O problema é que não podemos comparar os pântanos da Guiné com o Vietname ou com as ilhas japonesas ou com o caucaso ou as planicies da Ucrânia.
As razões são variadíssimas, desde os efectivos que o PAIGC tinha à disposição, quando em comparação com o Vietcong até aos meios que efetivamente estavam ao dispor na Guiné.
A verdade, é que para justificar muitas ações que foram ações de fuga (e não estou a falar especificamente do caso de Guilege/Gadamael) incompetência ou deserção, os militares na Guiné inventaram muito equipamento que foi atribuido ao PAIGC.
Muito desse equipamento nunca esteve ao serviço na Guiné, nem ao serviço do PAIGC nem sequer ao servico da Guiné-Conakry.
Confunde-se muitas vezes a Guiné e os fornecimentos ao exército de Conakry com os fornecimentos ao PAIGC e posteriormente a Bissau.
Exemplo disso é o alegado fornecimento de viatura PT-76 ao PAIGC.
Ainda hoje esse fornecimento é referido por fontes portuguesas, por soldados que dizem que conhecem quem viu, mas nunca ninguém realmente viu as famosas PT-76 na Guiné.
Sabemos que a União Soviética não forneceu PT-76 nem sequer à Guiné-Conakry, senão vários anos depois do fim do conflito.
Sabemos dos dados divulgados oficialmente que esse país recebeu 45 tanques T-34/85, sabemos que recebeu oito tanques T-55 mas não recebeu PT-76.
As viaturas PT-76 só foram fornecidas em 1977 à Guiné-Conakry e em 1978 à Guiné-Bissau.
A Guiné Bissau recebeu realmente peças de 122mm, mas o fornecimento só foi efectuado em 1979, seis anos depois dos acontecimentos de Gilege. A Guiné-Bissau também só recebeu tanques T-34 depois do fim da guerra.
Os dados são do SIPRI e são resultado de análises do instituto (que incluem possibilidades de fornecimento) e dos fornecimentos declarados.
Isto tudo para dizer que, poderá ter havido uma intervenção por parte da Guiné-Conakry. O PAIGC não tinha a força que lhe foi atribuída, e muito do que se diz, resulta de uma tentativa de demonstrar que a guerra na Guiné não tinha qualquer possibilidade de solução e que as tropas portuguesas estavam a lutar com fisgas, contra os valentes combatentes pela liberdade dos povos, armados com o mais glorioso armamento que a grande mãe Russia fornecia aos patriotas.
Do meu ponto de vista, considerando o material que se sabe ter sido fornecido pelos russos, considerando o material que estava disponível, considerando a predisposição do genocioda Sekou Touré em matar portugueses, especialmente depois da operação «mar verde», acredito que Gilege foi uma operação suportada por meios do exército da Guiné-Conakry e não pelo PAIGC.
As tropas portugueses não estavam habituadas a situações de guerra mais ou menos convencional e não estavam preparadas para um ataque de artilharia pesada. Sem comandos à altura terão entrado em pânico e sem comando e controlo adequado, justificaram a retirada.