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Forças Armadas e Sistemas de Armas => Marinha Portuguesa => Tópico iniciado por: fgomes em Outubro 20, 2004, 10:57:07 pm

Título: Submarinos, missões em tempo de paz
Enviado por: fgomes em Outubro 20, 2004, 10:57:07 pm
Com a decisão de (finalmente!) adquirir novos submarinos para a nossa Armada, não há debate ou comentário político em que esta aquisição não seja apresentada como um desperdício por qualquer jornalista ou "opinion maker" politicamente correcto. Assim gostava de saber a opinião dos colegas do forum sobre estas missões, porque nunca vi por parte da Marinha ou do governo esclarecimentos acessíveis ao comum dos cidadãos, havendo apenas referências a por exemplo, o combate ao tráfico de droga.
Devo também esclarecer que quando me refiro a missões em tempo de paz, estou a excluir apenas aquelas que são típicas de uma guerra clássica.
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 22, 2004, 05:34:39 pm
Não indica para que servem em tempo de paz, mas indica razões para a sua existência.

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Para que é que Portugal precisa de submarinos?

As ultimas declarações do almirante Vieira Matias, ao Diário de Noticias, referindo a oposição do antigo primeiro-ministro António Guterres, durante o seu governo ao plano de modernização da marinha, faz-me pensar um pouco sobre quais serão os pontos de vista dos nossos políticos, relativamente à arma submarina, e sobre que conceitos de estratégia em geral terão os nossos insignes representantes.

Quando se analisam as ideias de Mário Soares, (vide entrevista ao canal SIC-Noticias ainda este ano de 2004) que foi Presidente da República, até António Guterres, que foi primeiro-ministro, nota-se como fio director uma linha de pensamento relativamente ás questões de defesa. Tal linha de pensamento, que não é (longe disso) exclusiva de lideres de esquerda, pode-se resumir aos seguintes princípios, nunca abertamente declarados, porque politicamente incorrectos.

-1- Portugal é um país muito pequeno para valer alguma coisa militarmente

-2- Não é possível defender o país, porque as nossas forças armadas não seriam capazes de o fazer

-3- Como não somos capazes de defender o país, então, é melhor ou acabar com as forças armadas ou transforma-las numa espécie de polícia, que poderemos “arrendar” aos países “importantes”.

- 4- Só a União Europeia nos conseguirá defender de algum tipo de ameaça.

- 5- Portugal deve diluir-se nessa Europa, porque não sendo capaz de se defender sozinho, deve aceitar o que quer que seja que o eixo Paris-Berlim, e, muito mais grave Berlim-Paris-Madrid decidir e nos impuser.

Estamos portanto conversados, sobre o Europeísmo convicto de alguns dos nossos ex-governantes, (independentemente dos seus partidos) que explica em grande medida a situação de caquéctica penúria a que deixaram chegar as nossas forças armadas.

Primeiro deixa-se de investir, continuando no entanto a manter um numero de militares exagerado, com oficiais a mais, para o tamanho do país, que têm que continuar a ser pagos. Assim, o dinheiro disponível, que é pouco, vai-se, para pagar a oficiais excedentários e a estruturas caducas, muitas delas baseadas nas estruturas criadas durante o período da guerra colonial, e quando não – o que é mais grave - nas estruturas e ideias anteriores, a 1961.

A conclusão, é apenas uma. Com conceitos ultrapassados, no que respeita à defesa nacional, realmente não há nada a fazer. Portugal nunca poderá ter um exército, Força Aérea ou Marinha suficientemente grandes e armados, como outros países europeus, muito maiores e muito mais ricos.

Mas será que necessitamos de ter um grande Exercito, uma grande Marinha ou uma enorme Força Aérea?

A resposta é mais que obvia, e olhando para a evolução das principais forças armadas mundiais, é evidente: A resposta é:

Não!
Não precisamos de umas grandes Forças Armadas, armadas até aos dentes, para termos umas forças armadas minimamente operacionais. Considerando aqui, que “operacionais” implica serem capazes de desenvolver acção ou acções que consigam deter ou – acima de tudo – desencorajar, qualquer iniciativa, de qualquer potência estrangeira, que ponha em causa o nosso direito a existir como país, independente, em qualquer domínio.

A questão naval.
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A existência e a continuação de Portugal, como nação independente, deve-se bastante ao mar, e ás politicas ultramarinas dos governantes portugueses, desde D. João I. O país sempre teve uma dimensão muito maior que aquela que lhe corresponderia pelo seu tamanho, em termos geográficos, ou pela sua dimensão demográfica. É o mar que permite a tomada de posições importante no oceano indico, o domínio marítimo daquele oceano e do atlântico sul. Depois de 1640, com o fim da dinastia dos Habsburgos (Filipina) foi o mar, e as alianças então estabelecidas com a Grã Bretanha, que permitiram a Portugal voltar a reconstruir um império no Brasil, e é o mar que, depois do Brasil, torna possível a comunicação entre as colónias de Africa, Timor, Macau e a Índia.

Em 1961, a União Indiana, invade o então Estado da Índia Portuguesa, utilizando para o efeito uma parte considerável das suas melhore forças. A Marinha Indiana, equipada com porta-aviões, fragatas modernas e cruzadores, não encontra praticamente oposição, que não a da canhoneira “Afonso de Albuquerque” que é destruída no próprio porto, não sem antes ter resistido e respondido ao fogo inimigo, ainda que, estando em tremenda inferioridade numérica e de capacidade de fogo.

Salazar, pouco ou nada fez. Uma das razões apontadas tem a ver com a sua interpretação do pacifismo de Nehru, o líder indiano. No entanto, teria sido possível evitar o sucedido? A resposta é negativa. A diferença entre as capacidades da Índia e as de Portugal eram de tal forma, que nunca teria sido possível resistir. No entanto, se tivesse existido uma determinação em proceder à defesa, o resultado teria sido muito diferente.

Se, naquele tempo, tivesse sido possível a Portugal colocar um ou dois submarinos nas aguas do oceano indico, (independentemente dos problemas logísticos que tal poderia implicar), todo o desenvolvimento da operação teria sido diferente.

A simples existência de um ou dois submarinos no mar, altera o comportamento de qualquer marinha, quando esta faz o planeamento de uma acção.

Desde 1961, não houve nenhuma ocorrência de relevância, onde possa ser demonstrada a utilidade táctica da utilização de  submarinos por parte de Portugal, mas isso não implica que por essa razão, os submarinos tenham deixado de ter um enorme efeito dissuasor.

O domínio do Oceano Atlântico, e o problema espanhol
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A visão norte-americana do mundo, normalmente distorcida por um sistema educativo tão eficiente quanto redutor, implica que, apenas as grandes nações, ou os grandes países têm direito a algum tipo de projecção e importância internacional.

Já durante o período de 1961-1974, os norte-americanos criticavam asperamente a politica portuguesa relativamente a África, mas o seu principal problema, não era que Portugal tivesse colónias, o principal problema dos norte-americanos, era que Portugal, sendo um país tão pequeno, tivesse tanto território.

Considerando esta visão norte-americana, a questão do domínio do atlântico, (que é vital para os Estados Unidos) aparece como um tema de grande importância.

Essa importância está expressa no apoio dado pelos norte-americanos a Espanha, desde que o ditador Francisco Franco, logrou romper o isolamento internacional a que estava votado desde o fim da segunda guerra mundial.

Esse apoio, a Espanha, é também o apoio a uma Espanha, que tenha capacidade para controlar a zona marítima que inclui os mares dos Açores, Madeira, Canárias, a costa portuguesa, a costa Africana até Cabo-Verde e naturalmente a costa de Marrocos, além, naturalmente, da costa atlântica espanhola.
O apoio dos norte-americanos vê-se a partir dos anos 60 e estes são alguns exemplos:

1- Fornecimento do porta-aviões “Dédalo”, (arrendado em 1967 e comprado em 1973).

2 -Fornecimento à marinha espanhola dos planos para a construção em Espanha das cinco fragatas da classe “Baleares” (1967 - 1975).

3 - Fornecimento dos cinco contra-torpedeiros da classe “Churruca” (1972 - 1978).

4 -Fabrico em Espanha das seis fragatas da classe americana “Oliver Hazard Perry” (1977 - 1984).

5 - Fornecimento completo dos planos do projecto SCS de navio de controlo marítimo, que resultou no porta-aviões “Príncipe de Astúrias” (1988).

6 - Enormes facilidades concedidas a Espanha, para a construção da versão espanhola do projecto NFR-90 adaptado para as fragatas/contra-torpedeiros da classe “Álvaro de Bazán”, completados com radares e sistemas electrónicos de fabrico e concepção 100% americanos.

É importante realçar, que enquanto o exercito e a força aérea espanholas, evoluíam, com a aquisição de equipamentos europeus (tanques franceses AMX, alemães Leopard-II, aviões franceses Mirage e europeus Eurofighter), a marinha espanhola, foi “carregada ao colo” pelos norte americanos, durante as ultimas quatro décadas.

A conclusão que de aqui se pode retirar, é apenas uma: Para os norte-americanos o tamanho do país, conta mais que o que quer que seja que defendam os seus dirigentes. Logo, de aqui se pode deduzir, que em qualquer circunstância futura, em que os interesses de Portugal estejam em oposição aos interesses de Espanha, os norte-americanos acabarão sempre por favorecer a entidade que mais vantagens lhes dará, ou seja Espanha.

Portanto, toda e qualquer capacidade que Portugal tenha para defender as suas aguas territoriais e a zona económica exclusiva, entrará em conflito com a visão compartilhada entre norte-americanos e espanhois de que é a Espanha que deve ser responsável pela vigilância e controlo das aguas portuguesas.

Portanto, a aquisição por parte de Portugal de dois submarinos do tipo U-214, cuja versão para Portugal se chamará U209PN, pode parecer de pouca importância, mas de facto não o é. Os submarinos adquiridos, em primeiro lugar, colocam Portugal á frente de Espanha na corrida para a modernização das suas frotas de submarinos. A Espanha que conta com quatro submarinos da classe Agosta, só estará equipada com submarinos com as capacidades dos submarinos portugueses, alguns anos depois de Portugal ter os seus U-214 operacionais. OS U-214, pelas suas características, nomeadamente por serem equipamentos extremamente silenciosos, podem “pairar” debaixo de agua, durante semanas, sem serem detectados. Pode, com os seus mísseis, atingir alvos a mais de 100Km de distancia, disparando mísseis sem ter necessidade de vir à superfície.

Os U-214, perante o conceito Espanhol, segundo o qual as aguas portuguesas são de facto suas para controlar, são uma ameaça a esse domínio.

Ao apresentarmos aos nossos aliados a compra dos submarinos como um facto consumado (que não deixou, curiosamente de ser criticado em alguns círculos da NATO, alegadamente - e segundo alguma imprensa portuguesa - com ligações ao governo de Madrid) estamos a dizer que esse domínio do nosso mar, não está garantido a ninguém.

Além disso, esta presença no atlântico, dá a Portugal uma importância estratégica maior, que tenderá a dar ao país, uma importância que decorre do seu mar territorial e da Zona Económica Exclusiva. Este importância permite a Portugal, ter um peso em termos internacionais, maior que aquele que teria pelo seu poder económico, dimensão territorial ou peso demográfico. Ontem como hoje, é o Atlântico que dá razão de ser a Portugal.

Outros cenários
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Para além dos equilíbrios estratégicos entre os países ibéricos, e da posição “atlantista” de Portugal face aos Estados Unidos, há outros cenários, onde a utilização de submarinos faz sentido. Os submarinos, podem ser utilizados em operações mais ou menos secretas, levadas a cabo por Portugal, na defesa dos interesses nacionais e dos interesses dos cidadãos nacionais. A cooperação com os países de expressão portuguesa, em Africa, e o eventual apoio a Timor-Leste, país cuja independência anda passa por um período de consolidação, são outras áreas onde este tipo de equipamento pode ser de uma importância determinante.

Podemos sempre dizer que, são apenas dois barcos caríssimos, mas a verdade é que, embora sejam apenas dois, a sua manutenção será mais rápida que a dos anteriores submarinos, pelo que a sua disponibilidade será em principio maior. Mas mesmo assim, a importância de possuir este meio com enorme capacidade de dissuasão, é para Portugal de uma importância transcendental.

Só se levantam contra este tipo de equipamento, aqueles que nunca estudaram a história de Portugal, não entendendo que em muitas alturas em que a nossa capacidade no mar falhou, esteve em causa a continuidade da nação. E, naturalmente, aqueles, que também por desconhecimento ou incapacidade de interpretar a história não entendem que sempre que nos apresentámos como militarmente mais fracos, sempre fomos objectos de cobiças alheias, nomeadamente daqueles que continuam a rejeitar a história e o nosso direito a existir como nação livre e soberana.

PJV / opinião / areamilitar
Título:
Enviado por: J.Ricardo em Outubro 22, 2004, 08:04:24 pm
Este artigo me fez refletir sobre o Brasil, pois temos uma área cobiçada pelas maiores potências do mundo (a amazônia) e caso tenhamos que defende-la de alguma "aventura" estrangeira, não teremos capacidade alguma para nos defender. Basta colocar uma força em frente ao Rio de Janeiro/Santos para que todas as nossas forças tenham que se concentrar aí, deixando o caminho aberto para uma frente na amazônia! Creio piamente que já passou da hora do Brasil terminar seu SNA, para que pelo menos desencoraje um possível "aventura" militar estrangeira na amazônia!
Título:
Enviado por: Luso em Outubro 22, 2004, 09:34:21 pm
Excelente artigo, Papatango!
Serviço Público!

Senhores Moderadores: porque não criar um "registo" para guardar ou valorizar contributos tão bons como este?
Título:
Enviado por: Ricardo Nunes em Outubro 22, 2004, 10:30:37 pm
Citação de: "Luso"
Excelente artigo, Papatango!


Faço das palavras do Luso as minhas!
Título:
Enviado por: fgomes em Outubro 23, 2004, 12:21:57 am
Muito obrigado Papatango ! Concordo plenamente consigo ! Deveríamos pensar sériamente na aquisição de um terceiro submarino.

O João Ricardo refere o programa do SNA brasileiro. Com a evolução tecnológica que os submarinos convencionais estão a sofrer será que vale a pena apostar em submarinos nucleares ? Os EUA, o Reino Unido e a França optaram por terem frotas submarinas totalmente nucleares, no entanto a Rússia continua a ter submarinos convencionais. Isto terá a ver com as doutrinas navais destes países ou será uma questão meramente económica ?
Título:
Enviado por: Spectral em Outubro 23, 2004, 12:30:03 am
A questão nuclear vs convencional pode ser posta do seguninte modo:

convencional ( com AIP)
vantagens: mais pequeno,(muito) mais barato, pressupondo tecnologias iguais será mais silencioso

nuclear
vantagens: 2 : velocidade e alcance. Os subs nucleares podem patrulhar indefenidamente a 30 nós ( muito mais que a velocidade máxima de um convencional) o que é excelente se pretendemos escoltar uma task-force que se move a essa velocidade ( as americanas por exemplo), ou exercer presença num local distante ( o tempo em trânsito é muito menor).

Portanto para o Brasil a questão é: para as missões que esses subs irão cumprir, é realmente necessário um submarino nuclear ?
Título:
Enviado por: J.Ricardo em Outubro 23, 2004, 04:24:28 pm
O SNA brasileiro é uma herança da ditadura, mas já que foi iniciado o projeto devemos termana-lo, agora... que um SNA impôem respeito, isso ele impôem!!!
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 23, 2004, 06:19:11 pm
João Ricardo, o problema é se esse SNB, que nunca mais sai, em vez de impor respeito, acaba sendo razão de risada.

As questões são:

1 - Nem franceses nem ingleses conseguiram construir um submarino nuclear pequeno, como o SNB (por volta de 3.000 Ton de deslocamneto) sem que houvesse problemas.

2 - Esses paises, com mais recursos que o Brasil, levaram anos, para desenvolver os seus submarinos, e concluiram que não eram capazes de fazer submarinos nucleares pequenos e eficientes.

3 - Por muito que eu gostasse que o Brasil fosse capaz de ter sucesso, quando a França e o Reino Unido falharam, a lógica diz, que o Brasil concluirá o mesmo que a França, ou seja: Um submarino nuclear pequeno, acaba sendo inviável.

Um dos problemas relativos aos submarinos, é a sua capacidade de passarem despercebidos.

Um submarino nuclear, é por isso capaz de produzir bastante potência e de ser relativamente silencioso. O problema é que um reactor nuclear e o sistema de propulsão baseado nesse reactor, acabará sempre produzindo ruido.

Num submarino grande, essa vibração e o ruido resultante, são absorvidos pelo tamanho do submarino. Num submarino pequeno, o problema é óbvio. Ou seja: A massa do submarino não absorve tão bem a vibração resultante, e o ruido resultante, passa para a agua, tornando o submarino fácil de detectar.

A costa brasileira não se defende com submarinos, defende-se com aviões. A marinha, serve para projectar força á distância, não para combater próximo de casa. Veja o caso Argentino, nas Malvinas. Acabou sendo a força aérea a lutar.

Imagine que em vez de cgastar dinheiro em barcos a Argentina tinha investido em mais misseis Exocet e maior capacidade aérea.

Por outro lado, um submarino nuclear pequeno, terá sempre reduzida capacidade, e se não tem capacidade para ataque a alvos terrestres, porque é muito pequeno, torna-se um escoltador, relativamente pouco eficiente.

Quanto á velocidade máxima de um submarino nuclear, lembro que a maioria dos navios de guerra, não pode chegar aos 20 nós, para chegar a algum lugar do mundo. A velocidade de uma esquadra é sempre nivelada pela velocidade do navio mais lento, que são sempre os reabastecedores ou os navios de apoio, portanto, as velocidades altas, acima de 20 nós, ou mesmo 30 nós, são velocidades de combate, em situação grave, e muito rara. Nessas circunstancias, o que vale acima de tudo, não é a velocidade dos submarinos, mas sim o seu posicionamento táctico determinado pelo almirante que comande a força.

A velocidade, torna-se portanto um factor secundário. E depois,  quantos SNB vai haver?
Os planos brasileiros chegaram a incluir 14 submarinos. Quantos submarinos teve que se cortar do plano para haver lugar no orçamento para o SNB?

Por estas razões, acho que o SNB serve mais para sustentar a equipa de desenvolvimento que para dar ao Brasil uma vantagem táctica, através da utilização de um navio movido a energia nuclear.

Cumprimentos

PS.
Relativamente ao artigo, reconheço que há muita coisa parecida entre as forças armadas do Brasil e de Portugal no que respeita aos problemas de hoje.
Título:
Enviado por: Spectral em Outubro 24, 2004, 10:31:15 pm
Pois, essa também é a minha opinião sobre o SNA  ( 14 submarinos :roll:

Mas como disse, uma velocidade dessas ( mantida constante) dá muito jeito se é preciso atravessar o Atlântico para chegar à área de operações. :shock:
Título:
Enviado por: P44 em Outubro 25, 2004, 09:31:08 am
Citação de: "Luso"
Excelente artigo, Papatango!
Serviço Público!

Senhores Moderadores: porque não criar um "registo" para guardar ou valorizar contributos tão bons como este?


Apoiado!

Faço minhas as palavras do colega Luso!!!! :D
Título:
Enviado por: Churruca em Outubro 25, 2004, 11:58:23 am
Citar
5 - Fornecimento completo dos planos do projecto SCS de navio de controlo marítimo, que resultou no porta-aviões “Príncipe de Astúrias” (1988).

 Realmente, era un proyecto de la US Navy que se abandonó. España compró 15 planos generales de la fase de concepción.

 
Citar
Ningún buque de nuestra Armada actual tiene una historia tan complicada como el Príncipe de Asturias. Nuestro buque insignia pasó, a lo largo de su gestación, por muchos obstáculos. Los primeros balbuceos de su construcción comenzaron a principios de los 70, cuando la US Navy lanzó el programa SCS (Sea Control Ship), un pequeño portaaviones pensado para ser construido en grandes series, con objeto de ser utilizado como escolta de convoyes en el Atlántico o en conflictos de baja intensidad, liberando a los grandes portaaviones de esas tareas. Nuestro R-11, cuyo nombre entonces era "Almirante Carrero Blanco", iba a ser uno más de esa serie; incluso, según algunas fuentes, podía haber sido construido en los EEUU, al estilo de las O.H. Perry australianas.

Sin embargo, cuando la Navy abandonó el proyecto, la Armada compró sus planos (15 planos generales, el buques estaba en fase de concepción) y encargó a Bazán el desarrollo y, posteriormente, la construcción. Así se llegó a 1982, cuando la Armada, ante el temor a que un triunfo electoral del PSOE pudiera dar al traste con la construcción, aceleró las obras y botó el buque en un estado de construcción aún muy "verde". Esto tuvo dos consecuencias: la primera, que el buque se terminó, y la segunda, que sus obras duraron hasta 1897, dando lugar en algunos ambitos a la leyenda de que era un auténtico cacharro obsoleto, producto de una industria naval incompetente.

Nada más lejos de la realidad. Pese al tiempo dedicado a su construcción, el Príncipe de Asturias se ha convertido, desde un punto de vista operativo, en un referente mundial, como lo demuestra el hecho de que los principales astilleros del mundo han generado en los últimos años proyectos que se parecen, cada día más, al buque de Bazán. Además, cabe destacar que la Armada Thailandesa confió en la industria española y en el proyecto del R-11, encargando su portaaviones, el Chakrinaruebet, a Bazán. Por tanto, el R-11 ya tiene un "hermano pequeño" navegando en Extremo Oriente... con toda la satisfacción de sus dueños. Tan sólo cabe poner dos peros al proyecto del R-11, como son su escasa velocidad y la única hélice, que reducen algo su capacidad


  Respecto a los submarinos, el futuro de este arma en Armadas no nucleares como la española o la portuguesa pasa, en mi modesta opinión, por la adquisición de submarinos AIP.
 
  Los nucleares son tremendamente caros, de fabricar y de mantener. Son útiles para paises que requieran realizar patrullas muy lejos de sus bases, pero no creo que sean prácticos para paises no pertenecientes al club nuclear.
Título:
Enviado por: J.Ricardo em Outubro 25, 2004, 01:27:43 pm
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Se, naquele tempo, tivesse sido possível a Portugal colocar um ou dois submarinos nas aguas do oceano indico, (independentemente dos problemas logísticos que tal poderia implicar), todo o desenvolvimento da operação teria sido diferente.

Citar
A costa brasileira não se defende com submarinos, defende-se com aviões. A marinha, serve para projectar força á distância, não para combater próximo de casa. Veja o caso Argentino, nas Malvinas. Acabou sendo a força aérea a lutar.


Papatango, você esta entrando em contradição com o texto que colocou no forum, por exemplo, se para o Brasil que praticamente tem um litoral maior que o do continente europeu, a marinha é desnecessária para defender seu litoral, imagine para Portugal que tem um litoral do tamanho do Estado de São Paulo. O Brasil tem praticamente toda produção de petróleo na plataforma continental, então é mais do que necessário que tenha meios de impor força antes mesmo que uma força hostil cheque perto de nosso litoral, tirando a marinha dos EUA que praticamente não teme nenhum país do mundo, não creio que a presença de um SNA seria irrelevante para alguma outra nação hostil ao Brasil.

Agora tire uma dúvida minha, da última vez que pesquisei s/ o SNA, eu tive a irformação que ele teria provalvemente o tamanho de Sub da classe Los Angeles, e você disse que seria um sub pequeno e que seriam 14 (acho improvável), se você puder, me informe de onde você tirou a informação para que eu possa ler.

Cumprimentos
Título:
Enviado por: papatango em Outubro 25, 2004, 02:54:22 pm
Eu muitas vezes escrevo á pressa, e resultam coisas estranhas, para quem depois lê o texto.

Marinha do Brasil.
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Os 14 ou 18 submarinos (não me lembro bem) eram, parte de um plano da marinha brasileira, mas eram submarinos convencionais. O que eu digo, é que a frota de submarinos convencionais está em um terço daquele numero e pergunto, se os esforços no SNB tivessem ido para os convencionais, será que o Tikuna ainda estava no estaleiro?
O Brasil não teve planos para ter tal numero de submarinos nucleares. O numero diz respeito a submarinos convencionais, que seriam complementados com o  SNB.

Índia
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Veja que eu falo de forma mais ou menos condicional no que respeita á utilização de submarinos. Se verificar eu falo das questões logísticas envolvidas. O problema é que nunca me passou pela cabeça que Portugal tivesse submarinos baseados em Goa. Seria inútil. O submarino deve ser uma unidade de alto-mar, que nega ao inimigo a possibilidade de o utilizar. Não só impede os navios militares, como acima de tudo é um perigo para o comércio. O que pretendo demonstrar é a utilidade de ter essa arma. Ela não é determinante, mas em termos de controlo marítimo tem peso. Não tanto táctico, mas acima de tudo estratégico.

Além do mais, são situações muito diferentes. Portugal foi atacado por um país vizinho, e Goa, tinha uma linha costeira relativamente reduzida. O Brasil, ao contrario, tem a retaguarda protegida pela amazónia e pela debilidade dos países vizinhos, muito mais fracos.

No entanto, também reconheço que é defensável a tese de que o Brasil poderia utilizar a arma submarina como arma defensiva. No entanto, eu vejo o submarino como uma arma de ataque, ou ofensiva.

Outra questão que seria interessante estudar, é até que ponto se pode reformar a marinha brasileira, enxugando-a, e reduzindo pessoal.

Até que ponto é viável a criação de uma guarda costeira?
Até que ponto o Brasil deve ter algo parecido com a Guarda Republicana, ou seja um misto de força militar e policial, e ter um exército muito mais pequeno, entre os 50.000 e os 75.000 militares, armados com menos equipamentos, mas mais modernos?
Quanto á FAB, aí não vejo o que reduzir. A FAB garante muitas das ligações entre os estados mais remotos, e por isso é em grande parte uma companhia aérea. Por isso, tem tantos aviões de transporte.
Mas isso é para outros tópicos…

Cumprimentos
Título:
Enviado por: FinkenHeinle em Outubro 25, 2004, 10:01:08 pm
Citação de: "papatango"
Marinha do Brasil.
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Os 14 ou 18 submarinos (não me lembro bem) eram, parte de um plano da marinha brasileira, mas eram submarinos convencionais. O que eu digo, é que a frota de submarinos convencionais está em um terço daquele numero e pergunto, se os esforços no SNB tivessem ido para os convencionais, será que o Tikuna ainda estava no estaleiro?
O Brasil não teve planos para ter tal numero de submarinos nucleares. O numero diz respeito a submarinos convencionais, que seriam complementados com o  SNB.


Olá Paptango,


Só que os SSK's não tem capacidade para projetar poder sobre terra em longas distâncias, e nem ficar furtivamente debaixo da água por muito tempo.
Título:
Enviado por: J.Ricardo em Outubro 26, 2004, 11:59:06 am
Citar
Outra questão que seria interessante estudar, é até que ponto se pode reformar a marinha brasileira, enxugando-a, e reduzindo pessoal.


Papatango, se a marinha do Brasil for reduzida mais ainda, ela acaba!
Pelo tamanho do Brasil, ela já é muito pequena, temos poucas fragatas, temos poucos submarinos, poucas corvetas, enfim, tudo o que temos é pouco! Já é histórica a pressão do EUA para que transforme-mos nossa marinha em uma guarda-costeira.
Quanto ao SNA, só o fato de existir a pesquisa já resultou em vantagens tecnológicas para o Brasil, como o domínio do ciclo nuclear. E também a presença de submarinos poderia impor perdas a uma marinha hostil já no caminho para o Brasil, proibindo uma tranquila viagem para as nossas praias.
Título:
Enviado por: Jorge Pereira em Abril 20, 2006, 04:08:43 pm
Mais uma vez assistimos hoje a declarações do Dr. Miguel Cadilhe a insurgir-se contra a compra dos submarinos. Perguntava ele quais serão os benefícios da dita compra? Quais? Voltava a questionar.

Nada de novo, se viesse de um qualquer cidadão, mal informado em questões de defesa como é habitual. Agora o que me choca, mas não me surpreende, é o facto de virem de um indivíduo que deveria, em principio e como norma de bom senso, informar-se antes de dizer disparates como este. Alguém que já ocupou pelo menos duas vezes cargos de especial relevância em dois governos, num dos quais foi até decidida a compra dos tais submarinos. Alguém que já serviu as forças armadas, e segundo dizem chegou a ser até “Ranger” :roll:
Título:
Enviado por: comanche em Outubro 08, 2007, 12:47:34 pm
24 horas na vida de um submarino que navega há 40 anos


Citar
Numa qualquer Marinha da OTAN, o lugar do submarino "Barracuda" seria, quando muito, no museu, mas não em Portugal, onde este navio, que navega há 40 anos, tem que ser mantido no mar até à chegada dos dois novos submarinos, em 2010. O JN embarcou durante 24 horas, a partir de Sesimbra, no "Barracuda" e confirmou que nada há que se compare às duras condições de vida que se vivem a bordo.

Ali convivem diariamente 54 homens, num espaço exíguo, dias e dias sem ver a luz do Sol. A mudança entre o dia e a noite substituída pela luz vermelha que se acende quando oficialmente o Sol desaparece na superfície. "Com os novos submarinos as condições vão melhorar", sustenta o comandante do navio, o capitão-tenente Mamede Alves. Ou melhor, já se pode, por exemplo, tomar banho, mesmo que apenas de dois em dois dias.

Para quem entra no "Barracuda" o primeiro choque é o cheiro uma mistura de óleos, combustível, corpos que não vêem água há dias e dias, o ar rarefeito que concentra os odores. E para quem sai são os que estão à superfície que notam a a diferença. Inevitavelmente.

É uma arma pura, o "Barracuda", onde tudo é sacrificado à eficácia no combate, à discrição e ao silêncio, pois não obstante os 40 anos deste navio os princípios mantêm-se na guerra submarina.

Desce-se a torre e o submarino começa a mergulhar, à ordem, a água entra e a pressão lá fora, nas águas negras, vai aumentando gradualmente.

Há um silêncio quase mortal e a guarnição vai desenvolvendo as tarefas com uma rotina feita de muita disciplina e descontracção. "Com licença", é a frase que mais se ouve, face à exiguidade do espaço, as deslocações obrigando a manobras cuidadosas para não bater com a cabeça em qualquer manivela ou manómetro.

É meio da manhã e o cozinheiro prepara o almoço - naquele dia era bacalhau com grão e batatas - numa cozinha virada para as duas únicas e minúsculas casas de banho do navio. Numa delas, permanece uma embalagem de toalhetes. "É o nosso banho", explica um marinheiro. Há uns anos, o segredo eram os perfumes de feira, usados aos litros, vencidos pelos mais modernos "dodots".

O submarino vai continuando a mergulhar até chegar aos 200 metros, o manómetro a indicar a profundidade e as anteparas das portas a torcerem pela pressão. A segurança está garantida, mas a idade do "Barracuda" já não lhe permite fazer isto muitas vezes, que a resistência dos materiais tem limites, mas ninguém liga muito a não ser os jornalistas. Na sala de comando, os operadores de sonar escutam os sons que vêm das profundidades.

O navio vai regressando à superfície até aos 12 metros, para renovar o ar. O periscópio sobe e divisa-se Sesimbra. As horas passam e o cansaço chega, com os homens a rodarem por escala nas mesmas camas, nos mesmos colchões. Tem que ser assim.

Passaram 24 horas, o navio está à tona de água. As escotilhas são abertas. Por fim, o ar fresco para nós, que a guarnição prossegue a missão.  
 
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Enviado por: SSK em Outubro 12, 2007, 01:07:26 am
Citação de: "comanche"
24 horas na vida de um submarino que navega há 40 anos


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Numa qualquer Marinha da OTAN, o lugar do submarino "Barracuda" seria, quando muito, no museu, mas não em Portugal, onde este navio, que navega há 40 anos, tem que ser mantido no mar até à chegada dos dois novos submarinos, em 2010. O JN embarcou durante 24 horas, a partir de Sesimbra, no "Barracuda" e confirmou que nada há que se compare às duras condições de vida que se vivem a bordo.

Ali convivem diariamente 54 homens, num espaço exíguo, dias e dias sem ver a luz do Sol. A mudança entre o dia e a noite substituída pela luz vermelha que se acende quando oficialmente o Sol desaparece na superfície. "Com os novos submarinos as condições vão melhorar", sustenta o comandante do navio, o capitão-tenente Mamede Alves. Ou melhor, já se pode, por exemplo, tomar banho, mesmo que apenas de dois em dois dias.

Para quem entra no "Barracuda" o primeiro choque é o cheiro uma mistura de óleos, combustível, corpos que não vêem água há dias e dias, o ar rarefeito que concentra os odores. E para quem sai são os que estão à superfície que notam a a diferença. Inevitavelmente.

É uma arma pura, o "Barracuda", onde tudo é sacrificado à eficácia no combate, à discrição e ao silêncio, pois não obstante os 40 anos deste navio os princípios mantêm-se na guerra submarina.

Desce-se a torre e o submarino começa a mergulhar, à ordem, a água entra e a pressão lá fora, nas águas negras, vai aumentando gradualmente.

Há um silêncio quase mortal e a guarnição vai desenvolvendo as tarefas com uma rotina feita de muita disciplina e descontracção. "Com licença", é a frase que mais se ouve, face à exiguidade do espaço, as deslocações obrigando a manobras cuidadosas para não bater com a cabeça em qualquer manivela ou manómetro.

É meio da manhã e o cozinheiro prepara o almoço - naquele dia era bacalhau com grão e batatas - numa cozinha virada para as duas únicas e minúsculas casas de banho do navio. Numa delas, permanece uma embalagem de toalhetes. "É o nosso banho", explica um marinheiro. Há uns anos, o segredo eram os perfumes de feira, usados aos litros, vencidos pelos mais modernos "dodots".

O submarino vai continuando a mergulhar até chegar aos 200 metros, o manómetro a indicar a profundidade e as anteparas das portas a torcerem pela pressão. A segurança está garantida, mas a idade do "Barracuda" já não lhe permite fazer isto muitas vezes, que a resistência dos materiais tem limites, mas ninguém liga muito a não ser os jornalistas. Na sala de comando, os operadores de sonar escutam os sons que vêm das profundidades.

O navio vai regressando à superfície até aos 12 metros, para renovar o ar. O periscópio sobe e divisa-se Sesimbra. As horas passam e o cansaço chega, com os homens a rodarem por escala nas mesmas camas, nos mesmos colchões. Tem que ser assim.

Passaram 24 horas, o navio está à tona de água. As escotilhas são abertas. Por fim, o ar fresco para nós, que a guarnição prossegue a missão.  
 


Não se esqueçam de dar uma vista de olhos na revista do JN deste fim-de-semana. Supostamente deverá sair uma reportagem fotográfica...
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Enviado por: SSK em Agosto 31, 2008, 05:26:09 pm
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Vizinhos de Neptuno     

BARRACUDA

O Casual passou 24 horas a bordo do Barracuda nas provas de mar para perceber como vive a tripulação e como é organizado o dia-a-dia dentro de um submarino.

Sesimbra. Nove da manhã. Por trás do pontão esconde-se o Barracuda, o único submarino activo da Marinha Portuguesa. Do alto dos seus 40 ano, completados em Maio, assoma por cima da água. Lá dentro trabalham 54 submarinistas. Estão a fazer as provas de mar, isto é, a testar a máquina para aferir se tudo funciona como o desejável. O Barracuda é o último dos resistentes dos quatro submarinos encomendados por Portugal à França na década de 60. O tempo de vida útil era de 25 anos, mas agora, já quarentão, precisa de mais cuidados. Foi alvo de uma remodelação profunda, substituindo-se peças e acertando-se motores e baterias. Tem melhor sorte que os outros. O Delfim está encostado na Base do Alfeite, à espera de se tornar navio-museu, o Cachalote foi vendido ao Paquistão na década de 70, enquanto o Albacora foi desmantelado.
Por cima da escotilha está o comandante Mamede Alves. Tem 38 anos. Começou como chefe dos serviços de operações e, desde Outubro de 2005 que assume a chefia do submarino. Explica o tempo que os membros da esquadrilha passam debaixo do mar: “Em média são 120 dias de missão por ano, mas agora a actividade está um pouco mais reduzida. As missões podem chegar às três semanas sem ir a terra”. Um terço do ano no fundo do oceano, sem telemóveis, sem contacto com o exterior e condições de conforto muito duvidosas. No Barracuda nem existe a possibilidade dos submarinistas tomarem um duche. “Existe um chuveirito, mas só é utilizado caso um camarada se suje muito ou se o comandante tiver de sair do submarino para cumprimentar alguém”, explica um tenente. Também o tempo em que se fica atracado ao submarino é mais longo que o habitual: “A comissão mínima é de seis anos para se poder capitalizar o investimento”, explica o comandante. Só depois de um ou dois anos ao serviço é que um submarinista está completamente operacional. Os cursos de especialização variam entre os quatro e os 12 meses, dependendo do posto que se vai ocupar. “Não é incomum haver pessoas aqui com mais de dez anos de serviço”, afirma o comandante. E não é mesmo... Dêem-lhes um pouco de tempo e eles dão-se a conhecer.

O DIA-A-DIA NO BARRACUDA

Dentro do cilindro de metal (57,8 metros de comprimento e 6,8 de largura) a vida é feita de rotinas. O caos de válvulas, botões, cabos, escotilhas e maquinaria adquire uma certa ordem, pautada por tarefas constantes. De duas em duas horas um electricista vestido de fato-macaco cinzento tem de se esgueirar por uma portinhola estreita para verificar as baterias e o valor da densidade. “Parece que estão vestidos com fatos da NASA”, comentam no gozo alguns membros da tripulação.
Todas as funções para levar o Barracuda a bom porto têm hora marcada: de x em x horas há sempre um botão que precisa de ser carregado ou um mecanismo a ser accionado. Para além das actividades normais para manobrar a máquina, o comandante preparou exercícios para manter a tripulação ocupada: “É preciso aproveitar todo o tempo. Quem está preparado para o pior reage para o melhor”, atesta Mamede Alves. O objectivo é manter a tripulação bem treinada e pronta a responder a qualquer imprevisto. “Eu gosto muito deles, mas gosto mais de mim”, diz meio a brincar. Como reconhece Carlos Rodrigues, operador de sonar e armamento, “quem tiver o azar de fazer algo mal, põe todos os outros em risco”.

Dez da manha. O Barracuda continua ao largo de Sesimbra. Calibra-se o odómetro, instrumento que mede as distâncias percorridas. Só depois se podem fazer ao alto mar. O aparelho é essencial para se conseguir determinar a localização do submarino. “Se estiver descalibrado podemos ir para a 20 milhas do local previsto”, adianta um oficial. À medida que se vai entrando no oceano, sinaliza se na carta náutica a localização do Barracuda. “Também podemos obter a nossa localização através do GPS”, refere um elemento da sala de comando. Mas em águas profundas esta tecnologia não é eficiente. A “redundância” é um conceito importante debaixo do mar. Se uma máquina ou um procedimento falharem têm de se encontrar alternativas rápidas e fiáveis.

Onze da manhã. É dada a ordem para servir a primeira ronda do almoço. O Barracuda vai abandonando as águas calmas, protegidas pelo Cabo Espichel. À medida que navega à superfície rumo ao mar alto, o submarino abana cada vez mais. Pelo sim pelo não, há comprimidos para combater o enjoo guardados numa estante. “Quando andamos muito tempo a navegar à superfície e depois vamos para terra parece que continuamos dentro do mar”, diz um elemento da tripulação. Pelo corredor apertado passam submarinistas com travessas de comida, num autêntico número de equilibrismo e de perícia para não chocarem com os outros camaradas. Mas já estão habituados e conhecem todos os cantos. Contam até que no curso de especialização têm de andar de olhos vendados por aqueles labirintos de metal. A cozinha fica a meio do Barracuda, o que obriga a atravessar as áreas onde se opera a máquina para se chegar ao porão que serve de refeitório, de zona de descanso e de sala de convívio. O mesmo local onde estão os tubos dos torpedos, que servem de estrutura a meia dúzia de camas. Um espaço que serve ainda de despensa improvisada. “Beliches de quatro mesmo ao lado da mesa. É o sonho de qualquer um”, ironiza o tenente Almeida.
O oficial explica como o Barracuda está organizado: “Temos uma sala de comando, que é o cérebro do navio, onde são dadas todas as ordens”. É neste compartimento que está o sonar, o radar, a sala de comunicações e o periscópio. A informação dada por estes aparelhos e permanente cruzada para, numa mesa de trabalho, se assinalar tudo o que rodeia o submarino. O tenente continua: “Ao lado está a sala de controlo, que é o coração e os pulmões, onde são executadas as decisões”. Nesta sala a actividade ainda é calma. Tem de se esperar um pouco para a submersão. Só depois a instabilidade provocada pelas ondas desaparecera. Aproxima-se o meio dia, altura em que acontece o render da guarnição. O serviço está organizado em três turnos. Por cada quatro horas de trabalho, há oito de descanso, que pode ser interrompido por exercícios ou para a resolução de eventuais problemas. “Ainda no outro dia um dos nossos engenheiros teve de trabalhar vinte horas seguidas para resolver uma avaria”, conta um oficial.

E QUANDO A ESCOTILHA FECHA... Meio-dia. Algures por baixo do mar. O Barracuda já navega à cota periscópica, a cerca de 12 metros de profundidade. É servido o almoço para o outro turno. À mesa recordam-se operações militares que envolvam submarinos. Mas também se conversa sobre os inconvenientes da vida de submarinista. "Os mais novos têm dificuldade em manter urna relação afectiva estável. Agora está toda a gente habituada ao telemóvel e não conseguem estar quinze dias sem comunicar", argumenta um dos oficiais. Há os que não falam sobre este assunto, mantendo apenas uma expressão ausente no rosto. Ao jantar os ternas são os mesmos. Fala-se ainda da possibilidade de incluir mulheres na tripulação. Em princípio, ninguém tem nada contra, desde que existam condições para separar os dois géneros a bordo. Numa coisa concordam, o Barracuda não as tem. Quanto aos novos submarinos encomendados por Portugal, o Tridente e o Arpão, que entrarão ao serviço em 2010, talvez as tenham, dizem. Aliás, a expressão "quando vierem os novos..." é uma constante no discurso da tripulação.
A conversa é interrompida frequentemente por marinheiros que fornecem dados ao comandante. Algumas das informações obtêm resposta pronta sobre o que se deve fazer. Outras parecem apenas ficar registadas mentalmente por Mamede Alves. Finda a refeição, regressa-se ao trabalho. O próximo exercício está marcado para as 14 horas, altura em que acontecerá uma simulação de incêndio.
Na tripulação há militares que foram "voluntariamente obrigados" a ir para os submarinos, mas a maioria chegou por opção. O que os levou a escolher esta vida? O comandante dá o exemplo e explica como se consegue passar tanto tempo seguido no mar: "É uma questão de hábito". Mas não é tão simples quanto isso. "É um sentimento misto. Quando estou a navegar sinto a falta da família e, depois, quando estou em terra sinto saudades de navegar. É um bocado como aquela música do António Variações..."

Quinze horas. A tripulação prepara o teste com os torpedos. Sempre que se faz ao mar, o Barracuda vai armado. Acordam-se os que tentam dormir nas camas improvisadas na estrutura dos tubos. Os que repousam nos outros beliches são acordados pelo barulho, mas há os que têm sono de pedra. Antes de executarem os exercícios têm de desviar os víveres guardados por baixo dos tubos dos torpedos. Na sala de oficiais, o tenente Amílcar explica as motivações que o levaram a voluntariar-se: "Como vinham as novas unidades achei aliciante. Porque vão dar a oportunidade de começar do zero". Diz que as dificuldades são ultrapassadas com a mentalização. "O esforço maior é da nossa família", confessa.

Pouco falta para as 16 horas. À espera que comece o seu turno, o sargento Cerqueira está sentado na sala de controlo. Daqui a uns minutos vai ter que responder às ordens, zelar pela estabilidade do Barracuda e reagir a avarias. "Quando se fecha a escotilha temos de nos isolar do mundo lá fora. Se alguém estiver aqui com a cabeça lá fora as coisas não correm bem", assevera o sargento de 39 anos. Desde 1997 que está na esquadrilha. "Continuo o tempo que for preciso", garante. "Desde pequeno que gosto de submarinos". Também ele irá integrar uma das guarnições dos novos meios. "É um orgulho". Onze anos e o posto que ocupa ("um bocado como um centurião", compara), já o fizeram ver fracassos: "Há muitos que não se adaptam e não conseguem terminar sequer o curso de especialização". Contrariamente ao sargento Cerqueira, o cabo Sebastião não irá fazer a transição. Há 14 anos que é submarinista e foi atirado para essa carreira por imposição. "Vou ter pena de sair, mas quando estamos muito tempo no mar há saturação, cansaço... e as novas missões vão ser mais prolongadas", reconhece enquanto opera o sonar na sala de comando. Questionado sobre se a vida debaixo de mar torna mais difícil a vida em terra, o marinheiro de 40 anos responde: "Já me divorciei uma vez, não sei se foi por causa disso ou não. Casei novamente e ambos nos acostumámos". Enquanto fala tenta-se detectar navios mercantes que sirvam de alvos virtuais. "Temos um mercante? Boa. Vamos a ele", ordena entusiasmado Mamede Alves.
Na sala das máquinas, onde o ruído chega a ser ensurdecedor e as temperaturas ultrapassam facilmente os quarenta graus, o cabo Amaral refere que por estar ali dentro houve muitas coisas que lhe passaram ao lado. Desde 1995 que trabalha nos submarinos e não se voluntariou. "Mas somos militares, temos que cumprir", desabafa. "A idade vai pesando e já custa cá andar". E recorda o momento mais tenso que viveu dentro do Barracuda. "Foi em 2001, no mar do Norte. Um exercício a 146 metros de profundidade com um submarino de socorro semelhante ao que era para resgatar o Kursk. Criou algum receio porque tínhamos pouco conhecimento e tendo em conta o que aconteceu...". Referia-se ao acidente que aconteceu com o submarino nuclear russo em Agosto de 2000. O comandante entende que depois desse desastre o moral das tropas não foi afectado: "A tripulação está consciente dos riscos que corre. São riscos calculados"

"TEM AÍ UM BLOCO DE NOTAS?" 17 horas. O Barracuda mergulha para as profundezas. Vai descer até aos 5o metros. A sala de controlo está uma azáfama com o sargento Cerqueira a vociferar ordens para manter o equilíbrio do navio. Manobram-se os lemes e abrem-se e fecham-se válvulas, corno se de um órgão de tubos se tratasse. O submarino inclina-se e demora alguns minutos a chegar à profundidade pedida pelo comandante. Na calma das profundezas, Mamede Alves pede um bloco de notas para explicar os motivos para o investimento de quase mil milhões de euros em dois novos submarinos. Desenha um mapa de Portugal continental e ilhas e, ao lado, representa-os com pontinhos minúsculos dentro de círculos enormes que representam o território marítimo português. "Para fazer o controlo do mar temos de saber o que se passa debaixo do mar. Caso contrário não teremos o controlo efectivo do que se passa nas nossas águas". Defende que apesar de pertencer à NATO, o país tem de ter capacidade para reagir autonomamente e que ninguém sabe qual será a situação estratégica daqui a vinte anos, tempo que é pouco para se operacionalizar uma frota de submarinos. E fala do efeito dissuasor destes meios: "Estive numa operação de embargo no Adriático a bordo da fragata Vasco da Gama e quando não sabíamos a localização de um dos submarinos jugoslavos a tensão subia logo". Reconhece que há muita gente que tem uma opinião negativa sobre a relação custo/benefício dos submarinos. "Se calhar também temos um bocado de culpa porque não andamos a alardear as nossas missões. Não podemos mediatizar as nossas operações de combate ao narcotráfico. Conseguimos ouvir e ver o que se está a passar sem sermos vistos". É que a discrição é uma das maiores armas dos submarinos.
Não tarda a iluminação clara dará lugar a luzes avermelhadas, tipo sala de revelação fotográfica. O contraste serve para assinalar a passagem do dia para a noite e adaptar a visão à escuridão. Durante a madrugada, e já à cota periscópica, fazem-se turnos de 20 minutos em torno do periscópio. "É preciso estar-se sempre muito atento, por isso é que rodamos de 20 em 20 minutos", explica o tenente Almeida. Debaixo do mar observam os barcos que passam, registam o tipo de navio e, caso apareça alguma embarcação menos familiar, acoplam uma máquina fotográfica ao periscópio para o catalogarem.

Amanhece. A tripulação agita-se em tarefas. O regresso à superfície é um dos momentos mais complicados. Há sempre o receio de embater num barco. "Em 1995 batemos num", conta o cabo Sebastião. "Foi um momento de tensão. Estava a dormir e não sabia o que se passava. O pior aqui em baixo é não saber o que se está a passar". Na sala de comando as informações vindas do sonar, do radar e do periscópio são transmitidas a uma velocidade rápida. Na sala de controlo a concentração é total. Finalmente, o Barracuda atraca na Base do Alfeite, em Almada. O electricista José Gonçalves faz a sua última ronda pelo porão das baterias vestido com o seu fato-macaco cinzento ao estilo da NASA. "É anti-ácido por causa das baterias", explica. E diz orgulhoso: "Encosto, os a todas. Ao Albacora, ao Delfim e hei-de encostar o Barracuda. Quando vierem os novos..."
 
in  Diário Económico
29 de Agosto de 2008