https://cnnportugal.iol.pt/guerra-ucrania/ucrania/fernando-montenegro-por-que-macron-quer-enviar-tropas-para-combater-russos-na-ucrania/20240409/66157c8cd34ebf9bbb3c3dcbA forma como a França projeta seu poder na África é conhecida como Françafrique. Esse sistema foi elaborado por Jacques Foccart, Secretário-Geral de Assuntos Africanos durante a década de 1960, tem por fundamento a presença militar francesa protegendo as elites regionais das antigas colônias francesas. Em contrapartida, as empresas francesas conseguem acesso privilegiado aos recursos minerais estratégicos como urânio, pedras preciosas, gás, petróleo. A moeda corrente usada em mais de dez países com esse perfil é o Franco CFA, acrônimo referente a Colonies Francaises d’Afrique, pelo qual a França ainda cobra taxa de cunhagem. Esses países pagam 65% de suas reservas de divisas ao tesouro francês. Sendo o Franco CFA atrelado ao Euro, inviabiliza gestão da política monetária de por cada país. Em outubro de 2022, Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, chamou atenção para esse fato e acrescentou que, muitas matérias primas consumidas pelos franceses são provenientes de trabalho infantil nas minas africanas, como 30% do urânio, que vem do Níger, onde 90% da população vive sem eletricidade
Na última década, a Rússia intensificou seu posicionamento geopolítico defendendo um mundo multipolar. Em consequência, passou a realizar sua projeção de poder militar na África através da companhia militar privada Wagner Group, liderada por Prigozhin, que protagonizou uma rebelião falhada contra o Kremlin em 2023. Entretanto, de acordo com o Dr. Watling, “…houve uma reunião no Kremlin pouco depois do motim de Prigozhin, na qual foi decidido que as operações do Wagner em África ficariam diretamente sob o controlo da Inteligência Militar Russa, GRU”. O General Andrey Averyanov, comandante de uma tropa especializada em eliminar alvos e promover golpes de Estado, assumiu as tarefas. Na sequência, um estranho acidente aéreo extinguiu toda liderança antiga do Wagner.
Essa busca dos russos por ampliar a influência geopolítica na África tem por finalidade controlar o acesso a riquezas estratégicas de países africanos, a maioria deles sob a esfera de influência francesa. Países na zona do Franco CFA como Burkina Faso, República Centro Africana, Mali e Níger já possuem forte assédio russo e presença de mercenários do Wagner prossegue sendo ampliada. Se a Rússia conseguir o controle das minas de urânio da África Ocidental, a Europa vai ficar em grande vulnerabilidade energética.
Dessa forma, já faz um bom tempo que a França vem sendo incomodada pelos russos, que passaram a desestabilizar politicamente países da comunidade que usa o Franco CFA visando colocar à força nos governos grupos que favoreçam Moscou. De acordo com o Blood Gold Report, A Rússia já extraiu mais de 2 mil milhões de libras em ouro da África desde a invasão da Ucrânia para prosseguir financiando sua campanha militar.
Assim sendo, caso mais crítico e urgente para a França atualmente é a sua segurança energética. Caso seja interrompido o fornecimento de urânio africano para os reatores nucleares franceses, o país será mergulhado rapidamente num caos social sem precedentes, e as autoridades políticas evitam ao máximo esse tema. Nesse contexto, os problemas internos, envolvendo acomodação de imigrantes de ex-colônias, sejam eles de primeira, segunda ou terceira geração poderão acelerar a desintegração não apenas do seu potencial de infraestrutura como também uma crise étnica cultural muito grande que afeta o coração desses países que sempre foram carro-chefe da União Europeia. Podemos dizer que a França e outras nações europeias sofrem um problema civilizacional que compromete a própria existência cultural e física
Nesse contexto, em março de 2024, o presidente Emmanuel Macron escalou a crise com os russos e fez uma série de declarações defendendo o envio de tropas francesas ao território ucraniano. Desde então, o 2.º Regimento Estrangeiro de Infantaria, na cidade de Nimes, Sudeste da França, recebeu ordens de ficar em condições de ser empregado em território ucraniano contra os russos. A partir do início do conflito, militares e ex-militares franceses se engajaram indiretamente no conflito ministrando treinamentos em regiões remotas da Polônia, fornecendo artefactos bélicos e suprimentos logísticos; também houve participação direta por conta de ex-militares franceses que se apresentaram como voluntários para integrar a Legião Internacional da Ucrânia.
A resposta de Vyacheslav Volodin, presidente da Duma (Parlamento Russo), foi a gravação de um vídeo em francês informando que quase metade dos mercenários franceses que combatiam pela Ucrânia já haviam morrido e que os russos iriam matar todos os franceses que fossem combater no território ucraniano.