Disse que o ADN é um documento histórico. De que forma?
Tal como acontece com um livro de história, nós passamos o ADN aos filhos. Nessa passagem, há erros de cópia, que se tornam marcadores de descendência. Como geneticistas populacionais, lemos esse documento e procuramos pelas diferenças que nos distinguem, mas também as semelhanças entre as pessoas. O ADN é realmente um documento escrito.
O que espera aprender?
Como se originou a diversidade humana, de onde vimos. A questão das migrações tem muito a ver com a história e a antropologia. Nós juntamos padrões genéticos ao debate, por exemplo, sobre a diversidade de linguagens. Comparamos essas referências do ADN com padrões arqueológicos e vemos o que se passava também nessa mesma altura a nível meteorológico. Tentamos dar sentido à história é como um caso forense, de investigação criminal. Não tendo estado na cena do crime, olhamos para as provas e tentamos ver o que aconteceu.
E pode acontecer que as vossas provas venham a contradizer a história, a versão oficial dos acontecimentos?
Absolutamente. Esperamos mesmo que o faça. É muito mais interessante quando descobrimos algo completamente novo e temos de reavaliar tudo o que foi dito. Não estamos a tentar tomar o controlo da História ou de outra qualquer disciplina, mas sim dar sentido aos dados à luz dos novos materiais que aparecem.
Temos a ideia que a genoma muda lentamente, mas parece que, de facto, essa evolução não é assim tão lenta.
Uma ou duas coisas terão acelerado o ritmo a que a mudança ocorre. Uma foi certamente a deriva genética - que é o processo pelo qual perdemos a linhagem das populações pequenas. Isso causa mudanças rápidas na frequência dos genes nos grupos pequenos. Por outro lado, temos ainda aquilo que Darwin chamou de selecção sexual a de que escolhemos os parceiros sexuais de acordo com critérios de atracção e isso provavelmente aumentou essas diferenças. Em grupos de diferentes lugares, escolheu-se de acordo com critérios diferentes. E isso, ao longo de sucessivas gerações, leva pequenas diferenças genéticas a adquirirem grande importância.
Contudo, na base somos todos africanos...
Somos, de facto. Podemos dizer que somos todos primos.
Portanto, o racismo não faz qualquer sentido...
De facto, o racismo não tem qualquer base genética. Existem razões para nos intitularmos membros de determinados grupos culturais ou linguísticos, mas a raça, como uma entidade específica e profunda, não tem base genética.
http://dn.sapo.pt/2005/12/31/sociedade/ ... etica.html