Há um padrão que tem aparecido nos últimos tempos que é no mínimo curioso. A descredibilização de classes profissionais quando as opiniões não vão de acordo com a moda (que é definida por alguém exterior).
- O médicos são maus porque o Dr. X pôs em causa as condições no hospital (que é o topo de gama segundo a última reportagem). Há que proibir a ordem dos médicos
- Os enfermeiros são demoníacos porque X disse que há malta a trabalhar sem contrato (coisa que na tv disseram que é mentira). Há que proibir a ordem dos enfermeiros
- O contabilista X disse que as contas não batem certo. É um mentiroso e há que investigar a ordem dos contabilistas
- Agora pelos vistos os oficiais têm uma opinião errada e têm que ser varridos
- O mesmo se diz dos camionistas, dos pedreiros e outros que parecem que refilam de mais e não pode ser. Onde é que já se viu quererem um aumento salarial se segundo a moda está tudo bem
Tudo é desvalorizado excepto a santidade dos políticos.
Um oficial Português é educado para assumir a responsabilidade da defesa da pátria (e não do partido ou do estado ou do governo). A pátria Portuguesa não tem meia dúzia de anos e não é fruto do acaso geoestratégico. Um oficial Português não é um líder de mártires e de heróis. E isso é que faz sermos o que somos.
A pátria é PORTUGAL, não é a Nato, não é a Ue nem é o império (daí o 25 de Abril e o 25 de Novembro).
Está a cometer um erro ao comparar, por exemplo, camionistas que se queixam dos salários (algo legítimo), com oficiais iludidos com opiniões erradas. Ser de uma classe profissional, não legitimiza toda e qualquer opinião que possam ter, só porque sim. Senão qualquer dia, vinha um oficial dar a opinião que "as câmaras de gás do Hitler, eram apenas saunas que visavam o bem estar dos judeus", e nós tínhamos de aceitar.
Existem opiniões legítimas, e existem opiniões absurdas. A "terra plana" é uma opinião, mas é absurda, logo quem a profere, vai ser descredibilizado.
Com isto não estou a dizer que todos os oficiais que foram à TV, têm opiniões absurdas e merecem ser descredibilizados. Casos desses são excepções, e consoante o nível de absurdidade dos comentários, podem ou não ser descredibilizados. Também existe um meio termo, estarem pura e simplesmente errados numa opinião, sem que mereçam ser descredibilizados por um erro.
Além disso, convém não fazer generalizações. Nem todos os oficiais são bons, nem todos são maus.
Quanto ao ataque a oficinas, ou a utilização destas para reparar veículos militares ou o que seja, é preciso entender umas coisas.
Até certo ponto, os russos têm uma certa legitimidade em atacar estes alvos, tendo em mente o risco de matarem civis, e o risco de estarem a desperdiçar munições (por exemplo um míssil de cruzeiro) num alvo que pode não ter qualquer valor militar.
É preciso também entender que a distinção não é apenas se é militar ou civil. Existe uma "área cinzenta" no meio, em que civis armados, deixam de ser civis. Existem casos específicos, em que por exemplo tem-se um mecânico civil a reparar um camião militar, e nesse caso, convém aceitar que se está nessa área cinzenta, sob o risco de se ser um alvo. Uma fábrica de equipamentos militares (da Airbus por exemplo), é um alvo legítimo, apesar de a grande maioria dos trabalhadores ser civil.
Isto parece uma forma muito fria de colocar as coisas, mas se assim não fosse, então legitimizava-se a utilização de civis como escudo humano.
Devem existir sempre áreas que são off-limits, como escolas, hospitais, centros de saúde, maternidades, igrejas e outras infraestruturas religiosas, corredores humanitários, abrigos temporários, etc. O resto, é sempre um risco.
Também é absolutamente normal, a utilização de espaços civis (casas, oficinas, centros comerciais, pavilhões desportivos) como bases militares improvisadas, especialmente depois das bases militares "oficiais", terem sido destruídas pela força invasora. Acho que ninguém no seu perfeito juízo, vai dizer que as forças do país atacado, devem dormir, comer, reparar veículos, etc, na rua. Qualquer edifício que não esteja a ser utilizado, pode ser usado por militares durante a guerra. É uma ilusão tremenda achar que por cá seria diferente.
Quanto à publicidade dos russos darem ajuda humanitária a civis em vídeo, vale o que vale. Não é muito difícil perceber que é facílimo manipular a percepção exterior, através do desempenho de uma boa acção à frente das câmaras. Isto não quer dizer que seja a norma, pode ser uma vez sem exemplo, pode ser apenas para a parte da população ucraniana pró-Rússia, mas não significa que seja a regra, e certamente não torna mais aceitável a invasão.
Quanto à "censura" no Ocidente, convém ver que no Ocidente, apenas foram bloqueados canais televisivos russos, e pouco mais, estando o acesso à Internet livre, enquanto que na Rússia, tudo o que é redes sociais, tem sido bloqueado, para esconder a realidade do conflito perante a população russa.