E quem falou em ter mais de uma?Apenas pedi para darem sugestões alternativas a Base Naval do Alfeite apenas isso.Somos pequenos em terra mas em Mar somos gigantes porém em orçamento somos anões.
Então das várias alternativas seria apenas para escolher uma. Se calhar as pessoas que deram as hipóteses deveriam justificar o porquê dessa escolha.
Para mim, Sines é o melhor porto do país, mas do ponto de vista do território marítimo nacional, para ter duas bases, deveria ser uma em Portugal continental e outra nos Açores.
Respondi Açores porque é de facto a única escolha com sentido estratégico. Não faria o mínimo sentido ter mais do que uma base naval no continente. A fazer-se um esforço de criação de uma base naval adicional a escolha para mim teria que ser Açores porque:
- é um ponto estratégico localizado no meio do espaço marítimo nacional e por isso com acesso facilitado a uma extensa área;
- é um espaço de salvaguarda para a defesa nacional, mais difícil de atacar e de ocupar do que qualquer ponto do continente. Não é por acaso que os planos de defesa e de governo do país em caso de ocupação passavam pelos Açores;
- é a área que mais meios navais tem normalmente empenhados longe do continente. Se estes estivessem aí baseados evitavam-se algumas viagens de ida e volta ao Alfeite;
- aumentava-se o comprometimento com a defesa e a soberania nacional sobre uma área que tem despertado alguns interesses alheios pouco recomendáveis;
- contribuía-se para diminuir a centralização de meios do Estado na zona de Lisboa, beneficiando uma região que bem precisa. Poderia atrair mais pessoal dos Açores para a Marinha e trazer mais empregos (diretos e indiretos) para a região do país que salvo erro tem o salário médio mais baixo.
Bem a propósito do que escreve e que destaquei, abaixo transcrevo artigo hoje publicado no jornal Diário Insular, de Angra do Heroísmo:
ENSAIO DE ANTÓNIO JOSÉ TELO REFERE O INTERESSE CHINÊS NA REGIÃO
Açores continuam no centro das disputas estratégicas
Num texto que compara as condições da Grande Guerra com a atualidade, António José Telo, historiador, diz que os Açores não perderam interesse. As investidas da China são prova disso.
Os Açores estão, como estiveram no passado, no centro das disputas estratégicas mundiais. A tese é defendida por António José Telo, professor catedrático na Academia Militar, num ensaio que vai ser publicado em breve pela Assembleia da República.
No texto, que foi cedido ao DI para pré-publicação, o historiador explica a ascensão da China como novo poder global e lembra que a potência tem vindo a manifestar interesse no arquipélago - tal como aconteceu antes, aliás, com os Estados Unidos da América.
“Cem anos depois vamos encontrar de novo os Açores no centro das disputas estratégicas, das visões de longo prazo dos poderes emergentes, sejam as económicas ou as de defesa, intimamente ligadas. Quando os EUA decidiram assumir responsabilidades globais, a primeira coisa que fizeram foi colocar um pé nos Açores, mesmo com uma administração central dividida; cem anos depois, quando a China decide oficialmente assumir a ‘liderança da globalização’, logo pensa nos Açores”, escreve o historiador. No ensaio “Um século depois - o que a Grande Guerra ensina ao mundo de 2019”, António José Telo faz a comparação entre as condições da I Guerra Mundial e o mundo de hoje.
Há, de acordo com o professor da Academia Militar, pontos de contacto entre as duas realidades e uma delas tem que ver, precisamente, com a mudança de hegemonia, desta feita assumida em grande escala pela China, cujo PIB representa, hoje, 16% do total mundial – um crescimento de oito vezes mais do que no início dos anos 90. “O objetivo principal dos passos recentes é mudar o sistema económico e financeiro internacional, centrando-o na China, que é a segunda economia mundial e o principal agente do comércio internacional.
É um objetivo de médio prazo, algo a alcançar nas próximas décadas”, escreve o especialista, que lembra que o Presidente chinês, Xi Jinping, já assumiu a liderança do processo de globalização.
De acordo com António José Telo, o país tem vindo a definir os mecanismos para aplicar os valores do centro do sistema. Neste sentido, escreve, foram definidos dois grandes eixos externos, onde se vai concentrar uma ação multifacetada.
O primeiro eixo, recorda, é o projeto chamado “Nova rota da seda”, apresentado como ajuda humanitária a alguns dos países mais pobres na Ásia, em África e na Europa. “São abrangidos pelo menos 47 Estados em três continentes, com que já se assinaram acordos. No conjunto são centenas de projetos, financiados pela China, não propriamente por doação (é um mínimo),mas com investimentos diretos e créditos em condições favoráveis. O financiamento é dado por organismos internacionais liderados pela China”, avança o historiador, que lembra que o processo passa por um entendimento com os norte-americanos e com os russos.
O segundo eixo, refere, é a Rota do Norte, que ainda não está operacional, mas que implica “importantes investimentos em meios de apoio” e um entendimento direto com a Rússia - que está “interessada em partilhar tecnologia e encontrar mercados para a sua indústria de defesa”.
É na confluência destes dois eixos que entram os Açores. “Os dois eixos vão-se encontrar nada mais nada menos do que no Atlântico português, que de repente adquire um significado estratégico completamente diferente do passado recente. Os EUA e a Europa de Bruxelas ainda não o entenderam, embora seja de esperar que o façam nos próximos anos (os EUA sim, a Europa de Bruxelas só se mudar muito). Alguns Estados europeus já perceberam o que os espera e é neles que Portugal se deve apoiar”, pode ler-se.
Neste contexto, o interesse chinês pela Região é explícito, conforme refere o historiador. Xi Jinping já esteve nos Açores e já manifestou interesse em investir no porto da Praia da Vitória - embora tenha, entretanto, desviado as atenções para o porto de Sines, por motivos que António José Telo alega não poder explicar.
E A BASE?
É verdade que não são conhecidas as intenções chinesas sobre a Base das Lajes, mas também é verdade que elas podem não estar a ser negociadas com Portugal. Isso mesmo aconteceu no passado, com os EUA que negociaram o interesse nos Açores, em 1917, não com os portugueses, mas com os ingleses, já estacionados em Ponta Delgada.
“Em termos do combate aos submarinos no Atlântico, a base de pouco servia; para as ambições globais dos EUA no pós-guerra era essencial”, lembra o professor da Academia Militar. Não é de estranhar, portanto, que uma situação semelhante possa estar a ocorrer nos bastidores da política internacional.
“Nos últimos anos a China colocou o primeiro pé no Índico no campo da defesa, a pretexto de precisar de bases permanentes para apoiar as ações humanitárias no Corno de África – a base em Djibouti, obtida por acordo com os EUA. Aliás, é provável que daqui a algumas décadas os historiadores de então descubram que a China discutiu a presença nos Açores com os EUA, antes de falar com Portugal”, diz.
EUROPA EM DECADÊNCIA
Ora, segundo António José Telo, todas estas novas dinâmicas deixam a Europa de fora. Segundo o especialista, aliás, a Europa é, hoje, o “doente” do sistema internacional, já que está progressivamente não só a perder força económica e militar, como também peso relativo na ordem mundial. Acresce, refere, a insatisfação interna, dentro da União Europeia, e a incapacidade de construir alternativas. “O significativo é que a Europa de Bruxelas já passou a entidade secundária, alguém que está fora da definição do grande jogo e que será enquadrado de uma maneira ou de outra, sem entender sequer o que se está a passar. A isto nos levou a colossal cegueira dos recentes responsáveis por Bruxelas, que cada vez mais se afirmam como os grandes inimigos da Europa e dos europeus”, afirma.