"100 Battles" de Martin J. Dougherty é de momento o "meu livro de cabeceira" sendo que o autor faz uma parabola interessante ao colocar as 3 batalhas mais marcantes do sueste asiatico seguidas: Dien Bien Phu, Khe Sanh e a Ofensiva do Tet (esta ultima com enfase para os combates travados em Hue e Saigon).
Um dos aspectos que salta logo à vista é que o Viet Minh e mais tarde o Vietcong/Forças Armadas do Vietnam do Norte só eram "terceiromundistas" no papel, pois na prática eram forças muito bem treinadas, doutrinadas, disciplinadas, com armamento bastante moderno e bem lideradas nomeadamente por No-Nguyen Giap. Tinham experiência de guerra com os japoneses desde 1941 sendo responsaveis por libertar uma boa parte do norte da indochina. Portanto quando os franceses chegam a indochina encontram um movimento com mais de uma decada de experiência de guerra contra os japoneses e que iria infligir qualquer coisa como 70 000 baixas à França.
O General Navarre face ao facto de a guerra estar a correr mal para os franceses, tenta então através da operação Castor atrair o Viet Minh para uma batalha convencional onde a superioridade aerea, material e tactica supostamente poderia fazer a diferença. Mas se o pensamento até parece ser correcto a escolha do local (Dien Bien Phu era uma antiga base japonesa e ficava num vale rodeado de montanhas inserido numa linha de abastecimento vital para Giap) a forma como foi defendido (9 pontos chave situados no vale e em colinas baixas) e sobretudo a avaliação das tropas em confronto (nunca o Coronel de Castries suspeitou que os seus 16 000 homens tinham pela frente 50 000 Viet Minh). E como os franceses não controlavam as colinas mais altas, quando Giap instalou mais de 200 peças de artilharia nos cumes circundantes que os franceses nem sequer tinham tentado ocupar, selou o destino da batalha. As posições chave foram caindo uma a uma, até a propria Dien Bien Phu ser tomada.
Conluindo: Na minha opinião a vitória militar e o destino dos povos que combatem entre si tem sempre a ver com as forças em confronto, organização das mesmas, impacto das acções desenvolvias ao longo do tempo e sobretudo com a geopolitica e a geoestratégia. Porque? No Borneu a guerrilha não ganhou e curiosamente no Vietnam em termos puramente militares também não. A tal componente geopolitica e geoestratégica no conflito demonstra que apesar de em termos militares Giap tentar repetir em Khe Sanh a vitória de Dien Bien Phu e não ter conseguido, (tendo o próprio Tet desarticulado completamente o Vietcong com mais de 54 000 baixas), acabou por conseguir (em termos politicos e estratégicos) uma tremenda vitória em 2 sentidos: Primeiro, porque aniquilou a maior parte dos varios movimentos que compunham o Vietcong impedindo-os assim de ser uma suposta força de bloqueio a Ho Chi Min aquando da anexação do Sul. Segundo, porque o impacto que o Tet teve nos EUA foi avassalador, sobretudo as imagens de combates em Hue, Saigon e do cerco a Khe Sanh (acompanhada da morte de 11 000 ARVN e 2000 soldados americanos) foi vista como uma clara derrota na batalha do Tet e como a certeza da opinião pública de que a guerra estava perdida, quadriplicando os protestos contra a mesma e forçando à retirada após as negociações de Paris.
Assim após a retirada americana e a queda do regime sul vietnamina, o problema da colonização do sueste asiatico estava resolvido. Não existiam mais colonizadores numa area que idiologicamente tinha a mesma cor, mas o Vietnam invadiu o Camboja e a China entrou em guerra com o Vietnam. O que a guerra supostamente tinha resolvido acabou por gerar problemas politicos e estratégicos e mais duas guerras. Só práticamente na viragem do século a indochina conseguiu alguma estabilidade e sem que um conjunto de questões politicas, territoriais e económicas estejam definitivamente resolvidas.
Saudações