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Geopolítica-Geoestratégia-Política de Defesa => Países Lusófonos => Tópico iniciado por: Miguel Silva Machado em Março 02, 2009, 09:48:05 pm

Título: A CRISE NA GUINÉ E A CAPACIDADE MILITAR NACIONAL
Enviado por: Miguel Silva Machado em Março 02, 2009, 09:48:05 pm
A nossa capacidade de intervir na Guiné tendo como pano de fundo a actual crise:
http://www.operacional.pt/a-crise-na-gu ... -nacional/ (http://www.operacional.pt/a-crise-na-guine-e-a-capacidade-militar-nacional/)
(https://www.forumdefesa.com/forum/proxy.php?request=http%3A%2F%2Fwww.operacional.pt%2Fwp-content%2Fuploads%2F2009%2F03%2F2-guine-1998-foto-miranda-neto1.jpg&hash=c4b425449dc543ec5299994d5fdd0769)
Miguel Silva Machado
miguelmachado@operacional.pt
Título:
Enviado por: teXou em Março 02, 2009, 10:05:59 pm
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...
Da Marinha uma fragata da classe “Vasco da Gama” (agora se vê porque fazem falta mais fragatas e nesta altura como se sabe a “Bartolomeu Dias” ainda está na Holanda e as da classe “João Belo”, que foram empregues em operações anteriores, já estão no Uruguai), desejavelmente com dois helicópteros Lynx embarcados; uma corveta da classe “João Coutinho” ou “Baptista de Andrade”; o único navio reabastecedor, o “Bérrio”; uma companhia de fuzileiros; o destacamento de acções especiais; destacamento de mergulhadores sapadores. O submarino é um meio que pode ter utilidade neste tipo de operações, quer para desembarcar forças especiais quer para dissuasão perante navios “terceiros” que andem na região, mas actualmente - o “Tridente” ainda está na Alemanha a finalizar a construção - apenas temos um, o “Delfim”, que não estará em condições de rumar à Guiné. ...


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Título:
Enviado por: dannymu em Março 02, 2009, 10:19:24 pm
Pois agora é que todos vêm as limitações das nossas Forças Armadas. A fragata Vasco da Gama está em manutenção, a fragata Álvares Cabral está em missão da NATO e a Corte Real não sei se está disponivel.

E como o teXou citou, faltam submarinos, as fragatas Bartolomeu Dias, o Navio Polivalente Logístico. Mas contudo é só uma questão de tempo até se ter submarinos modernos e as fragatas Bartolomeu Dias.

Por acaso existe algum plano para a aquisição dum NPL? E não seria possivel a FAP regressar áquela base aérea que tinham em Cabo Verde (ou era São Tomé e Príncipe?)?
Título:
Enviado por: P44 em Março 03, 2009, 12:43:42 pm
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RESGATE PÕE A NU FALTA DE MEIOS

É um dos cenários mais treinados pela Marinha. O resgate de portugueses apanhados numa crise militar na Guiné-Bissau está planeado há muito (ocorreu em 1998 e esteve iminente em 2005) mas emperra nos cinco dias de viagem (mais dois de preparação) que a força naval demoraria a atingir o país e na falta de meios: há apenas uma fragata disponível e Portugal ainda não tem um navio polivalente (com hospital e capaz de embarcar mais de 600 pessoas). A operação teria de contar com ajuda de países amigos ou navios mercantes. O Governo não tinha ontem ainda activado o plano de contingência.

Caso a situação na Guiné se deteriore e seja necessário avançar, ficam a nu as debilidades da Marinha de Guerra. A Força Naval Permanente, pronta a zarpar do Alfeite em 48 horas, conseguiria mobilizar apenas uma fragata, a ‘Corte Real’, uma vez que a ‘Álvares Cabral’ está em missão da NATO (em exercícios na Sicília) e a ‘Vasco da Gama’ em manutenção. A ‘Bartolomeu Dias’, a mais recente aquisição da Marinha, está ainda em treinos entre a Holanda, França e Reino Unido.

Com a ‘Corte Real’ (onde poderiam ser embarcados dois helicópteros) seguiriam mais uma ou duas corvetas e o reabastecedor ‘Bérrio’. Nesses navios iriam fuzileiros, entre eles de Operações Especiais, médicos e mergulhadores.

O navio polivalente que a Marinha tem prometido desde 2004 poderia, só ele, embarcar mais de 600 pessoas. Mas como ainda não saiu do papel, Portugal teria de pedir ajuda a países amigos (nomeadamente da CPLP) para assegurar o resgate ou, como em 1998, solicitar o auxílio a navios mercantes a operar na zona: nessa operação foram resgatadas 1237 pessoas de 33 nacionalidades, com o auxílio do mercante ‘Ponta de Sagres’.

Portugal poderia ainda mobilizar um pelotão de operações especiais do Exército, uma companhia de pára-quedistas e pelo menos um C130 da Força Aérea – estes só poderiam aterrar na Guiné após a situação ter estabilizado (o aeroporto de Bissau fica perto de vários quartéis militares).


http://www.correiomanha.pt/Noticia.aspx ... 471CA432E8 (http://www.correiomanha.pt/Noticia.aspx?channelid=00000009-0000-0000-0000-000000000009&contentid=BEDEE5ED-2E6A-4C2B-9C94-FA471CA432E8)
Título:
Enviado por: P44 em Março 03, 2009, 12:45:09 pm
Citação de: "teXou"
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Da Marinha uma fragata da classe “Vasco da Gama” (agora se vê porque fazem falta mais fragatas e nesta altura como se sabe a “Bartolomeu Dias” ainda está na Holanda e as da classe “João Belo”, que foram empregues em operações anteriores, já estão no Uruguai), desejavelmente com dois helicópteros Lynx embarcados; uma corveta da classe “João Coutinho” ou “Baptista de Andrade”; o único navio reabastecedor, o “Bérrio”; uma companhia de fuzileiros; o destacamento de acções especiais; destacamento de mergulhadores sapadores. O submarino é um meio que pode ter utilidade neste tipo de operações, quer para desembarcar forças especiais quer para dissuasão perante navios “terceiros” que andem na região, mas actualmente - o “Tridente” ainda está na Alemanha a finalizar a construção - apenas temos um, o “Delfim”, que não estará em condições de rumar à Guiné. ...

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não é o Delfim, é o Barracuda, o Delfim foi abatido em Dezembro de 2005 :roll:
Título:
Enviado por: Miguel Silva Machado em Março 03, 2009, 02:32:48 pm
Obrigado pela correcção. Tem toda a razão. A pressa por vezes (quase sempre...) dá mau resultado. Vou corrigir.
Bastava-me ir ao site da Marinha em vez de escrever de (fraca!) memória:
"...Em Dezembro de 2005 o Delfim efectuou a sua última missão operacional em companhia do NRP "Barracuda", regressando à BNL no dia 7 desse mês.": http://www.marinha.pt/Marinha/PT/Menu/D ... delfim.htm (http://www.marinha.pt/Marinha/PT/Menu/DescobrirMarinha/MeiosOperacionais/SubSuperficie/Submarinos/nrp_delfim.htm)
Miguel Silva Machado
miguelmachado@operacional.pt
Título:
Enviado por: Cabeça de Martelo em Março 03, 2009, 03:57:54 pm
Roubando uma frase dos Brasileiros e "nacionalizando-a":

 :evil:

Toda esta situação mostra claramente a total incapacidade dos politicos Portugueses na área da defesa. Desfasaram as nossas Forças Armadas de tal maneira que agora estamos reduzidos a uma mera força para missões internacionais (de manutenção/imposição de paz). :roll:
Título:
Enviado por: FoxTroop em Março 03, 2009, 04:47:21 pm
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Toda esta situação mostra claramente a total incapacidade dos politicos Portugueses na área da defesa. Desfasaram as nossas Forças Armadas de tal maneira que agora estamos reduzidos a uma mera força para missões internacionais (de manutenção/imposição de paz)


Finalmente, caro camarada, tocas na questão, mas não foi só por culpa dos políticos. Uma enorme fatia de culpa é das chefias militares. A mim custou a entender mas percebi tudo no dia em que entrei numa unidade portuguesa na Bósnia. O PorBatt tinha um nº anormalmente elevado de oficiais superiores. Fiquei a olhar. Então um efectivo de 330 tinha mais oficiais superiores (em %) de que todo um regimento de carros de combate americano composto por 5700 efectivos? Ou seria que os portugueses metem majores a comandar pelotões?!!!

Foram as chefias quem tem delapidado a capacidade das nossas FA. Treino operacional?!!! Meios operacionais?!!!  Para quê o que é preciso são missões da NATO e da ONU que a gente vai como major ou tenente-coronel já sem hipóteses de promoção e vem de lá promovido. Hoje vais tu e depois não te esqueças de mandar-me a mim.

Resultado- Banalização das nossas melhores forças (Páras, Comandos, Fuzileiros) Incapacidade de rapidamente projectar forças, e pior de tudo, forças sem capacidade real de combate sustentado
Título:
Enviado por: sniper14 em Março 03, 2009, 09:59:31 pm
:Palmas:
Título:
Enviado por: JQT em Março 03, 2009, 11:35:05 pm
Caro Miguel Silva Machado,

Em primeiro lugar parabéns pelo texto e pelo site.

Em comparação com 1998, poderíamos identificar um novo e preocupante elemento: narco-tráfico. Um narco-estado não depende tanto da ajuda exterior como a Guiné dependia em 1998. Motivo suficiente para que possa ocorrer uma guerra sangrenta e sem condescendência para com cidadãos estrangeiros no território. Pior: pode ser aproveitada pelas facções para eliminar os elementos incómodos.

Escusado será dizer que, nessa situação, os cidadãos portugueses poderão encontrar-se abandonados perante a nossa impotência militar.

Também há outra dimensão: a situação na Guiné-Conakry, país que durante muito tempo teve ambições territoriais sobre a Guiné-Bissau, e onde o fim do regime de Lansana Conté (patrocinador de Nino Vieira) é uma das principais causas da actual crise.

Do ponto de vista técnico existem algumas hipóteses no ramo mais debilitado para uma eventual intervenção:

- Aprontar uma FF, ainda que correndo o risco de afectar a nossa participação/comando da SNMG1. Uma situação que seria lamentável, mas first things first...

- Requisitar um dos paquetes de bandeira portuguesa (Funchal, Arion...) ou o ferry Lobo Marinho, que faz a ligação Madeira-Porto Santo, para transporte de uma força de fuzileiros e eventual evacuação de nacionais.

- Desviar duas das corvetas em função SAR, usando os navios oceanográficos em seu lugar.

O problema mais grave é se localmente não obtivermos a neutralidade, nem do Senegal e Guiné-Conakry.

É uma vergonha, mas há muito tempo previsível: 11 anos depois, continuamos sem um único navio anfíbio, nem nada que se pareça com uma capacidade anfíbia credível.

Além do mais, parece-me por demais evidente, sobretudo colhendo ensinamentos de 1998, que o navio que a Marinha precisa é um LHD e não um LPD. Custa um pouco mais, mas faz um mundo de diferença, sobretudo para um país com recursos limitados como é o nosso.

JQT
Título:
Enviado por: FoxTroop em Março 04, 2009, 10:01:01 am
JQT, tens razão, mas acho que o Lobo Marinho não dispõe de condições que lhe permitam navegar em mau tempo. Lembro-me de ainda não à muitas semanas estar parado no Funchal por causa o estado do mar.

Quanto ao LHD estou a 200% de acordo. Penso que outra coisa é uma poupança que sairá mais cara.

Outro assunto é o facto de os Fuzileiros estarem terrivelmente deslapidados de meios humanos. Com apenas 2 CFz's reduzidas a pouco mais de 50% no batalhão operacional, teriam de completar com os elementos do BF1. São FZ's também mas carecem do treino dado no BF2 que, por muito pouco que seja actualmente sempre é algum treino.

O pior caso seria a missão prolongar-se no tempo e aí, tanto os meios navais como os Fuzileiros não têm a capacidade de sustentação e rotação de meios. Poderia-se enviar comandos ou páras mas sem capacidade de efectivamente controlar o aeroporto e o espaço envolvente isso seria suicídio. Não esquecer que em 1998 a ideia inicial era essa mas teve de ser abandonada.

No caso de a coisa dar para o torto vamos ter , mais uma vez, de confiar na capacidade de desenrasco e sacrifício das nossas forças mas sinceramente considero que atingimos um patamar muito perigoso em termos de capacidade de actuação militar.