação de forças dentro do poder e, por outro, pela extrema-esquerda que tenta aproveitar para fazer efectivamente o golpe. Como é tudo descoordenado e nós (...) actuámos de forma organizada e disciplinada, conseguimos rentabilizar as poucas forças que tínhamos", descreveu Vasco Lourenço.  

 

    Para o militar, as movimentações militares de 25 de Novembro de 1975 tiveram por objectivo "uma tentativa de ocupar o poder".  

 

    "E nisso, estou plenamente convencido que o PCP esteve envolvido, directa e indirectamente", assegura.  

 

    E prossegue: "com toda a sua capacidade e competência, os dirigentes do PCP rápido se aperceberam de que não era fácil fazer o pronunciamento. E o golpe, ainda mais complicado e custoso seria. Por isso recuam. Procurando perder o menos possível, e apagando de seguida os vestígios da sua intervenção (...) se quisessem fazer um golpe, tê-lo-iam planeado cuidadosamente e teriam garantido a intervenção das diversas forças que, à partida eram vistas como suas apoiantes. E, se o conseguissem, na zona de Lisboa estavam em maioria, tinham mais força que nós. E, talvez tivessem mesmo criado a ´Comuna de Lisboa´".  

 

    "Tenhamos presente o envolvimento do SDCI (Serviço de Detecção e Controle de Informação) onde os gonçalvistas recusaram a entrada, nesse dia 25, a militares que aí prestaram serviço, apenas porque eram dos Nove. Recordo, nomeadamente, o Luís Arruda, militar de Abril com importante acção no 25 de Abril; recordo a acção da Intersindical na Amadora, com tentativa de bloquear as saídas dos Comandos; recordo a acção de vários gonçalvistas, nomeadamente o Dinis de Almeida, que envolveu o RALIS na tentativa de golpe", elencou.  

 

       Na longa entrevista, em que reconstitui ao pormenor a sucessão de episódios em que participou antes e depois da revolução de Abril, Vasco Lourenço considera mesmo que, "se tivesse havido coordenação e determinação" por parte dos insurrectos, a unidade de Comandos chefiados por Jaime Neves - que acabaram por impedir o assalto ao poder pela extrema-esquerda - "acabariam vencidos".

 

       "A nossa táctica passava por tentar convencer os comandantes das unidades ´do outro lado´ a renderem-se. O que não era fácil dado o clima de anarquia que se instalara nas unidades mais revolucionárias", lembra.  

 

       Pela longa entrevista passam ainda alguns dos nomes mais marcantes da História recente do país: Salgueiro Maia, a quem o ex-Presidente da República Ramalho Eanes "nunca perdoou" a circunstância de ter "protelado ao máximo" o uso da força no 25 de Novembro, Jaime Neves que "queria mais sangue" e com o qual diz ter tido que ser "bem duro", o próprio Eanes, com quem em algumas ocasiões esgotou o seu "repetório de palavrões".  

 

    "As nossas relações que começaram com amizade (...) foram-se gradualmente esfriando e os nossos dois percursos foram-se afastando e nunca mais se reencontraram", confidencia o militar de Abril.  

 

    Passando em revista o seu percurso militar, nomeadamente na guerra colonial e em particular na Guiné, onde começa a questionar "a razão de ser de a guerra continuar", Vasco Lourenço defende a "autonomia e independência partidária" dos protagonistas da revolução de Abril.  

 

       "Eu também penso que fomos radicalmente autónomos e independentes. Em relação a todos, sejam forças políticas internas, sejam serviços de informação estrangeiros. Por muito que doa a muita gente", defende.  

 

       Na longa entrevista, Vasco Lourenço insurge-se ainda com as comparações o 25 de Novembro e a revolução de 1974.  

 

       "Que se diga que o 25 de Novembro repôs o 25 de Abril nos seus verdadeiros objectivos, concordo. Agora, equiparar os dois !?", exclama.  
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Enviado por: Vicente de Lisboa em Abril 23, 2009, 04:35:34 pm
Já que este se está a tornar o Tópico "promoções do PREC"

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Otelo Saraiva de Carvalho promovido a coronel

23.04.2009 - 10h51 Lusa

O Governo aprovou a promoção do tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho a coronel ao abrigo da lei que estipula a reconstituição de carreiras, disse hoje à Lusa fonte do Ministério da Defesa.

"O Governo aprovou a promoção de Otelo Saraiva Carvalho ao abrigo da lei 43/99, que estipula a reconstituição de carreiras cuja progressão foi prejudicada pelo 25 de Abril", referiu a fonte.

O processo da promoção foi "aprovado esta semana, pelos ministérios da Defesa e Finanças", adiantou.

Face a esta promoção, Otelo Saraiva de Carvalho vai receber uma indemnização de cerca de 49.800 euros, em "conformidade com o artigo 4 do Decreto-Lei 197/2000".

A mesma fonte acrescentou que a promoção foi analisada por uma comissão de avaliação constituída para o efeito, que analisou oito casos.

A promoção, avançada hoje pelo "Correio da Manhã", terá de ser publicada em Diário da República.

Otelo Saraiva de Carvalho, 72 anos, foi capitão em Angola entre 1961 a 1963 e na Guiné entre 1970 e 1973.

Foi o responsável pelo sector operacional da Comissão Coordenadora do MFA (Movimento das Forças Armadas) tendo dirigido as operações do 25 de Abril a partir do posto de comando instalado no Quartel da Pontinha.

Chegou a comandante da COPCON (Comando Operacional do Continente) a 23 de Junho de 1975, tendo sido afastado do cargo após o 25 de Novembro de 1975.

Otelo Saraiva de Carvalho foi preso na sequência dos acontecimentos do 25 de Novembro e solto três meses mais tarde, tendo sido candidato às eleições presidenciais de 1976 e às de 1980.

Em 1985, foi preso pelo seu papel na liderança das FP-25 de Abril, e alvo de indulto em 1996, pela Assembleia da República, que amnistiou os presos do caso FP-25, relacionado com terrorismo.

Além de Otelo Saraiva de Carvalho, foram promovidos a coronel os militares Vítor Afonso, César Neto Portugal, José Borges da Costa, Antero Ribeiro da Silva, Ângelo Sousa e Aniceto Afonso, e ainda António Vicente, a sargento-mor. A Comissão de Apreciação do Direito à Reconstituição de Carreira analisou vários casos, mas apenas aprovou a promoção de oito militares, adiantou a fonte.


Publico Dixit (http://http)
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Enviado por: Lancero em Abril 23, 2009, 05:27:36 pm
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Defesa: Otelo Saraiva de Carvalho admite recusar distinção e pôr Estado em tribunal



       Coimbra, 23 Abr (Lusa) - O capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho afirmou hoje sentir-se injustiçado com a promoção a coronel ao abrigo da reconstituição das carreiras e admitiu recusar o distinção e pôr o Estado em tribunal.  

 

       "Para já, estou a pensar seriamente em recusar esta promoção e os 48 mil euros. Recuso, assim não, não quero", declarou Otelo à Agência Lusa, em Almalaguês, Coimbra, onde participou num debate com alunos do ensino secundário sobre os 35 anos do 25 de Abril.  

 

       Otelo Saraiva de Carvalho recusa o que classifica de "aparente benesse política" e frisa que o seu caso "não se aplica à reconstituição de carreiras".

 

       "O que eu quero é que a minha instituição, com uma portaria assinada pelos ministros da Defesa e das Finanças, reponha a verdade perante os factos, não há aqui benesse nenhuma por parte do Estado, é um direito que me assiste e reclamo", frisou.  

 

       O capitão de Abril afirma que "não se sente, de facto, recompensado por esta aparente abébia que dada pelo Governo" e fala numa "injustiça muito grande" para com ele.  

 

       "Esta aparente benesse que me é dada pelo Governo é completamente falseada, aceito isto muito mal, não concordo com isto. Há aqui uma injustiça muito grande em relação a mim", disse.  

 

       Otelo Saraiva de Carvalho disse que está a pensar "arranjar um advogado que resolva lutar" com ele pelos seus direitos.  

 

    "O Provedor de Justiça, que está em banho-maria, à espera de ser rendido, já pensei ir ao Provedor de Justiça, ao Tribunal Europeu", acrescentou.

 

       Otelo Saraiva de Carvalho entende que o seu caso "não tem nada a ver com a reconstituição de carreiras" e frisa que, a partir do momento em que foi ilibado do processo das FP-25 deixou de estar na situação de "demorado" e, como tal, deveria ter sido logo promovido pela antiguidade.  

 

       "Vou ver se ponho, com um advogado, uma acção contra o Estado, o que não queria, nunca mexi em nada que pudesse prejudicar o prestígio da minha instituição, do Exército, mas tenho de reagir de alguma forma", afirmou.

 

       Otelo reclama a promoção de tenente-coronel a coronel por antiguidade, com efeitos a 1985, altura em que os oficiais do seu curso terão sido promovidos àquele posto.  

 

       "No final de Setembro de 2003 fiquei completamente ilibado de quaisquer acusações referentes ao processo das FP-25. A partir daí, legalmente, pelo Estatuto das Forças Armadas, devia ter sido promovido a coronel no dia seguinte, reportando a minha antiguidade e com efeitos retroactivos, em termos de vencimentos, a 1985", declarou.  

 

       O líder operacional do 25 de Abril sublinha que chegou a enviar um requerimento ao Chefe de Estado Maior do Exército de então, 20 meses após ter sido ilibado no processo das FP-25, a questionar a razão da sua não promoção.  

 

       "Fiz um requerimento ao Chefe de Estado-Maior do Exército a dizer: 'Eh pá, esqueceram-se de mim? Agora surge-me, de repente, inopinadamente, de surpresa esta promoção", declarou.  

 

    A Comissão de Reconstituição de Carreiras que propôs esta semana a promoção de Otelo Saraiva de Carvalho a coronel sugeriu mais algumas dezenas de nomes, contudo o Ministério da Defesa Nacional aprovou apenas mais sete militares.

 

    Além de Otelo Saraiva de Carvalho, foram promovidos a coronel, pelo Ministério da Defesa Nacional, os militares Vítor Afonso, César Neto Portugal, José Borges da Costa, Antero Ribeiro da Silva, Ângelo Sousa e Aniceto Afonso, e ainda António Vicente, a sargento-mor.  

 
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Enviado por: oultimoespiao em Abril 24, 2009, 04:39:49 am
Um bom exemplo de como o crime compensa!
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: papatango em Novembro 26, 2023, 10:27:33 am
Fui desenterrar este tópico, já que não vi nenhuma referência à tentativa de golpe por parte das esquerdas portuguesas ocorrida desde a madrugada do dia 25 de Novembro de 1975 e que na prática só acabou faz hoje 48 anos, a 26 de Novembro de 1975.


O que neste momento se me oferece dizer em primeiro lugar, é que estou espantado com a posição do Partido Socialista, onde muita gente se arriscou para enfrentar os golpistas.

Por muitas críticas que se possam dirigir a Mário Soares - e há tantas - há uma coisa que não pode de se deixar de lembrar, que foi a sua coragem fisica, de enfrentar gente que o poderia eliminar fisicamente se isso se tornasse necessário.

Hoje vemos um PS amochado, envergonhado, a olhar para o lado e a fingir que o 25 de Novembro não existiu.

Noto também que os setores radicais, não gostam do 25 de Novembro, porque afinal foi uma movimentação militar destinada a evitar uma deriva extremista.



Os setores da esquerda que foram responsáveis pela tentativa de golpe, continuam a olhar desesperadamente para o lado para esconder que tentaram matar o 25 de Abril com um golpe radical, destinado a destruir a liberdade ganha no ano anterior, e a impor um regime, que quando vemos os exemplos internacionais, seria seguramente muito mais vil e corrupto que o regime terminado em 1974 com o fim do governo de Marcelo Caetano.


O golpe foi começado pela esquerda mais radical, e começou a partir da tomada da base de Tancos.
Foi uma sorte dizem alguns, porque a esquerda radical é completamente desorganizada e isso facilitava a vida a quem quer que fosse que quisesse contrariar o movimento.



Precisar de ter coragem, para defender a moderação, mesmo que com armas

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/other/25-de-novembro-em-lisboa-que-estranho-que-%C3%A9-precisarmos-de-ter-coragem-para-celebrarmos-a-modera%C3%A7%C3%A3o/vi-AA1kwPr3?rc=1&ocid=winp1taskbar&cvid=d9bb6c3a639049dcee65d3519abaea79&ei=25#details
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: papatango em Novembro 26, 2023, 10:32:53 am
O PCP e o golpe de 25 de Novembro

Talvez no entanto, a mais fascinante das questões sobre o golpe das esquerdas comunistas, seja a tese de que existiam dois grupos dentro do PCP. Um que estava pronto para entrar em combate, e outro, mais politico, que tinha ideias muito diferentes.

Creio que já aqui falei desses dois grupos não orgânicos dentro do PCP, um é o de Lisboa, o mais importante de todos e o outro, é o que se formou em torno da DORS, ou seja o PCP de Setubal, que aglomera o de Beja e o de Evora (por razões culturais e demográficas o eleitorado comunista de Setubal era em grande medida alentejano).
É claro que como em todas as divisões aleatórias esta teoria mete  água por muitos lados, mas permite estabelecer as diferenças básicas entre os grupos.

Um deles, é de elite e muito mais intelectual (apoiando-se nos intelectuais comunistas do norte, especialmente Porto, mas também da região da Lezíria)

O outro era basista, alimentava-se dos assalariados rurais alentejanos e das massas operárias das zonas industriais da margem sul do Tejo e de Setubal. Era daqui que vinham, por exemplo, as principais tropas de choque do PCP. Eram os operários da Lisnave e da Setenave, que mais facilmente eram armados com matracas e barras de ferro, para começarem a fazer barricadas antes de o partido receber armas para as brigadas populares.

Eram os constituintes dos chamados Grupos de Agitação e Propaganda, cuja propaganda constituia em bater na cabeça das pessoas dos outros partidos, até elas mudarem de ideias ou perderem os sentidos.

A norte, a área intelectual não era inativa. Em grande medida, ela dependia das organizações estudantis, que eram a norte do Tejo a principal formação militarizada preparada para se transformar em pequenas unidades de milicias populares.
A Zita Seabra, uma das principais dirigentes comunistas confirmou que estava a preparar os estudantes para receberem armas e iniciar a luta armada.

Eu tinha várias pessoas da minha família ligadas ao PCP, a vários níveis, mas só muitos anos mais tarde, já eu era adulto, é que fiquei a saber que um tio meu fazia parte desses grupos de arruaceiros, que tinham como objetivo aterrorizar as pessoas de outros partidos, especialmente durante as campanhas eleitorais.

Ficou famosa a ação dos arruaceiros do PCP no comício do Clube Naval Setubalense, de que resultaram mortos e feridos, tendo a milícia do PCP (constituída por mais de 400 arruaceiros),  feito a policia recuar para se barricar na esquadra.
Um dos militantes comunistas acabou morto (na altura transformado em mártir).

Em 25 de Novembro, a primeira ação das tropas de choque do partido era controlar as esquadras de policia. Em principio, não havia pelo que me disseram - já lá vai tanto tempo - nenhuma intenção de fazer nada com os quartéis do exército.
Não é claro como era a relação entre a estrutura paramilitar do PCP na margem sul do Tejo e a direção do partido em Lisboa, quem era «controleiro» de quem...

A questão aqui, é que a força de milícia mais preparada do PCP, que estava aparentemente na margem sul do Tejo, entre Setubal e o Barreiro, estava também na área, onde se encontrava a mais poderosa unidade militar, claramente controlada pelo PCP, os Fuzileiros.

O controlo da peninsula de Setúbal era por isso dado como certo, razão pela qual, seguramente as acções seriam menos significativas e era mais provavel que as milicias fossem posteriormente enviadas para norte, para as barricadas que seguramente se iriam construir a norte de Vila Franca, para barricar a EN-1 e impedir ataques das forças fascistas.



Hoje sabemos, que a ala tecnocrata do PCP, onde naturalmente estava parte da direção do partido, não sabia o que fazer. E esta indecisão durava havia já dias.
Álvaro Cunhal, e uma parte da direção sabiam - TINHAM SIDO AVISADOS - por diplomatas soviéticos, de que a URSS não iria intervir, nem mexer uma palha para influenciar militarmente a situação em Portugal.
Os russos terão dito a um enviado do PCP " ...não pensem que vamos começar a terceira guerra mundial por causa de Portugal ... "

Cunhal temia o velho adágio popular «preso por ter cão e preso por não ter»
Se agisse, o PCP iniciaria uma guerra civil, que não tinha como vencer. Sem apoio externo, com os americanos e os espanhóis à porta, a única coisa que podia fazer era criar um problema diplomático com os espanhóis, porque nada como um inimigo externo para unir o país.
Mas os espanhóis já tinham percebido o truque, e por isso nem reagiram aquando da invasão da embaixada em Lisboa.
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: goldfinger em Novembro 26, 2023, 11:05:41 am
https://www.abc.es/archivo/abci-salvaje-ataque-contra-embajada-espanola-lisboa-casi-hace-franco-invadiera-portugal-202208090202_noticia.html (https://www.abc.es/archivo/abci-salvaje-ataque-contra-embajada-espanola-lisboa-casi-hace-franco-invadiera-portugal-202208090202_noticia.html)
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: Lusitano89 em Novembro 26, 2023, 11:45:50 am
Fui desenterrar este tópico, já que não vi nenhuma referência à tentativa de golpe por parte das esquerdas portuguesas ocorrida desde a madrugada do dia 25 de Novembro de 1975 e que na prática só acabou faz hoje 48 anos, a 26 de Novembro de 1975.


 :arrow:  https://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=7697.0
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: papatango em Novembro 26, 2023, 02:52:24 pm
Fui desenterrar este tópico, já que não vi nenhuma referência à tentativa de golpe por parte das esquerdas portuguesas ocorrida desde a madrugada do dia 25 de Novembro de 1975 e que na prática só acabou faz hoje 48 anos, a 26 de Novembro de 1975.


 :arrow:  https://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=7697.0

Provavelmente por se tratar apenas de um post de um video sem comentários, e de ter um número muitíssimo inferior de visionamentos, quando fiz pesquisa no fórum,  este tópico (que em vez de videos, tinha texto)  apareceu primeiro...
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: papatango em Novembro 26, 2023, 02:53:35 pm
Sobre a esquerda radical

Ninguém foi apanhado de surpresa com o 25 de Novembro, a situação estava explosiva, na semana anterior (esperava-se e eclosão uma semana antes) todos os aviões da Força Aérea tinham ido para o Porto e todos os deputados do PS, PSD e CDS também tinham recebido instruções para irem para o Porto (aqui faço referência às memórias do prof. Freitas do Amaral) para poderem reunir a Assembleia Constituinte no Porto...

Mas não aconteceu nada de grave entre 17 e 20 de Novembro, e o que aconteceu foi no sentido contrário, ou seja, a saída de Otelo do comando do CopCon (Comando Operacional do Continente) e portanto a maior parte do pessoal voltou para Lisboa, e é em Lisboa que vai ser apanhada pelo golpe.

No meio do caldeirão, Costa Gomes o presidente, também tinha noção de que a coisa iria rebentar por algum lugar.

A única diferença relativamente ao período anterior à guerra civil de Espanha, é que em Portugal, não ocorreram assassinatos de figuras à esquerda ou à direita.
Mas o ambiente que se vivia em Portugal era parecido com o que se vivia nas cidades espanholas em Junho/Julho de 1936.

Havia um claro contar de armas, e como sempre, uma esquerda dita mais radical, mas também menos organizada, que queria o protagonismo e não queria ser controlada pelo Partido Comunista.

A situação era de um acumular de tensão que tinha que rebentar por algum lado.
Na esquerda radical, não havia organismos centralizados que tentavam gerir os problemas, era tudo muito mais orgânico, e muito mais instável.
Logo, a esquerda radical era mais instável, e era obviamente o elo mais fraco na fraca corrente que evitava o conflito.

E foi a esquerda radical que rebentou primeiro.
Ainda que as dificuldades de comunicação – não havia telemoveis – tornassem o entender da situação mais complicado, a verdade é que para a esquerda radical tudo começou mal, mal organizado e inevitavelmente condenado ao fracasso.

Os radicais que tentaram dar um golpe, ainda hoje acusam o PCP de não ter participado, de ter hesitado e de por isso ter levado ao fracasso do golpe, mas a verdade é que as criticas aos comunistas apenas serviram para encobrir a absoluta falta de planos, estratégia e objetivos claros que caracterizaram a fase inicial do golpe.

Na esquerda não alinhada com o PCP, ninguém tinha absolutamente nada na cabeça. O Otelo por exemplo, morreu a achar que o que eles queriam era instalar um estado utópico, sem que tenha entendido aparentemente o que utopia quer dizer.

À esquerda só os comunistas soviéticos tinham organização, mas tinham ao mesmo tempo uma clara e objetiva noção das suas fraquezas. Os comunistas pesaram os prós e os contras, e concluiram que não havia uma única possibilidade de triunfo.

A cereja no topo, veio quando Cunhal recebeu uma promessa clara, de que o PCP não seria ilegalizado e não teria que passar à clandestinidade.

Para Álvaro Cunhal, a melhor coisa a fazer, era não fazer nada, e foi isso que os comunistas fizeram: Nada !
Os descendentes da esquerda radical, atual Bloco de Esquerda, nunca lhes perdoaram, e provavelmente não vão perdoar, até que o inferno congele.

Mas de entre as personagens da esquerda radical, há uma que é impossível de não referir, pela sua absoluta importância no processo. O fato de nunca ter sido seduzido pelos soviéticos, explicará em parte o resultado do 25 de Novembro, trata-se naturalmente da figura de Otelo Saraiva de Carvalho.

Utópico, não muito lógico, sempre com o “pá” na boca, Otelo vai ser cortejado por Fidel Castro, que o tenta influenciar, mas sem sucesso.
Otelo já tinha entendido na altura que Cuba não passava de um estado fantoche nas mãos dos russos e que Fidel era um fornecedor de mão de obra para os russos.

Provavelmente nunca saberemos que tipo de relação se estabeleceu entre Otelo e Frank Carlucci, embaixador americano desde o final de 1974.
Apenas sabemos, porque é público, que o embaixador almoçou com Otelo, logo no dia seguinte a ter chegado a Portugal, num restaurante no Guincho (se não me equivoco) e que se trataram de forma muito amigável. Carlucci era um diplomata, e era de origem italiana. Sabia o que estava a fazer.

Sabemos até que ponto Mário Soares estabeleceu uma relação de amizade com Carlucci. E claro, sabemos que Otelo, afastado do CopCon apenas cinco dias antes, nada fez que levasse ao confronto.
Algo terá acontecido na relação entre estas três pessoas, que levou Mário Soares ao indulto que deu a Otelo Saraiva de Carvalho muitos anos mais tarde.



No final, a esquerda radical, como todos os movimentos radicais mostraram ser perigosos e violentos.
Hoje preocupamo-nos com ow wokes e lgbt's e quetais, e parece que nos esquecemos que no passado as coisas foram inimaginavelmente piores que hoje.

E esquecemos que os extremistas, que acham que se pode pegar em armas para defender ideias continuam por aí.
E não estão apenas na extrema-esquerda, como alguns parecem fazer querer.. Muito pelo contrário !
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: CruzSilva em Novembro 26, 2023, 10:14:07 pm
Mas papatango a verdade é que a esquerda radical recuperou parcialmente da derrota de 25NOV75 - conseguiu representação parlamentar e um acordo de governação com um governo do PS...

Eu considero que claramente o crescimento da direita radical se deve à incapacidade dos moderados de combater a esquerda radical.
Título: Re: 25 de Novembro 1975
Enviado por: papatango em Novembro 27, 2023, 03:41:06 pm
Citação de: CruzSilva
Mas papatango a verdade é que a esquerda radical recuperou parcialmente da derrota de 25NOV75 e conseguiu representação parlamentar e um acordo de governação com um governo do PS...

Bem, depende do que consideramos esquerda radical. O Partido Comunista, saiu do golpe por entre os pingos da chuva e nas eleições seguintes, aumentou a votação com cerca de 14% dos votos. A extrema esquerda ficou completamente espartilhada e desencontrada.
Vai conseguir um sucesso contra o PCP nas eleições presidenciais do ano seguinte, quando Otelo Saraiva de Carvalho consegue 16.5% dos votos contra Otávio Pato do PCP que pouco passa dos 7%.
Muitas pessoas esqueceram já, que a primeira grande derrota eleitoral do PCP ocorre em 1976 e na altura a extrema esquerda viu aquilo como um sinal de que o povo não tinha gostado da ação do PCP.
Mas a extrema esquerda apanhou um balde de água fria nas autarquicas de 1976, com os Grupos Dinamizadores de Unidade Popular, uma espécie de frente popular da extrema esquerda, que teve resultados reduzidos.

O PCP continuou a comer bocados do PS durante o final da década de 1970, até 1979, altura em que com Sá Carneiro, os partidos de direita voltam ao poder (ainda que sem uma maioria sociológica de direta).

A extrema esquerda vai continuando no Limbo representada pela UDP União Democrática Popular, com um deputado no parlamento Acácio Barreiros e depois o Major Mário Tomé. A UDP era um partido comunista sem uma linha ideologica clara, nem era estalinista nem trotskista, umas vezes era a favor do modelo jugoslavo de auto-gestão, outra queria inventar uma via própria.

O PSR aproximava-se da UDP, em 1995 ultrapassa a UDP mas nenhum dos partido elege ninguém.
É a partir daí que se juntam para formar o Bloco de Esquerda, que logo em 1999 consegue eleger dois deputados.
Portanto, levou quase um quarto de século para que a extrema esquerda radical elegesse um grupo parlamentar. E nesta altura a Russia estava esfacelada e acabada e o PCP ainda tinha uma força eleitoral relevante.

É importante também aqui referir, que mesmo dentro do Bloco, existem fações moderadas e fações radicais.
Aliás isso é mais visivel que no PCP, onde as divisões em bloco parecem ser entre classes sociais, de um lado o operariado assalariado da margem sul do Tejo e do outro as elites intelectuais do partido, em Lisboa.


A questão é que, estes radicalismos malucos que a comunicação social projeta e aumenta até à exaustão, são na minha humilde opinião, minoritários mesmo dentro do próprio Bloco de Esquerda.
São deixados a monte porque dá jeito que façam barulho, e quanto mais barulho, "baderna" e arruaças eles produzirem, maior será o eleitorado que se passa para a extrema direita.

E o eleitorado moderado cai com facilidade neste tipo de armadilhas. Tanto os radicais do Bloco, como os velhos do MIRN (no Chega) estudaram na mesma escola ...


E si,,, Estou de acordo. A falta de atividade das pessoas normais em responder aos extremismos, é o que dá mais força aos extremistas dos dois lados.

E digo dois lados com aspas, porque o pessoal do Chega que veio do PCP e do Bloco, não deixa realmente falar em dois lados, Extremistas são extremistas, Querem ver Portugal a arder

Não importa se o fazem em nome da direita ou da esquerda, o que conta é a adrenalina.