Está visto que tenho que me meter para defender a profissão.
Bem, para começar, com o canal de História não tenho nada a haver. No entanto, se ouvirem alguma argolada no National Geographic se calhar até que fui eu.
Podíamos passar horas a rir-nos muito com os erros abismais e completamente desnecessários que acontecem em tradução. Pelo menos nós nas aulas passamos.
Como o "let's make a toast" com os copos erguidos traduzido como "vamos fazer uma torrada" ou num manual de um leitor de dvds, o famoso "tire o jogador da caixa e gire sobre o poder" ("take the player out of the box and turn on the power").
Na verdade o que acontece é que, muitas vezes, os tradutores, para além de muitos não terem formação de espécie alguma, recebem os guiões com muito pouca antecedência. Chega a acontecer receberem-nos apenas um dia antes do que têm que entregar a tradução. Se o mesmo tradutor não estiver por dentro do assunto nem tiver amigos ou familiares que estejam e o cliente não disponibilizar nenhum tipo de material de referência, depende unicamente da sua biblioteca e da internet.
Idealmente, e é isto que nos ensinam, o tradutor deve ler o texto (ou, neste caso, ver o episódio/filme) uma ou até duas vezes antes de começar o seu trabalho, ir apontando os termos que desconhece e passar algum tempo a pesquisar sobre o assunto. A verdade é que não nos dão tempo e não nos pagam bem o suficiente para isso. Logo, não é isso que acontece.
O que, pelo menos a mim, me ajudaria bastante é que os mesmos indignados que criticam (e, na maior parte das vezes, com toda a razão) as traduções, se lembrassem que nós não temos acesso a bases terminológicas de todos os assuntos que necessitamos. Se as há, eu, pelo menos, desconheço a sua localização.
Por isso força, se as houver, eu adorava souber onde estão. Eram imensas dores de cabeça que poupava, era menos especialistas que chateava para me ajudarem e todo o nível das traduções em Portugal subia que era uma coisa doida.
E tenho dito.