Onde se trata da árvore, e da floresta. E se regressa à arvore.
Vim aqui, a este Forum.Defesa, no intuito de propôr à discussão pública - portanto, à exposição pública de ideias -, um tema praticamente desconhecido da maioria dos portugueses, sejam eles veteranos ou seus descendentes, exilados ou seus descendentes, presos políticos ou seus descendentes, desertores e refractários ou seus descendentes. O tema é polémico?! Não o sendo, aqui não haveria sido exposto; e seu início fraseado em precisos e inequívocos termos, que o assunto, pela seriedade, não merece sequer aviso de banha-da-cobra feirante, na qual se apregoa que "não estamos aqui pra enganar ninguém"...
Destina-se esta extensa e chatérrima prosa, a encerrar de vez a troca de galhardetes com que o antecedente forista helio69 entendeu vir por duas vezes à liça, em terreno que, então, não estava minado.
Repare-se desde já, que ambos os seus dois precedentes comentários carecem de menção de "assunto" pelo próprio, que não sabe exactamente ao que vem. Ou seja, todo o mundo e arredores sabe, agora, devido a posterior e renovada declaração de interesses, qual o seu sobrenome de família, em cujo seio terá nascido em 69 ("curioso número" no dizer de insuspeito solteirão e catolicíssimo então presidente da AR), que tem «muitos na família e conhecidos [...] ex-combatentes com feridas físicas e psicológicas de guerra», e reafirma que conhece e tem «familiares [...] que combateram em Angola e na Guiné e, na sua larga maioria todos concordam numa coisa... Se pudessem ter fugido para fora para não terem que passar o que passaram fariam-no! Na altura tal não lhes passou pela ideia, por falta de informação, na sua maioria. Não foi por isso que se escusaram a algo durante o seu serviço...».
Tudo fundadas motivações e supinas razões, objectivas, para contestar a Lei 20/97. Mas não.
E, a título novamente pessoal, reforça a exposição: «ex-combatentes com feridas fisicas e psicológicas de guerra [...], tenho muitos na familia e conhecidos».
Portanto, o contestante - quer dizer, apoiante da tal lei... - terá numerosa família e nela parece haver nascido já em pleno ziguezagueante caetanismo, vindo a ser institucionalmente deseducado pelo consequente abrilismo. Não admira, pois, a conforme ideia que tem da História. Nem se presume saiba que bicho-careta é esse de "cumprimento do dever em quaisquer circunstâncias"; ou mesmo num mui antigo "imperativo de consciência como português". Nem, do mesmo modo hipotético, terá alguma vez lido (?) ou ouvido falar em "Objectivos Nacionais Permanentes", doutrina esquisita para pacifistas-de-trazer-por-casa e que rejubilam em "blagues" sobre um apóstume «antes morto, que español», ao mesmo tempo que acreditam poder cozinhar omeletes sem ovos e que "a Europa" é que é, etc-e-tal. Pois, se nuestros hermanos ameaçarem um "ronco", por supuesto cá estaremos para ver a coragem dos portugueses... europeístas.
Ora, o tema geral desta secção do Forum.Defesa - repare-se é "defesa", não é "consoante" (os tempos) -, está precisamente titulado «Conflitos do Passado e História Militar», e o subtema nele propositadamente recém-aberto - cuja epígrafe está aparentemente a causar urticária em meninges várias - é, repete-se: «Lei 20/97 - cozinhada por e para maricas-pacifistas-da-25ªH». Desgosta-se da expressão "maricas": é popular, sempre se disse e ouviu dizer "mariquinhas pé de salsa"; mas também poderia ter sido adjectivada "lei dos medricas" ou, mais vernaculamente, "lei do quem-tem-cu-tem-medo". Fica ao gosto do freguês.
É evidente, quem "gosta" de ir "à guerra"?! Havia, há e haverá por aí quem coleccione parafernália "guerreira" sem jamais ter posto os pés nos matos africanos. Havia, há e haverá por aí quem "goste" de ir "à guerra". Não foi, nem é, o caso.
Mas do que se tratou aqui, em Portugal, entre 1960 e 1975 - tal como entre 1914 e 1918 e em épocas anteriores -, não foi do "gosto" de cada um. Ah, prontos, já estou a ouvir: ah e tal, porque o malandro do salazar é que tinha a mania, e tal, porque "aquilo" não era nosso, e tal, e o barreirinhas e o bochechas já sabiam c'aquilo ia tudo dar c'os burrinhos nei auga, e tal, não havia necessidadee.zzz, pois...
Já ouviram falar em objectivos nacionais permanentes? Talvez não. Eu, desde a revisão constitucional caetanista, de certeza que não... Há por aí muitos jovens - e infelizmente também uns menos jovens endoutrinadores -, para os quais Portugal não "nasceu" em 22 de Junho de 1128 no Campo de Batalha em São Mamede. Terá, isso sim, nascido em 25 de Abril de 1974, da palaciana parida no Largo do Carmo. O que ficou para trás, é praticamente tudo lixo! Aproveitam-se, talvez, os esplendorosos liberalismo, regicídio e "implantação" da república, à qual dezasseis anos decorridos se sucedeu negregado interregno salazarento, que atrasou - isto é, atrasado... estava, e continua a estar... - "este país".
Que veio então fazer aqui, novamente, o helio69?! Veio aqui expôr a sua estudada opinião sobre a génese, conteúdo, propósitos e alcance da Lei 20/97? De modo algum. Ressurgiu aqui, para de novo proclamar, urbi et orbi, o seu indefectível apoio a desertores, refractários e demais "compagnons de route". Seja, a sua concordância nos termos invertidos - "invertidos"? sim, sim, invertidos -, invertidos da proposição: primeiro, reconhecimento de direitos (direito a não cumprir, direito à opinião, direito a contestar, direito a faltar ao trabalho, às obrigações - principalmente aquelas difíceis - direito a apelar à subversão, à deserção (com ou sem armas), direito a oferecer armas ao inimigo - fossem (sejam) elas filosóficas, sociológicas, psicológicas, político-ideológicas e/ou materiais (designadamente "peditórios") - e, muitíssimo mais grave, desestabilização interna das instituições até chegar ao terrorismo urbano. Depois, mas só depois, os deveres.
Mas termino, inversamente à ordem das citações, por me reportar ao que, logo em abertura do seu mais recente argumentário, helio69 muito justamente sintetizou:
- «A questão dos ex-combatentes com [ou sem] feridas fisicas e psicológicas de guerra, que infelizmente são muitos [...] é outra.»
Pois aqui, mas tão só aqui, ficamos finalmente em acordo: deixando por ora de parte o enquadramento (justificações o mor delas a posteriori - a tal 25ª hora) na ideologia política, vamos pragmaticamente directos ao cerne do problema, qual seja o de saber onde foi (vai) a tal lei buscar aquilo com que se compram melões; mais, onde está o indispensável decreto-lei ou diploma que regulamenta "a coisa". Sim, porque o cerne da questão é pragmático: em casa sem pão tudo ralha com razão, porque, quando toca à barriga, com ela se "pensa"; que o digam capitães-do-baril e seus filhos da luta nascidos dos dois famosos decretos (des)motivadores; (ainda no pretérito mês, também a despropósito de "regalias" diminuídas ou coisa-cu-valha, por aí surgiu um bru-a-a com ameaças de coisa-e-tal... mas, ficou tudo em águas de bacalhau porque estamos numa democracia em tempo de vacas magras e há que abanar as orelhas se não lá se vai o tacho). Pois.
E, desde há pouco mais de uma década, onde tem o orçamento de estado (assim mesmo, em letra piquena) cabimentado o "sustento", para que os tais beneficiários heróicos defensores da liberdade - de outrém alheio aos interesses estritamente nacionais, ter feito e continuado a fazer o que quer "deste" e "neste" país (assim mesmo, em letra piquena, porque está na moda) -, sejam regularmente abuletados com o tal acintoso prémio antifascista-anticolonialista?!; ao mesmo tempo que os mais elementares «direitos adquiridos» são sonegados a milhares de esforçados cumpridores-de-dever-até-ao-sacrifício-da-própria-vida, porque... o orçamento é curto, mais não sei quê, toma lá 150 êros no fim da época estival.
Não é, «a questão dos ex-combantentes» não é outra. É precisamente aí que a porca torce o rabo. A questão ficou prosaicamente "explicada" na vox populi acima relembrada: "Quem parte e reparte...". Todos sabemos que o pilim com que se compra os melões, não chega para tudo, não chega para todos. Assim, compete ao(s) governo(s)... - podia dizer-se já "governar-se" -, gerir o Bem Comum dos Portugueses, estabelecer prioridades, no caso, sociais (tanto mais que estamos - dizem "eles" - num estado "social"). Mas, no que àquele articulado respeita, que se lê ali? O costume, na novíssima sebenta político-partidária, autêntica bíblia (lagarto-lagarto, que ali é quase tudo maçon), para manipulação de audiências com vista a eleições e ganho de clientelas, para as quais o menu é simples: primeiro, gerar expectativas; segundo, gerir as mesmas expectativas; e por aí fora, num cíclico ad eternum ora-tu-ora-eu regional, nacional e internacional.
A "coisa" - por coincidência proposta em data próxima a uma efeméride abrilina -, foi referendada por um engenheiro (depois fujão a cumprir o contrato) e promulgada por um indefectível "compagnon de route" antifascista e anticolonialista. Nem de outro modo se compreenderia a oferta, de dinheiro retirado à coisa pública, aos membros dos clubes que mais contribuíram para este estado-a-que-chegámos.
Outra questão, mas afinal é a mesma, não deixando de ser curiosa: continuamos a aguardar, de entre foristas habituais ou outros, opinião substantiva no que respeita ao teor da Lei 20/97. Não é ao conteúdo, das opiniões sobre opiniões sobre opiniões, nem à defesa da cultura dos exílios por razões políticas e dos presos políticos e não sei que mais... É da Lei 20/97, de 19 de Junho de 1997.
- «Já agora diz que não há lugar a explicações, mas eu por acaso até estaria interessado numa! Já que o título do tópico é triste, pode ser que tenha uma, pelo menos, fraca explicação!»
Pois, fraca foi a provocação de helio69, como pretensiosas e arrogantes parecem as subsequentes desconversas: se helio69 «estaria interessado numa» explicação, olhem, se "estaria", é porque não está; mas, se estão, inventem a que melhor convier. Por aqui, e face a manifesta falta de... tempo, se declara a desconversa acabada; mas se helio69 - ou outrém - sentir irreprimível necessidade em "ter a última palavra", façam favor, estão em sua casa. Saibam porém que, por aqui, como se disse, há uma grande falta de... tempo. Nem aqui vim, nem aqui estou, para endoutrinar seja quem fôr. Longe de mim a ideia, que decerto passa pela cabeça de muita e bem intencionada gente. Os menos novos, já tudo sabem. Os novos, não querem saber. E há também quem queira tudo muito bem explicadinho porque, em caso inverso, perdão, contrário, tá o caldo entornado e segue-se insulto público prà esquerda e prà direita...
A filosofia e a sociologia, tal como inúmeros "anti" isto-e-aquilo sustentados em diversíssimos "ismos" alienígenas, poderiam também ajudar ao enquadramento da "coisa". Mas, não pagam a conta do merceeiro.
O tempo e a pachorra, também são poucos. Fiquem então a argumentar.
Factos, senhores, vamos aos factos. Vamos ao cerne da questão, vamos falar do pilim, que para tudo é pouquíssimo. Muito para além de remota justeza do que considero iníqua e celerada lei, há que definir e aceitar prioridades: primeiro direitos, depois deveres? Pode a qualquer um, seja por que motivação fôr, ser-lhe "ofertado" o reconhecimento de um direito - que o senso comum obriga à específica noção de «direito adquirido» por «dever cumprido» - sem que uma tal pessoa nada tenha produzido, em prol do bem comum, para esse efeito? Ou nunca assim foi? Ou vale tudo?! É isso, há décadas que ficámos no vale... tudo!