Querem democracia no Médio Oriente? Aguentem-se com os resultados. Hamas com maioria absoluta na Assembleia Legislativa Palestiniana. Ismail Haniyeh, cabeça de lista do Hamas-Movimento de Resistência Islâmica às eleições legislativas do passado dia 25, vai ser convidado por Mahmud Abbas, Presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, a formar governo. Os palestinianos fartaram-se da pobreza, da insegurança, da incompetência, da corrupção e das promessas incumpridas. Também no Iraque os Xiitas ganharam as eleições legislativas, ainda que sem maioria absoluta.
De regresso à Palestina: Confusão Total! Vamos ter um Governo Palestiniano que se baseia numa ideologia de "guerra santa" e "destruição de Israel" como forma de instaurar um Estado Palestiniano Islâmico do Mediterrâneo até à Jordânia. Onde fica o processo de paz no meio disto tudo? Não se pode pedir a Israel para dar um primeiro passo de apaziguamento. O Quarteto já veio exigir ao Hamas para rever os seus objectivos (inscritos na Carta de 1988) e reconhecer Israel e os acordos já firmados entre Israel e a ANP (principalmente o de Oslo), sob pena de se cortar a ajuda financeira. Na minha opinião, a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), enquanto instituição governativa legítima, depende muitíssimo do dinheiro europeu e americano. Mas o Hamas, que em breve se vai apoderar da ANP, tem as suas próprias fontes financeiras: as doações sauditas, iranianas, sírias, dos estados do Golfo, as contribuições de milhões de palestinianos por todo o mundo (diáspora) e as ajudas da Irmandade Muçulmana (Egipto) que esteve na sua génese. Ou seja, o Hamas não depende criticamente do dinheiro que vem da UE e dos EUA, logo não vai ceder por esta via. Por outro lado, a comunidade internacional não pode correr o risco de marginalizar a futura ANP, sob risco de o Hamas crescer em prestígio aos olhos dos muçulmanos e recrudescer a luta armada contra Israel. Deverão os países dadores induzir a "normalização democrática" do Hamas, tal como já sucedeu à OLP, que era um movimento terrorista e evoluiu para partido político e reconheceu Israel.
Depois temos o risco de, em Israel, a direita de Netanyahu ganhar nas eleições de Março. O Kadima perdeu a sua principal figura, Sharon, que vegeta numa cama de hospital e o PM interino é Olmert, um homem cinzentão, sem carisma e se passado militar (algo apreciado pelo eleitorado israelita). É que basta um ataque em Israel para os israelitas chegarem à conclusão que a ANP é, com o Hamas, uma entidade terrorista e votarem massivamente à direita (o que acontece quando a segurança de Israel está em perigo). Se assim acontecer, adeus processo de paz.
Também convém lembrar que, dentro dos orgãos políticos palestinianos, haverá que contar com Mahmus Abbas e a Fatah. Aquele é o presidente eleito e é, nos termos da constituição, o chefe supremo das forças de defesa e segurança palestinianas e a autoridade máxima em política externa (Israel, a UE e os EUA quererão que Abbas seja o seu interlocutor preferencial). A Fatah é um agregado de sub-grupos, muitos dos quais armados, habituada a estar no poder e previsivelmente a conviver mal com o papel de oposição democrática e construtiva. Já vimos desde o anúncio dos resultados eleitorais inúmeros incidentes armados entre gente do Hamas e da Fatah, assaltos a esquadras e ao parlamento, etc. É um ambiente de cortar à faca...
E o que fazer a dois exércitos (o do Hamas e o da Fatah)? Obviamente só há uma solução: formação de um exército único e fiel exclusivamente ao povo e à constituição. E ainda há que lidar com a Jihad Islâmica, a FPLP e com todas as organizações que promovem ataques em Israel.
São mais perguntas do que respostas. A ver vamos o que o futuro nos reserva...