"Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"
Há falhas óbvias na estrutura montada para o socorro a náufragos em Portugal, mas essas falhas não se resumem a burocracias evitáveis.
A resposta ao disparo da "baliza" de um navio é sempre verificada, antes de serem accionados os meios de salvamento, pois muitos dos alarmes detectados, verifica-se serem falsos alarmes. As "balizas" podem ser accionadas manualmente por algum tripulante ou por contacto com água, o que origina muitos "alarmes acidentais".
Apesar disso a resposta do salva-vidas da Nazaré, a cerca de 3 milhas do local do naufrágio, aparenta ter sido lenta. Mas poderia ter sido mais rápida?
Pelo que foi tornado público, o accionamento da "baliza" do barco naufragado foi logo detectado, mas as coordenadas exactas não foram recebidas, devido ao barco se encontrar no meio da rebentação. Só com um telefonema de um pescador desportivo que se encontrava na praia para o 112 foi encontrada a localização exacta do naufrágio, provavelmente já demasiado tarde para uma eficaz actuação do salva-vidas, por o barco naufragado se encontrar no meio de uma forte rebentação, junto à "borda" emaranhado em redes, colocando-se em risco o próprio salva-vidas no caso de alguma intervenção.
Outro factor negativo:
Segundo o que ouvi por estes dias, a Marinha (e o Ministério da Defesa como autoridade tutelar) à cerca de vinte anos que não aumenta os efectivos dedicados aos navios salva-vidas. São admitidas (poucas) pessoas a recibo verde para estas funções, com vencimentos ridículos (600 euros +/-) e cumprindo horários de funcionário público (9h ás 17h). As (poucas) pessoas ligadas a estes meios de salvamento, com muita dedicação, prescindindo de períodos de férias e de descanso, conseguem atenuar as fragilidades de uma organização, fragilidades que se tornam evidentes em situações como a ocorrida.
O mea culpa da Marinha é elogiável. É sempre bom o gesto humilde de reconhecimento de que se pode fazer sempre melhor. Que esse gesto tenha consequências.
A resposta dos meios aéreos provavelmente poderia ser mais rápida, os 45 minutos apontados parecem um exagero.
Terá havido alguma relação com a rendição das tripulações?
(9h00 da manhã pelo que foi afirmado noutro tópico).
Se se reclama dos atrasos com os meios aéreos a pouco mais de 100 quilómetros, o que seria se o acidente acorresse na costa algarvia,… ou no norte do continente?
A lógica seria os meios aéreos dedicados a este serviço estarem distribuídos por três zonas geográficas: Norte, Centro e Sul.
Mas isso implicará necessáriamente mais meios aéreos dedicados.
E eles existem?
Culpa maior para os pescadores e mestre da embarcação.
Conheço muito bem a praia onde se deu o naufrágio.
A Légua é um local habitual para os meus mergulhos de caça submarina.
Confirmo o que já foi escrito por outros no tópico. É habitual encontrarem-se embarcações de pesca a poucas dezenas de metros da costa em actividades piscatórias, normalmente pesca do cerco. Nesta praia, nem a distância (referida noutro post) de 400 metros é segura. A essa distância, a profundidade em muitos locais não ultrapassa os 10 metros, e basta haver um pouco de nortada para haver formação de vagas, que muitas vezes se formam a 200 ou 300 metros da costa, chegando junto à costa fácilmente aos 4 a 5 metros.
Pelo que me foi contado, o barco naufragado andava na "lide", um golpe de mar fez com que as redes se embrulhassem no leme e na hélice, e sem leme e sem motor, no meio da ondulação, o resultado só poderia ser o naufrágio.
Não dá para entender porque os naufragos não utilizaram os coletes de salvamento, após o incidente. Pelo que foi relatado, estiveram várias horas aguardando o salvamento, tempo mais que suficiente para que, sensatamente, colocassem os coletes.
Talvez quando os procurassem fosse tarde demais, (coletes mal localizados) o que poderá revelar as defeciências na formação de quem "anda" no mar, as deficiências… e a leviandade com que a maioria dos pescadores enfrentam uma profissão de alto risco.
À distância que o barco estava da costa, com coletes de salvamento, sem as botas e os fatos impermeáveis habituais nos pescadores, apesar das fortes correntes que se fazem sentir neste local, lançando-se à água, qualquer pessoa com o mínimo de calma e experiência, exigível, acho eu, a um qualquer pescador embarcado, aproveitando a "boleia" das ondas, chegaria a terra em tempo suficiente para que os efeitos fatais da hipotermia não se fizessem sentir.
Portanto, tem pouca razão de ser a correria tonta que os representantes dos pescadores têm efectuado nestes últimos dias, quando (apesar de alguma razão em certas lacunas apontadas ao ISN) apontando o dedo acusador a quem os socorre, não olham para o próprio umbigo, esquecendo-se que a prevenção dos acidentes, é o meio mais eficaz de poupar vidas, e a prevenção começa em “casa”.
Nota final.
Foi afirmado pela generalidade dos meios de comunicação social, e continua a sê-lo, ser a praia da Légua na Nazaré.
Errado. Está sob jurisdição da capitania do porto da Nazaré, mas pertence ao concelho de Alcobaça, portanto o barco afundou numa praia do concelho de Alcobaça (o concelho da Nazaré é uma espécie de enclave neste concelho).
Off-tópic: A menos de uma milha do local do naufrágio deste barco está um vapôr naufragado. As chaminés da caldeira são visíveis a um qualquer mergulhador em apeneia. Chegar aos destroços em apeneia, só para mergulhadores experientes e com bastante “pulmão”.